T2E1
Latence
Scotty
Beatriz?
Cê tá bem?
Nossa, a gente precisa ir pra...
Pode ir, pode ir.
Mas...
Vai.
Vai, eu tô bem.
Como assim?
Eu não posso te deixar sozinha.
Você vai perder.
Maria, vai, por favor.
Mas...
Mas você tem certeza que...
Vai!
CELULAR VIBRANDO
Beatriz, você tá bem?
Pedro?
Paciente 63
Temporada 2
Episódio 1
Vórtice Perdido
Beatriz, você tá bem?
Pedro?
Pedro?
Não.
Eu não tô bem.
Onde é que você tá?
Eu quero que você se acalme e preste atenção.
A gente perdeu o vórtice.
Já não tem mais chance de reverter o Pégaso.
Pedro...
Pedro, eu não consegui.
Eu não consegui se imunizar a Maria, a minha irmã...
Eu sei.
Pedro, eu acabo de assassinar milhares...
Milhões de pessoas.
Você sacrificou desconhecidos por alguém que você ama.
Eu fiz a mesma coisa.
Beatriz, ninguém está realmente preparado pra tomar decisões como essas.
Mas...
Beatriz, não se julgue.
Eu não julgo você.
Isso fazia parte das possibilidades.
E o que vai acontecer agora?
Nessa linha de tempo, a gente não evita o Pégaso.
Agora esquece tudo.
Não, espera.
Talvez se eu a encontrasse depois do tratamento da minha irmã...
Eu sei onde a Maria vai ficar.
Eu posso buscar ela em Madrid.
Ela vai estar no hospital com a Mir...
Tá demais.
A mutação da proteína que vai gerar a nova cepa vai acontecer na Maria durante o voo.
Ao chegar em Madrid, 56 passageiros dos 212 vão disseminar o Pégaso.
E vai ser impossível manter eles.
Não há um novo vórtice no futuro.
Essa é uma linha perdida.
Volte para casa.
Continue com a sua vida.
O que vai acontecer com você?
Isso não importa.
Se você me ligou é por alguma razão.
Tem alguma coisa que eu possa fazer ainda?
Tem algo que eu possa fazer?
Tem alguma outra solução?
Te liguei porque eu prometi que jamais te deixaria sozinha, Beatriz.
Pedro, existe alguma outra solução?
Existe, mas é perigosa.
A tua mente poderia se perder.
Você não foi treinada...
O que eu devo fazer?
Livre a abdômen.
A decisão é tua.
O que eu devo fazer, Pedro?
Você se lembra do que a gente falou sobre os heróis desconhecidos que nunca vão ser lembrados?
Você está disposta a aceitar que ninguém se lembre de você?
A naufragar numa linha e fazer algo que você nunca vai conseguir comprovar?
Para pessoas que você nunca vai conhecer?
Fala de uma vez que merda que eu tenho que fazer!
Você não vai voltar, Beatriz.
Vai ficar sozinha.
Depois de fazer a reparação, se você conseguir, vai ficar presa.
E vai ter que ser invisível.
Você vai ser um mero número que sobrou num universo que não te pertence.
Como você?
Sim, como eu. Agora.
Mas dessa vez não se trata de mim.
Eu já abandonei minha vida.
Eu já estou num universo que não me pertence.
Agora me diz o que eu tenho que fazer.
Espere um pouco.
Não, não hesita, Pedro.
Eu não preciso que você me proteja. Eu cometi um erro e quero consertar.
Você está sozinha no banheiro?
Sim.
Você tem certeza?
Beatriz, você tem que ter certeza absoluta.
Pedro, por favor, eu preciso fazer isso.
Ok. Preste atenção.
Eu preciso que você se tranque numa cabine do banheiro e me mande a sua localização exata.
Isso é muito importante.
Depois que você me mandar a sua localização, você não pode mais sair desse lugar.
Você entendeu?
A minha localização?
Entendi.
Você precisa ficar trancada.
Você ainda tem um sedativo?
Tenho. Flunitrazepam.
Você quer a médica aqui?
Que quantidade você precisa tomar para dormir em até dez minutos?
Três miligramas.
Ok. Faça isso agora.
E o que vai acontecer?
A gente vai se ver?
A gente vai se encontrar?
Pedro!
É fundamental que ninguém veja você.
Eu vou precisar sonhar?
Eu tenho que sonhar?
