Como Criar a Melhor Empresa para Trabalhar | Cauê de Oliveira | TEDxSaoPauloSalon (1)
Tradutor: Julia Yada Revisor: Claudia Sander
A gente já tinha marcado esse treinamento de liderança
em uma empresa no interior de São Paulo
com uns três, quatro meses de antecedência.
Dois dias antes do treinamento acontecer, a cliente me liga:
"Cauê, temos um problema.
A diretora da unidade quer participar do treinamento junto com a equipe.
O que fazer?"
Disse pra ela que não tem problema nenhum
a diretora participar do treinamento junto com os gestores.
Afinal de contas, ia dar a conotação
de que estamos todos juntos no mesmo barco.
Mas ela disse que teria um problema.
Se a diretora participasse do treinamento,
e os gestores se sentissem intimidados com a presença dela,
isso poderia ser um grande furo no barco.
E aí ela virou no telefone e falou uma coisa que eu nunca esqueci.
Ela falou assim:
"Cauê, você não tem ideia de quem é a Andreia".
(Risos)
Esse negócio de liderança pode ser engraçado.
Porque tem líder que a gente nunca esquece.
Eu mesmo tive uma líder de quem nunca mais me esqueci.
A Laura Tomas.
A Laura era uma gerente de um resort, uma estação de esqui em que eu trabalhei.
Eu nunca tinha viajado, nunca tinha saído do país,
nunca tinha viajado de avião.
E lá estava eu, de repente, numa estação de esqui,
curtindo aquele momento, achando que este seria o cenário
que eu veria a maior parte do tempo.
Esse resort era tão chique, tão elegante, que, para vocês terem uma ideia,
dá uma olhadinha no banheiro de um dos quartos do resort.
Repara o porcelanato!
(Risos)
Olha a beleza dos azulejos.
E a banheira central?
O que me chama a atenção também é a limpeza do lugar.
Ficava assim depois que eu limpava.
(Risos)
Eu era o camareiro do resort.
Eu era responsável pelas faxinas, pela limpeza e arrumação dos quartos.
E a Laura era minha gestora, e eu sempre conversava com ela.
Eu falava assim: "Laura, um dia que você tiver alguma coisa a mais pra fazer,
um 'ir além', eu estou aqui".
Eu queria aprender.
Eu me formei em hotelaria, então fazia sentido.
Um dia a Laura falou pra mim:
"Cauê, o seu pedido é uma ordem!
Temos um importante projeto de segurança no trabalho aqui na nossa área,
preciso de alguém criativo pra conduzir, pensei em você, topa?"
Eu falei na hora: "Claro que eu topo!"
Imagina, uma coisa importante, não é?
Aí eu falei pra Laura: "Como vai ser meu dia a dia daqui pra frente?"
Ela falou: "Igual!"
(Risos)
"Vai continuar limpando os quartos.
E, além disso,
cuidar do projeto de segurança."
Eu falei: "É, exatamente, o que eu pensei que você iria falar".
E tudo bem!
De qualquer forma fiquei animado, ia de um quarto a outro,
limpando daqui, dali, sempre com a ideia sobre segurança no trabalho.
Um dia a Laura me liga, entre uma limpeza e outra, e fala: "Cauê,
preciso que você me represente numa reunião.
Mas fique tranquilo porque essa reunião vai ser justamente
sobre segurança no trabalho, você domina o assunto".
Falei: "Claro Laura, que dia é a reunião pra eu me preparar?"
Ela falou: "É agora". Falei: "Estou pronto!"
Fui eu...
E lá fui eu pra essa reunião.
Um lugar que nunca tinha ido no resort, uma sala chique de reunião.
Quando eu entro na sala, quem estava lá era o presidente do resort.
Ele é presidente de um grupo de sete resorts e estava lá pra me ouvir.
Uau! E eu disse minhas ideias.
Contei pra ele tudo que eu estava pensando.
Ele sorriu, acenou com a cabeça, fez suas considerações.
Depois eu voltei... pro meu trabalho.
Porque eu sei que a Laura confiava em mim pra conduzir uma reunião
com o presidente do resort, assim como ela confiava em mim
pra terminar de limpar a privada que eu estava limpando.
A gente esquece de muita coisa na nossa vida.
Se eu fizer as contas, acho que já esqueci a maior parte dos dias da minha vida.
