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BBC News 2021 (Brasil), Como os presidentes brasileiros lidaram com a gripe espanhola no início do século 20?

Como os presidentes brasileiros lidaram com a gripe espanhola no início do século 20?

Conhecida como a mãe de todas as epidemias,

a gripe espanhola matou mais de 50 milhões de pessoas no mundo no início do século 20.

Só no Brasil, foram cerca de 15 mil mortes entre setembro e novembro de 1918.

Mas como será que o Brasil respondeu a essa crise?

Sou André Biernath, da BBC News Brasil,

e vou contar neste vídeo como os presidentes brasileiros lidaram com a gripe espanhola.

E mostrar quais são as coincidências, semelhanças e diferenças em relação aos tempos atuais.

Bem, antes vamos entender o que aconteceu naquela época.

A gripe espanhola foi uma epidemia de vírus gripal

que durou entre o início de 1918 e o final de 1920.

Os números que eu mencionei no início – 50 milhões de mortes ao redor do

mundo – fazem dessa uma das epidemias mais mortais da história da humanidade.

O vírus que era o mesmo da epidemia de 2009: o influenza H1N1.

Aqui no Brasil, muita gente duvidou e fez piada com os

primeiros relatos de que uma doença se espalhava pela Europa em 1918.

Jornais e revistas encararam a situação com humor, e até teorias da conspiração eram divulgadas.

Uma delas dizia que a doença tinha sido fabricada

pela Alemanha para vencer a Primeira Guerra Mundial.

E o que fazia as pessoas encararem aquele início

de pandemia assim era o fato de que a gripe sazonal era comum no país.

Alguns até a chamavam de “limpa-velhos”,

por ser uma doença que acometia e matava mais a população idosa.

Mas em setembro de 2018,

dois acontecimentos mudaram a percepção dos brasileiros sobre a gripe espanhola.

Primeiro, uma missão de militares brasileiros, que partiu de navio para

ajudar nos esforços de guerra, foi acometida pela doença ao aportar em Dakar, no Senegal.

Segundo, a chegada no Brasil do navio inglês Demerara,

vindo de Lisboa, que desembarcou doentes em Recife, Salvador e Rio de Janeiro.

O vírus influenza se espalhou pelas cidades e país adentro, causando um estrago sem precedentes.

Aí você deve estar se perguntando: o que os governantes fizeram assim que a doença chegou?

A primeira atitude do governo brasileiro foi negar a gravidade dos fatos.

Mas logo a realidade se impôs, e medidas preventivas tiveram que ser tomadas pelo

então diretor-geral de saúde, Carlos Seidl.

A recomendação foi de que as pessoas ficassem em casa e evitassem locais públicos

As pessoas foram proibidas até de cuspir na rua, algo muito comum naquela época.

Também foram construídos hospitais de campanha

e locais de isolamento para os que estavam infectados.

Mas as medidas restritivas não foram bem aceitas por parte da imprensa e pela população.

A revista “A Careta”, aquela mesma que acusou a Alemanha de ter criado o vírus,

chamou aquelas medidas de “ditadura científica”, um atentado à liberdade da população.

E apesar da insistência do governo em tomar essas medidas, elas não tiveram o efeito desejado.

O isolamento não freou a epidemia, e a contagem de mortos pela espanhola só subia.

Acabou sobrando para Carlos Seidl.

Em editoriais, o médico foi hostilizado e acusado de deixar a população à própria sorte.

Jornais diziam que ele tinha feito pouco caso da

doença. A gripe espanhola passou a ser chamada de “mal de Seidl”.

O presidente à época, Wenceslau Braz, acabou sendo poupado das críticas.

Segundo a historiadora Lilia Schwarcz,

Braz usou como escudo a figura de Seidl, que virou um bode expiatório.

Ela me disse:

"Em comparação com alguns de seus sucessores, Braz era mais fraco e se escudou na figura de

Carlos Seidl, um profissional que era muito experiente e gabaritado para lidar com a pandemia"

A verdade é que ele era um profissional experiente e gabaritado para lidar com a pandemia.

Mas a pressão foi tanta que Seidl acabou renunciando ao cargo em outubro de 1918.

Coube ao médico carioca Theóphilo Torres assumir o posto de diretor-geral da Saúde Pública.

E uma de suas primeiras ações foi chamar o médico e pesquisador Carlos Chagas,

então diretor do Instituto Oswaldo Cruz, para assumir as ações de combate à gripe espanhola.

