×

Nous utilisons des cookies pour rendre LingQ meilleur. En visitant le site vous acceptez nos Politique des cookies.


image

Buenas Ideias, HANS STADEN - O LIVRO MAIS SABOROSO DO BRASIL - EDUARDO BUENO (1)

HANS STADEN - O LIVRO MAIS SABOROSO DO BRASIL - EDUARDO BUENO (1)

Ah, que livro saboroso!

Que prova deliciosa!

Cada palavra parece nutritiva, quanto tempero nessa literatura!

Aí você pensou: "tô tendo um deja vu, já vi esse início!".

Sim, já viu, cara.

Mas aquele início não era sobre esse livro aqui.

Eu jamais falaria aqui sobre o novo livro de Eduardo Bueno, "Textos Contraculturais,

Crônicas Anacrônicas e Outras Viagens", eu não usaria esse canal pra fazer propaganda

de mim mesmo!

E o seguinte, e nem repetiria uma abertura se ela não tivesse ligada a outra história.

Você já viu aqui o episódio do Hans Staden e seu fabuloso livro.

Mas você não viu a história do livro em si!

Do livro em si!

E é isso que faremos agora: a história do LIVRO do Hans Staden!

"Deus me livre, deus me livre!

Tomara que eu não seja obrigado a ler esse livro!".

Hahaha obrigado a ler livro, né.

As pessoas são obrigadas a ler livro.

Uma vez eu tava andando na praia do Rosa em Santa Catarina e veio vindo...

Eu nem ia falar isso, mas é que me lembrei agora, de improviso.

Veio vindo uma mina até que bem interessante e tal, bá, ela olhou pra mim e disse assim:

"tu é o fulano de tal?".

Eu digo "sim, sou eu".

"Eu fui obrigada a ler teu livro no colégio!", bom, problema é teu, cara.

Aliás, é uma bênção ser obrigado a ler um livro meu, né.

Mas mais bênção ainda, cara, é você ser obrigado ou então ler esse livro espetacular.

O livro do Hans Staden.

Eu já contei aqui no episódio anterior, não sei quando ele foi ao ar, a história

do Hans Staden.

Mas tu precisa ver a história do livro, cara!

O Hans Staden veio pro Brasil duas vezes, tanto é que o livro se chama "DUAS Viagens

ao Brasil"...

Veio em 1548, ficou até 49, voltou em 1550 e ficou até 1556.

E aí cara, em 1557, mais especificamente na terça-feira de Carnaval de 1557, em Marburg,

na Alemanha, foi lançado o livro dele.

Porque sabe o que que acontecia?

Muitos caras letrados, muitos escritores de aluguel... esses jornalistas que já tavam

perdendo emprego...

Você sabe, a imprensa acabou, cara, a imprensa acabou por causa do Facebook, do Whatsapp,

a gente não precisa mais de imprensa... então aqueles caras ficaram desempregados justamente

na terra onde havia sido inventada a imprensa, não é.

É ali na Alemanha que o Gutemberg inventou os tipos móveis, né.

Em 1454 o grande Gutemberg criou os tipos móveis e por isso foi inventada a imprensa.

E aí um monte de livros de pessoas que retornavam do Novo Mundo passaram a vender bastante.

O primeiro deles, você sabe, é o Américo Vespúcio.

Eu já falei aqui, ele escreveu um livro chamado "Novo Mundo" que é o livro que batizou a

América e que se passa no Brasil!

Só que esse foi escrito por ele próprio.

A maior parte dos marinheiros que voltavam, os marujos que voltavam do novo mundo eram

analfabetos.

Então ficavam uns caras ali tipo o Eduardo Bueno, o Daniel Defoe... e o cara desembarcava

e o cara perguntava "e aí, viveu muitas aventuras lá?"

e o cara dizia "sim!", daí o cara dizia "me conta que eu vou escrever" E foi isso que

aconteceu com o Hans Staden, cara.

