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Brasil (Brazil), Genésio - a bird without direction: the only witness of the murder of Chico Mendes

Genésio - a bird without direction: the only witness of the murder of Chico Mendes

O que eu lembro da época era que...

o Darly foi quem mandou matá-lo, né?

E daí foi aquela revolução, aquela confusão toda...

e daí veio o Genésio.

Genésio foi quem descobriu para a polícia,

foi testemunha,

testemunhou esse caso, que tinha sido ele,

que comprovou que tinha sido ele quem tinha 'mando' matá-lo.

Foi muito impactante.

Uma criança que tinha 14 anos na época,

quando ele enfrentou o juiz,

enfrentou os criminosos, assim, com uma altivez, né?

De ter assumido que queria falar

e ter ido até o juiz e ter falado.

Foi, assim, uma decisão muito dele.

E esse menino contou a história direitinho dele.

Ele... o bicho era mau, nega velha!

E tinha toda a segurança da informação como testemunha mesmo, né?

Ter vivido sete anos junto deles

e ter somado todos esses...

os fatos que aconteceram e que ele testemunhou.

E é uma pessoa que...

que de certa forma...

apresentou ter um lado, né?

Ter um lado na...

Ele poderia até hoje estar vivendo nessa vida que era...

Ele falava com muita segurança.

Impressionou a classe jornalística

e do mundo inteiro que estava presente no júri.

Eu estive no julgamento

e eu conheci ele nesse dia, lá.

Ele era um rapazinho... rapazinho não, um meninão.

Ele contou uma história bonita perante para o ferão lá e aí...

aí a negada 'tiraram' ele

e ele pegou a bolsa foi estudar longe.

E ele foi retirado de lá, quer dizer, por mim,

enfim, por necessidade.

Mas ele nunca se adaptou direito.

Ele, ao mesmo tempo, sofreu muito com essa separação.

Ele sempre quis voltar,

mas a volta dele significava a morte,

ou risco de morte.

Mas aí vai indo, vai indo

e graças a Deus hoje ele está aí para contar a história, né?

Uma pessoa que tomou partido da luta dos seringueiros

quando estava sendo treinado para ser um jagunço,

se criando com fazendeiros

com um pensamento adverso.

E ele se manteve, quer dizer, ele deu...

Ele fez uma escolha.

Escolheu a acreanidade

a floresta.

Ele quer ser povo da floresta.

Que ele morava lá com a família lá do Darly Alves, lá, né?

e via muitas coisas perversas,

umas coisas muito diferentes

dele contar o que acontecia, né?

Parecia mais um filme de...

de ação.

Ele estava se preparando para ser um peão

igual o que eles 'conhecia' lá dentro

e talvez um matador de aluguel também.

Se algum dos familiares do Darly pegasse ele,

ele não ficaria vivo, né?

Porque ele presenciou e viu muita coisa que aconteceu na própria fazenda

e com a família Darly, né?

Quando ele fez 11 anos de idade

o Olocir deu de presente um revólver cheio de bala para ele.

Ele descreveu um tipo de fazenda que existe no Acre,

se você pensar que todos queriam a morte do Chico Mendes.

Então essa decisão do Genésio

de ir lá e dizer o que viu,

o que foi extremamente importante, decisivo na nossa avaliação

para que o mandante e quem executou fossem presos, né?

Foi, assim, decisivo.

Eu não sei viver sem...

sem...

o nome Chico Mendes, né?

Na minha vida.

Aonde eu vou está presente, né?

que é a minha história, Chico Mendes, Acre...

minha família.

Ele está mais presente na minha vida.

Ele era apenas

um homem,

um sindicalista, uma pessoa simples.

Hoje, para mim, hoje ele...

Hoje ele é um herói vivo, entendeu?

Ele é um mártir da floresta,

um personagem fundamental

daqui, da nossa região, da Amazônia, do meio ambiente.

Para mim, quando eu respiro o ar, Chico Mendes está vivo, né?

Está...feliz.

