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Escriba Cafe Podcast, Inferno

Inferno

Por mim se vai à cidade dolente, Por mim se vai à eterna dor, Por mim se vai a perdida gente. Justiça moveu meu alto criador, Que me fez com o divino poder, O saber supremo e o primeiro amor. Antes de mim coisa alguma foi criada Excetos coisas eternas, e eterno eu duro. Deixai, o vós que entrais, toda a esperança! Divina Comédia, Inferno, Canto III — Dante Aliguiere

(As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los)

Ler a transcrição completa do episódio

Esse foi o início do Canto III do Livro Inferno, da Divina Comédia. Essa obra de Dante Aliguiere é responsável por boa parte da visão que os cristãos tem do inferno, e não a bíblia, como muitos pensam.

Na verdade, o Inferno nunca fora, diretamente, tratado pelas religiões abraâmicas, sendo fruto de interpretações e até invenções posteriores.

Mas existe, de alguma forma, um inferno?

Eu sou Christian Gurtner e esse é o Escriba Cafe

Mesopotâmia

Na Mesopotâmia, berço da civilização, está também as primeiras ideias documentadas de vida após a morte.

Os sumérios que se instalaram ali por volta de 5.000 a.C., construíram as primeiras cidades registradas pela história humana e possuíam uma espécie de religião politeísta, onde os deuses eram mais mundanos do que relacionados com questões após a morte.

Eles acreditavam que a vida após a morte era como a vida na Terra, só que mais entediante, já que sentimentos e sensações como alegria e dor não existiam, somente uma calma solidão diária.

Em alguns outros textos da época, porém, pode-se ver esse pensamento sendo modificado com tempo, já que narrativas de um mundo dos mortos em festa já foi encontrado.

Egito

Próximo a Mesopotâmia, o Egito antigo desenvolvia mais complexos rituais mortuários.

Os egípcios tinham uma enorme preocupação com a vida após a morte. Desenvolveram até mesmo livros cuja função era ensinar, preparar e guiar as pessoas após partirem. O Livro dos Mortos, por exemplo, era uma completa narrativa da jornada final.

Ao contrário dos mesopotâmios, os egípcios acreditavam que a vida após a morte era também dividida por classes sociais e hierárquicas de acordo com a patente e riqueza da pessoa enquanto viva.

Os mortos precisavam estar munidos de poder mágico e moral para quando aparecessem diante do deus Osiris. Dessa forma, os rituais funerários egípcios se tornaram cada vez mais elaborados. Mumificação, adornos, amuletos, magias e até mesmo depoimentos sobre a inocência do morto eram colocados junto ao corpo para garantir passagem e sucesso no tribunal divino.

Já diante do deus Osiris, aqueles que tivessem sucesso no julgamento ganhavam a vida eterna, enquanto os que falhassem, eram devorados por Ammut, o devorador de almas.

O Egito é a primeira civilização que documenta uma espécie de julgamento dos mortos, porém, não acreditavam em nenhuma espécie de danação eterna.

Grécia e Roma Antiga

Os gregos antigos também desenvolveram uma rica mitologia que influenciou várias outras religiões e civilizações posteriores, como a nossa.

A vida após a morte fazia parte dessa mitologia, onde, na era arcaica, acreditava-se que a alma vivia em um estado que não era nem prazeroso nem desagradável.

Hades era a terra dos mortos, dominada pelo deus de mesmo nome e sua esposa, Perséfone, que vivia ali como prisioneira.

Posteriormente, principalmente entre os Romanos que absorveram a mitologia grega, acreditava-se em um julgamento após a morte, onde os merecedores viveriam no maravilhoso Elysium ou se teriam, antes, que pagar por algum crime. O tempo de tortura ou sofrimento para esse pagamento, dependia do crime cometido e não havia também nenhum conceito de um inferno onde se passaria a eternidade em sofrimento.

Havia, no entanto, rituais funerários que precisavam ser realizados para que o morto conseguisse chegar até seu julgamento. E para isso ele precisava atravessar o rio Estige, que separava os mundos dos vivos e dos mortos.