O Hans Staden não era analfabeto de pai e mãe, mas não era um letrado, e ele resolveu,

voltando dessa história incrível, dessa história inacreditável que você já viu

no "Não Vai Cair no ENEM" e se não viu PARA AGORA NESSE MOMENTO esse episódio, vai lá

no episódio do Hans Staden, vê os 24 deliciosos minutos do Hans Staden e agora volta pra esse

ponto aqui e começa a ver a história do livro do Hans Staden.

Ele desembarca na.. de volta a Alemanha, finalmente, em 1556 e resolve escrever o seu relato, ou

ditar o seu relato.

E um cara chamado "doutor Johann"... ãã como era mesmo o nome do cara?

Dryander, Johann Dryander, que era... vou ter que ler o que que ele era.

Ele era catedrático da universidade de não sei da onde...

Que que ele era, que que ele era..

Ele era catedrático duma universidade lá, ãããããã, depois eu vejo aparece aqui,

não interessa, não achei aqui agora, mas ele estudava matemática, ele estudava cosmologia...

E ele, como ele próprio diz, ele apenas editou, corrigiu e aperfeiçoou quando necessário

o relato original do Hans Staden, mas que talvez tenha sido um relato verbal.

O fato é que em 1557 o livro foi lançado.

Sabe qual era o título do livro, cara?

Sabe qual era o título do livro, o título com o qual ele chegou às livrarias?

Claro que não era livraria, esses livros eram distribuídos, né, eram vendidos por

vendedores ambulantes.

O livro se chamava "História verídica e descrição de uma terra de selvagens nus

e cruéis, comedores de seres humanos, situada no Novo Mundo da América, desconhecido antes

e depois de Jesus Cristo e desconhecido aqui nas terras de Hesse até dois anos atrás,

visto que Hans Staden, de Homberg, em Hesse, o conheceu por experiência própria e agora

publica esse livro com as suas impressões".

Hehehe!

Esse é o título do livro, tá aqui, ó, tá aqui o frontispício, tá aqui a capa

original do livro cujo título era esse.

Naquela época os livros realmente tinham esses títulos tão caudalosos quanto um episódio

de NVCNE.

E o livro bombou, cara!

Porque o livro faz a primeira e a mais precisa, a mais minuciosa descrição do banquete antropofágico:

gente comendo gente.

Isso não pega bem, né, olha ali, gente comendo gente.

E aí cara, as pessoas começaram a ler, a ler, a ler.

E em 1558 o livro já saiu em holandês; em 1559 ele saiu em latim; em 1560, ele saiu

em flamenco... né, que é meio belga, meio holandês.

Depois foi publicado na Inglaterra, foi publicado na França, virou um best-seller.

E teve várias edições piratas, teve várias cópias que o Hans Staden e o doutor Drylander

aí não receberam dinheiro nenhum.

Cara, e as pessoas liam assim, de boca... cagááabe... aliás, alguns até salivando

quando descreviam o banquete antropofágico.

E o livro, além de fazer muito sucesso, ainda fez um sucesso... fez um sucesso popular e

teve uma grande fortuna crítica!

Porque os historiadores da época leram e perceberam estar diante de um relato factual,

verdadeiro...

Tinha muita mentira nos livros descritos por outros cronistas...

E o do Hans Staden era de uma precisão impressionante, tudo de fato tinha acontecido!

No entanto, o livro, como soia acontecer aqui nos tristes trópicos, demorou muito tempo

pra chegar aqui no Brasil...

E quando chegou, a primeira tradução portuguesa é de 1892 e é desastrosa!

Ela foi feita por um dos sócios, eméritos sócios, do Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro, que era o Tristão de Araripe Junior...

Mas ele era chefe de polícia.

Porra, chefe de polícia!

Ele também era advogado.

Porra, advogado!

E ele também era... desembargador!

Ah, desembargador ainda vá...

Você sabe, o Canal Buenas Ideias adora desembargadores, é uma classe eleita.

