CRIANÇA ESPERANÇA
Muito bem, senhoras e senhores!
Que prazer, que emoção!
Mais um Criança Esperança!
Num ano diferente, num ano desafiador,
mas é claro, a solidariedade e a doação têm que continuar.
E nesse ano tão especial, temos um mesão,
só que dessa vez é virtual.
Com toda a nossa galera, pra receber o seu telefonema,
a sua doação, e nós temos...
Opa, espera aí!
Já...
Ok, já vamos entrar então, ao vivo,
nem começamos o Criança Esperança, e tem gente já querendo doar.
Já abriu o coração, abriu o bolso.
Vamos nessa!
Bota, conecta ela já com o mesão, pode botar com a nossa convidada.
Ao vivo! Criança Esperança, que legal!
-Alô. Quem fala? -Oi, é a Tânia.
Oi, Tânia! Aqui é a Miá Mello, tudo bom?
Oi!
É a primeira vez que você participa da campanha?
É a primeira vez, sim, que eu participo.
E qual vai ser a sua doação?
É uma criança.
Para com isso, porra!
-Como assim? -É uma criança.
Espera aí... Produção, corta. Vem pra cá.
Acho que houve um mal-entendido, não está dando pra ouvir direito.
Dona Tânia, que prazer falar com a senhora!
Eu sou o Otaviano, estamos no Criança Esperança,
ao vivo pra todo o Brasil.
Que prazer tê-la aqui! Como que vai? Tudo bem?
-De onde a senhora fala? -Como que eu faço pra doar meu neto?
Então, espera aí, deixa eu explicar pra senhora.
Estamos ao vivo pra todo o Brasil,
e esse é o Criança Esperança.
Não tem como doar o neto,
tem que doar dinheiro. É uma campanha...
Para, ele está me explicando como é o Criança Esperança!
E a minha esperança, hein? Como é que eu faço?
O que eu vou fazer? Você não tem interesse em ficar com ele?
Não, não tenho.
E aquela menina loira lá?
Que é juntada com aquele ator lá de olho azul,
como é...? Gagli...
Gleliedson.
Gagliasso? Bruno Gagliasso? Sim, nosso amigo.
Aliás, estamos ao vivo, transmitindo pra todo o Brasil,
Brunão, que é nosso irmão, deve estar nos assistindo.
Um beijão pra você, querido amigo!
Uma pena que não é mais contratado da casa,
por isso não está aqui com a gente.
Passa o contato dele, por gentileza?
Eu não posso fazer isso, dona Tânia, estamos ao vivo,
não posso passar o telefone do Bruno pra senhora, não, tá?
Ah, meu... Não, meu amor, você não entendeu.
Eu vou te explicar. Eu amo o meu neto, tá?
Não vivo sem ele.
Só que na quarentena está mais puxado pra mim, sabe?
Eu queria deixá-lo com você uns três dias só.
Mais pra eu dar uma respirada mesmo,
sentar um pouquinho, esticar minhas pernas...
Fazer um cocô em paz.
Dona Tânia, a gente está ao vivo pra todo o Brasil, tá?
Por favor, por que a senhora não manda o seu neto
para a casa de um vizinho? Um amiguinho?
Ninguém quer, ninguém vai...
Sabe, foi o negócio de homeschooling que escangalhou tudo isso.
Dona Tânia, parece que tem alguém lá no mesão
querendo passar uma mensagem pra senhora.
-Vamos lá ver, né? -Vamos lá.
-Bota lá, bota lá, por favor. -O que está escrito?
Eu não consigo ver...
Ah, não! Madrinha, pelo amor de Deus,
não serve pra nada.
Madrinha...
Vamos lá, vocês ficam com ele uma semaninha só, tá?
E eu volto pra vocês um cheque de R$ 1000, vamos fechar?
Mil reais? Pode ser?
Dona Tânia, eu não posso aceitar, de forma alguma.
Tenho que seguir com o programa,
temos lei, temos Estatuto da Criança e Adolescente, né?
A gente não pode. Não.
-Obrigado, dona Tânia! -Cacete...
Não, espera aí. Olha aqui, dois mil mais uma TV de plasma
e uma máquina da Nespresso.
Pode ser?
Não. Não. Não. Eu não quero, dona Tânia.
Muito obrigado pela sua participação...
-Não, espera aí. -Porra...
Cinco mil, então, e um Palio quatro portas.
Novo.
Ela falou quatro portas?
Alô?
Dona Tânia, de novo...
Ah, dona Tânia, que brincalhona a senhora!
Ei, que bom que agora a senhora entendeu
a dinâmica da campanha!
E a senhora quer doar o Orestes, seu marido?