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Foro de Teresina - Podcast (*Generated Transcript*), #258: Balão vai, balão cai - Part 1

#258: Balão vai, balão cai - Part 1

Rádio Piauí.

Olá, sejam muito bem-vindos ao Foro de Terezina, o podcast de política da revista Piauí.

Acredito que eu posso falar, falo bem mais alto. Não pretendo, não gostaria de perder

minha gente por isso. Não sei se vou ser candidato o ano que vem a prefeito, o governador, não sei.

Eu, Fernando de Barros e Silva, na minha casa em São Paulo, tenho o prazer de conversar

com o meu amigo José Roberto de Toledo, aqui pertinho. Opa, Toledo!

Opa, Fernando!

Não se trata do governo ficar brigando com o Banco Central.

Quem tá brigando com o Banco Central hoje é a sociedade brasileira,

porque é irracional o que está acontecendo no Brasil.

Thaís Bilente, também em São Paulo. Salve, salve, Thaís!

Salve, salve, Fernando, Toledo!

O Brasil voltou a pensar a segurança pública a partir do lugar e do único lugar

onde ela deve ser pensada, que é a parte da Ciência.

Vamos sem mais delongas para os assuntos da semana.

Chegou o dia D, ou dia B, dia disso daí.

No caso ontem, para você que nos ouve nessa sexta, o Tribunal Superior Eleitoral

começou a julgar a ação que pode tornar Jair Bolsonaro inelegível por oito anos

por crime eleitoral na campanha do ano passado.

Se confirmada, a condenação tira Bolsonaro do jogo político institucional

e, em tese, enfraquece seu raio de influência no campo da direita.

Ficar inelegível, no entanto, é pouco, ridiculamente pouco, frustrante e até assentoso

diante dos crimes que o ex-presidente cometeu ao longo de seu mandato.

Menos mal se for apenas o início de condenações que deveriam ter começado lá atrás

e foram barradas por falta de pressão popular, debilidade das instituições,

prevaricação de figuras que ocupavam e ainda ocupam cargos de destaque na República,

como o Procurador-Geral Augusto Aras e o presidente da Câmara, Arthur Lira.

De toda forma, as coisas não vão bem para Bolsonaro.

Na última sexta-feira, a revista Veja revelou que o celular de Mauro Cid,

o ex-ajudante de ordens, continha uma espécie de passo a passo do golpe.

Cidinho, o Queiroz de Farda, trazia em seu aparelho uma minuta

que definia a nomeação de um interventor investido de poderes absolutos

para restabelecer a ordem constitucional, entre aspas, no prazo de um mês, um ano ou o tempo necessário.

Tal interventor suspenderia as decisões que considerasse inconstitucionais,

entre elas a diplomação do presidente Lula, aquela altura já eleito.

No celular de Mauro Cid foram encontradas também troca de mensagens com generais

que insistiam no golpe e cobravam a ação do presidente.

Tudo isso acrescenta mais detalhes e mais cores a um quadro

cujos contornos já eram conhecidos nas últimas semanas.

Falaremos disso e da CPI do 8 de janeiro, que começou a ouvir personagens

desta página infeliz da nossa história, e que seja permitida, Thais Bilenk,

esta nota poética para homenagear o aniversariante da semana, Chico Buarque,

que completou 79 anos no dia 19.

Na terça, a CPI ouviu o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vazquez,

e o quinta, Jorge Washington de Oliveira Souza, preso desde dezembro

por ser um dos orquestradores do atentado à bomba contra um caminhão de combustível

no aeroporto de Brasília, na véspera do Natal.

Nunca será demais trazer à luz e punir esses personagens sinistros

que trafegavam entre a sabotagem da democracia e o terrorismo explícito,

sempre em nome da perpetuação de Bolsonaro do poder.

No segundo bloco, vamos falar de economia.

O COPOM, Comitê de Política Monetária, manteve a taxa de juros em 13,75,

o que era esperado por todos, mas além disso, não deu nenhum sinal

de que a taxa vai começar a cair a partir de agosto,

o que muita gente esperava da reunião desta última quarta.

O arrocho monetário prossegue, não se sabe por quanto tempo,

a despeito de vários sinais positivos na economia.

A inflação está vindo abaixo do que se projetava,

e o crescimento deste ano será maior do que projetavam os entendidos

nos primeiros meses do ano.

O dólar deu uma recuada e foram divulgados números positivos

a respeito da criação de empregos formais no país.

Se houve frustração com o COPOM, no Senado, o arcabouço fiscal

foi aprovado nesta quarta.

Ninguém tem motivos para ficar eufórico, mas a economia do país

começa a suscitar aqui e acolá doses moderadas de otimismo.

Otimismo, mas como estamos no Brasil, não se pode ser otimista impunemente.

No terceiro bloco, a gente vai falar de violência.

Aconteceu nesta semana o 17º encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,

o primeiro realizado na região norte e o primeiro a colocar a Amazônia

no centro das discussões.

Foram debatidos temas urgentes, como a violência de gênero,

os conflitos fundiários, o avanço do tráfico de drogas

sobre comunidades tradicionais da Amazônia,

a retomada do controle de armas e munições no país.

Comentaremos alguns desses tópicos mais adiante.

É isso, vem com a gente.

O apresentador está sem voz, mas o programa vai ser bom.

O BOLSONARO VINHA SE COMPORTANDO COMO IRIAM OS SEUS CONSELHEIROS POLÍTICOS E JURÍDICOS

Muito bem, Thaís Bilenk, vamos começar com você.

Um olho aqui nos rapazes, Thaís e o outro, no julgamento do Bolsonaro,

que está em curso já.

O Bolsonaro vinha se comportando como queriam os seus conselheiros políticos e jurídicos,

se mantendo minimamente abaixo do radar, com alguma descrição,

embora aparecendo, mas com descrição.

E na quarta-feira, no início do julgamento dele no Tribunal Superior Eleitoral,

ele deu como se fosse um grito de desespero.

Ele foi ao Senado conversar com o Flávio Bolsonaro, filho dele,

um pouco antes da sabatina do Cristiano Zanin,

novo ministro do Supremo Tribunal Federal,

e deu algumas declarações na saída lá no Senado,

que não foram bem recebidas pelo partido dele, pelo PL,

já antecipando um pouco do que ele viria a falar à tarde na CNN,

quando ele deu uma entrevista, totalmente coordenado com o Flávio Bolsonaro,

disse que o fato de o processo estar em sigilo cerceia o direito de defesa dele.

E aí ele disse que na CNN que não queria ter um carimbo de derrotado,

ao apontar um sucessor, etc.

Mas ele falou de forma tão exaltada que, enfim, o carimbo viria de qualquer forma.

Ele fala assim,

Pelo amor de Deus, estão fazendo aborto comigo, tirando meu direito no útero.

Que seriam os direitos políticos dele.

Ele diz que se o processo corre em sigilo, a defesa dele não pode ir a público,

e que depois de condenado, como ele espera, ele mesmo não consegue esconder a sua expectativa,

ninguém vai querer saber da defesa dele, quais são os argumentos.

A esse ponto em particular, o Alexandre Edmorais, presidente do TSE,

respondeu no ato que a defesa do Bolsonaro durante o julgamento

vai poder usar sua linha argumentativa livremente,

sem se preocupar com o sigilo do processo.

Ele diz que o TSE, e aí talvez esteja o principal ponto do Bolsonaro,

nessa tentativa última de se salvar,

diz que o TSE não poderia usar a minuta do golpe encontrada na casa do seu ministro da Justiça,

Anderson Torres, no julgamento que começou essa semana,

porque a minuta foi juntada ao processo depois de o PDT ter entrado com a ação,

lembrando que a ação é baseada na reunião do Bolsonaro com embaixadores no Palácio da Alvorada,

em julho de 2022, na qual o Bolsonaro ofendeu os ministros,

mas mais do que isso, atacou o sistema eleitoral brasileiro,

com fake news em verdades e mentiras.