Mesmo assim, o doutor Tristão de Araripe Junior fez um trabalho horroroso, a tradução

é muito ruim...

Não só a tradução dele, porque ele se baseou na tradução francesa que também

já era ruim.

E nem mesmo as notas que ele copiou duma outra edição inglesa feitas pelo Richard Francis

Burton, aquele maravilhoso viajante, que algum dia receberá um episódio só pra ele aqui

no NVCNE, blábláblá, você já sabe, talvez eu grave HOJE o episódio sobre o Francis

Burton...

Ele teve, ele fez essas notas, e as notas foram publicadas mas mesmo assim não salvou

o livro, de tão ruim que ele era.

Mas aí, oito anos depois, em 1900... inclusive, o dia foi lançado no dia 1o de janeiro de

1900, uma tradução de um botânico suíço que veio ao Brasil, Albert Lofgren... e aí

sim, essa é uma boa tradução, feita do original alemão, e ainda tem notas do Teodoro

Sampaio, um engenheiro baiano, historiador, pesquisador e engenheiro, negro...

Um cara inacreditável que merece, algum dia vai ter também um episódio aqui, Teodoro

Sampaio, um dos meus historiadores favoritos do início do século 20...

Que fez as notas do livro, tá.

Essa tradução do Lofgren, ela foi feita direta do original alemão... duma versão

de 1557 que tinha sido adquirida pelo Paulo Prado...

Pelo Eduardo Prado!

O Eduardo Prado era um ricaço, no tempo que rico lia no Brasil... e que era um dos fundadores

da Academia Brasileira de Letras... e que era um cara chique, fino e letrado e um bibliófilo,

um cara que comprava edições originais...

E ele que cedeu essa edição original pro Albert Lofgren traduzir.

Só que mais importante do que isso é o fato de que o Eduardo Prado era pai do Paulo Prado!

E o Paulo Prado era um cafeicultor também rico e parará, que adorava cultura, que morava

em Paris, que escreveu um livro muito importante chamado "O Retrato do Brasil" e que, acima

de tudo, foi o financiador da Semana de Arte Moderna de 1922!

Foi o cara que bancou, foi o mecenas, foi o cara que deu um dinheirão pro Oswald de

Andrade, pra Tarsila do Amaral e pra essa turma toda, Heitor Villalobos, fazerem aquele

grande e marcante.. semana de arte moderna, aquele festival, no Teatro Municipal.

E então se supõe, mas é óbvio que foi, embora seja só uma suposição, não há

provas diretas, que foi ele deu a versão traduzida pelo Lofgren para que a Tarsila

do Amaral e o Oswald de Andrade lessem esse clássico incrível, e foi a partir dessa

leitura que a Tarsila do Amaral, que ficou muito impressionada com o fato de que o Hans

Staden dizia que o prisioneiro tinha que entrar pulando na taba e dizer "vossa comida chegou,

pulando"... foi baseada nessa passagem e nesse livro que ela fez aquela extraordinária pintura,

"O Abapuru", o comedor de gente...

O quadro mais famoso da história da pintura brasileira.

O quadro que fez com que o Oswald de Andrade se inspirasse a lançar o Movimento Antropofágico

e o Movimento do Pau Brasil, baseados nessa leitura que eles tiveram, enlouquecedora,

do clássico do Hans Staden.

E você sabe quem odiava os Modernistas, quem criticava os Modernistas e sempre falava mal

dos Modernistas, né.

Claro, tu sabe, o Monteiro Lobato.

Só que o Monteiro Lobato também ficou vivamente impressionado pelo livro e em 1925 ele resolveu

fazer uma adaptação infantil do livro...

Ele traduziu ou adaptou, talvez, possivelmente até da própria tradução do Lofgren, e

lançou um livro chamado "Meu Cativeiro Entre os índios do Brasil", na qual Dona Benta,

a Emília, barará, recontam a história do Hans Staden...

E é muito incrível porque ele diz o seguinte: qual é o livro mais popular do mundo?