Mas eu nunca mais esqueci esse dia.
A gente esquece o nome de tanta gente que passa na vida,
mas eu nunca mais esqueci da Laura.
Laura Tomas.
E eu não sabia por que aquilo tinha ficado tão forte pra mim,
por que tinha representado tanto na minha vida.
Só fui descobrir um tempo depois, quando voltei pro Brasil.
Eu estava procurando emprego.
Aí, procura aqui, procura ali, e uma das vagas que eu precisava,
que estava lá disponível, precisava falar inglês.
Falei: "Opa! Lá vou eu!".
Até porque o nome da empresa era um pouco difícil de dizer:
"Great Place to Work".
Aí eu cheguei na empresa,
falei: "Bom dia, aqui é o Great Place to Work?"
Eles falaram: "Esse é fluente, passou".
E lá estou eu.
(Risos)
Desde 2011, estou eu lá, no Great Place to Work,
feliz e contente, pra quem não conhece, o Great Place é aquela empresa
que faz o ranking das melhores empresas pra trabalhar no Brasil e no mundo.
Isso nos trouxe uma grande expertise do que faz uma empresa ser considerada
por seus colaboradores a melhor empresa pra trabalhar,
e o que faz uma empresa não ser considerada pelos mesmos uma boa empresa.
O interessante é que foi lá no Great Place to Work
que eu entendi, tecnicamente,
o que a Laura tinha me oferecido naquele dia.
E lá a gente resume com uma única palavra o que ela nos deu.
E essa palavra talvez seja o grande segredo por trás
das melhores empresas pra trabalhar.
Não é tendo jogo de videogame, pebolim, pingue-pongue,
que você vai ser a melhor empresa pra trabalhar.
Não é tendo os melhores salários, os melhores benefícios,
não é pintando as paredes de colorido.
Afinal de contas tem tanta empresa de parede colorida cheia de pessoa cinza.
O que transforma uma empresa em um excelente lugar pra trabalhar
é uma palavra simples, e o que a Laura tinha me dado foi, pura e simplesmente,
um presente.
Presente, no inglês, "gift"; no trabalho, "work".
Nós inventamos uma palavra,
um conceito que está por trás das melhores empresas, é esta palavra aí:
"giftwork".
Que é um presente que muitas vezes você não esperava receber
num ambiente de trabalho.
Que pra quem oferece não tem investimento quase nenhum,
nem de tempo, nem de dinheiro.
Mas, pra quem recebe,
um valor que não tem tamanho.
E se hoje estamos falando de futuro,
eu acredito, convictamente,
que não haverá futuro pra empresas que não pensarem nisso.
Pra empresas que não conseguirem ir além.
Mas não existe empresa que vai além.
O que existe são pessoas que vão além.
É claro que temos que ser melhores nas finanças, na inovação,
nos processos com os clientes,
mas se a gente não conseguir ser melhor
com aqueles que vão dar a base para tudo isso, que são as pessoas,
o futuro não existe.
E, pra esse futuro,
o tamanho não é documento.
Pra vocês terem uma ideia, olhem que interessante este dado.
Das 500 maiores, não melhores,
as maiores empresas do mundo,
do ano de 2000, ou seja, há 17 anos,
metade delas já não existe mais.
Metade delas já desapareceram.
E lá no Great Place to Work, acho que foi quando eu experimentei de fato, na veia,
o que é esse tal de "giftwork".
Tinha recém chegado na empresa,
fazia dois, três meses que estava trabalhando,
aquele período de experiência, né?
Eu também estava fazendo um curso de teatro.
Eu adoro teatro.
Essa coisa de subir num palco e contar uma história pra alguém me encanta.
E essa é a essência do teatro, não é?
E pra quem já fez curso de teatro, não sei se alguém aqui já fez,
o término do curso consiste numa apresentação pra sua família;
apresentação da peça teatral, pra família, amigos,
geralmente fica uma longa temporada de um dia, apresentando.
(Risos)
Às vezes dois.
O problema é que esse um dia seria justamente numa segunda-feira.
Segunda-feira é dia de trabalho.
E eu fiquei num dilema.
Será que eu pergunto pro pessoal, no Great Place to Work
se eu posso faltar esse dia
e termino meu curso de teatro,
ou desisto de fazer o curso de teatro
e continuo a trabalhar lá na empresa?