O Bolsonaro argumenta que usar um documento encontrado muito tempo depois

seria contra uma jurisprudência do TSE estabelecida em 2017.

Em 2017, o TSE julgou a chapa Dilma Temer e absolveu a chapa,

porque considerou que as provas que tinham sido juntadas ao processo

depois de a ação ter começado, não valiam.

Quais eram as provas?

Eram as delações de executivos da Odebrecht, do João Santana Marqueteiro e da mulher dele.

E aí Bolsonaro diz, bom, por coerência,

então o TSE agora não pode aceitar a minuta do golpe como prova.

O que que disse, pra mim, um ministro de Tribunal Superior muito ligado ao Alexandre?

No caso Dilma Temer, de 2017, essas provas foram juntadas já na fase de julgamento

e o TSE, o ministro que fez essa decisão, reabriu o processo para juntar as novas provas.

Nesse caso agora, a minuta do golpe foi juntada na fase de instrução,

então não é comparável e não seria uma mudança de jurisprudência,

ela poderia muito bem ser juntada ao processo.

Mas pra esse ministro, a minuta do golpe, mesmo de fora, não esvaziaria o processo

porque o desvio de finalidade, abuso de poder político e abuso de poder econômico

já estaria configurado na existência própria da reunião

e do uso da estrutura administrativa federal em benefício próprio.

Porque além de fazer a reunião no Palácio da Alvorada, com instalações públicas,

ele ainda usou as redes do governo e a televisão estatal para difundir suas inverdades.

E o Bolsonaro, daquele jeito dele, ainda tenta argumentar que a Alvorada era a casa dele,

como se fosse alugada, recebo e falo com quem quiser.

Aquela mistura pública e privada que a gente cansou de ver durante o seu governo.

A pressão, nesses últimos dias, sobre o Cássio Nunes Marques

vinha crescendo fortemente entre os bolsonaristas,

porque o Cássio é o ministro do Supremo e do TSE, que foi indicado pelo Bolsonaro.

Portanto, seria alguém para dar um voto contra, pedir uma vista,

ou, enfim, tentar barrar essa condenação que parece incontornável.

Mas o Bolsonaro, nessa mesma entrevista, na quarta-feira, disse que,

mesmo que o Cássio Nunes pedisse vista, ele seria o sexto dos sete ministros a votar.

Então, seria tarde demais.

Ele queria, na verdade, que alguém no começo do julgamento mudasse essa tendência

e, por isso, ele fez tanto apelo para o corregedor Benedito Gonçalves,

que é o relator do processo, e Bolsonaro, ali, numa tentativa de mudar o rumo do Rio.

Mas o fato é, o que ele fez nessas últimas 24 horas, antes desse julgamento tão importante?

Ele voltou a ser Bolsonaro, que ataca, mandou recado para Alexandre de Moraes,

com a agressividade que lhe é comum.

Disse, com uma mentira, que o Alexandre só foi nomeado para o TSE,

porque o TSE salvou o Temer nesse julgamento da chapa Dilma Temer, o que não é verdade.

A própria CNN teve que corrigir no ar, dizendo que o Alexandre já era ministro do Supremo

quando o TSE absolveu a chapa.

E o Bolsonaro é isso, investiu nesse figurino que a gente conhece,

a revelia de todas as orientações que ele vinha recebendo.

É a irresistível capacidade do Bolsonaro de ser Bolsonaro.

Então, agora, ele vai ter que esperar o resultado depois de ir para o Tudo ou Nada.

Muito bem. Lembrando, Toledo, já passando a bola para você,

ele tem, além desse processo pelo qual ele está sendo julgado,

da reunião com os embaixadores, tem mais 15, né, Zé, tramitando lá no TSE.

Bom, o que interessa é que o Bolsonaro não será candidato a presidente da República em 2026.

Esse é o ponto.

É o resultado desse julgamento que ainda está acontecendo,

mas eu já estou dando de barato que vai ser esse o veredito.

Não sendo ele o candidato, ele deixa de ser opção de poder imediata e perde status com isso.

E cria um problema para o lado bolsonarista e para a direita, de modo geral,

que é achar um nome para substituí-lo.

Não vai ser o mesmo esquema Lula-Addade em 2018,

em que o Addade não era candidato oficial do petismo,

até a um décima hora ficou uma candidatura rachada,

que o Addade ia lá pedir conselhos para o Lula na cadeia.

Não, não vai ser isso.

Não vai ser isso porque já se sabe hoje que daqui a três anos e meio ele não estará na disputa eleitoral.

Então, já começou, na verdade, a construção de uma candidatura à direita.

Basta se ler os editoriais do Estadão.

Qual é o cenário? Muito bem.

Os bolsonaristas mostraram no seu comportamento nas redes sociais aqui

que o Pedro Bruse dá Arquimedes.

Eu estou dando o nome do Pedro para vocês não acharem que eu invento Arquimedes, né.

Então, o Pedro Bruse estava conversando com ele hoje de manhã.

Estava conversando aqui com o Pedro Bruse hoje de manhã, antes de gravar o programa.

E ele estava me contando, me mostrando gráficos aqui,

como a discussão sobre a condenação do Bolsonaro no Twitter

estava muito mais favorável à condenação até ontem.

E aí, apenas ontem, os bolsonaristas entraram em peso para defender o chefe

e virou um pouco a discussão, eles passaram a ter maioria dos engajamentos a favor do Bolsonaro.

Mas a interpretação a que eu cheguei, que o Pedro concorda,

é que foi um movimento meramente oportunista.

Que falaram, bom, se a gente não defender o nosso ex-chefe agora,

não adianta depois pedir voto para ele daqui a dois anos,

daqui a seis anos, eu estive lá quando for.

Então, assim, foi só para prestar conta, olha, solidariedade,

mas a solidariedade é o cadáver, entendeu?

Então, a constatação é de que o Bolsonaro, pelo menos do ponto de vista imediato de 2026, já era.

E daí, o que significa isso?

Quinta-feira saiu uma pesquisa Quest justamente sobre esse tema.

Você pega o dado óbvio da pesquisa, você tem o país dividido

em 47% acham que o Bolsonaro deve ter os direitos políticos cassados

e 43% acham que não, que é a divisão política do país.

Você pega lá o corte em quem votou,

80% dos caras que votaram no Lula acham que ele deve ter os direitos políticos cassados

e 82% de quem votou em Bolsonaro acham o contrário.

Então, não mudou nada, tá certo?

Agora, o que efetivamente interessa é quem vai ser o sucessor do Bolsonaro.

E quem saiu na frente é o Tarcísio de Freitas,

já tinha saído lá em abril na pesquisa da Quest,

continuou com o mesmo percentual,

quando eles perguntam se o Bolsonaro pudesse candidatar, quem ele deve apoiar.

Agora, o que interessa ver aqui não é o eleitorado total que dá 21%,

interessa ver quem votou no Bolsonaro,

que como a gente viu, os lados continuam divididos quase na mesma proporção da época da eleição.

E aí, o Tarcísio de Freitas tem um terço das preferências, 33%.

Em seguida, aparece a Michele Bolsonaro com 24% e o Zema em terceiro com 11%.

O Flávio, o filho mais velho, tem apenas 5%.

Então, essa é a proporção.

O ponto é, ser candidato do Bolsonaro traz uma vantagem, obviamente,

porque ele ainda hoje, há três anos e meio da eleição, detém um capital político.

Eu acho que esse capital político vai diminuir e não crescer,

ao contrário do que dizem os bolsonaristas,

que dizem que ele está deixando a política para virar lenda.

Não é exatamente uma boa metáfora essa dos bolsonaristas,

porque lenda é aquilo que não é verdade.

Isso é verdade também, né?

Ele é lendário no sentido de que é uma mentira, mas tudo bem.

Deixando a política para virar lenda.

É o risco que ele corre, que eu acho.

Porque do mesmo jeito que você tem gente que diz ter mais probabilidade de votar no candidato apoiado pelo Bolsonaro,

você tem ainda mais gente que o apoio do Bolsonaro diminui a chance de ele votar no candidato que ele apoiar.