O livro mais popular do mundo é Robison Crusoe, Robison Crusoé...

Só que as aventuras do Robison Crusoé são fictícias..

E as do Hans Staden são ainda mais incríveis e, acima de tudo, verdadeiras, né.

Então ele dizia: "esse livro tem que ser posto dentro da sala de aula!

As crianças tem que ler esse livro, as crianças tem.. vão mergulhar na história do Brasil

colônia de um jeito como nunca mergulharam"... até o advento do Canal Buenas Ideias... com

esse livro, que era verdade.

Bom, mas daí mesmo assim, em 1941, saiu uma outra edição bem boa também, traduzida

pela Guiomar Carvalho Branco...

Carvalho Branco, é isso?

Guiomar Carvalho Branco, acho que sim...

E o Assis Carvalho Branco, que era...

Carvalho Franco, animal!

Guiomar Carvalho Franco e o Assis Carvalho Franco, que era um grande pesquisador dos

bandeirantes paulistas, que fez uma belíssima introdução...

A tradução da Guiomar nem é assim tão espetacular mas as notas do Assis Carvalho

Franco são porque ele vincula a expedição... a presença do Hans Staden no Brasil com a

expedição do Juan Sanabria, que é uma expedição que se tivesse vingado toda a história do

Brasil teria sido diferente... porque os espanhóis iriam ocupar o sul do Brasil que de fato pertencia


HANS STADEN - O LIVRO MAIS SABOROSO DO BRASIL - EDUARDO BUENO (1)

Ah, que livro saboroso! Oh, such a tasty book!

Que prova deliciosa! Such a delicious prose!

Cada palavra parece nutritiva, quanto tempero nessa literatura! Every word seems more nutritious than the last! So much seasoning in this piece of literature!

Aí você pensou: "tô tendo um deja vu, já vi esse início!". And so you thought, “I’m having a deja vu, I’ve seen this start before!”

Sim, já viu, cara. Indeed you did, man,

Mas aquele início não era sobre esse livro aqui. But that start was not about THIS book.

Eu jamais falaria aqui sobre o novo livro de Eduardo Bueno, "Textos Contraculturais, I would never talk about Eduardo Bueno’s new Book, “Countercultural Texts, Anachronistic Chronics and Other Travels!”

Crônicas Anacrônicas e Outras Viagens", eu não usaria esse canal pra fazer propaganda I would never use this channel for my own propaganda!

de mim mesmo!

E o seguinte, e nem repetiria uma abertura se ela não tivesse ligada a outra história.

Você já viu aqui o episódio do Hans Staden e seu fabuloso livro.

Mas você não viu a história do livro em si! THE BOOK itself! The Book!!

Do livro em si!

E é isso que faremos agora: a história do LIVRO do Hans Staden!

"Deus me livre, deus me livre! God forbid, God forbid,

Tomara que eu não seja obrigado a ler esse livro!".

Hahaha obrigado a ler livro, né.

As pessoas são obrigadas a ler livro.

Uma vez eu tava andando na praia do Rosa em Santa Catarina e veio vindo...

Eu nem ia falar isso, mas é que me lembrei agora, de improviso.

Veio vindo uma mina até que bem interessante e tal, bá, ela olhou pra mim e disse assim: "Are you so-and-so?".

"tu é o fulano de tal?". And I was like, “yep, that’s me!

Eu digo "sim, sou eu". She’s like, “I was forced to read your book in school!”

"Eu fui obrigada a ler teu livro no colégio!", bom, problema é teu, cara. Well, that’s your damn problem though, ain’t it?

Aliás, é uma bênção ser obrigado a ler um livro meu, né. In fact, you should consider it a blessing, being forced to read one of my books, no?!

Mas mais bênção ainda, cara, é você ser obrigado ou então ler esse livro espetacular. But even more so of a blessing is being forced to or just reading from this spectacular book.

O livro do Hans Staden. Hans Staden's book.