Para atravessar, ele precisava pagar uma moeda a Caronte, o barqueiro, e por isso, tinha-se o costume de se colocar uma moeda junto ao corpo da pessoa falecida.

Outras civilizações

O conceito de um inferno onde uma alma sofre por toda a eternidade, parece não ter vindo da antigüidade e ser exclusiva das religiões abraâmicas.

O Inferno Abraâmico

A confusão sobre o inferno começa com as traduções. Há algumas palavras gregas e hebraicas na bíblia que foram traduzidas para “Inferno” principalmente por causa das crenças pessoais do então tradutor.

De fato, Gehenna é a palavra mais usada para definir esse lugar. De todas as 13 menções de palavras que foram traduzidas para Inferno, Gehenna é responsável por 12 delas e o mais importante: todas as referências nas palavras de Jesus são usando o nome Gehenna.

E Gehenna nada mais é do que a região de um vale, que existe até hoje e que, no passado foi usado como local de sacrifícios em rituais pagãos e que foi incendiado pelo rei Josias em sua campanha contra a idolatria.

Aproveitando o fogo, as pessoas passaram a queimar ali o seu lixo, até mesmo cadáveres humanos, prática que se manteve até o tempo de Jesus, quando Gehenna se mostrava um lugar fétido e constantemente em chamas, o que se tornara um local perfeito para usar de forma simbólica e que, posteriormente foi traduzido para Inferno.

Jesus menciona Gehenna 11 vezes e nenhuma vez o inferno.

A versão islâmica do inferno no Corão é Jahannam, uma também posterior tradução de Gehenna e possui várias similaridades com o inferno criado posteriormente pelos cristãos.

Na verdade, nos primórdios do Cristianismo, não havia um consenso sobre o inferno. O filósofo cristão, Orígenes, por volta do século III d.C. acreditava que os pecadores eram punidos após a morte, porém somente o suficiente para pagar por seus pecados. Essa doutrina, chamada de universalismo, pregava que todos poderiam ser salvos e se reunirem com Deus — até mesmo Satã. (STRAUSS, 2016)

Porém, no ano 426, Agostinho de Hipona foi quem modelou a visão de inferno que se tornaria oficial pelos próximos 1500 anos. Conhecida como doutrina do Tormento Eterno Consciente, define que o inferno existia não para redimir pecadores e sim para satisfazer a demanda por justiça. O inferno era literalmente um lago de fogo onde os condenados queimariam sem ser consumidos e sofreriam sem morrer.

A doutrina de Agostinho recebeu criticas futuras, com argumentos de que como um Deus do amor poderia colocar alguém num tormento eterno não permitindo sequer que a pessoa morra? Além do mais, seria justo um simples ladrão de galinhas receber a mesma punição que um estuprador assassino? E os bilhões de pessoas de outras crenças?

Essas perguntas foram respondidas, de forma fictícia, no Inferno de Dante, com seus círculos divindindo os pecadores e ajudando a elaborar uma nova visão de inferno que perdura, em alguns meios, até hoje.

Mas então, o que é o inferno?

Há um ditado judaico que diz:

“os homens são criadores do seu próprio inferno”

O Inferno de Dante

Uma informação curiosa. Se você nunca leu ou não se lembra da Divina Comédia, o bônus desse episódio será resumir, como é o Inferno de Dante.

De acordo com o poema, o inferno tinha o formato de um enorme funil (você pode visualizar a interpretação visual desse inferno através da obra de Botticelli, que disponibilizamos no post desse episódio em escribacafe.com.

O funil era composto por nove círculos, como se fossem andares. Em cada círculo ficavam as almas dos condenados de acordo com seus pecados ou crimes.

No primeiro círculo ficavam aqueles que nunca souberam da existência de Cristo ou que não foram batizados. Nesse círculo não havia castigo ou sofrimento. A única pena para essas pessoas era não ficar ao lado de Deus.

No segundo círculo ficam aqueles que cometeram o pecado da luxúria. Eles são punidos sendo empurrados para frente e para trás por fortes ventos que os impedem de ter paz ou descanso.

No terceiro círculo estão os pecadores da gula. Lá eles são forçados a ficar numa lama imunda que é produzida por uma eterna chuva gelada.