33% do eleitorado geral dizem que votariam no candidato apoiado pelo Bolsonaro,

o que aumenta a chance de votarem.

E 41% dizem que não votariam no candidato apoiado por ele.

Quer dizer, o saldo é negativo para esse candidato.

Tem 25% que não foi votar, diz que não lembra, que não respondeu, que não sabe,

ou que anulou, que votou em branco, etc.

Como é que esse eleitorado aqui, que são os 25% que fazem a bandeja da balança pender para um lado ou para o outro,

nesses caras aqui, o Tarcísio é o candidato favorito, 16%,

mas 27%, nenhum deles, ou 40% dizem que o apoio do Bolsonaro diminui.

Então, esse apoio do Bolsonaro, ele vai diminuir com o tempo, ele está dividido,

não tem um candidato óbvio, embora o Tarcísio saia na frente,

ele é também um ônus, ele dificulta a vida do candidato do mesmo jeito que ajuda.

Outro ponto importante, o governador de São Paulo, desde o Jânio, Quadros, não se elege presidente.

Quase todos tentaram e não conseguiram.

Maluf, Quercia, Covas, Alckmin, Serra, mas o fato é que tem uma maldição contra o governador de São Paulo.

Então não é que, ah, o cara é governador de São Paulo, então automaticamente ele é candidato,

mas não significa que ele vai ser eleito.

Então, o Tarcísio precisa exercer, tem um mandato de sucesso,

a área que ele supostamente seria mais forte, que de segurança está sendo um fracasso até agora,

mas o cenário que eu vejo é um cenário em que o Bolsonaro vai atrapalhar pra caramba a vida da direita,

talvez inviabilize o surgimento de um candidato que não seja ligado ao bolsonarismo,

mas vejo que a maior parte dos movimentos da direita organizada hoje é pra tentar

extrair o Tarcísio da área de influência do bolsonarismo, pra tentar benzê-lo como candidato.

A Michele só é candidata na cabeça do Valdemar da Costa Neto, que é o dono do PL, por uma razão prática.

O PL não tem outro nome, acabou de perder o Bolsonaro, só tem a Michele, por quê?

O Tarcísio tá no Republicanos e o Zema tá no Novo.

Então, eles precisam ter um nome no mínimo pra negociar participação na chapa da direita nessa eleição.

Porque o preconceito contra a Michele não vai ser da oposição, vai começar dentro da família Bolsonaro.

Ela vai ser vista e vai ser bombardeada pelos filhos e vai ter preconceito por ser mulher,

porque o bolsonarismo tem preconceito contra a mulher.

A Michele vai bem enquanto ela é a mulher do Bolsonaro.

A partir do momento que ela virar a Dilma como papel de protagonista, aí a conversa é outra.

Eu não vejo muito futuro viável pra esses candidatos com perfil mais técnico, tecnocrático,

esses caras que sem apelo popular.

Se eleger governador de São Paulo é uma coisa muito diferente do que entrar no Brasil.

Eu tenho bastante ressalvo em relação a esses nomes.

Acho que o perfil de um nome que seja competitivo tem que ter tipo de traços de personalidade,

de apelo diferente desses caras aí.

Eu tava conversando com uma pessoa do PT, do Planalto,

e ela me disse que uma chapa Tarcísio-Michele seria muito complexa.

Porque eu acho que o Tarcísio ele vai um pouco além desse perfil tecnocrata paulista.

Primeiro porque ele não é paulista, ele tem relações que ele estabeleceu em Brasília muito anteriores,

as de São Paulo, e acho que a Michele tem exatamente essas limitações que o Toledo falou.

Mas exatamente por ter essas limitações, ela pode acabar sendo a candidata Bolsonaro

da chapa usada pelo Bolsonaro pra estar presente na eleição.

E uma vez que esse julgamento tiver sido encerrado e o ambiente, o humor dele,

Bolsonaro e do seu entorno tiver já em outra sintonia, pode mudar o ambiente

e essa solução parecer melhor do que parece agora.

É, também acho, tá muito longe ainda, a gente tá fazendo projeções, enfim.

Tamo falando mais do presente do que do que virá acontecer.

Vamos falar um pouco da CPI, começou a ouvir as pessoas essa semana.

Hoje, à tarde, hoje quinta-feira, deve depor ali os terroristas.

Aí sim, a palavra terrorista acho que cabe perfeitamente.

Então, esse cara, apesar de ser um terrorista clássico, é uma grande oportunidade

pra CPI se redimir, pros governistas se redimirem, que fizeram um fiasco

quando fizeram um bate-papo, não foi nenhuma inquirição, foi um bate-papo

com o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal.

Pelo seguinte, esse cara, ele foi condenado pela justiça, mas ele não foi condenado

por terrorismo, ele foi condenado não por um crime federal, mas por um crime comum,

por ter colocado em risco a segurança das pessoas.

Ou seja, a Polícia Federal, sob o Anderson Torres, jogou o inquérito

para a Polícia do Distrito Federal, dizendo que não tinha nada a ver com terrorismo,

que não era uma coisa de interesse federal, o que já é uma tentativa de acobertamento clara.

Uma polícia civil, que é a mesma polícia do Distrito Federal que tinha sido comandada

pelo Anderson Torres antes dele virar ministro da Justiça, e que voltaria a ser comandada

por ele durante o golpe do 8 de janeiro, que encaminhou um inquérito que não faz

nenhum sentido, como se o cara tivesse feito um racha a caminho do aeroporto

e colocado em risco a vida de quem estava do lado.

Obviamente era um atentado, era uma coisa com significado político,

mas não foi julgado assim. Então, talvez a CPI consiga se redimir colocando esse cara

na parede e mostrando as conexões que há entre o julgamento do Bolsonaro,

que claramente planejou um golpe e não conseguiu, e esse atentado terrorista

que não foi caracterizado como tal. Mas, não sou otimista em relação a essa CPI,

acho que o primeiro depoimento mostrou bem o fim melancólico que ela pode ter.

Mais que o primeiro depoimento, eu diria que foi a postura do presidente da CPI

em relação à relatora. Na CPI da Covid, a cúpula estava afinada, alinhada,

eram todos senadores e homens. E agora você tem o Arthur Maia,

deputado federal na presidência e a senadora Elisiane Gama na relatoria.

E um deputado, Éder Mauro do Pará, começou a gritar com ela e ela se exaltou

e rebatendo a agressão, dizendo que não aceitaria aquilo.

E o presidente da CPI, ele reagiu meio que como se ele fosse o dono da coisa toda,

sem se alinhar ou não a ela, mas ele tem demonstrado que vai sempre puxar a CPI

para um lado oposto ao da relatora. E isso com o andar da carruagem

pode ser bastante empecilho para os trabalhos, para os objetivos da relatora.

Sem falar no machismo e na misoginia tácito ali, tácito e não só tácito, explícito.

Esse Arthur Maia é vergonhoso, vamos usar a palavra logo. Ele é um assinte, esse cara.

O papel que ele tá fazendo, como se tivesse dois lados, como se o golpe fosse uma coisa a ser discutida no mérito.

Enfim, só tem uma coisa em relação a essa CPI, que é a chance de traduzir em miúdos a participação dos militares.

Seria uma tarefa relevante pra essa CPI, mas enfim.

É isso então, gente. Eu vou encerrar por aqui. A gente vai pra um rápido intervalo.

No segundo bloco falamos da economia no governo Lula. Já voltamos.

Fraude titânica é o nome adequado para definir o rombo de 22 bilhões de reais no balanço da Americanas.

Na edição de junho da Piauí, a repórter Consuelo Diegues descreve os bastidores daquela que já é considerada a maior fraude da história das corporações brasileiras.

Nós decidimos fazer a matéria logo assim que o escândalo veio à tona em janeiro.

Mas é claro que desde o começo a gente tinha em mente que a gente tinha que tratar esse assunto não apenas em relação à Americanas, mas em relação à cultura do grupo.