Eu já contei aqui no episódio anterior, não sei quando ele foi ao ar, a história I talked about it in a previous episode, dunno when that was aired, (it was aired last week, btw) Hans Staden's story .

do Hans Staden.

Mas tu precisa ver a história do livro, cara!

O Hans Staden veio pro Brasil duas vezes, tanto é que o livro se chama "DUAS Viagens so much so that the book is called “Two Trips to Brazil”, (“True History: An Account of Cannibal Captivity in Brazil” in English)

ao Brasil"... coming here first in 1548, staying until 1549, coming back then in 1550 and again departing in 1556.

Veio em 1548, ficou até 49, voltou em 1550 e ficou até 1556.

E aí cara, em 1557, mais especificamente na terça-feira de Carnaval de 1557, em Marburg,

na Alemanha, foi lançado o livro dele. the book was released.

Porque sabe o que que acontecia? And you know what happened?

Muitos caras letrados, muitos escritores de aluguel... esses jornalistas que já tavam Many ‘cultured’ fellows, many half-baked writers, those journalists who were already losing their jobs

perdendo emprego... You know, the paper press is over, man,

Você sabe, a imprensa acabou, cara, a imprensa acabou por causa do Facebook, do Whatsapp, the press is over because of Facebook, Whatsapp,

a gente não precisa mais de imprensa... então aqueles caras ficaram desempregados justamente

na terra onde havia sido inventada a imprensa, não é.

É ali na Alemanha que o Gutemberg inventou os tipos móveis, né.

Em 1454 o grande Gutemberg criou os tipos móveis e por isso foi inventada a imprensa.

E aí um monte de livros de pessoas que retornavam do Novo Mundo passaram a vender bastante.

O primeiro deles, você sabe, é o Américo Vespúcio.

Eu já falei aqui, ele escreveu um livro chamado "Novo Mundo" que é o livro que batizou a

América e que se passa no Brasil! and that takes place in Brazil.

Só que esse foi escrito por ele próprio. Only this one was written by himself.

A maior parte dos marinheiros que voltavam, os marujos que voltavam do novo mundo eram Most of the sailors that returned from the New World

analfabetos. were illiterate.

Então ficavam uns caras ali tipo o Eduardo Bueno, o Daniel Defoe... e o cara desembarcava So there were guys there like Eduardo Bueno, Daniel Defoe… and the guy disembarked and they were like,

e o cara perguntava "e aí, viveu muitas aventuras lá?" “hey, did you have some adventures over there?

e o cara dizia "sim!", daí o cara dizia "me conta que eu vou escrever" E foi isso que And the guy was like, “yeah,” so they say, “tell me and I’ll write about it.”

aconteceu com o Hans Staden, cara. And that’s what happened with Hans Staden.

O Hans Staden não era analfabeto de pai e mãe, mas não era um letrado, e ele resolveu,

voltando dessa história incrível, dessa história inacreditável que você já viu which you’ve already seen in “Não Vai Cair no ENEM”,

no "Não Vai Cair no ENEM" e se não viu PARA AGORA NESSE MOMENTO esse episódio, vai lá and if you didn’t STOP THE EPISODE AT THIS VERY MOMENT

no episódio do Hans Staden, vê os 24 deliciosos minutos do Hans Staden e agora volta pra esse

ponto aqui e começa a ver a história do livro do Hans Staden.

Ele desembarca na.. de volta a Alemanha, finalmente, em 1556 e resolve escrever o seu relato, ou

ditar o seu relato.

E um cara chamado "doutor Johann"... ãã como era mesmo o nome do cara?

Dryander, Johann Dryander, que era... vou ter que ler o que que ele era. …gonna read here what he was…

Ele era catedrático da universidade de não sei da onde... he was a full professor at the University of who-knows where…

Que que ele era, que que ele era.. What was he, what was he…?