Aí eu me lembro,

se não me engana a mente, eu acho que estava em um comício.

Ele era candidato a vereador.

Naquele tempo os comícios eram animados,

tinha festa, fogos, caminhão de som.

Aqui a gente tem o costume de pedir muito aos candidatos, né?

Aí eu vi ele lá e eu vi ele...

em volta do palanque.

Falei: "Seu Chico, Seu Chico

me dê mil cruzeiros.

- Para quê? - Para 'mim' comprar balinha."

Ele pegou e me deu.

Aí ele me deu um abraço.

Acho que foi o primeiro abraço que eu...

recebi na minha vida, que eu ganhei

acho que foi dele.

Que eu me lembre foi dele, o primeiro abraço.

Darly foi surpreendido também que ele...

Como ele tinha fama de matador, de covarde,

ele mandou assassinar o Chico Mendes, mas ele...

não tinha o conhecimento, a noção de quem era Chico Mendes.

Assim como eu acho que...

como ninguém sabia quem era lá naquela região, naquela época.

Ninguém sabia.

Chico Mendes era um cara normal, né?

Fazia reunião, trabalhava pelo sindicato.

Então...

Ele foi surpreendido, né?

Quando ele atirou e viu que...

aí ele não calou uma voz,

ele, pelo contrário, levantou várias vozes, né?

contra ele.

Que eu vi na hora que eles carregaram o cartucho da escopeta.

Eu vi o explosivo na mesa

e eu vi a hora que ele perguntou:

"E aí? Está tudo pronto?"

Aí o Darcy respondeu:

"Está tudo pronto.

Eu quero uma pessoa no meu lado

porque eu vou atirar

eu quero uma pessoa que dirija

depois que eu atirar, como é que vou sair?"

O Darly disse: "Eu vou".

Aí foram.

A primeira visão que eu tive do Genésio:

Eu vi ele sentado na porta do quartel.

Virei pra um rapaz assim:

"Vem cá, quem é aquele?"

Ele falou: "Aquele menino é o fundamental,

é a testemunha do caso Chico Mendes."

Se eles mataram o Chico Mendes, imagina se eles não iam matar a testemunha

que ia condenar os dois, né?

Enfim.

Aí, pouco tempo depois, me liga o coronel e disse:

"Olha, é o seguinte: eu descobri aqui um complô para matar o Genésio."

"Poxa, coronel!

Leva ele pro Quartel Militar do Exército."

Estava lá.

"Não, lá vai ser pior."

"Mas, qual é a solução?"

"A solução é você levar ele pro Rio."

"Mas pro Rio! Como?"

"Não, é o jeito", e tal.

Aí trouxe o Genésio pro Rio,

imagina o choque cultural dele.

Aí depois daquele julgamento

eu tive que voltar para o Rio de Janeiro,

na companhia do Zuenir,

Aí minha vida pegou outro rumo,

foi difícil para mim me adaptar.

Eu acho que ele deve ter estranhado bastante, né?

Porque a pessoa que mora numa cidade pequena que nem Xapuri

convivia na fazenda, à vontade,

você pega assim e você...

se mudar para uma cidade grande que nem Rio de Janeiro,

a pessoa, ele, é para ter sentido bem mesmo.

O Zuenir via ali, né? Porque o Zuenir era o tutor,

liberava um dinheirinho ou outra coisa.

Mas quando ele fez 21 anos, ele pegou tudo o que tinha...

juntou uns amigos, morava em Marabá.

O Zuenir até andou lá para comprar um are que ele sonhava,

dizia: "Não, eu quero ter um sítio, trabalhar na roça e tal", então...

Comprou casa, carro, não sei das quantas,

e aí depois ele pegou o resto de dinheiro que ele tinha

e veio embora para Manaus e gastou tudinho e voltou...

Ele já voltou... tomando todas e...

e vamos no fundo do poço, né?

Eu pedi o desligamento do programa, eles não queriam que eu saísse

mas falei: "Eu quero, eu quero minha vida,

eu quero minha liberdade e quero viver minha vida.