A reportagem relata o embate entre os banqueiros credores e o comando da Americanas

desde a divulgação do fato relevante que expôs o golpe contábil e deflagrou a crise, em 11 de janeiro de 2023.

O que me chocou mais foi a cultura do grupo, que foi tão incensada durante tantos anos,

que é um capitalismo ultrapassado, é um capitalismo cruel, é de lucro a qualquer preço.

A pergunta em especial ganha espaço no texto.

Por que uma fraude dessa proporção prosperou dentro da cultura de negócios criada por Jorge Paulo Leman, Marcel Telles e Beto Cicupira, os acionistas controladores da Americanas?

Como você vai montando uma fraude dessa durante 10 anos e ninguém viu, ninguém denunciou?

Isso coloca uma dúvida de como é que estão as outras empresas brasileiras?

Elas estão saudáveis ou não?

Essa é a grande dúvida também. E a partir de agora, o que vai acontecer?

Os bancos vão continuar emprestando para as empresas ou vão cobrar juros mais altos?

Isso afeta a economia como um todo.

Leia a reportagem na edição de junho da Piauí, nas bancas ou no site da revista.

Muito bem, José Roberto de Toledo, vamos começar com você.

Os seus amigos do Copom não ouviram ou não atenderam ou não confirmaram as expectativas de que iam flexibilizar, pelo menos na retórica, a taxa de juros.

Mas as notícias na economia, de modo geral, são positivas.

Começamos pelo Copom ou pelas notícias positivas?

Vou começar pela nota de rodapé, que é o Copom Comitê de Política Monetária e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Ele é o presidente mais buscado da história, que no histórico do Google, segundo o pessoal do Google Trends.

Duas vezes e meio mais buscado do que o Ilan, que foi o presidente anterior, ou do que o Tom Bini.

Mas, tirando essa curiosidade, o que a gente vê são alguns sinais de que a economia começa a reagir, como o Fernando já falou.

Mas o que a gente vê também são os primeiros sinais de que ela pode começar a render frutos políticos para o governo.

E o melhor jeito de identificar isso são os analistas políticos, principalmente na TV a cabo, tentando tirar do Lula qualquer mérito de melhora da economia.

Mas não são só esses. A consultoria Pauwer, que faz a análise dos grupos de WhatsApp, desde a eleição para a gente,

monitoram 25 mil grupos públicos de WhatsApp, fez aqui uma pesquisa a mil pedidos, mostrando que a associação Lula-economia está crescendo nas discussões dentro dos grupos de WhatsApp.

E crescendo positivamente. Tem lá momentos negativos, quando tem alguma coisa, uma bola mais dividida, como por exemplo o subsídio para carro popular.

Mas a tendência é de que a discussão positiva cresça, junto com o crescimento da discussão econômica.

E quais são os sinais mais evidentes que a gente tem de que a economia está reagindo?

São esses todos que você citou, mas para mim o mais simbólico é o dólar, que já está abaixo de 4,80, numa tendência de queda muito clara desde o final de maio.

E o dólar futuro apontando, já tem gente falando em dólar a 4,40, num futuro não muito distante.

Isso é o que vai pressionar o Banco Central a mudar a taxa de juros.

Porque eles não vão poder sustentar essa taxa de juros com um dólar muito barato, porque significará uma inundação de importações e uma dificuldade para as exportações brasileiras,

e acabando com o resto de indústria que sobrou aqui.

Então a pressão sobre eles vai deixar de ser apenas a pressão da Luisa Trajano, do comércio,

e vai ser uma pressão cada vez mais crescente de setores que tem peso na economia, e esses caras tem que pensar no emprego deles depois que eles saíram do Banco Central.

Então assim, a economia está melhorando, essa é a estratégia do Lula desde o começo.

O Lula está repetindo a mesma estratégia que ele fez no primeiro mandato e no segundo mandato.

Vamos no primeiro ano aprovar reformas, fazer uma agenda de colocar a casa em ordem, para que você tenha condições de ter crescimento na segunda metade do mandato.

Ele está conseguindo fazer isso com a aprovação primeiro do arcabouço fiscal, que não tem um impacto imediato, mas sinalizou o suficiente para a Standard & Poor's mudar a nota do Brasil,

e está encaminhando a reforma tributária que se sair, faz 35 anos, desde que eu entrei no jornalismo, que se fala em fazer reforma tributária e nunca foi feita.

Se ele conseguir fazer, por mais pífia que seja, e não acho que será pífia, vai ser um grande avanço, sem dúvida nenhuma, porque o sistema tributário brasileiro é uma exceção.

Tem 170 países que usam imposto sobre valor agregado, tem meia dúzia de países que não usam, então nós estamos muito atrasados.

Se conseguir fazer isso, já será um enorme avanço para a economia brasileira, porque simplifica demais e você não cobra imposto sobre imposto.

Essa discussão nós vamos ter que ter mais aprofundadamente aqui no foro, quando entrar em votação o relatório.

Mas, olhando aqui as pesquisas da Quest também, e do Datafolio, que foi a semana passada, está estável a avaliação do Lula, 37% de ótimo e bom.

Mas, não tem nenhum sinal aqui que você possa dizer, não, isso daqui está fazendo a diferença e tal.

O país continua dividido, os bolsonaristas e os lulistas não concordam em nada, com uma exceção, nas críticas ao Congresso.

É muito engraçado, porque aí as taxas são iguais, quando dizem que o Lula não deveria ceder e dar mais dinheiro para o congressista,

ou que ele está tendo mais dificuldade com o Bolsonaro, aí nisso os bolsonaristas e os lulistas concordam.

Então, essa divisão continua, e o que pode mudar essa divisão é justamente o Bolso, é justamente a economia.

Se a economia continuar nesse caminho, talvez, quem sabe, de produzir mais emprego, produzir mais renda, etc.,

aí talvez você consiga convencer uma parte das pessoas que votaram no Bolsonaro em passar a ver o Lula e o Haddad com melhores olhos.

E vai ficar mais barato para o governo obter maioria no Congresso. Esse talvez seja o efeito prático mais imediato.

Thais Bilenk, eu falei na abertura da aprovação do arcabouço pelo Senado, e você, fora do ar, me fez essa observação muito pertinente,

peço que você repita para os ouvintes agora e já comece a falar o que você tem que falar.

O Senado aprovou, mas aprovou o texto com mudanças, então ele vai ter que voltar para a Câmara dos Deputados,

e a Câmara vai ter que validar ou não as mudanças do Senado, e depois vai para o Lula sancionar ou vetar trechos, enfim.

Então tem uma disputa ainda de quem vai dar a última palavra, que é o que a gente tem visto acontecer entre o Lira e o Pacheco.

E o Lira sempre mais associado a uma oposição ao governo, uma independência do governo, seja o eufemismo que for,

e o Pacheco sempre associado mais a uma linha governista.

Então, se eles não estão afinados, essa disputa ganha novo vigor.

E a agenda econômica da qual o Lula depende, pelos motivos que o Toledo acabou de explicar,

essa é uma agenda que, em tese, é consensual entre Lira e Pacheco, portanto também um pouco mais consensual entre governo e oposição,

mas essa disputa entre os dois sempre é um sinal de atenção permanente para o Palácio do Planalto,

porque pode colocar as votações em apuros ou, pelo menos, em mais dificuldades.

Agora, fato é que quando há convergência real entre gregos e troianos no Congresso Nacional, a coisa deslancha.

E isso aconteceu essa semana na sabatina do Zanin para o Supremo Tribunal Federal,

que não é uma pauta econômica, mas é uma demonstração da prevalência dos interesses próprios dos, no caso, senadores,

mas também dos deputados, quando a agenda afeta eles próprios.

Então, o que aconteceu? A sabatina aconteceu na quarta-feira na CCJ, Comissão de Constituição e Justiça do Senado,

e depois ele foi aprovado no plenário do Senado também.

E foi um passeio. Tivemos exemplos quase que folclóricos disso, de quando governo, oposição, independentes, quem quer que seja, se unem.

Porque a oposição bolsonarista posa de tigrona e foi totalmente tchutchuca com o Zanin.