Ele era catedrático duma universidade lá, ãããããã, depois eu vejo aparece aqui, He was a Full Professor at the University of… I don’t know, it’s gonna show up here beside me,

não interessa, não achei aqui agora, mas ele estudava matemática, ele estudava cosmologia... doesn’t matter, I didn’t find it now, but he studied mathematics, he studied cosmology…

E ele, como ele próprio diz, ele apenas editou, corrigiu e aperfeiçoou quando necessário And he, as he has said so himself, simply edited, corrected and perfected when necessary

o relato original do Hans Staden, mas que talvez tenha sido um relato verbal. Hans Staden’s original account, one which was maybe a verbal account.

O fato é que em 1557 o livro foi lançado. The fact is that the book was released in 1557.

Sabe qual era o título do livro, cara? Do you know the title of the book, man?

Sabe qual era o título do livro, o título com o qual ele chegou às livrarias? You know what was the title, the original title in which it arrived at the book stores?

Claro que não era livraria, esses livros eram distribuídos, né, eram vendidos por Of course it wasn’t an actual book store, these books were distributed, sold by hawkers.

vendedores ambulantes.

O livro se chamava "História verídica e descrição de uma terra de selvagens nus

e cruéis, comedores de seres humanos, situada no Novo Mundo da América, desconhecido antes

e depois de Jesus Cristo e desconhecido aqui nas terras de Hesse até dois anos atrás,

visto que Hans Staden, de Homberg, em Hesse, o conheceu por experiência própria e agora

publica esse livro com as suas impressões".

Hehehe! That’s the title of the book. Here it is, look, right in the frontispiece,

Esse é o título do livro, tá aqui, ó, tá aqui o frontispício, tá aqui a capa

original do livro cujo título era esse.

Naquela época os livros realmente tinham esses títulos tão caudalosos quanto um episódio

de NVCNE.

E o livro bombou, cara! And the book was a huge success, man!

Porque o livro faz a primeira e a mais precisa, a mais minuciosa descrição do banquete antropofágico: Because the book made the first and most precise and thorough descriptions of the anthropophagic banquet.

gente comendo gente. People eating people.

Isso não pega bem, né, olha ali, gente comendo gente. That really doesn’t sound good, does it, people eating people…

E aí cara, as pessoas começaram a ler, a ler, a ler. And so, the people began to read, and read, and read,

E em 1558 o livro já saiu em holandês; em 1559 ele saiu em latim; em 1560, ele saiu

em flamenco... né, que é meio belga, meio holandês. which, you know, is half-belgian, held-dutch.

Depois foi publicado na Inglaterra, foi publicado na França, virou um best-seller. It was later published in England, it was published in France, it truly became a best-seller.

E teve várias edições piratas, teve várias cópias que o Hans Staden e o doutor Drylander And there were also various pirated copies which neither Hans Staden nor Doctor Drylander received any money from.

aí não receberam dinheiro nenhum.

Cara, e as pessoas liam assim, de boca... cagááabe... aliás, alguns até salivando

quando descreviam o banquete antropofágico.

E o livro, além de fazer muito sucesso, ainda fez um sucesso... fez um sucesso popular e

teve uma grande fortuna crítica!

Porque os historiadores da época leram e perceberam estar diante de um relato factual,

verdadeiro... There was a lot of lying in the books published by other chroniclers,

Tinha muita mentira nos livros descritos por outros cronistas...

E o do Hans Staden era de uma precisão impressionante, tudo de fato tinha acontecido!

No entanto, o livro, como soia acontecer aqui nos tristes trópicos, demorou muito tempo

pra chegar aqui no Brasil...

E quando chegou, a primeira tradução portuguesa é de 1892 e é desastrosa!

Ela foi feita por um dos sócios, eméritos sócios, do Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro, que era o Tristão de Araripe Junior... who was Tristão de Araripe Junior…

Mas ele era chefe de polícia. But he was a chief of police

Porra, chefe de polícia! Shit, a chief of police?!

Ele também era advogado. He was also a lawyer.

Porra, advogado! Shit, a lawyer?!

E ele também era... desembargador! And he was also...a judge!