É por isso que eu preciso dormir?
Eu vou informar a sua localização e a hora exata para as pessoas do projeto.
Eles vão saber o que fazer e te dar as instruções.
O projeto?
Aqueles caras que te mandaram?
Você não pode perguntar agora para eles?
Eu mesmo vou contar para eles.
Mas daqui a quarenta anos.
Pronto.
Eu entrei em uma cabine.
Agora estou te mandando a minha localização.
Eu recebi.
Não saia daí.
Toma o seu sedativo agora.
Ok. Toma.
Antes de você adormecer,
eu vou te mandar um pedaço de café.
Ok.
Eu vou te mandar um pedaço de café.
Ok.
Eu vou te mandar um pedaço de café.
Ok.
Eu preciso que você decode isso aqui.
Uma melodia.
Uma melodia? Uma música?
A radiação remanescente da viagem vai alterar a tua cronobiologia.
O teu corpo vai eliminar as tuas lembranças.
Porque o tempo das lembranças vai entrar em conflito com o teu tempo biológico.
A área do teu cérebro, onde se percebe o tempo, vai se alterar radicalmente.
Isso quer dizer que...
Que você vai esquecer tudo.
Para evitar isso, você precisa lembrar dessa melodia.
Nos pacientes com Alzheimer, a música volta a acender recordações.
As lembranças musicais ficam armazenadas no cérebro,
em partes diferentes daquelas das lembranças autobiográficas.
Eu não tenho tempo para explicar isso para você agora.
Você sabe do que eu estou falando.
Agora, simplesmente ouça.
Aconteça o que acontecer, Beatriz. Não se esqueça dela.
Se você perder a sua mente, não vai conseguir procurar o forte verdadeiro.
Eu vou ficar bem, Pedro.
Eu sei.
Você é a mulher mais corajosa que eu conheço.
Eu também.
Eu também.
Eu também.
Eu também.
Eu também.
Você está aí?
Estou com você.
Vamos nos ver de novo alguma vez?
Existe uma linha do tempo em que as coisas deram certo.
Foi o nosso evento Garnier Mali.
Não podemos nos esquecer disso.
Fica comigo até eu dormir?
Fica comigo até eu dormir?
Estou aqui.
Inteiro.
Pedro?
Pedro?
Pedro?
Calma.
Calma.
Calma.
Para o registro.
Paciente com delíria e alteração de personalidade, confusão,
foi encontrada no interior de um banheiro do aeroporto internacional.
Interrogada pela polícia e por mim,
ela disse ser uma viajante no tempo que veio do ano 2022.
A paciente parece ter conhecimento de medicina e psiquiatria.
Foi medicada com lanzapina 10mg por via endovenosa para estabilizar a sua psicose.
A paciente foi levada para o hospital.
Ela deve permanecer internada na unidade de pacientes de alta complexidade.
Enquanto não soubermos com certeza a sua verdadeira situação e sua identidade,
ela deve permanecer internada na unidade de pacientes de alta complexidade.
Hora 10h30, 25 de novembro de 2012.
Primeira sessão para o registro.
Você está melhor?
Posso fumar?
Pode, claro.
Você se incomoda se eu gravar?
Não se preocupe, só eu vou ouvir essas gravações.
É um hábito meu.
Me ajuda a pensar melhor.
Como é que você quer que eu te chame?
Porque eu estou aqui?
Pela sua segurança?
Não, não.
Eu não quero que você me chame.
Eu não quero que você me chame.
Por que eu estou aqui?
Pela sua segurança?
Porque...
Como você disse que se chama?
Eu sou o doutor Vicente Correa, chefe do departamento de psiquiatria.
Você está numa unidade de...
De reabritação psiquiátrica.
De algum jeito eu já sei.
E eu também sei o que você vai fazer.
Você vai anotar no seu caderno que eu sou uma mulher com algum tipo de distúrbio mental,
que tem um surto psicótico.
E...
Não, eu não consigo lembrar.
Você tem consciência de que tem um surto psicótico?
É você quem tem que decidir isso, não eu.
Doutor, você já tem o seu diagnóstico pré-definido há horas.
Isso tudo, o gravador, essa conversa.
Então você já esteve aqui antes?
Aqui?
Muitas vezes.
Você lembra quem a atendeu?
O médico responsável?
Você não sente que de algum jeito tudo se repete?
Essa situação é a mesma.
