T3E8
Maria, finalmente.
Os antígenos, vocês precisam se injetar.
Eles são muito importantes.
Ele está aí?
Ele está aí?
Tá, eu vou mudar para chamada de vídeo.
Não, não, não, só a voz.
Eu não quis nem ver a foto do escritor.
Se ele sentasse do meu lado, eu nem reconheceria.
Eu acho que é melhor assim.
Ok, eu estou botando no vivo a voz.
Paciente 63, temporada 3, episódio 3.
A vacina não é uma coisa fácil.
A vacina é uma coisa que é impossível.
A vacina é uma coisa que é impossível.
A vacina é uma coisa que é impossível.
A vacina é uma coisa que é impossível.
A vacina é uma coisa que é impossível.
A vacina é uma coisa que é impossível.
A vacina é uma coisa que é impossível.
Você já falou com o mensageiro?
Eu já.
Eu posso supor então que você esteja com a moeda?
Estou.
Então, é você?
Eu acho que sim.
E como você está se sentindo com isso tudo?
Eu sinto que amanhã eu vou acordar no hotel e tudo não vai ter passado de um sonho.
Em alguma linha você vai mesmo acordar amanhã e tudo não vai ter passado de um sonho.
Deixa pra lá.
Você não se lembra de mim, mas eu lembro de você.
Eu adoraria te acompanhar nessa passagem, mas como você já sabe, existem planos que vão muito além.
A gente pode pegar o metrô e chegar no aeroporto em menos de uma hora.
Falar pessoalmente, com calma.
Você está falando igualzinho como quando eu tentava compreender a minha revolta adolescente.
Fala onde a gente vai te encontrar.
Não, não. Não venham. Não vem.
Não, não venham. Beatriz, não vem.
Esse é o meu momento. Está no meu destino.
Maria, Maria, escuta. É pra gente se preocupar?
Você quer saber se eu trouxe?
Quero.
Sim. Está aqui comigo.
As coisas são bem mais fáceis do que a gente pensa.
Dá pra entrar no aeroporto com um recipiente de contenção biológica e ninguém fala nada.
Eles tiraram da minha mochila uma garrafa d'água e um alicate de unha,
mas deixaram o recipiente suspeito só porque ele tinha menos de 100 ml e estava dentro de um saco plástico transparente.
É assim que funciona.
Maria, eu só quero que você leve em conta as consequências.
Estamos todos muito confusos.
Confusos? Confusos não é a palavra certa.
Não tem mais palavra pra expressar o que a gente está vivendo, não é?
Um tipo de êxtase, talvez?
E sim, eu avaliei as consequências.
Durante dez anos eu pensei em todas as possibilidades e as consequências.
Três pessoas. Não. Quatro com o Gaspar Marinho.
Cinco com a Sofia. Cinco.
Abandonamos a realidade.
Vocês não sentem raiva só de saber?
Vocês não espumam de raiva só de estar em Roma e não saírem pra andar, tomar um sorvete, um café?
Raiva de não curtir a inconsciência, de não compreender, de não perceber o desenho?
A trama complexa na qual a gente está totalmente preso e não suspeitar de nada?
Não é uma loucura?
Aqui, no aeroporto.
Todos com pressa. Propagandas por toda parte. Black Friday.
Um perfume novo. Uma árvore de Natal gigante.
Corais natalinos.
Pessoas rindo do meu lado.
Pessoas bravas nas redes achando que os outros não têm nada a ver com elas.
Como formigas num galho.
E eu, que não sou ninguém. Ninguém.
A moça da mochila verde, cabelo vermelho. Couturnos.
Vou definir a vida deles.
Até a dos netos e eles nem imaginam.
Não sabem que é precisamente essa desconhecida que vai destruir o mundo deles.
Se a gente tivesse esse pensamento,
que aquele que está do nosso lado é responsável pelo nosso futuro e que, ao mesmo tempo,
eu sou responsável pelo futuro de quem senta do meu lado,
isso teria mudado tudo.
Mas não foi assim.
Agora, agora eu quero mais é que todo mundo se foda.
