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BBC News 2021 (Brasil), A origem da divisão entre China e Taiwan e o status atual da 'ilha rebelde'

A origem da divisão entre China e Taiwan e o status atual da 'ilha rebelde'

Taiwan é, há 70 anos, o que muitos descreveriam como um autêntico quebra-

cabeças internacional.

Não existe consenso nem sobre o nome da ilha, que também se chama República da China.

O fato é que, até hoje, a situação está indefinida.

Eu sou Malu Cursino, da BBC News Brasil,

e neste vídeo vou explicar por que Taiwan é um assunto tão polêmico,

alvo de tantas saias-justas internacionais. Mas antes, dá uma olhada neste mapa:

A ilha de Taiwan tem 36 mil quilômetros quadrados de extensão, um terço do

tamanho de Cuba. E fica aproximadamente

200 quilômetros distante da maior ameaça à sua existência, segundos próprios taiwaneses:

A República Popular da China. Tanto Taiwan quanto a República Popular da China

se consideram a verdadeira China, e as divergências entre ambas as

partes acabam gerando instabilidade não só na região, mas também no resto do mundo.

Mas por que os dois territórios se declaram como a China autêntica?

E por que essa relação é tão problemática?

Para entender as atuais divergências entre China e Taiwan, precisamos voltar ao

ano de 1945. Naquela altura, a ilha estava sob controle

do Japão, que havia derrotado a dinastia chinesa Qing 50 anos antes.

Depois da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, a então República da China,

uma das vencedoras do conflito, retomou o controle sobre Taiwan.

Mas a China continental já vinha enfrentando desde 1927 uma guerra civil.

De um lado estavam os republicanos nacionalistas do Kuomintang, liderados por

Chiang Kai Shek, que governava o país. E, do outro, os comunistas chineses,

conduzidos por Mao Tsé-tung. No final, o Partido Comunista Chinês

saiu vitorioso e, em primeiro de outubro de 1949, Mao Tsé-tung proclamou o nascimento da

República Popular da China.

Dois meses depois, Chiang Kai-shek, que havia perdido a guerra na China

continental, implantou seu governo nacionalista em Taiwan e declarou Taipei como

a capital provisória da República da China. Pelo menos um milhão e meio de pessoas,

principalmente soldados, políticos do Kuomintang e elites intelectuais e

empresariais chinesas, seguiram o líder nacionalista e se estabeleceram em Taiwan.

Chiang Kai-shek continuou declarando seu governo como a única autoridade

legítima da China e implantou em Taiwan uma Lei Marcial que duraria até 1987.

Desde então, Pequim passou a tentar a recuperar o controle sobre a ilha, inclusive

por meio da força, se necessário. Após o fim da Segunda Guerra Mundial,

o governo do Kuomintang se manteve na Organização das Nações Unidas e conseguiu

um lugar permanente no Conselho de Segurança da instituição.

Na época, muitos países ocidentais reconheceram os nacionalistas como único

governo chinês, ao passo que o regime comunista de Mao era

considerado ilegítimo. Tudo isso, vale lembrar,

em meio ao contexto de mundial de enfrentamento ideológico da Guerra Fria.

Taiwan tinha o apoio dos Estados Unidos, que temiam que a ilha caísse em mãos

comunistas, como já havia acontecido com a Coreia do Norte no início dos anos 50,

e depois com o Vietnã. Só que a situação mudou radicalmente

a partir de 1971.

Nesse ano, os Estados Unidos e a China tinham o mesmo adversário: a União Soviética

Isso facilitou a aproximação diplomática

dos dois países, que eram rivais de longa data.

Nesse contexto, em outubro de 1971, a ONU reconheceu a República Popular da China,

ou seja, o governo comunista de Mao Tsé-tung, como o “único representante

legítimo da China” perante à organização.

Oito anos depois, em 79, os Estados Unidos fizeram o mesmo, apesar de, ainda

assim, continuarem sendo o aliado mais importante de Taiwan.

Os americanos garantiram o fornecimento de armas ao governo da ilha e fizeram

um alerta a Pequim, dizendo que qualquer ataque a Taiwan constituiria uma “grave preocupação”.