Os gananciosos ficam no quarto círculo com grandes pesos empurrados por seus peitos, simbolizando a sua trajetória egoísta.

No quinto círculo estão os raivosos pecadores da Ira que ficam lutando furiosos entre si no rio Estige.

Os hereges ficam no sexto círculo, que são castigados em tumbas flamejantes por toda a eternidade.

No sétimo círculo estão aqueles que viveram da violência. Sendo condenados e queimar afundados em rios de sangue e fogo. Os suicidas tornam-se arbustos e os blasfemos e sodomitas ardem em um deserto de areia e chuva escaldante.

O oitavo círculo é habitado pelos fraudadores, como políticos corruptos, hipócritas, charlatões, falsificadores etc. Cada grupo com seus respectivos castigos.

O nono círculo é onde está Satã. E ali ficam os que Dante considera os piores de todos: os traidores. Passam a eternidade congelados em blocos de gelo e guardados pelo próprio diabo

Inferno Hölle Hell Infierno L'inferno 地獄 пекло

Por mim se vai à cidade dolente, Por mim se vai à eterna dor, Por mim se vai a perdida gente. For me you go to the sick city, For me you go to eternal pain, For me the lost people go. За мною йде стражденне місто, За мною йде вічний біль, За мною йде загиблий народ. Justiça moveu meu alto criador, Que me fez com o divino poder, O saber supremo e o primeiro amor. Justice moved my high creator, Who made me with divine power, The supreme knowledge and the first love. Справедливість рухала моїм високим творцем, Який створив мене божественною силою, Вищим знанням і першим коханням. Antes de mim coisa alguma foi criada Excetos coisas eternas, e eterno eu duro. Before me nothing was created Except eternal things, and eternal I endure. До мене нічого не було створено, крім вічних речей, а вічне я терплю. Deixai, o vós que entrais, toda a esperança! Leave, you who enter, all hope! Залиште, ви, що входите, всю надію! Divina Comédia, Inferno, Canto III — Dante Aliguiere Divine Comedy, Inferno, Canto III — Dante Aliguiere Божественна комедія, Пекло, III пісня — Данте Аліґ’єр

(As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los) (The transcripts of the episodes are published directly from the script, without revision, and there may still be spelling/grammatical errors, so we ask that you mark the errors and leave a note so that we can correct them) (Стенограми епізодів публікуються безпосередньо зі сценарію, без перегляду, і все ще можуть бути орфографічні/граматичні помилки, тому, будь ласка, позначте помилки та залиште примітку, щоб ми могли їх виправити)

Ler a transcrição completa do episódio Read the full transcript of the episode Читайте повну розшифровку епізоду

Esse foi o início do Canto III do Livro Inferno, da Divina Comédia. Це був початок III пісні Livro Inferno з «Божественної комедії». Essa obra de Dante Aliguiere é responsável por boa parte da visão que os cristãos tem do inferno, e não a bíblia, como muitos pensam. Цей твір Данте Аліґ’єра відповідає за більшість поглядів християн на пекло, а не на Біблію, як думають багато людей.

Na verdade, o Inferno nunca fora, diretamente, tratado pelas religiões abraâmicas, sendo fruto de interpretações e até invenções posteriores. In fact, Hell was never directly dealt with by the Abrahamic religions, but was the result of later interpretations and even inventions. Насправді авраамічні релігії ніколи не розглядали пекло безпосередньо, оскільки воно є результатом пізніших інтерпретацій і навіть винаходів.

Mas existe, de alguma forma, um inferno? Але чи існує якось пекло?

Eu sou Christian Gurtner e esse é o Escriba Cafe Я Крістіан Гуртнер, а це Scribe Cafe

Mesopotâmia Месопотамія

Na Mesopotâmia, berço da civilização, está também as primeiras ideias documentadas de vida após a morte. У Месопотамії, колисці цивілізації, також є перші задокументовані ідеї життя після смерті.