#258: Balão vai, balão cai - Part 1 #258: Ballon geht, Ballon fällt - Teil 1 #258: Balloon goes, balloon falls - Part 1

Rádio Piauí.

Olá, sejam muito bem-vindos ao Foro de Terezina, o podcast de política da revista Piauí.

Acredito que eu posso falar, falo bem mais alto. Não pretendo, não gostaria de perder

minha gente por isso. Não sei se vou ser candidato o ano que vem a prefeito, o governador, não sei.

Eu, Fernando de Barros e Silva, na minha casa em São Paulo, tenho o prazer de conversar

com o meu amigo José Roberto de Toledo, aqui pertinho. Opa, Toledo!

Opa, Fernando!

Não se trata do governo ficar brigando com o Banco Central.

Quem tá brigando com o Banco Central hoje é a sociedade brasileira,

porque é irracional o que está acontecendo no Brasil.

Thaís Bilente, também em São Paulo. Salve, salve, Thaís!

Salve, salve, Fernando, Toledo!

O Brasil voltou a pensar a segurança pública a partir do lugar e do único lugar

onde ela deve ser pensada, que é a parte da Ciência.

Vamos sem mais delongas para os assuntos da semana.

Chegou o dia D, ou dia B, dia disso daí.

No caso ontem, para você que nos ouve nessa sexta, o Tribunal Superior Eleitoral

começou a julgar a ação que pode tornar Jair Bolsonaro inelegível por oito anos

por crime eleitoral na campanha do ano passado.

Se confirmada, a condenação tira Bolsonaro do jogo político institucional

e, em tese, enfraquece seu raio de influência no campo da direita.

Ficar inelegível, no entanto, é pouco, ridiculamente pouco, frustrante e até assentoso

diante dos crimes que o ex-presidente cometeu ao longo de seu mandato.

Menos mal se for apenas o início de condenações que deveriam ter começado lá atrás

e foram barradas por falta de pressão popular, debilidade das instituições,

prevaricação de figuras que ocupavam e ainda ocupam cargos de destaque na República,

como o Procurador-Geral Augusto Aras e o presidente da Câmara, Arthur Lira.

De toda forma, as coisas não vão bem para Bolsonaro.

Na última sexta-feira, a revista Veja revelou que o celular de Mauro Cid,

o ex-ajudante de ordens, continha uma espécie de passo a passo do golpe.

Cidinho, o Queiroz de Farda, trazia em seu aparelho uma minuta

que definia a nomeação de um interventor investido de poderes absolutos

para restabelecer a ordem constitucional, entre aspas, no prazo de um mês, um ano ou o tempo necessário.

Tal interventor suspenderia as decisões que considerasse inconstitucionais,

entre elas a diplomação do presidente Lula, aquela altura já eleito.

No celular de Mauro Cid foram encontradas também troca de mensagens com generais

que insistiam no golpe e cobravam a ação do presidente.

Tudo isso acrescenta mais detalhes e mais cores a um quadro

cujos contornos já eram conhecidos nas últimas semanas.

Falaremos disso e da CPI do 8 de janeiro, que começou a ouvir personagens

desta página infeliz da nossa história, e que seja permitida, Thais Bilenk,

esta nota poética para homenagear o aniversariante da semana, Chico Buarque,

que completou 79 anos no dia 19.

Na terça, a CPI ouviu o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vazquez,

e o quinta, Jorge Washington de Oliveira Souza, preso desde dezembro

por ser um dos orquestradores do atentado à bomba contra um caminhão de combustível

no aeroporto de Brasília, na véspera do Natal.

Nunca será demais trazer à luz e punir esses personagens sinistros

que trafegavam entre a sabotagem da democracia e o terrorismo explícito,

sempre em nome da perpetuação de Bolsonaro do poder.

No segundo bloco, vamos falar de economia.

O COPOM, Comitê de Política Monetária, manteve a taxa de juros em 13,75,

o que era esperado por todos, mas além disso, não deu nenhum sinal

de que a taxa vai começar a cair a partir de agosto,

o que muita gente esperava da reunião desta última quarta.

O arrocho monetário prossegue, não se sabe por quanto tempo,

a despeito de vários sinais positivos na economia.

A inflação está vindo abaixo do que se projetava,

e o crescimento deste ano será maior do que projetavam os entendidos

nos primeiros meses do ano.

O dólar deu uma recuada e foram divulgados números positivos

a respeito da criação de empregos formais no país.

Se houve frustração com o COPOM, no Senado, o arcabouço fiscal

foi aprovado nesta quarta.

Ninguém tem motivos para ficar eufórico, mas a economia do país

começa a suscitar aqui e acolá doses moderadas de otimismo.

Otimismo, mas como estamos no Brasil, não se pode ser otimista impunemente.

No terceiro bloco, a gente vai falar de violência.

Aconteceu nesta semana o 17º encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,

o primeiro realizado na região norte e o primeiro a colocar a Amazônia

no centro das discussões.

Foram debatidos temas urgentes, como a violência de gênero,

os conflitos fundiários, o avanço do tráfico de drogas

sobre comunidades tradicionais da Amazônia,

a retomada do controle de armas e munições no país.

Comentaremos alguns desses tópicos mais adiante.

É isso, vem com a gente.

O apresentador está sem voz, mas o programa vai ser bom.

O BOLSONARO VINHA SE COMPORTANDO COMO IRIAM OS SEUS CONSELHEIROS POLÍTICOS E JURÍDICOS

Muito bem, Thaís Bilenk, vamos começar com você.

Um olho aqui nos rapazes, Thaís e o outro, no julgamento do Bolsonaro,

que está em curso já.

O Bolsonaro vinha se comportando como queriam os seus conselheiros políticos e jurídicos,

se mantendo minimamente abaixo do radar, com alguma descrição,

embora aparecendo, mas com descrição.

E na quarta-feira, no início do julgamento dele no Tribunal Superior Eleitoral,

ele deu como se fosse um grito de desespero.

Ele foi ao Senado conversar com o Flávio Bolsonaro, filho dele,

um pouco antes da sabatina do Cristiano Zanin,

novo ministro do Supremo Tribunal Federal,

e deu algumas declarações na saída lá no Senado,

que não foram bem recebidas pelo partido dele, pelo PL,

já antecipando um pouco do que ele viria a falar à tarde na CNN,

quando ele deu uma entrevista, totalmente coordenado com o Flávio Bolsonaro,

disse que o fato de o processo estar em sigilo cerceia o direito de defesa dele.

E aí ele disse que na CNN que não queria ter um carimbo de derrotado,

ao apontar um sucessor, etc.

Mas ele falou de forma tão exaltada que, enfim, o carimbo viria de qualquer forma.

Ele fala assim,

Pelo amor de Deus, estão fazendo aborto comigo, tirando meu direito no útero.

Que seriam os direitos políticos dele.

Ele diz que se o processo corre em sigilo, a defesa dele não pode ir a público,

e que depois de condenado, como ele espera, ele mesmo não consegue esconder a sua expectativa,

ninguém vai querer saber da defesa dele, quais são os argumentos.

A esse ponto em particular, o Alexandre Edmorais, presidente do TSE,

respondeu no ato que a defesa do Bolsonaro durante o julgamento

vai poder usar sua linha argumentativa livremente,

sem se preocupar com o sigilo do processo.

Ele diz que o TSE, e aí talvez esteja o principal ponto do Bolsonaro,

nessa tentativa última de se salvar,

diz que o TSE não poderia usar a minuta do golpe encontrada na casa do seu ministro da Justiça,

Anderson Torres, no julgamento que começou essa semana,

porque a minuta foi juntada ao processo depois de o PDT ter entrado com a ação,

lembrando que a ação é baseada na reunião do Bolsonaro com embaixadores no Palácio da Alvorada,

em julho de 2022, na qual o Bolsonaro ofendeu os ministros,

mas mais do que isso, atacou o sistema eleitoral brasileiro,

com fake news em verdades e mentiras.