Para o registro.
A paciente já esteve sob tratamento psiquiátrico antes?
Não.
Não?
Não.
Eu não passei por tratamento psiquiátrico.
Pelo contrário.
Pelo contrário.
Eu sou...
Eu...
Eu tinha uma missão.
Você sente que foi chamada para uma missão?
É...
Eu acho que sim.
Você se sente alguém especial que recebeu um chamado?
Você me fez especial.
Você não lembra?
Você tem algum parente que possa chamar?
Eu... Eu não sei.
Você já foi internada antes?
Não.
Você já foi medicada alguma vez?
Não.
Você já foi diagnosticada com algum tipo de transtorno de personalidade?
Não.
Você já fugiu de algum abrigo?
Não. Não, olha...
Você costuma desmaiar?
Não!
Por favor, senta.
Eu preciso sair daqui.
Senta, por favor.
Obrigado.
Você quer um copo d'água?
Quero. Obrigada.
Agora me conta a última coisa que você se lembra.
Alguma coisa desse ano, desse 2012.
Esse 2012...
Eu não me lembro.
Esse 2012...
É o 2012?
Hoje é 25 de novembro de 2012, sim.
Você se lembra de alguma coisa desse ano que a gente está?
Eu lembro que...
Eu lembro que a gente ainda acreditava no futuro.
Que tudo ia dar certo.
Todo mundo sabia que a situação estava péssima, mas...
A gente pensava que tinha a solução.
A gente quem?
Quem pensava isso?
Todos nós. O mundo.
O que você estava fazendo no aeroporto?
O que eu estava fazendo no aeroporto?
Encontraram você nua desnorteada falando que o mundo ia acabar em 2062.
Eu falei 2062?
Falou 2062.
Enquanto a gente trazia você pra cá, você falou essa data.
2062.
Você vem do futuro?
De 2062?
Não.
Quer dizer, não de 2062.
Mas você disse que vinha do futuro.
Você não acha que uma afirmação tão incomum dessas deveria estar acompanhada por algum tipo de prova?
Digo, pra eu poder acreditar em você.
Isso...
Isso aqui já aconteceu.
O que que já aconteceu?
Essa situação.
Você lembra quando cortou o cabelo?
Essa tatuagem parece recente.
Você lembra quando foi que fez?
E por que você fez?
Eu queria viajar.
Você planejava viajar pra algum lugar?
É... Eu acho.
Acho que sim.
Pra me encontrar com alguém.
Alguém tava me esperando.
Como é que você disse que se chama?
Você não lembra do meu nome.
Eu falei no começo dessa conversa.
Pedro.
Você se chama Pedro.
Doutor, você pode sair um instante, por favor?
Rua da Mata, 350 Itaim Bibi, São Paulo.
Esse endereço também lhe é familiar?
Do que você tá falando?
Essa foto. Você se reconhece?
É... Sim. Sim, sou eu.
O que que é isso?
Você não sabe?
Não.
Não sei.
Sim. Sim, sou eu.
O que que é isso?
Paciente ficha número 63.
Agosto de 2010.
A paciente entra em crise depois de seu filho de seis anos falecer como consequência de um vírus respiratório e uma pneumonia.
No dia 22 de setembro, é internada devido a um surto psicótico grave.
De quem você tá falando?
Junho de 2011. Mais uma crise psicótica.
A paciente começa a ter delírios sobre o fim do mundo.
Diz receber mensagens de seres do futuro.
Depois muda de história e em outubro de 2012 tem outra crise.
Fica nua e diz vir do ano de 2062.
E que um vírus chamado Pegasus vai acabar com a civilização.
Pegasus?
Pegasus.
O que é isso tudo?
Seu marido tá lá fora. Ele quer que a gente ajude.
O meu marido?
Não, é impossível, doutor. Eu não tenho marido.
Você ia viajar com ele.
Mas você se perdeu no aeroporto.
Tomou comprimidos pra dormir.
Aparentemente teve um efeito paradoxal. Uma crise.
Foi isso que aconteceu.
Você tinha razão, Emília.
Emília?
Quem é Emília?
Emília Sanz.
Esse aqui é o seu histórico.
Essa é a sua ficha médica.
Emília Sanz.
Emília Sanz.
Essa é a sua ficha médica.
Eu lembro desse número.
Paciente 63.
Fui eu que atendi.
Emília.
O paciente 63...
é você.