Chagas era reconhecido como um herdeiro intelectual do sanitarista Oswaldo Cruz,

médico muito respeitado no país que faleceu em 1917, um ano antes de a pandemia estourar.

A historiadora Daiane Silveira Rossi me explicou que seria como se, hoje em dia,

a pneumologista Margareth Dalcolmo, da FioCruz, fosse convidada para virar ministra da Saúde.

Ou seja, um nome de muito peso, respeitado na comunidade científica..

Sob o comando de Carlos Chagas, as medidas preventivas foram intensificadas e mais

hospitais de campanha e postos de atendimento foram criados.

Mas a verdade é que naquele momento a epidemia já

arrefecia no país por causa das medidas tomadas anteriormente.

Só que o timing da situação fez parecer que Chagas tinha milagrosamente

acabado com a gripe espanhola.

E tudo isso tornou aquela época um momento de construção de heróis nacionais.

Além de Chagas, houve o resgate da figura de Oswaldo Cruz, seu mentor,

como pais da saúde pública brasileira.

Além dele, o nome de Rodrigues Alves voltou com força.

Ele tinha sido presidente entre 1902 e 1906, e sua administração ficou

marcada pelas medidas de saneamento e vacinação implementadas por Cruz.

Foi nessa época que desembocou a “revolta da vacina”,

que você deve se lembrar das aulas de história.

Impulsionado por esse pico de popularidade,

Rodrigues Alves concorreu de novo à presidência em 1918 e acabou ganhando.

Mas já com 70 anos e saúde frágil,

ele não conseguiu assumir o cargo e morreu antes de tomar posse.

Há, inclusive, um mito de que Alves teria morrido por causa da gripe espanhola.

Mas não é verdade.

Ele teve problemas cardíacos e respiratórios por muito tempo.

Além disso, Alves passou alguns dias doente antes de vir a falecer.

Isso não teria acontecido se tivesse contraído a gripe espanhola,

que era uma doença que levava ao óbito bem rápido.

O cargo foi assumido rapidamente pelo advogado mineiro Delfim Moreira,

mas novas eleições foram convocadas.

Quem saiu vencedor foi o jurista paraibano Epitácio Pessoa,

que ficou no cargo até o fim de 1922.

Nesse período, a gripe já parecia bem controlada na capital Rio de Janeiro,

mas outros lugares do país ainda sofriam com a calamidade.

Um deles era Manaus, uma das cidades mais atingidas pela doença,

a exemplo do que tem acontecido atualmente com o coronavírus.

Segundo Lilia Schwartz, a partir dessa época os presidentes adotaram

uma postura muito parecida com a de Jair Bolsonaro nos dias de hoje.

Eles diziam que o problema não era deles, e que não tinham responsabilidade de resolver tudo.

Com o tempo, houve uma queda de casos e mortes pela gripe espanhola.

As medidas de prevenção foram relaxadas, e rapidamente a pandemia virou assunto do passado.

Um exemplo disso foi o Carnaval de 1919,

que é tido como uma das maiores festas populares de todos os tempos.

Também em 1919, os estádios brasileiros lotaram para ver a Seleção vencer seu

primeiro título internacional, em um torneio sul-americano.

A gente já falou, até aqui, sobre como a gripe espanhola chegou e foi embora do Brasil.

E é inevitável que durante esse tempo todo você tenha feito comparações com o que

está acontecendo agora, na crise do coronavírus.

Então quais são as semelhanças e diferenças entre esses dois momentos históricos?

Uma das semelhanças entre as duas pandemias é que elas não foram nem um pouco democráticas.

Ou seja, elas não atingiram pobres e ricos da mesma forma.

Lilia Schwartz me contou que as duas doenças chegaram por meio dos ricos,

que viajavam ao exterior e voltavam ao país de navio ou avião.

E que tinham condições de buscar bons tratamentos médicos caso construíssem o vírus.

Mas quem morreu aos montes, mesmo, foi a população pobre, moradora das favelas e periferias.

Que tinha pouco acesso à saúde e menos possibilidade de cumprir as medidas de isolamento.

O mesmo pode se dizer sobre a pandemia do coronavírus,

que também atinge com mais força a população menos favorecida.

Uma outra semelhança entre as duas pandemias foi a procura por tratamentos milagrosos.

Muita gente achava que caldo de galinha poderia curar a doença.

Em hospitais do Rio Grande do Sul, o estoque de frango chegou a acabar.

Também havia o mito de que o sal de quinino,

um tratamento usado para malária e dores nas articulações, tratava a gripe espanhola.

