Chega de Saudade, O ARRANJO #1 (English subtitles)
A revolução na música brasileira aconteceu em 1958
com a gravação da música chega de saudade por João Gilberto
A revolução estava no canto e no violão desse baiano bossa nova
que em pouquíssimo tempo
influenciou toda uma geração de arranjadores,
guitarristas, músicos e cantores
Essas são as proféticas palavras que Tom Jobim
escreveu na contracapa do disco
que lançou a bossa nova, Chega de Saudade
A Bossa nova surgiu com várias polêmicas
era samba ou não, o cantor cantava ou não,
mas mesmo assim a sua mensagem musical
foi compreendida e assimilada
muito rapidamente pelo público
Tornando-se, com o tempo,
onipresente no Brasil e no mundo
Eu sou Flávio Mendes, músico e arranjador,
e esse é o canal "O Arranjo"
Tudo era diferente:
a batida constante do violão
decantava os instrumentos de percussão do samba
A orquestra executava uma frase
e silenciava, sempre com muita economia
os acordes, a harmonia,
eram mais complexos
o cantor não exagerava em virtuosismos vocais,
parecia que estava falando, de tão coloquial que soava
e tinha uma letra também coloquial,
um linguajar simples,
que rimava beijinhos com peixinhos,
uma rima até então impensável
para um poeta da envergadura de Vinicius de Moraes
Formou-se então, em torno da bossa-nova,
uma turma de jovens músicos
que viviam presente,
se importavam com o agora,
mas que sugeriam um futuro,
ao mesmo tempo que ressignificavam o passado
Tom não considerava a sua composição Chega de Saudade
uma canção de bossa nova
mas sim um samba-choro, em duas partes
uma forma tradicional da música brasileira
Jobim costumava dizer que só acreditava no novo
de quem também soubesse fazer o velho
Você sai do samba-choro
e entra numa outra levada, que eu acho que
o Chega de Saudade é o ponto que explica isso,
a diferença do antes pro depois
Até 1946 os cassinos eram liberados no Brasil
e toda uma classe de artistas tinha nele o seu sustento
Com o decreto do então presidente Dutra
proibindo o jogo no Brasil
boa parte da classe artística
foi trabalhar numa novidade
importada de Paris: as boates
O conceito era simples: um lugar sem janelas,
com pouquíssima luz, onde seria sempre noite
Nesses lugares intimistas se cantava o samba-canção,
fundamental para o futuro aparecimento da bossa nova
Na década de 1940, grandes músicos e cantores
se apresentavam nas boates
O jovem Antônio Carlos Jobim,
recém casado e com filho pequeno,
vivia, como ele dizia, correndo atrás do aluguel
Para pagar as suas contas tocava na noite
em diversas boates e inferninhos
Aí fui trabalhar na noite para pagar o aluguel,
competia com o aluguel, sempre
O repertório era bolero, rumba,
cha-cha-cha, canção francesa, tudo
Era uma vida muito puxada,
tocar a madrugada inteira
até que o último boêmio saísse da boate
Tom chamava as boates de cubo das trevas
e percebeu que precisava sair dessa vida
Conseguiu um emprego na gravadora Continental
Contratado como pianista,
ele se envolveu com a nata da música brasileira
Pixinguinha, Ary Barroso,
Dorival Caymmi, Braguinha
E se tornou uma espécie de pupilo
de um dos maiores músicos e arranjadores do Brasil,
Radamés Gnattali,
a quem ele seria eternamente grato
E começou a compor com seu amigo de infância
Newton Mendonça, futuro parceiro dele
em Desafinado e Samba de uma nota só
Em 1954 consegue seu primeiro sucesso
com Tereza da praia,
parceria com Billy Blanco,
que era um dueto entre dois dos maiores cantores
da era pré bossa-nova, Lúcio Alves e Dick Farney
Em abril de 1958 é gravado o LP
Canção do amor demais, de Elizeth Cardoso,
só com músicas de Tom e Vinícius
Os ensaios para o disco aconteciam na casa do Tom,
em ipanema
Vinícius ainda era diplomata,
e não ficava bem para um alto funcionário do Itamaraty
ter o seu nome ligado a um disco com sambas então os
Então os créditos no disco eram
música: Antônio Carlos Jobim
e poesia: Vinícius de Moraes
Um disco com canções, modinhas, acalantos,
toadas, sambas,
velhos ritmos brasileiros que Tom conhecia bem