Ah, desembargador ainda vá... Oh, judge is fine.

Você sabe, o Canal Buenas Ideias adora desembargadores, é uma classe eleita. you know the channel Buenas Ideias loves judges, it is an elected elite.

Mesmo assim, o doutor Tristão de Araripe Junior fez um trabalho horroroso, a tradução Even so, Doctor Tristão de Arrive Junior did a horrendous job,

é muito ruim... the translation is very bad. (Unlike this one)

Não só a tradução dele, porque ele se baseou na tradução francesa que também Not only his translation, because he based that on the French translation, which was already pretty bad.

já era ruim. And not even the notes he copied from the english edition made by Richard Francis Burton,

E nem mesmo as notas que ele copiou duma outra edição inglesa feitas pelo Richard Francis

Burton, aquele maravilhoso viajante, que algum dia receberá um episódio só pra ele aqui

no NVCNE, blábláblá, você já sabe, talvez eu grave HOJE o episódio sobre o Francis You already know, maybe I’ll record TODAY the episode about Francis Burton.

Burton... He had these notes, and the notes were published but even then that didn’t save the book from just how bad it was.

Ele teve, ele fez essas notas, e as notas foram publicadas mas mesmo assim não salvou

o livro, de tão ruim que ele era.

Mas aí, oito anos depois, em 1900... inclusive, o dia foi lançado no dia 1o de janeiro de in fact the book was released the 1st of January 1900, a translation from a Swiss botanist that came to Brazil, Albert Lofgren.

1900, uma tradução de um botânico suíço que veio ao Brasil, Albert Lofgren... e aí a translation from a Swiss botanist that came to Brazil, Albert Lofgren.

sim, essa é uma boa tradução, feita do original alemão, e ainda tem notas do Teodoro And finally, this is a good trasnlation, made from the original German edition, and even has notes from Teodoro Sampaio,

Sampaio, um engenheiro baiano, historiador, pesquisador e engenheiro, negro... an engineer from Bahia, who was also a historian and a researcher, and all that being black of skin.

Um cara inacreditável que merece, algum dia vai ter também um episódio aqui, Teodoro He’s an unbelievable guy who also deserves, one day, to have an episode here.

Sampaio, um dos meus historiadores favoritos do início do século 20... Teodoro Sampaio, one of my favorite historians from the beginning of the 20th Century, who wrote the notes in the book.

Que fez as notas do livro, tá.

Essa tradução do Lofgren, ela foi feita direta do original alemão... duma versão

de 1557 que tinha sido adquirida pelo Paulo Prado... By Eduardo Prado!

Pelo Eduardo Prado! Eduardo Prado was a rich guy who, at the time when rich people in Brazil bothered to read, was also a founder of the Brazilian Academy of Letters.

O Eduardo Prado era um ricaço, no tempo que rico lia no Brasil... e que era um dos fundadores

da Academia Brasileira de Letras... e que era um cara chique, fino e letrado e um bibliófilo, He was a chic fellow, fine, cultured and lettered, besides being a bibliophile.

um cara que comprava edições originais... A guy who bought the original editions.

E ele que cedeu essa edição original pro Albert Lofgren traduzir. And he was the one who gave this original version for Albert Lofgran to translate.

Só que mais importante do que isso é o fato de que o Eduardo Prado era pai do Paulo Prado!

E o Paulo Prado era um cafeicultor também rico e parará, que adorava cultura, que morava

em Paris, que escreveu um livro muito importante chamado "O Retrato do Brasil" e que, acima who wrote a very important book called “The Portrait of Brazil”

de tudo, foi o financiador da Semana de Arte Moderna de 1922! and that, above all, was the benefactor behind the Modern Art Week of 1922!

Foi o cara que bancou, foi o mecenas, foi o cara que deu um dinheirão pro Oswald de

Andrade, pra Tarsila do Amaral e pra essa turma toda, Heitor Villalobos, fazerem aquele

grande e marcante.. semana de arte moderna, aquele festival, no Teatro Municipal.