Ele era vendido nas farmácias como um santo remédio.

O curioso é que, em 1930, o quinino foi substituído

no tratamento da malária pela cloroquina.

Ela mesma, que na epidemia do coronavírus é defendida por

alguns como um tratamento precoce contra a covid-19.

Mas há uma diferença fundamental.

Naquela época, as autoridades de saúde não recomendavam o remédio para a população.

Hoje em dia, vemos autoridades públicas,

como o próprio presidente Jair Bolsonaro, indicando a medicação.

Ainda que ela não tenha eficácia comprovada e,

segundo médicos, possa causar problemas sérios aos pacientes.

Essa discrepância em relação à postura dos governantes, aliás, é tida por especialistas

como a principal diferença entre os dois momentos históricos.

Segundo o professor João Malaia, da Universidade Federal de Santa Maria,

o governo atual tenta sabotar todas as medidas de combate à covid-19.

E isso não aconteceu no início do século passado.

Apesar de todos os problemas que foram citados

aqui, os governantes tentaram mitigar os efeitos da doença.

Além de não terem incentivado teorias de conspiração e medicamentos não comprovados.

Agora, se tem algo que não dá para prever é como as pessoas

vão reagir quando a pandemia começar a ir embora.

Na época da espanhola, a doença virou rapidamente assunto do passado, como já falamos aqui.

Ela desapareceu das crônicas jornalísticas e

das conversas cotidianas, virando uma espécie de marcador temporal.

Era comum as pessoas falarem dos “tempos da espanhola” ao se referirem ao período.

Mas e com a covid-19?

Será que a doença entrará no esquecimento coletivo ou ainda renderá debates por anos a fio?

Isso a gente só vai ter certeza quando a pandemia acabar.

Mas enquanto isso não acontece, as recomendações continuam as mesmas.

Fique em casa se puder, lave bem as mãos constantemente, use máscara e,

quando chegar a sua vez, se vacine.

Gostou do vídeo?

Então deixe um comentário que a gente sempre está de olho.

Obrigado pela audiência e até a próxima.


Como os presidentes brasileiros lidaram com a gripe espanhola no início do século 20? How did Brazilian presidents deal with the Spanish flu at the beginning of the 20th century? 20世紀初頭、ブラジルの大統領たちはスペイン風邪にどう対処したのか?

Conhecida como a mãe de todas as epidemias,

a gripe espanhola matou mais de 50 milhões  de pessoas no mundo no início do século 20.

Só no Brasil, foram cerca de 15 mil  mortes entre setembro e novembro de 1918.

Mas como será que o Brasil respondeu a essa crise?

Sou André Biernath, da BBC News Brasil,

e vou contar neste vídeo como os presidentes  brasileiros lidaram com a gripe espanhola.

E mostrar quais são as coincidências, semelhanças  e diferenças em relação aos tempos atuais.

Bem, antes vamos entender o  que aconteceu naquela época.

A gripe espanhola foi uma epidemia de vírus gripal

que durou entre o início  de 1918 e o final de 1920.

Os números que eu mencionei no início  – 50 milhões de mortes ao redor do

mundo – fazem dessa uma das epidemias  mais mortais da história da humanidade.

O vírus que era o mesmo da  epidemia de 2009: o influenza H1N1.

Aqui no Brasil, muita gente  duvidou e fez piada com os

primeiros relatos de que uma doença  se espalhava pela Europa em 1918.

Jornais e revistas encararam a situação com humor,  e até teorias da conspiração eram divulgadas.

Uma delas dizia que a doença tinha sido fabricada

pela Alemanha para vencer  a Primeira Guerra Mundial.

E o que fazia as pessoas encararem aquele início

de pandemia assim era o fato de que  a gripe sazonal era comum no país.

Alguns até a chamavam de “limpa-velhos”,

por ser uma doença que acometia  e matava mais a população idosa.

Mas em setembro de 2018,

dois acontecimentos mudaram a percepção  dos brasileiros sobre a gripe espanhola.

Primeiro, uma missão de militares  brasileiros, que partiu de navio para

ajudar nos esforços de guerra, foi acometida  pela doença ao aportar em Dakar, no Senegal.

Segundo, a chegada no Brasil  do navio inglês Demerara,

vindo de Lisboa, que desembarcou doentes  em Recife, Salvador e Rio de Janeiro.

O vírus influenza se espalhou pelas cidades e  país adentro, causando um estrago sem precedentes.