Os sumérios que se instalaram ali por volta de 5.000 a.C., construíram as primeiras cidades registradas pela história humana e possuíam uma espécie de religião politeísta, onde os deuses eram mais mundanos do que relacionados com questões após a morte. Шумери, які оселилися там близько 5000 років до нашої ери, побудували перші міста, зареєстровані в історії людства, і мали свого роду політеїстичну релігію, де боги були більш приземленими, ніж пов’язаними зі справами після смерті.

Eles acreditavam que a vida após a morte era como a vida na Terra, só que mais entediante, já que sentimentos e sensações como alegria e dor não existiam, somente uma calma solidão diária. They believed that life after death was like life on earth, only more boring, since feelings and sensations such as joy and pain did not exist, only a calm daily solitude. Вони вважали, що потойбічний світ схожий на життя на Землі, тільки більш нудний, оскільки не існує почуттів і відчуттів, таких як радість і біль, лише спокійне щоденне усамітнення.

Em alguns outros textos da época, porém, pode-se ver esse pensamento sendo modificado com tempo, já que narrativas de um mundo dos mortos em festa já foi encontrado. In some other texts of the time, however, one can see this thought being modified with time, as narratives of a feasting world of the dead have been found. Однак у деяких інших текстах того часу можна побачити, як ця думка змінюється з часом, оскільки вже були знайдені розповіді про світ мертвих у святі.

Egito

Próximo a Mesopotâmia, o Egito antigo desenvolvia mais complexos rituais mortuários. Поряд з Месопотамією Стародавній Єгипет розробив більш складні похоронні ритуали.

Os egípcios tinham uma enorme preocupação com a vida após a morte. Єгиптяни були дуже стурбовані потойбічним життям. Desenvolveram até mesmo livros cuja função era ensinar, preparar e guiar as pessoas após partirem. Вони навіть розробили книги, завдання яких полягало в тому, щоб навчати, готувати та направляти людей після того, як вони від’їдуть. O Livro dos Mortos, por exemplo, era uma completa narrativa da jornada final. Книга мертвих, наприклад, була повною розповіддю про останню подорож.

Ao contrário dos mesopotâmios, os egípcios acreditavam que a vida após a morte era também dividida por classes sociais e hierárquicas de acordo com a patente e riqueza da pessoa enquanto viva. На відміну від жителів Месопотамії, єгиптяни вірили, що загробне життя також поділялося на соціальні та ієрархічні класи відповідно до рангу та багатства людини за життя.

Os mortos precisavam estar munidos de poder mágico e moral para quando aparecessem diante do deus Osiris. Мертві потребували наділення магічною та моральною силою, щоб постати перед богом Осірісом. Dessa forma, os rituais funerários egípcios se tornaram cada vez mais elaborados. Таким чином єгипетські похоронні ритуали ставали все більш складними. Mumificação, adornos, amuletos, magias e até mesmo depoimentos sobre a inocência do morto eram colocados junto ao corpo para garantir passagem e sucesso no tribunal divino. Муміфікація, прикраси, амулети, магія і навіть свідчення про невинність померлого розміщувалися поруч з тілом, щоб гарантувати проходження та успіх у божественному суді.

Já diante do deus Osiris, aqueles que tivessem sucesso no julgamento ganhavam a vida eterna, enquanto os que falhassem, eram devorados por Ammut, o devorador de almas. Already before the god Osiris, those who succeeded in the judgment gained eternal life, while those who failed were devoured by Ammut, the devourer of souls. Уже до бога Осіріса ті, хто досяг успіху в суді, отримали вічне життя, а ті, хто зазнав невдачі, були пожерті Амутом, пожирачом душ.

O Egito é a primeira civilização que documenta uma espécie de julgamento dos mortos, porém, não acreditavam em nenhuma espécie de danação eterna. Єгипет є першою цивілізацією, яка задокументувала своєрідний суд над мертвими, однак вони не вірили ні в яке вічне прокляття.

Grécia e Roma Antiga

Os gregos antigos também desenvolveram uma rica mitologia que influenciou várias outras religiões e civilizações posteriores, como a nossa. The ancient Greeks also developed a rich mythology that influenced many other religions and later civilizations such as our own. Стародавні греки також розвинули багату міфологію, яка вплинула на багато інших релігій і пізніших цивілізацій, таких як наша.