O Bolsonaro argumenta que usar um documento encontrado muito tempo depois

seria contra uma jurisprudência do TSE estabelecida em 2017.

Em 2017, o TSE julgou a chapa Dilma Temer e absolveu a chapa,

porque considerou que as provas que tinham sido juntadas ao processo

depois de a ação ter começado, não valiam.

Quais eram as provas?

Eram as delações de executivos da Odebrecht, do João Santana Marqueteiro e da mulher dele.

E aí Bolsonaro diz, bom, por coerência,

então o TSE agora não pode aceitar a minuta do golpe como prova.

O que que disse, pra mim, um ministro de Tribunal Superior muito ligado ao Alexandre?

No caso Dilma Temer, de 2017, essas provas foram juntadas já na fase de julgamento

e o TSE, o ministro que fez essa decisão, reabriu o processo para juntar as novas provas.

Nesse caso agora, a minuta do golpe foi juntada na fase de instrução,

então não é comparável e não seria uma mudança de jurisprudência,

ela poderia muito bem ser juntada ao processo.

Mas pra esse ministro, a minuta do golpe, mesmo de fora, não esvaziaria o processo

porque o desvio de finalidade, abuso de poder político e abuso de poder econômico

já estaria configurado na existência própria da reunião

e do uso da estrutura administrativa federal em benefício próprio.

Porque além de fazer a reunião no Palácio da Alvorada, com instalações públicas,

ele ainda usou as redes do governo e a televisão estatal para difundir suas inverdades.

E o Bolsonaro, daquele jeito dele, ainda tenta argumentar que a Alvorada era a casa dele,

como se fosse alugada, recebo e falo com quem quiser.

Aquela mistura pública e privada que a gente cansou de ver durante o seu governo.

A pressão, nesses últimos dias, sobre o Cássio Nunes Marques

vinha crescendo fortemente entre os bolsonaristas,

porque o Cássio é o ministro do Supremo e do TSE, que foi indicado pelo Bolsonaro.

Portanto, seria alguém para dar um voto contra, pedir uma vista,

ou, enfim, tentar barrar essa condenação que parece incontornável.

Mas o Bolsonaro, nessa mesma entrevista, na quarta-feira, disse que,

mesmo que o Cássio Nunes pedisse vista, ele seria o sexto dos sete ministros a votar.

Então, seria tarde demais.

Ele queria, na verdade, que alguém no começo do julgamento mudasse essa tendência

e, por isso, ele fez tanto apelo para o corregedor Benedito Gonçalves,

que é o relator do processo, e Bolsonaro, ali, numa tentativa de mudar o rumo do Rio.

Mas o fato é, o que ele fez nessas últimas 24 horas, antes desse julgamento tão importante?

Ele voltou a ser Bolsonaro, que ataca, mandou recado para Alexandre de Moraes,

com a agressividade que lhe é comum.

Disse, com uma mentira, que o Alexandre só foi nomeado para o TSE,

porque o TSE salvou o Temer nesse julgamento da chapa Dilma Temer, o que não é verdade.

A própria CNN teve que corrigir no ar, dizendo que o Alexandre já era ministro do Supremo

quando o TSE absolveu a chapa.

E o Bolsonaro é isso, investiu nesse figurino que a gente conhece,

a revelia de todas as orientações que ele vinha recebendo.

É a irresistível capacidade do Bolsonaro de ser Bolsonaro.

Então, agora, ele vai ter que esperar o resultado depois de ir para o Tudo ou Nada.

Muito bem. Lembrando, Toledo, já passando a bola para você,

ele tem, além desse processo pelo qual ele está sendo julgado,

da reunião com os embaixadores, tem mais 15, né, Zé, tramitando lá no TSE.

Bom, o que interessa é que o Bolsonaro não será candidato a presidente da República em 2026.

Esse é o ponto.

É o resultado desse julgamento que ainda está acontecendo,

mas eu já estou dando de barato que vai ser esse o veredito.

Não sendo ele o candidato, ele deixa de ser opção de poder imediata e perde status com isso.

E cria um problema para o lado bolsonarista e para a direita, de modo geral,

que é achar um nome para substituí-lo.

Não vai ser o mesmo esquema Lula-Addade em 2018,

em que o Addade não era candidato oficial do petismo,

até a um décima hora ficou uma candidatura rachada,

que o Addade ia lá pedir conselhos para o Lula na cadeia.

Não, não vai ser isso.

Não vai ser isso porque já se sabe hoje que daqui a três anos e meio ele não estará na disputa eleitoral.

Então, já começou, na verdade, a construção de uma candidatura à direita.

Basta se ler os editoriais do Estadão.

Qual é o cenário? Muito bem.

Os bolsonaristas mostraram no seu comportamento nas redes sociais aqui

que o Pedro Bruse dá Arquimedes.

Eu estou dando o nome do Pedro para vocês não acharem que eu invento Arquimedes, né.

Então, o Pedro Bruse estava conversando com ele hoje de manhã.

Estava conversando aqui com o Pedro Bruse hoje de manhã, antes de gravar o programa.

E ele estava me contando, me mostrando gráficos aqui,

como a discussão sobre a condenação do Bolsonaro no Twitter

estava muito mais favorável à condenação até ontem.

E aí, apenas ontem, os bolsonaristas entraram em peso para defender o chefe

e virou um pouco a discussão, eles passaram a ter maioria dos engajamentos a favor do Bolsonaro.

Mas a interpretação a que eu cheguei, que o Pedro concorda,

é que foi um movimento meramente oportunista.

Que falaram, bom, se a gente não defender o nosso ex-chefe agora,

não adianta depois pedir voto para ele daqui a dois anos,

daqui a seis anos, eu estive lá quando for.

Então, assim, foi só para prestar conta, olha, solidariedade,

mas a solidariedade é o cadáver, entendeu?

Então, a constatação é de que o Bolsonaro, pelo menos do ponto de vista imediato de 2026, já era.

E daí, o que significa isso?

Quinta-feira saiu uma pesquisa Quest justamente sobre esse tema.

Você pega o dado óbvio da pesquisa, você tem o país dividido

em 47% acham que o Bolsonaro deve ter os direitos políticos cassados

e 43% acham que não, que é a divisão política do país.

Você pega lá o corte em quem votou,

80% dos caras que votaram no Lula acham que ele deve ter os direitos políticos cassados

e 82% de quem votou em Bolsonaro acham o contrário.

Então, não mudou nada, tá certo?

Agora, o que efetivamente interessa é quem vai ser o sucessor do Bolsonaro.

E quem saiu na frente é o Tarcísio de Freitas,

já tinha saído lá em abril na pesquisa da Quest,

continuou com o mesmo percentual,

quando eles perguntam se o Bolsonaro pudesse candidatar, quem ele deve apoiar.

Agora, o que interessa ver aqui não é o eleitorado total que dá 21%,

interessa ver quem votou no Bolsonaro,

que como a gente viu, os lados continuam divididos quase na mesma proporção da época da eleição.

E aí, o Tarcísio de Freitas tem um terço das preferências, 33%.

Em seguida, aparece a Michele Bolsonaro com 24% e o Zema em terceiro com 11%.

O Flávio, o filho mais velho, tem apenas 5%.

Então, essa é a proporção.

O ponto é, ser candidato do Bolsonaro traz uma vantagem, obviamente,

porque ele ainda hoje, há três anos e meio da eleição, detém um capital político.

Eu acho que esse capital político vai diminuir e não crescer,

ao contrário do que dizem os bolsonaristas,

que dizem que ele está deixando a política para virar lenda.

Não é exatamente uma boa metáfora essa dos bolsonaristas,

porque lenda é aquilo que não é verdade.

Isso é verdade também, né?

Ele é lendário no sentido de que é uma mentira, mas tudo bem.

Deixando a política para virar lenda.

É o risco que ele corre, que eu acho.

Porque do mesmo jeito que você tem gente que diz ter mais probabilidade de votar no candidato apoiado pelo Bolsonaro,

você tem ainda mais gente que o apoio do Bolsonaro diminui a chance de ele votar no candidato que ele apoiar.