Aí você deve estar se perguntando: o que os  governantes fizeram assim que a doença chegou?

A primeira atitude do governo brasileiro  foi negar a gravidade dos fatos.

Mas logo a realidade se impôs, e medidas  preventivas tiveram que ser tomadas pelo

então diretor-geral de saúde, Carlos Seidl.

A recomendação foi de que as pessoas  ficassem em casa e evitassem locais públicos

As pessoas foram proibidas até de cuspir  na rua, algo muito comum naquela época.

Também foram construídos hospitais de campanha

e locais de isolamento para  os que estavam infectados.

Mas as medidas restritivas não foram bem  aceitas por parte da imprensa e pela população.

A revista “A Careta”, aquela mesma que  acusou a Alemanha de ter criado o vírus,

chamou aquelas medidas de “ditadura científica”,  um atentado à liberdade da população.

E apesar da insistência do governo em tomar essas  medidas, elas não tiveram o efeito desejado.

O isolamento não freou a epidemia, e a  contagem de mortos pela espanhola só subia.

Acabou sobrando para Carlos Seidl.

Em editoriais, o médico foi hostilizado e  acusado de deixar a população à própria sorte.

Jornais diziam que ele tinha feito pouco caso da

doença. A gripe espanhola passou  a ser chamada de “mal de Seidl”.

O presidente à época, Wenceslau Braz,  acabou sendo poupado das críticas.

Segundo a historiadora Lilia Schwarcz,

Braz usou como escudo a figura de  Seidl, que virou um bode expiatório.

Ela me disse:

"Em comparação com alguns de seus sucessores,  Braz era mais fraco e se escudou na figura de

Carlos Seidl, um profissional que era muito  experiente e gabaritado para lidar com a pandemia"

A verdade é que ele era um profissional  experiente e gabaritado para lidar com a pandemia.

Mas a pressão foi tanta que Seidl acabou  renunciando ao cargo em outubro de 1918.

Coube ao médico carioca Theóphilo Torres assumir  o posto de diretor-geral da Saúde Pública.

E uma de suas primeiras ações foi chamar  o médico e pesquisador Carlos Chagas,

então diretor do Instituto Oswaldo Cruz, para  assumir as ações de combate à gripe espanhola.

Chagas era reconhecido como um herdeiro  intelectual do sanitarista Oswaldo Cruz,

médico muito respeitado no país que faleceu  em 1917, um ano antes de a pandemia estourar.

A historiadora Daiane Silveira Rossi me  explicou que seria como se, hoje em dia,

a pneumologista Margareth Dalcolmo, da FioCruz,  fosse convidada para virar ministra da Saúde.

Ou seja, um nome de muito peso,  respeitado na comunidade científica..

Sob o comando de Carlos Chagas, as medidas  preventivas foram intensificadas e mais

hospitais de campanha e postos  de atendimento foram criados.

Mas a verdade é que naquele momento a epidemia já

arrefecia no país por causa das  medidas tomadas anteriormente.

Só que o timing da situação fez  parecer que Chagas tinha milagrosamente

acabado com a gripe espanhola.

E tudo isso tornou aquela época um  momento de construção de heróis nacionais.

Além de Chagas, houve o resgate da  figura de Oswaldo Cruz, seu mentor,

como pais da saúde pública brasileira.

Além dele, o nome de Rodrigues  Alves voltou com força.

Ele tinha sido presidente entre 1902  e 1906, e sua administração ficou

marcada pelas medidas de saneamento  e vacinação implementadas por Cruz.

Foi nessa época que desembocou  a “revolta da vacina”,

que você deve se lembrar das aulas de história.

Impulsionado por esse pico de popularidade,

Rodrigues Alves concorreu de novo à  presidência em 1918 e acabou ganhando.

Mas já com 70 anos e saúde frágil,

ele não conseguiu assumir o cargo  e morreu antes de tomar posse.

Há, inclusive, um mito de que Alves teria  morrido por causa da gripe espanhola.

Mas não é verdade.

Ele teve problemas cardíacos e  respiratórios por muito tempo.

Além disso, Alves passou alguns  dias doente antes de vir a falecer.

Isso não teria acontecido se  tivesse contraído a gripe espanhola,

que era uma doença que levava ao óbito bem rápido.

O cargo foi assumido rapidamente  pelo advogado mineiro Delfim Moreira,

mas novas eleições foram convocadas.

Quem saiu vencedor foi o jurista  paraibano Epitácio Pessoa,

que ficou no cargo até o fim de 1922.