A vida após a morte fazia parte dessa mitologia, onde, na era arcaica, acreditava-se que a alma vivia em um estado que não era nem prazeroso nem desagradável. Життя після смерті було частиною цієї міфології, де в архаїчну епоху вважалося, що душа жила в стані, який не був ні приємним, ні неприємним.

Hades era a terra dos mortos, dominada pelo deus de mesmo nome e sua esposa, Perséfone, que vivia ali como prisioneira. Аїд був землею мертвих, де панував однойменний бог і його дружина Персефона, яка жила там як ув'язнена.

Posteriormente, principalmente entre os Romanos que absorveram a mitologia grega, acreditava-se em um julgamento após a morte, onde os merecedores viveriam no maravilhoso Elysium ou se teriam, antes, que pagar por algum crime. Later, especially among the Romans who absorbed Greek mythology, it was believed in a judgment after death, where the deserving would live in the wonderful Elysium or if they would have to pay for some crime first. Пізніше, особливо серед римлян, які засвоїли грецьку міфологію, існувала віра в суд після смерті, де гідні житимуть у чудовому Елізіумі або якщо їм доведеться заплатити за якийсь злочин заздалегідь. O tempo de tortura ou sofrimento para esse pagamento, dependia do crime cometido e não havia também nenhum conceito de um inferno onde se passaria a eternidade em sofrimento. Час тортур або страждань за цю оплату залежав від скоєного злочину, і також не було поняття пекла, де людина могла б провести вічність у стражданнях.

Havia, no entanto, rituais funerários que precisavam ser realizados para que o morto conseguisse chegar até seu julgamento. There were, however, funerary rituals that needed to be performed in order for the dead man to make it to his trial. Однак існували похоронні ритуали, які необхідно було виконати, щоб померлий міг досягти свого суду. E para isso ele precisava atravessar o rio Estige, que separava os mundos dos vivos e dos mortos. А для цього йому потрібно було перетнути річку Стікс, яка розділяла світи живих і мертвих.

Para atravessar, ele precisava pagar uma moeda a Caronte, o barqueiro, e por isso, tinha-se o costume de se colocar uma moeda junto ao corpo da pessoa falecida. Щоб переправитися, йому потрібно було заплатити човняреві Харону монету, і тому було прийнято класти монету біля тіла померлого.

Outras civilizações

O conceito de um inferno onde uma alma sofre por toda a eternidade, parece não ter vindo da antigüidade e ser exclusiva das religiões abraâmicas. Поняття пекла, де душа страждає всю вічність, здається, не прийшло з давнини і є унікальним для авраамічних релігій.

O Inferno Abraâmico

A confusão sobre o inferno começa com as traduções. Плутанина про пекло починається з перекладів. Há algumas palavras gregas e hebraicas na bíblia que foram traduzidas para “Inferno” principalmente por causa das crenças pessoais do então tradutor. There are some Greek and Hebrew words in the bible that were translated to “Hell” mainly because of the then translator's personal beliefs. У Біблії є деякі грецькі та єврейські слова, які були перекладені як «Пекло» головним чином через особисті переконання тодішнього перекладача.

De fato, Gehenna é a palavra mais usada para definir esse lugar. Фактично, геєна - це слово, яке найчастіше використовують для визначення цього місця. De todas as 13 menções de palavras que foram traduzidas para Inferno, Gehenna é responsável por 12 delas e o mais importante: todas as referências nas palavras de Jesus são usando o nome Gehenna. З усіх 13 згадок слів, які були перекладені для Пекла, Геєнна припадає на 12 з них, і, що найважливіше, усі посилання в словах Ісуса використовують назву Геєна.

E Gehenna nada mais é do que a região de um vale, que existe até hoje e que, no passado foi usado como local de sacrifícios em rituais pagãos e que foi incendiado pelo rei Josias em sua campanha contra a idolatria. And Gehenna is nothing more than the region of a valley, which exists to this day and which, in the past, was used as a place of sacrifices in pagan rituals and which was burned by King Josiah in his campaign against idolatry. Геєна — це не що інше, як область долини, яка існує й сьогодні, яка в минулому використовувалася як місце жертвоприношень у язичницьких ритуалах і яку підпалив цар Йосія під час своєї кампанії проти ідолопоклонства.