Não vou ficar...

cumprindo regra minha vida inteira, não."

Então eu compreendo o Genésio por esse lado, sabe?

Eu acho que ele teve uma dificuldade muito grande

de se adaptar ao mundo em volta, ao novo mundo

com regras mais duras e mais

disciplinares e tal.

Eu falei: "O que que estou fazendo aqui? Eu não nasci para ser preso

Vocês estão... vocês estão...

Como é que é que eu falei? Eu falei uma palavra...

Vocês estão me torturando, isso é tortura, sabia?"

O Genésio parecia um pássaro assustado, né?

E eu fui lá um dia pegar esse rascunho, né?

Os escritos dele, né?

E trouxe, sentei com o Elson e mostrei para o Elson.

O Elson: "Vamos tirar uma cópia de tudo

e mandar uma cópia para o Zuenir,

para o Zuenir olhar como é que organiza essa publicação."

Talvez com...

Se isso não tivesse acontecido

eu não teria um irmão escritor.

Mas, assim...

Mas ele foi sempre um menino inteligente.

Sempre ele...

Sempre ele gostou de ler, assim...

De fazer as coisas, né?

Acho que da família, dos irmãos, mais é ele, assim.

E ele me dizia que estava escrevendo um livro.

Dizia: "Olha, eu estou escrevendo um livro

e nesse livro eu quero citar vocês que são...

a minha referência, meu ponto de referência."

Ele dizia assim:

"Eu tiro o chapéu para você", dizia para mim.

"Foi através de você que eu comecei a conhecer as letras do ABC,

a suas palavras me 'incentivou' muito."

Aí chega a Júlia, Elson Martins, mais um fotógrafo...

para 'mim" assinar, né?

Um contrato com a Editora Vladimir Herzog.

Eles queriam... tinham lido o livro, 'gostou' e 'queria' publicar.

"O Elson sempre me ligava perguntando".

"Não, estamos fazendo, estamos imprimindo,

estamos trabalhando a capa."

Aí mandaram, pelo computador, a capa para 'mim' ver

se eu iria gostar.

Aí em outubro me ligaram para me preparar para ir, né?

Para o Rio de Janeiro para lançar, né?

As autoridades de modo geral, a Justiça

tinham que dar um valor para ele, cuidar dele

e reverenciar pelo que ele fez...

quando criança.

Eu acho que o mártir foi o Chico Mendes.

O Genésio foi a testemunha

com todo o peso que tem uma testemunha,

com todo o risco que tem uma testemunha.

Foi só a índole que fez do Genésio o que o Genésio é.

Só torço muito para que ele erga a cabeça e cresça

porque ele é um homem muito inteligente.

É um homem especial, ele.

Tudo a ver comigo, né?

Sem rumo mesmo.

Até hoje eu sou meio sem rumo, ainda.

Estou tentando encontrar o rumo, né?

E aqui é um lugar onde eu estou...

estou me encontrando, na verdade, viu?

Genésio Barbosa vivia na fazenda de Darly.

Ele foi testemunha de reuniões secretas do patrão com membros da UDR,

a organização que defende os interesses dos fazendeiros da região.

Genésio, em que momento você decidiu depor contra os seus ex-patrões?

Desde o momento que

eu estava preso um dia eu resolvi

chamar o delegado para ir até a sede da delegacia

e confessar tudo para ele.

Nesse meio tempo você chegou a ser ameaçado, Genésio?

Chegaram a me ameaçar sim.

Em quantos lugares você ficou nesse tempo todo?

Quantas casas, quantos lugares?

Como é que foi essa ameaça deles?

Falando que se eu contasse algum fato deles, eles me matariam.

E a vida de quem voava

Solto e livre como o vento

Virou um voo pequenino

Deixou se prender na arapuca do menino

E a vida virou um voo pequenino

Deixou se prender na arapuca do menino

E a vida virou um voo pequenino

Um voo pequenino

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