Nesse período, a gripe já parecia bem  controlada na capital Rio de Janeiro,

mas outros lugares do país  ainda sofriam com a calamidade.

Um deles era Manaus, uma das  cidades mais atingidas pela doença,

a exemplo do que tem acontecido  atualmente com o coronavírus.

Segundo Lilia Schwartz, a partir  dessa época os presidentes adotaram

uma postura muito parecida com a  de Jair Bolsonaro nos dias de hoje.

Eles diziam que o problema não era deles, e que  não tinham responsabilidade de resolver tudo.

Com o tempo, houve uma queda de  casos e mortes pela gripe espanhola.

As medidas de prevenção foram relaxadas, e  rapidamente a pandemia virou assunto do passado.

Um exemplo disso foi o Carnaval de 1919,

que é tido como uma das maiores  festas populares de todos os tempos.

Também em 1919, os estádios brasileiros  lotaram para ver a Seleção vencer seu

primeiro título internacional,  em um torneio sul-americano.

A gente já falou, até aqui, sobre como a  gripe espanhola chegou e foi embora do Brasil.

E é inevitável que durante esse tempo todo  você tenha feito comparações com o que

está acontecendo agora, na crise do coronavírus.

Então quais são as semelhanças e diferenças  entre esses dois momentos históricos?

Uma das semelhanças entre as duas pandemias é  que elas não foram nem um pouco democráticas.

Ou seja, elas não atingiram  pobres e ricos da mesma forma.

Lilia Schwartz me contou que as duas  doenças chegaram por meio dos ricos,

que viajavam ao exterior e  voltavam ao país de navio ou avião.

E que tinham condições de buscar bons  tratamentos médicos caso construíssem o vírus.

Mas quem morreu aos montes, mesmo, foi a população  pobre, moradora das favelas e periferias.

Que tinha pouco acesso à saúde e menos  possibilidade de cumprir as medidas de isolamento.

O mesmo pode se dizer sobre  a pandemia do coronavírus,

que também atinge com mais força  a população menos favorecida.

Uma outra semelhança entre as duas pandemias  foi a procura por tratamentos milagrosos.

Muita gente achava que caldo de  galinha poderia curar a doença.

Em hospitais do Rio Grande do Sul,  o estoque de frango chegou a acabar.

Também havia o mito de que o sal de quinino,

um tratamento usado para malária e dores  nas articulações, tratava a gripe espanhola.

Ele era vendido nas farmácias  como um santo remédio.

O curioso é que, em 1930,  o quinino foi substituído

no tratamento da malária pela cloroquina.

Ela mesma, que na epidemia do  coronavírus é defendida por

alguns como um tratamento  precoce contra a covid-19.

Mas há uma diferença fundamental.

Naquela época, as autoridades de saúde não  recomendavam o remédio para a população.

Hoje em dia, vemos autoridades públicas,

como o próprio presidente Jair  Bolsonaro, indicando a medicação.

Ainda que ela não tenha eficácia comprovada e,

segundo médicos, possa causar  problemas sérios aos pacientes.

Essa discrepância em relação à postura dos  governantes, aliás, é tida por especialistas

como a principal diferença entre  os dois momentos históricos.

Segundo o professor João Malaia, da  Universidade Federal de Santa Maria,

o governo atual tenta sabotar todas  as medidas de combate à covid-19.

E isso não aconteceu no início do século passado.

Apesar de todos os problemas que foram citados

aqui, os governantes tentaram  mitigar os efeitos da doença.

Além de não terem incentivado teorias de  conspiração e medicamentos não comprovados.

Agora, se tem algo que não dá  para prever é como as pessoas

vão reagir quando a pandemia começar a ir embora.

Na época da espanhola, a doença virou rapidamente  assunto do passado, como já falamos aqui.

Ela desapareceu das crônicas jornalísticas e

das conversas cotidianas, virando  uma espécie de marcador temporal.

Era comum as pessoas falarem dos “tempos  da espanhola” ao se referirem ao período.

Mas e com a covid-19?

Será que a doença entrará no esquecimento  coletivo ou ainda renderá debates por anos a fio?

Isso a gente só vai ter certeza  quando a pandemia acabar.

Mas enquanto isso não acontece, as  recomendações continuam as mesmas.

Fique em casa se puder, lave bem as  mãos constantemente, use máscara e,

quando chegar a sua vez, se vacine.

Gostou do vídeo?

Então deixe um comentário que  a gente sempre está de olho.

Obrigado pela audiência e até a próxima.