Não, não, Maria.
Eu conheci você.
Você era uma moça simpática, que tinha compaixão.
Mas eu te ouço agora e você tem o mesmo discurso.
Equivocadamente bem intencionado e radical de quem machuca inocentes.
Com a mesma loucura dos líderes que tem levado o mundo à beira da destruição.
Não importa o que você planejou em detalhes nesses dez anos.
Você ainda pode se arrepender e não virar um monstro.
Eu sempre fui um monstro, Beatriz.
Uma organização no futuro gastou recursos absurdos para mandar alguém para me deter.
Uma outra você tentou, ou vai tentar, o tempo verbal dá na mesma,
me anular para evitar o meu destino.
Não é disso que se trata?
Impedir que Maria Cristina Borges pegue o voo 6433 para Madrid?
Eu cresci sabendo desse destino.
Você vai me dizer isso quando voltar e a gente se encontrar em 2012.
Eu sempre fui um monstro.
Uma destruidora de mundos em todas as variações e todas as linhas.
Pois bem.
Nessa, eu vou ser mesmo.
Pense um pouco, Maria.
Eu já pensei. Durante um tempo eu pensei.
Que isso era uma criação da minha mente.
Não, não existem os viajantes. Eu não estou predestinada, nada é real.
Além disso, qual é a probabilidade de que alguém que se chame Maria Cristina Borges...
possa gerar uma cepa que seja realmente preocupante?
Tem muito acaso envolvido.
Mas de repente aconteceu o impensável.
Eu deixei a Daniela e o ativismo dela e logo depois conheci uma virologista.
Uma virologista que estava partindo para Roma para trabalhar em algo chamado de...
ganho de função.
Vírus melhorados.
E a gente achou que estava apaixonada.
Eu achei que estava apaixonada por alguém que iria trabalhar na coisa mais assustadora que um ser humano possa fazer.
Criar monstros microscópicos.
E foi nesse tempo que a gente leu o livro.
E descobriu a chave.
Aquilo já não era mais acaso.
Aquilo era a revelação.
A gente achava que a variante Pegaso era resultado do acaso, mas ela nunca foi uma mutação natural.
Existe um plano específico gerado pelo próprio projeto.
Alguém precisava desenhar essa variante e alguém precisava espalhar.
Então, eu compreendi.
Eu não era uma vítima.
Eu era a agressora.
Eu era responsável pela criação do Pegaso.
Eu iria disseminar o Pegaso.
Mas claro, alguma coisa em mim se recusava a aceitar.
Até que veio o primeiro sinal.
24 de fevereiro e o início de um conflito que pode até virar uma guerra nuclear.
O mundo começava a ficar ainda mais sombrio.
E logo depois um segundo sinal.
Hoje mesmo.
24 de novembro.
Os resultados dos exames da Daniela.
A certeza da minha compatibilidade.
Meu sangue salvando ela.
Não é absurdamente paradoxal?
Eu viajo para salvar uma vida.
Eu viajo para eliminar multidões.
E faço isso justamente para evitar nossa destruição.
Maria, escuta.
Vocês já se perguntaram sobre o projeto?
Se perguntaram o que ele quer da gente?
Evitar o fim.
É!
Evitando o Pegaso.
Talvez não.
Talvez seja esse o nosso erro.
O Pegaso é necessário.
No mínimo é necessário para chegar em 2062.
Sem ele a extinção vai chegar antes.
Até 2019 a gente viveu uma festança.
Ninguém se importava com a ressaca.
Alguém ia resolver isso mais pra frente.
Então, ninguém tomou nenhuma medida decisiva.
Mesmo quando todos acompanhavam as notícias.
As calotas polares derretendo.
Mega incêndios, secas.
Migrações descontroladas.
A demora dos políticos.
Apatia generalizada.
E o que aconteceu?
Nada!
Nada significativo, pelo menos.
E depois?
A pandemia.
Todo mundo falou.
Isso vai nos deter.
Isso vai fazer a gente reagir.
Isso vai unir a gente.
E até que funcionou durante algum tempo.