Ele escreveu arranjos modernos e sinfônicos,
com uma instrumentação carregada
e utilizando instrumentos
que não eram muito usados
em disco de música popular brasileira
como trompas, oboé, fagote e clarone
A grande revolução estava escondida em duas faixas,
Chega de Saudade e Outra Vez
onde se ouve João Gilberto,
pela primeira vez em disco,
fazendo a sua batida de bossa nova
A Divina Elizeth Cardoso
é uma das maiores cantoras de música popular brasileira,
mas não era uma cantora de bossa nova
João Gilberto até tentou mostrar para ela
como ele tava cantando Chega de saudade,
adiantando e atrasando o ritmo da melodia
mas, dizem, ela não se interessou
A verdadeira revolução veio mesmo
quando João Gilberto pode gravar Chega de saudade
do jeito dele
Tom Jobim já disse que Chega de Saudade
não é uma canção de bossa nova,
é mais próximo de um samba choro em duas partes
Ele conta que começou a compor
baseado uma sequência antiga de acordes
e foi construído a melodia no violão
Tom seguia trabalhando nas suas músicas
mesmo depois delas gravadas
sempre tava mexendo harmonia
e às vezes até na melodia
Isso aconteceu com Chega de saudade
A composição foi gravada por João
com essa melodia nesse trecho
Mas nos últimos anos
Tom cantava assim o mesmo trecho
Como muitas músicas brasileiras mais tradicionais,
antigas mesmo,
uma parte da música é em tom menor,
a outra parte é no mesmo tom,
só que em maior
Nessa música há um casamento perfeito
entre melodia e texto, a letra
Na primeira, em tom menor,
a letra fala de uma mulher que se foi, tristeza,
sem ela não pode ser, que ela regresse,
sofrer, sem ela não há paz nem beleza
Quando vai para o tom maior parece que uma janela se abre,
tanto pelos acordes como pelo texto
Que coisa linda, beijinhos na boca,
abraços, carinhos sem ter fim
Tom Jobim formatou o som da bossa nova,
a sua orquestração básica,
nos três primeiros discos de João Gilberto,
onde ele foi produtor e arranjador
Segundo Ruy Castro no livro Chega de saudade,
apesar de João Gilberto estar gravando
o seu primeiro disco,
ele deu muito trabalho aos técnicos
e músicos,
sendo sempre muito exigente
Ele começou surpreendendo os técnicos
pedindo um microfone para o violão
e outro para voz,
quando o normal,
se o cantor se acompanhava o violão,
era se usar um microfone só
Em 6 das 12 faixas do disco
o acompanhamento é só o violão e o ritmo
e às vezes a falta do Copinha
e o trombone do Maciel
Esses dois músicos tocam na faixa Chega de saudade,
além do piano do Tom, bateria, percussão,
e um naipe de violinos,
sempre usados com o máximo de economia:
Isso é bossa nova!
A forma desse arranjo é A B,
sendo que cada uma dessas partes
pode ser subdividida em duas partes
de 16 compassos cada,
além da introdução de 8 compassos e a coda
A introdução, com flauta, violão e ritmo,
lembra os antigos grupos regionais
de cavaquinho e flauta,
tem esse sabor antiguinho
Chega de saudade sim,
mas com um pé no que veio antes
A primeira parte do A começa só com violão e ritmo
Depois tem a primeira intervenção de trombone,
em notas longas
A segunda parte do A continua
com o contraponto do trombone
agora fazendo uma frase cromática descendente
ou seja, descendo de meio em meio tom
No fim da parte A tem uma
intervenção da flauta e do piano,
o piano fazendo acordes de preparação
para modular para o tom maior
Entram os violinos no acompanhamento
primeiro em uníssono, ou seja,
todos tocando a mesma nota
E depois num acorde em posição fechada,
na região grave do instrumento
Na segunda parte do B
volta a ser apenas violão e ritmo
com os violinos aparecendo na parte final
numa frase de notas longas,
em uníssono e no agudo
A coda é com violão e ritmo, fazendo fade-out
Esse é o canal "O Arranjo"
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e até uma próxima
muito obrigado
Pra acabar com esse negócio de
viver longe de mim, né?
Assim, mais ou menos, não estou bem lembrado disso, entende? Essas coisas não estão muito debaixo dos dedos, entende? Ainda vem o reumatismo
... é,
Não pode tomar chope, você sabe