33% do eleitorado geral dizem que votariam no candidato apoiado pelo Bolsonaro,

o que aumenta a chance de votarem.

E 41% dizem que não votariam no candidato apoiado por ele.

Quer dizer, o saldo é negativo para esse candidato.

Tem 25% que não foi votar, diz que não lembra, que não respondeu, que não sabe,

ou que anulou, que votou em branco, etc.

Como é que esse eleitorado aqui, que são os 25% que fazem a bandeja da balança pender para um lado ou para o outro,

nesses caras aqui, o Tarcísio é o candidato favorito, 16%,

mas 27%, nenhum deles, ou 40% dizem que o apoio do Bolsonaro diminui.

Então, esse apoio do Bolsonaro, ele vai diminuir com o tempo, ele está dividido,

não tem um candidato óbvio, embora o Tarcísio saia na frente,

ele é também um ônus, ele dificulta a vida do candidato do mesmo jeito que ajuda.

Outro ponto importante, o governador de São Paulo, desde o Jânio, Quadros, não se elege presidente.

Quase todos tentaram e não conseguiram.

Maluf, Quercia, Covas, Alckmin, Serra, mas o fato é que tem uma maldição contra o governador de São Paulo.

Então não é que, ah, o cara é governador de São Paulo, então automaticamente ele é candidato,

mas não significa que ele vai ser eleito.

Então, o Tarcísio precisa exercer, tem um mandato de sucesso,

a área que ele supostamente seria mais forte, que de segurança está sendo um fracasso até agora,

mas o cenário que eu vejo é um cenário em que o Bolsonaro vai atrapalhar pra caramba a vida da direita,

talvez inviabilize o surgimento de um candidato que não seja ligado ao bolsonarismo,

mas vejo que a maior parte dos movimentos da direita organizada hoje é pra tentar

extrair o Tarcísio da área de influência do bolsonarismo, pra tentar benzê-lo como candidato.

A Michele só é candidata na cabeça do Valdemar da Costa Neto, que é o dono do PL, por uma razão prática.

O PL não tem outro nome, acabou de perder o Bolsonaro, só tem a Michele, por quê?

O Tarcísio tá no Republicanos e o Zema tá no Novo.

Então, eles precisam ter um nome no mínimo pra negociar participação na chapa da direita nessa eleição.

Porque o preconceito contra a Michele não vai ser da oposição, vai começar dentro da família Bolsonaro.

Ela vai ser vista e vai ser bombardeada pelos filhos e vai ter preconceito por ser mulher,

porque o bolsonarismo tem preconceito contra a mulher.

A Michele vai bem enquanto ela é a mulher do Bolsonaro.

A partir do momento que ela virar a Dilma como papel de protagonista, aí a conversa é outra.

Eu não vejo muito futuro viável pra esses candidatos com perfil mais técnico, tecnocrático,

esses caras que sem apelo popular.

Se eleger governador de São Paulo é uma coisa muito diferente do que entrar no Brasil.

Eu tenho bastante ressalvo em relação a esses nomes.

Acho que o perfil de um nome que seja competitivo tem que ter tipo de traços de personalidade,

de apelo diferente desses caras aí.

Eu tava conversando com uma pessoa do PT, do Planalto,

e ela me disse que uma chapa Tarcísio-Michele seria muito complexa.

Porque eu acho que o Tarcísio ele vai um pouco além desse perfil tecnocrata paulista.

Primeiro porque ele não é paulista, ele tem relações que ele estabeleceu em Brasília muito anteriores,

as de São Paulo, e acho que a Michele tem exatamente essas limitações que o Toledo falou.

Mas exatamente por ter essas limitações, ela pode acabar sendo a candidata Bolsonaro

da chapa usada pelo Bolsonaro pra estar presente na eleição.

E uma vez que esse julgamento tiver sido encerrado e o ambiente, o humor dele,

Bolsonaro e do seu entorno tiver já em outra sintonia, pode mudar o ambiente

e essa solução parecer melhor do que parece agora.

É, também acho, tá muito longe ainda, a gente tá fazendo projeções, enfim.

Tamo falando mais do presente do que do que virá acontecer.

Vamos falar um pouco da CPI, começou a ouvir as pessoas essa semana.

Hoje, à tarde, hoje quinta-feira, deve depor ali os terroristas.

Aí sim, a palavra terrorista acho que cabe perfeitamente.

Então, esse cara, apesar de ser um terrorista clássico, é uma grande oportunidade

pra CPI se redimir, pros governistas se redimirem, que fizeram um fiasco

quando fizeram um bate-papo, não foi nenhuma inquirição, foi um bate-papo

com o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal.

Pelo seguinte, esse cara, ele foi condenado pela justiça, mas ele não foi condenado

por terrorismo, ele foi condenado não por um crime federal, mas por um crime comum,

por ter colocado em risco a segurança das pessoas.

Ou seja, a Polícia Federal, sob o Anderson Torres, jogou o inquérito

para a Polícia do Distrito Federal, dizendo que não tinha nada a ver com terrorismo,

que não era uma coisa de interesse federal, o que já é uma tentativa de acobertamento clara.

Uma polícia civil, que é a mesma polícia do Distrito Federal que tinha sido comandada

pelo Anderson Torres antes dele virar ministro da Justiça, e que voltaria a ser comandada

por ele durante o golpe do 8 de janeiro, que encaminhou um inquérito que não faz

nenhum sentido, como se o cara tivesse feito um racha a caminho do aeroporto

e colocado em risco a vida de quem estava do lado.

Obviamente era um atentado, era uma coisa com significado político,

mas não foi julgado assim. Então, talvez a CPI consiga se redimir colocando esse cara

na parede e mostrando as conexões que há entre o julgamento do Bolsonaro,

que claramente planejou um golpe e não conseguiu, e esse atentado terrorista

que não foi caracterizado como tal. Mas, não sou otimista em relação a essa CPI,

acho que o primeiro depoimento mostrou bem o fim melancólico que ela pode ter.

Mais que o primeiro depoimento, eu diria que foi a postura do presidente da CPI

em relação à relatora. Na CPI da Covid, a cúpula estava afinada, alinhada,

eram todos senadores e homens. E agora você tem o Arthur Maia,

deputado federal na presidência e a senadora Elisiane Gama na relatoria.

E um deputado, Éder Mauro do Pará, começou a gritar com ela e ela se exaltou

e rebatendo a agressão, dizendo que não aceitaria aquilo.

E o presidente da CPI, ele reagiu meio que como se ele fosse o dono da coisa toda,

sem se alinhar ou não a ela, mas ele tem demonstrado que vai sempre puxar a CPI

para um lado oposto ao da relatora. E isso com o andar da carruagem

pode ser bastante empecilho para os trabalhos, para os objetivos da relatora.

Sem falar no machismo e na misoginia tácito ali, tácito e não só tácito, explícito.

Esse Arthur Maia é vergonhoso, vamos usar a palavra logo. Ele é um assinte, esse cara.

O papel que ele tá fazendo, como se tivesse dois lados, como se o golpe fosse uma coisa a ser discutida no mérito.

Enfim, só tem uma coisa em relação a essa CPI, que é a chance de traduzir em miúdos a participação dos militares.

Seria uma tarefa relevante pra essa CPI, mas enfim.

É isso então, gente. Eu vou encerrar por aqui. A gente vai pra um rápido intervalo.

No segundo bloco falamos da economia no governo Lula. Já voltamos.

Fraude titânica é o nome adequado para definir o rombo de 22 bilhões de reais no balanço da Americanas.

Na edição de junho da Piauí, a repórter Consuelo Diegues descreve os bastidores daquela que já é considerada a maior fraude da história das corporações brasileiras.

Nós decidimos fazer a matéria logo assim que o escândalo veio à tona em janeiro.

Mas é claro que desde o começo a gente tinha em mente que a gente tinha que tratar esse assunto não apenas em relação à Americanas, mas em relação à cultura do grupo.