Foi aí que eu olhei mais uma vez
pro nome da empresa,
e lembrei que, além de saber pronunciá-lo, eu também sabia o seu significado.
E fui conversar com a minha gestora na época, a Pâmela.
Eu falei assim: "Pâmela, será que em tal segunda-feira
eu posso não vir trabalhar?
Porque eu tenho essa apresentação do meu curso de teatro".
Eu nunca esqueço, a Pâmela olhou no fundo dos meus olhos e falou assim: "Cauê,
esse tipo de coisa você não pergunta aqui.
Esse tipo de coisa, você avisa.
Eu sei o quanto esse curso é importante para você. Vá!"
E eu fui.
E apresentei o curso, foi o máximo!
Nós todos apresentamos, foi muito legal.
Quando estávamos agradecendo o público aquele aplauso,
a sua família que vai assistir, né.
(Risos)
Todo mundo aplaudindo, aquela coisa maravilhosa,
mas de repente, no fundo da plateia, eu começo a ouvir um aplauso diferente.
"Cauê!" (Palmas)
Cauê!" (Palmas)
Quando a luz se acende, eu vi que lá no fundo da plateia era o Ruy.
O Ruy Shiozawa, que é o CEO e o presidente do Great Place to Work.
(Risos)
Junto com a Pâmela.
E mais dez pessoas e amigos do Great Place to Work,
que tinham ido me assistir de surpresa.
Ah!
(Risos) (Aplausos)
Naquela mesma noite, o Ruy falou pra mim uma coisa.
Ele falou assim: "Cauê, esse negócio de teatro
é importante para você mesmo, né?"
Eu disse: "É".
Ele falou: "Um dia, eu vou encontrar um palco pra você, aqui na nossa empresa".
E é por isso que eu preciso dividir com vocês um e-mail que o Ruy mandou
pro pessoal da organização do TEDxSãoPaulo
umas duas semanas atrás.
[Infelizmente não poderei comparecer. Indico nosso diretor Cauê]
Por esse e-mail, vocês podem perceber que estou aqui por engano.
(Risos)
(Aplausos) (Vivas)
Uau!
Plateia: Cauê! Cauê! Cauê!
Cauê de Oliveira: Eu imaginava que isso poderia acontecer.
(Risos)
Eu trouxe pessoas que iam puxar.
(Risos)
Obrigado! Obrigado!
Uau!
Até esqueci a continuidade.
(Risos)
Enfim... e o Ruy falou isso, né: "Um dia vou encontrar..."
Então, no fim das contas, este palco em que estou aqui hoje
nada mais é que o presente que o Ruy havia me prometido no ano de 2011,
quando eu entrei na Great Place to Work.
Depois disso eu acabei virando Diretor de Educação Corporativa
lá na Great Place to Work, e é isso que eu faço o tempo todo.
Dou palestras, treinamentos e viajo o Brasil inteiro
ouvindo, conhecendo e contando histórias de líderes que fazem a diferença.
Eles me pagam pra fazer isso.
(Risos)
Não sou eu que vou discutir, não é?
(Risos)
E como o que eu mais gosto de fazer é contar histórias,
vou terminar contando uma.
Essa história tem um nome.
E o nome dessa história é:
"Você não tem ideia de quem é a Andreia".
(Risos)
Viajei pro interior de São Paulo,
curiosíssimo pra saber quem era essa tal diretora Andreia.
Quando cheguei lá,
vi que eu não tinha ideia mesmo,
porque ela era uma pessoa absolutamente fantástica.
Uma pessoa amável, ela era um ser humano giftwork, não é?
Daí ela contou uma história pra gente que emocionou demais.
Ela levantou a mão, num determinado momento, e falou assim:
"Cauê, eu tenho um giftwork pra contar".
Eu falei: "Por favor, Andreia, conta".
Ela falou: "Quando eu ainda não era diretora desta empresa, eu era gerente,
fiquei muito emocionada um dia em que meu diretor me ligou
e falou assim: 'Andreia, preciso que você venha imediatamente pra minha sala.' "
E ela foi.
Quando ela chegou na sala do diretor, ela abriu a porta da sala,
e lá dentro da sala estava ele e uma senhora.
Ela olhou melhor pra essa senhora, e viu que era a mãe dela.