Aproveitando o fogo, as pessoas passaram a queimar ali o seu lixo, até mesmo cadáveres humanos, prática que se manteve até o tempo de Jesus, quando Gehenna se mostrava um lugar fétido e constantemente em chamas, o que se tornara um local perfeito para usar de forma simbólica e que, posteriormente foi traduzido para Inferno. Скориставшись вогнем, люди почали спалювати там своє сміття, навіть людські трупи, і ця практика продовжувалася до часів Ісуса, коли геєна була смердючим місцем і постійно горіла, що стало ідеальним місцем для використання вогню. символічно, і це пізніше було перекладено на Пекло.

Jesus menciona Gehenna 11 vezes e nenhuma vez o inferno. Jesus mentions Gehenna 11 times and not once hell. Ісус згадує геєну 11 разів і жодного разу пекло.

A versão islâmica do inferno no Corão é Jahannam, uma também posterior tradução de Gehenna e possui várias similaridades com o inferno criado posteriormente pelos cristãos. Ісламська версія пекла в Корані - Джаханнам, також пізніший переклад Геєнни і має багато подібності з пеклом, створеним пізніше християнами.

Na verdade, nos primórdios do Cristianismo, não havia um consenso sobre o inferno. Фактично, на початку християнства не було єдиної думки щодо пекла. O filósofo cristão, Orígenes, por volta do século III d.C. The Christian philosopher, Origen, circa 3rd century AD Християнський філософ Оріген приблизно в 3 столітті нашої ери acreditava que os pecadores eram punidos após a morte, porém somente o suficiente para pagar por seus pecados. вважали, що грішники караються після смерті, але лише настільки, щоб заплатити за свої гріхи. Essa doutrina, chamada de universalismo, pregava que todos poderiam ser salvos e se reunirem com Deus — até mesmo Satã. Ця доктрина, яка називається універсалізмом, стверджувала, що кожен може бути спасенним і возз’єднатися з Богом — навіть сатана. (STRAUSS, 2016)

Porém, no ano 426, Agostinho de Hipona foi quem modelou a visão de inferno que se tornaria oficial pelos próximos 1500 anos. Однак у 426 році Августин з Гіппона був тим, хто сформулював бачення пекла, яке стане офіційним протягом наступних 1500 років. Conhecida como doutrina do Tormento Eterno Consciente, define que o inferno existia não para redimir pecadores e sim para satisfazer a demanda por justiça. Відома як доктрина свідомих вічних мук, вона визначає, що пекло існувало не для спокутування грішників, а для задоволення вимоги справедливості. O inferno era literalmente um lago de fogo onde os condenados queimariam sem ser consumidos e sofreriam sem morrer. Пекло було буквально вогняним озером, де прокляті горіли, не знищуючи, і страждали, не вмираючи.

A doutrina de Agostinho recebeu criticas futuras, com argumentos de que como um Deus do amor poderia colocar alguém num tormento eterno não permitindo sequer que a pessoa morra? Доктрина Августина зазнала подальшої критики з аргументами про те, що як Бог любові міг вкласти когось у вічні муки, навіть не дозволивши людині померти? Além do mais, seria justo um simples ladrão de galinhas receber a mesma punição que um estuprador assassino? Крім того, чи справедливо було б, щоб простий злодій курей отримав таке ж покарання, як і ґвалтівник-убивця? E os bilhões de pessoas de outras crenças? А як щодо мільярдів людей інших віросповідань?

Essas perguntas foram respondidas, de forma fictícia, no Inferno de Dante, com seus círculos divindindo os pecadores e ajudando a elaborar uma nova visão de inferno que perdura, em alguns meios, até hoje. Відповіді на ці запитання були вигадані в «Пеклі» Данте, де його кола розділили грішників і допомогли виробити нове бачення пекла, яке існує в деяких колах і донині.

Mas então, o que é o inferno? Але тоді, що таке, в біса?