A reportagem relata o embate entre os banqueiros credores e o comando da Americanas

desde a divulgação do fato relevante que expôs o golpe contábil e deflagrou a crise, em 11 de janeiro de 2023.

O que me chocou mais foi a cultura do grupo, que foi tão incensada durante tantos anos,

que é um capitalismo ultrapassado, é um capitalismo cruel, é de lucro a qualquer preço.

A pergunta em especial ganha espaço no texto.

Por que uma fraude dessa proporção prosperou dentro da cultura de negócios criada por Jorge Paulo Leman, Marcel Telles e Beto Cicupira, os acionistas controladores da Americanas?

Como você vai montando uma fraude dessa durante 10 anos e ninguém viu, ninguém denunciou?

Isso coloca uma dúvida de como é que estão as outras empresas brasileiras?

Elas estão saudáveis ou não?

Essa é a grande dúvida também. E a partir de agora, o que vai acontecer?

Os bancos vão continuar emprestando para as empresas ou vão cobrar juros mais altos?

Isso afeta a economia como um todo.

Leia a reportagem na edição de junho da Piauí, nas bancas ou no site da revista.

Muito bem, José Roberto de Toledo, vamos começar com você.

Os seus amigos do Copom não ouviram ou não atenderam ou não confirmaram as expectativas de que iam flexibilizar, pelo menos na retórica, a taxa de juros.

Mas as notícias na economia, de modo geral, são positivas.

Começamos pelo Copom ou pelas notícias positivas?

Vou começar pela nota de rodapé, que é o Copom Comitê de Política Monetária e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Ele é o presidente mais buscado da história, que no histórico do Google, segundo o pessoal do Google Trends.

Duas vezes e meio mais buscado do que o Ilan, que foi o presidente anterior, ou do que o Tom Bini.

Mas, tirando essa curiosidade, o que a gente vê são alguns sinais de que a economia começa a reagir, como o Fernando já falou.

Mas o que a gente vê também são os primeiros sinais de que ela pode começar a render frutos políticos para o governo.

E o melhor jeito de identificar isso são os analistas políticos, principalmente na TV a cabo, tentando tirar do Lula qualquer mérito de melhora da economia.

Mas não são só esses. A consultoria Pauwer, que faz a análise dos grupos de WhatsApp, desde a eleição para a gente,

monitoram 25 mil grupos públicos de WhatsApp, fez aqui uma pesquisa a mil pedidos, mostrando que a associação Lula-economia está crescendo nas discussões dentro dos grupos de WhatsApp.

E crescendo positivamente. Tem lá momentos negativos, quando tem alguma coisa, uma bola mais dividida, como por exemplo o subsídio para carro popular.

Mas a tendência é de que a discussão positiva cresça, junto com o crescimento da discussão econômica.

E quais são os sinais mais evidentes que a gente tem de que a economia está reagindo?

São esses todos que você citou, mas para mim o mais simbólico é o dólar, que já está abaixo de 4,80, numa tendência de queda muito clara desde o final de maio.

E o dólar futuro apontando, já tem gente falando em dólar a 4,40, num futuro não muito distante.

Isso é o que vai pressionar o Banco Central a mudar a taxa de juros.

Porque eles não vão poder sustentar essa taxa de juros com um dólar muito barato, porque significará uma inundação de importações e uma dificuldade para as exportações brasileiras,

e acabando com o resto de indústria que sobrou aqui.

Então a pressão sobre eles vai deixar de ser apenas a pressão da Luisa Trajano, do comércio,

e vai ser uma pressão cada vez mais crescente de setores que tem peso na economia, e esses caras tem que pensar no emprego deles depois que eles saíram do Banco Central.

Então assim, a economia está melhorando, essa é a estratégia do Lula desde o começo.

O Lula está repetindo a mesma estratégia que ele fez no primeiro mandato e no segundo mandato.

Vamos no primeiro ano aprovar reformas, fazer uma agenda de colocar a casa em ordem, para que você tenha condições de ter crescimento na segunda metade do mandato.

Ele está conseguindo fazer isso com a aprovação primeiro do arcabouço fiscal, que não tem um impacto imediato, mas sinalizou o suficiente para a Standard & Poor's mudar a nota do Brasil,

e está encaminhando a reforma tributária que se sair, faz 35 anos, desde que eu entrei no jornalismo, que se fala em fazer reforma tributária e nunca foi feita.

Se ele conseguir fazer, por mais pífia que seja, e não acho que será pífia, vai ser um grande avanço, sem dúvida nenhuma, porque o sistema tributário brasileiro é uma exceção.

Tem 170 países que usam imposto sobre valor agregado, tem meia dúzia de países que não usam, então nós estamos muito atrasados.

Se conseguir fazer isso, já será um enorme avanço para a economia brasileira, porque simplifica demais e você não cobra imposto sobre imposto.

Essa discussão nós vamos ter que ter mais aprofundadamente aqui no foro, quando entrar em votação o relatório.

Mas, olhando aqui as pesquisas da Quest também, e do Datafolio, que foi a semana passada, está estável a avaliação do Lula, 37% de ótimo e bom.

Mas, não tem nenhum sinal aqui que você possa dizer, não, isso daqui está fazendo a diferença e tal.

O país continua dividido, os bolsonaristas e os lulistas não concordam em nada, com uma exceção, nas críticas ao Congresso.

É muito engraçado, porque aí as taxas são iguais, quando dizem que o Lula não deveria ceder e dar mais dinheiro para o congressista,

ou que ele está tendo mais dificuldade com o Bolsonaro, aí nisso os bolsonaristas e os lulistas concordam.

Então, essa divisão continua, e o que pode mudar essa divisão é justamente o Bolso, é justamente a economia.

Se a economia continuar nesse caminho, talvez, quem sabe, de produzir mais emprego, produzir mais renda, etc.,

aí talvez você consiga convencer uma parte das pessoas que votaram no Bolsonaro em passar a ver o Lula e o Haddad com melhores olhos.

E vai ficar mais barato para o governo obter maioria no Congresso. Esse talvez seja o efeito prático mais imediato.

Thais Bilenk, eu falei na abertura da aprovação do arcabouço pelo Senado, e você, fora do ar, me fez essa observação muito pertinente,

peço que você repita para os ouvintes agora e já comece a falar o que você tem que falar.

O Senado aprovou, mas aprovou o texto com mudanças, então ele vai ter que voltar para a Câmara dos Deputados,

e a Câmara vai ter que validar ou não as mudanças do Senado, e depois vai para o Lula sancionar ou vetar trechos, enfim.

Então tem uma disputa ainda de quem vai dar a última palavra, que é o que a gente tem visto acontecer entre o Lira e o Pacheco.

E o Lira sempre mais associado a uma oposição ao governo, uma independência do governo, seja o eufemismo que for,

e o Pacheco sempre associado mais a uma linha governista.

Então, se eles não estão afinados, essa disputa ganha novo vigor.

E a agenda econômica da qual o Lula depende, pelos motivos que o Toledo acabou de explicar,

essa é uma agenda que, em tese, é consensual entre Lira e Pacheco, portanto também um pouco mais consensual entre governo e oposição,

mas essa disputa entre os dois sempre é um sinal de atenção permanente para o Palácio do Planalto,

porque pode colocar as votações em apuros ou, pelo menos, em mais dificuldades.

Agora, fato é que quando há convergência real entre gregos e troianos no Congresso Nacional, a coisa deslancha.

E isso aconteceu essa semana na sabatina do Zanin para o Supremo Tribunal Federal,

que não é uma pauta econômica, mas é uma demonstração da prevalência dos interesses próprios dos, no caso, senadores,

mas também dos deputados, quando a agenda afeta eles próprios.

Então, o que aconteceu? A sabatina aconteceu na quarta-feira na CCJ, Comissão de Constituição e Justiça do Senado,

e depois ele foi aprovado no plenário do Senado também.

E foi um passeio. Tivemos exemplos quase que folclóricos disso, de quando governo, oposição, independentes, quem quer que seja, se unem.

Porque a oposição bolsonarista posa de tigrona e foi totalmente tchutchuca com o Zanin.