Esse posicionamento se mantém até hoje.

E, como eu disse no começo do vídeo, Taiwan tem uma situação indefinida, um

reconhecimento internacional limitado.

A partir dos anos 70, o número de países que reconheciam o governo de Taiwan

como o legítimo na China foi caindo de forma constante.

Hoje em dia, só 15 Estados consideram a República da China, ou seja, Taiwan, um

Estado soberano. O Brasil deixou de reconhecer o governo da ilha em 1974.

A República Popular da China se nega a ter relações diplomáticas formais com os países que reconhecem o governo taiwanês,

como Guatemala, Nicarágua, Honduras e Paraguai.

Isso porque o país considera Taiwan uma ilha rebelde que faz parte de seu território.

Os governantes taiwaneses,

por sua vez, defendem que a ilha é um Estado soberano, com Constituição e governo próprios.

E um exército com mais de 300 mil militares.

Taiwan já não faz parte de praticamente nenhuma organização internacional, como

o Comitê Olímpico Internacional e a Organização Mundial da Saúde.

Após anos de hostilidades e tensões, Pequim propôs nos anos 80 uma solução que

pode ser resumida na frase: “um país, dois sistemas”,

parecida com o que já existe em Hong Kong.

Em troca da promessa de uma autonomia significativa, a ilha deveria aceitar a

unificação com a China. Mas Taiwan recusou o acordo.

Em 1991, a ilha desistiu oficialmente da intenção de retomar o controle sobre a

China continental. Até lá, foram feitas várias

tentativas de diálogo, mas todas fracassaram. Em 2005, a China aprovou uma lei

“antissecessão”, ou antisseparação, que estabeleceu o direito do país de recorrer

a “medidas não pacíficas” contra Taiwan, em caso de tentativas de separação.

O atual governo de Xi Jinping inclusive já alertou várias vezes que se Taiwan

declarasse independência, ele poderia recorrer ao uso da força.

Ainda não falamos de um ponto importante, que é a economia de Taiwan.

Na década de 70, a economia taiwanesa era a segunda que mais crescia em toda a Ásia

apenas atrás do Japão.

A ilha inclusive faz parte do grupo chamado de “tigres asiáticos”, junto com Hong Kong,

Coreia do Sul e Singapura, e tem até hoje uma economia pujante.

Apesar das divergências diplomáticas entre Taipei e Pequim, as relações

econômicas entre as duas partes têm crescido consideravelmente.

Empresas taiwanesas já investiram

dezenas de bilhões de dólares na China e pelo menos um milhão de taiwaneses

vivem na China continental. Atualmente, Pequim tem relações

comerciais muito próximas com Taiwan, o que é visto por alguns analistas como uma renúncia de

fato à autonomia por parte da ilha. Outros especialistas, no entanto,

consideram esses laços econômicos um possível freio a uma intervenção militar da China

continental na ilha, já que um conflito poderia trazer prejuízo à economia do país.

Mas a verdade é que as relações entre China e Taiwan são um assunto complexo e

cheio de detalhes curiosos. Vou contar um deles: Nos anos 70, o líder Mao Tsé-tung estava

buscando o reconhecimento diplomático da China comunista.

Como parte desse esforço, ele decidiu convidar um time de tênis de mesa americano para

jogar partidas de exibição no país em 1971. Os jogadores e os jornalistas que vieram

na viagem seriam os primeiros americanos a pisar na China continental em mais de 20 anos.

As partidas foram um sucesso e marcaram o início da “quebra de gelo” nas relações

entre Estados Unidos e China. Menos de um ano depois, o presidente

americano Richard Nixon realizou a sua histórica visita oficial ao país asiático.

A visita do chefe de Estado ratificou a aproximação diplomática entre os dois países,

que culminaria no reconhecimento oficial por parte dos Estados Unidos à República

Popular da China, em 1979. A estratégia de usar o tênis de

mesa para diminuir a tensão nas relações foi batizada como “diplomacia do ping-pong”.

É isso! Eu fico por aqui E se você gostou desse vídeo,

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tiver um vídeo novo. Até a próxima!

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