Há um ditado judaico que diz: Є таке єврейське прислів’я:

“os homens são criadores do seu próprio inferno” "men are creators of their own hell" «Люди творці власного пекла»

O Inferno de Dante

Uma informação curiosa. Цікава інформація. Se você nunca leu ou não se lembra da Divina Comédia, o bônus desse episódio será resumir, como é o Inferno de Dante. Якщо ви ніколи не читали або не пам’ятаєте «Божественну комедію», бонус цього епізоду полягатиме в тому, щоб узагальнити, що таке «Пекло» Данте.

De acordo com o poema, o inferno tinha o formato de um enorme funil (você pode visualizar a interpretação visual desse inferno através da obra de Botticelli, que disponibilizamos no post desse episódio em escribacafe.com. Згідно з поемою, пекло мало форму величезної воронки (ви можете візуалізувати візуальну інтерпретацію цього пекла через роботу Боттічеллі, яку ми опублікували в публікації цього епізоду на escribacafe.com.

O funil era composto por nove círculos, como se fossem andares. Воронка складалася з дев'яти кіл, наче підлоги. Em cada círculo ficavam as almas dos condenados de acordo com seus pecados ou crimes. У кожному колі були душі проклятих відповідно до їхніх гріхів чи злочинів.

No primeiro círculo ficavam aqueles que nunca souberam da existência de Cristo ou que não foram batizados. У першому колі були ті, хто ніколи не знав про існування Христа або не був хрещений. Nesse círculo não havia castigo ou sofrimento. У тому колі не було ні кари, ні страждань. A única pena para essas pessoas era não ficar ao lado de Deus. Єдиним жалем для цих людей було те, що вони не були на боці Бога.

No segundo círculo ficam aqueles que cometeram o pecado da luxúria. У другому колі ті, хто вчинив гріх хтивості. Eles são punidos sendo empurrados para frente e para trás por fortes ventos que os impedem de ter paz ou descanso. Їх карають тим, що їх штовхають туди-сюди сильні вітри, які заважають їм мати спокій чи відпочити.

No terceiro círculo estão os pecadores da gula. У третьому колі — грішники обжерливості. Lá eles são forçados a ficar numa lama imunda que é produzida por uma eterna chuva gelada. Там вони змушені стояти в брудній багнюці, створеній вічним крижаним дощем.

Os gananciosos ficam no quarto círculo com grandes pesos empurrados por seus peitos, simbolizando a sua trajetória egoísta. The greedy ones stand in the fourth circle with big weights pushed by their chests, symbolizing their selfish trajectory. Жадібні стоять у четвертому колі з великими вагами, натиснутими на їхні груди, що символізує їх егоїстичну траєкторію.

No quinto círculo estão os raivosos pecadores da Ira que ficam lutando furiosos entre si no rio Estige. У п'ятому колі розлючені грішники Гніву, які борються між собою на річці Стікс.

Os hereges ficam no sexto círculo, que são castigados em tumbas flamejantes por toda a eternidade. Єретики знаходяться в шостому колі, які навіки караються в палаючих могилах.

No sétimo círculo estão aqueles que viveram da violência. У сьомому колі ті, хто жив насильством. Sendo condenados e queimar afundados em rios de sangue e fogo. Бути проклятим і опіком, затонулим у ріках крові та вогню. Os suicidas tornam-se arbustos e os blasfemos e sodomitas ardem em um deserto de areia e chuva escaldante. Самогубці стають кущами, а богохульники та содоміти горять у пустелі з піску та пекучого дощу.

O oitavo círculo é habitado pelos fraudadores, como políticos corruptos, hipócritas, charlatões, falsificadores etc. Восьме коло населяють шахраї, такі як корумповані політики, лицеміри, шарлатани, фальшивомонетники тощо. Cada grupo com seus respectivos castigos. Кожна група зі своїми відповідними покараннями.

O nono círculo é onde está Satã. Дев'яте коло - це місце, де знаходиться Сатана. E ali ficam os que Dante considera os piores de todos: os traidores. І є ті, кого Данте вважає найгіршими з усіх: зрадники. Passam a eternidade congelados em blocos de gelo e guardados pelo próprio diabo Вони проводять вічність, заморожені в брилах льоду та охороняються самим дияволом.