Mas só alguns meses.
Logo depois a humanidade voltou a fazer com fúria o que sabe fazer de melhor.
Depredar.
Tentar se destruir.
Alguém transformou mesmo a sua vida?
Muito poucos.
Então, o que precisa acontecer é alguma coisa tão enorme que acorde a gente de vez.
Que reinicia a vida tal como a conhecemos.
Esse evento é o Pegasus.
Ele vai deter o fim.
Você está combatendo a morte com a morte.
Isso não é justo.
Maria, por favor.
Eu ouço o que você está falando.
Você diz que o Pegasus vai impedir o fim, mas ao mesmo tempo o Pegasus vai destruir a gente.
Você está se contradizendo.
Ele vai nos fazer reagir.
Ele vai mudar o jogo.
Ele não vai aniquilar a gente.
Vai ser desgastante, eu sei.
É difícil de dar conta.
Mas pelo menos a gente vai quebrar o mecanismo.
Eu escutei a gravação da velha.
Ela disse pra mim, quebra o mecanismo.
Já experimentamos milhares de vezes todas as possibilidades.
Agora eu digo, hora de experimentar o contrário.
Ok, a tua lógica faz sentido.
E eu acho que as palavras já não são mais suficientes.
Mas você não pode tomar essa decisão sozinha.
E se existir outra solução que você não está enxergando?
Você disse que o Pegasus pode fazer o planeta refletir.
Talvez exista outro caminho.
Talvez a própria humanidade se reinicie.
Não por causa de um vírus.
Mas por uma líder ou um líder inspirador.
Não dá mais tempo pra essa alternativa.
Quem sabe esse líder já exista.
E pode não ser um só.
Talvez se trate de uma nova geração que vai mudar tudo.
Precisa de tempo.
Não.
Não dá mais tempo pra atos de fé.
Beatriz, você é médica.
Não, pensando bem, os dois são.
Então, pensem como médicos.
Um grupo de células enlouquecidas, desorganizadas,
começam a se reproduzir sem controle.
Começam a danificar os órgãos em volta delas.
O organismo morre.
O câncer é assim. Vocês sabem.
O tratamento é simples.
Ou você faz alguma coisa, ou você morre.
As células cancerígenas somos nós.
Nós já invadimos todos os sistemas.
A gente é que nem um câncer no pulmão.
Destruindo as árvores brônquicas e os alvéolos, o organismo morre.
A solução, por acaso, é esperar o milagre?
Esperar acontecer dentro do corpo uma mudança que até então nunca tinha acontecido?
Não.
O câncer continua avançando.
Enquanto a gente só está começando a se preocupar com sistemas políticos e econômicos
que poderiam achar uma solução,
a destruição já é irreversível.
A pandemia nos ensinou uma coisa.
Uma coisa horrível.
Tem pessoas que pensam nos outros,
e outras que pensam só no seu próprio egoísmo.
A guerra e a propagação da pandemia são a mesma coisa.
O egoísmo individual e o egoísmo dos governos
fizeram com que o vírus tivesse mais hospedeiros
e com cada hospedeiro, maior capacidade de mutação.
A pergunta que fica é, como resolver o câncer?
O Pégaso.
O Pégaso é a quimioterapia da humanidade.
Se a gente não reiniciar as mentes agora,
vamos ficar condenados.
O mundo vai acabar bem antes de 2062.
Maria, tem que existir uma outra opção.
Me dá tempo pra te ajudar.
Eu já falei.
Não dá mais tempo.
E eu não preciso de ajuda.
Eu estou a poucas horas de distância de uma decisão que eu construí durante dez anos na minha cabeça.
Esta é a linha.
Esta é a linha.
Minha filha, por favor...
Chega!
Hoje é o dia de disseminar o Pégaso.
A geração entre pandemias começa agora.
O Pégaso é a linha.
A geração entre pandemias começa agora.
A geração entre pandemias começa agora.
Paciente 63 é uma série original Spotify,
protagonizada por Mel Lisboa e seu Jorge,
criada por Julio Rouras.
A CIDADE NO BRASIL
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