E então se supõe, mas é óbvio que foi, embora seja só uma suposição, não há though it is simply speculation, there is no direct evidence,

provas diretas, que foi ele deu a versão traduzida pelo Lofgren para que a Tarsila

do Amaral e o Oswald de Andrade lessem esse clássico incrível, e foi a partir dessa

leitura que a Tarsila do Amaral, que ficou muito impressionada com o fato de que o Hans

Staden dizia que o prisioneiro tinha que entrar pulando na taba e dizer "vossa comida chegou, “Thou food hast arrived jumping,”

pulando"... foi baseada nessa passagem e nesse livro que ela fez aquela extraordinária pintura, made based on this passage from this book an extraordinary painting.

"O Abapuru", o comedor de gente... “O Abapuru”, the man-eater.

O quadro mais famoso da história da pintura brasileira. The most famous painting in the history of Brazilian art.

O quadro que fez com que o Oswald de Andrade se inspirasse a lançar o Movimento Antropofágico

e o Movimento do Pau Brasil, baseados nessa leitura que eles tiveram, enlouquecedora,

do clássico do Hans Staden.

E você sabe quem odiava os Modernistas, quem criticava os Modernistas e sempre falava mal And you know who hated the Modernists, who criticized the modernists and always spoke badly of the Modernists, right?

dos Modernistas, né. Of course you know, it's Monteiro Lobato.

Claro, tu sabe, o Monteiro Lobato.

Só que o Monteiro Lobato também ficou vivamente impressionado pelo livro e em 1925 ele resolveu

fazer uma adaptação infantil do livro...

Ele traduziu ou adaptou, talvez, possivelmente até da própria tradução do Lofgren, e

lançou um livro chamado "Meu Cativeiro Entre os índios do Brasil", na qual Dona Benta,

a Emília, barará, recontam a história do Hans Staden...

E é muito incrível porque ele diz o seguinte: qual é o livro mais popular do mundo? what is the most popular book in the world?

O livro mais popular do mundo é Robison Crusoe, Robison Crusoé... The most popular book in the world is Robinson Crusoe.

Só que as aventuras do Robison Crusoé são fictícias.. But the adventures of Robison Crusoe are fictitious

E as do Hans Staden são ainda mais incríveis e, acima de tudo, verdadeiras, né. and Hans Staden’s are even more incredible and, above all, true.

Então ele dizia: "esse livro tem que ser posto dentro da sala de aula! So he said, “This book must be implemented into the classrooms!

As crianças tem que ler esse livro, as crianças tem.. vão mergulhar na história do Brasil The children must read this book, the children will dive into the history of colonial Brazil in a way like never before

colônia de um jeito como nunca mergulharam"... até o advento do Canal Buenas Ideias... com (at least until the advent of Buenas Ideias)

esse livro, que era verdade. with this book," which was true.

Bom, mas daí mesmo assim, em 1941, saiu uma outra edição bem boa também, traduzida

pela Guiomar Carvalho Branco...

Carvalho Branco, é isso? Carvalho Branco, is that it?

Guiomar Carvalho Branco, acho que sim... Guiomar Carvalho Branco, I think so ...

E o Assis Carvalho Branco, que era... as well as Assis Carvalho Branco, who was-

Carvalho Franco, animal! Carvalho Franco, you animal!

Guiomar Carvalho Franco e o Assis Carvalho Franco, que era um grande pesquisador dos

bandeirantes paulistas, que fez uma belíssima introdução...

A tradução da Guiomar nem é assim tão espetacular mas as notas do Assis Carvalho

Franco são porque ele vincula a expedição... a presença do Hans Staden no Brasil com a

expedição do Juan Sanabria, que é uma expedição que se tivesse vingado toda a história do

Brasil teria sido diferente... porque os espanhóis iriam ocupar o sul do Brasil que de fato pertencia as the Spanish would occupy the south of Brazil, as it would in fact belong to them.