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TED Português, Autenticidade: a coragem de ser quem você é | Mari Palma | TEDxSaoPaulo (1)

Autenticidade: a coragem de ser quem você é | Mari Palma | TEDxSaoPaulo (1)

Transcriber: Andrea Portela Revisor: Elena Crescia

Quando eu passei no meu primeiro emprego, um estágio na TV Globo,

eu lembro que eu contei para meus pais

e claro, eles ficaram super felizes. Parabéns! Aquela coisa...

Mas eu lembro que, uma das primeiras coisas

que minha mãe me disse foi: filha, ok.

Você passou no seu primeiro emprego, então, agora a gente precisa sair

para comprar roupa de trabalhar.

Eu nunca tinha trabalhado na vida,

Eu pensei, que será essa tal roupa de trabalhar?

o que tem errado com a minha roupa?

E aí a gente pegou e foi para o shopping e eu falei: está bom mãe,

então vamos lá, comprar essa roupa de trabalhar.

E aí eu lembro que a gente chegou no shopping,

e aí minha mãe começou a sair atrás de camisa social, calça social, salto,

e eu só olhando né? Está bem, ela sabe o que está fazendo.

Eu preciso começar a trabalhar.

Então vamos seguir isso, e aí, a gente foi para o provador.

Aí no provador eu colocando aquelas roupas que eu nunca tinha colocado,

e aí eu lembro que começou a provocar uma comoção no provador

com outras mulheres que estavam lá.

Minha mãe claro, super orgulhosa, contando para todo mundo...

ai, minha filha passou na Globo.

Ela vai começar a trabalhar e aí, as pessoas olhando para mim

com aquela roupa de trabalhar, falando: Nossa você está linda!

desse jeito eu tenho certeza que vai dar tudo certo,

você vai ser uma grande profissional.

Como se, por colocar aquela roupa,

como se por se vestir daquela maneira,

já fosse certeza de que eu seria competente,

de que eu seria uma grande profissional, de que eu teria uma carreira maravilhosa.

De certa maneira, eu também acreditei naquilo.

Por muito tempo.

Então eu acreditei, que eu precisava me vestir daquela maneira

porque o jeito que eu me vestia, talvez não seria suficiente

se eu quisesse crescer como profissional.

Então eu lembro que, eu comecei a minha carreira,

sendo quem as pessoas achavam que eu deveria ser,

mas não sendo quem eu era de verdade.

E aí eu lembro que eu fui trabalhar,

meu primeiro dia...

super desconfortável com aquela roupa.

Era como se eu não me encaixasse ali dentro, de certa maneira.

Então eu estava no ônibus, de salto,

com camisa suando, aquele calor..

e aí meio desconfortável, eu não sabia direito

como ficar com a roupa e tal...

Mas eu fui.

Nesse, eu fui...

passou muito tempo. Anos e anos,

da Mari fantasiada de algo que ela achava que precisava ser

para alcançar alguma coisa,

e não da Mari sendo a Mari de verdade.

E é muito curioso, porque por muito tempo,

eu fui trabalhar de salto, era assim que meus amigos me conheciam.

Mas não era como eu me vestia normalmente. Eu queria estar ali,

fantasiada de profissional competente,

mesmo que fosse contra quem eu sou de verdade.

Trabalhando na Globo, eu fui convidada então para participar de um projeto,

que seria o G1 em um minuto.

E aí me convidaram para fazer um piloto desse projeto.

Mari, a gente precisa que você venha amanhã

para fazer um piloto. Eu não sabia direito o que era, e tal...

E a gente precisa que você venha. É um piloto de vídeo,

para você ser apresentadora de um projeto em rede nacional.

Falei: nossa! O que que eu fiz?

Corri para a seção credibilidade do meu armário, digamos assim...

Peguei todas as roupas que eu achava que me faziam parecer séria

com credibilidade e tal...

Cheguei arrasando no dia,

e aí eu lembro que um dos meus chefes olhou para mim

e falou assim: “não Mari, a gente não quer você assim.

A gente quer você de verdade.”

E aí, sabe, eu olhei de baixo para cima, assim, falei: “sério?”

Aí ele falou: “sério, nesse projeto

a gente quer que você seja de verdade, a gente quer você com suas roupas,

a gente quer você falando do jeito que você fala.”

Aí eu falei “nossa! Será?”

Enfim, voltei para casa,

coloquei as minhas camisetas de banda, de série e tal,

vesti a minha roupa. Sem a fantasia.

E aí eu comecei naquele desafio, naquele projeto,

com uma sensação um pouco complexa dentro de mim,

porque, ao mesmo tempo que eu estava muito feliz,

porque eu tinha de certa maneira me libertado daquela caixa,

que eu achei por muitos anos

que eu precisava entrar, que precisava estar.

Mas ao mesmo tempo,

eu estava com muito medo da rejeição.

Porque a gente passa a vida inteira

tentando ser aceito, a gente passa a vida inteira

tentando pertencer a algum grupo.

E dentro da minha fantasia profissional

eu pertencia, de certa maneira, a algum grupo.

Eu estava ali, como profissional competente.

Então sem aquela proteção, digamos assim,

eu estava sem nenhum muro

entre mim e o público.

Isso me assustava, eu tinha muito medo da rejeição.

Eu tinha medo de confirmar aquilo, que por muito tempo eu acreditei,

que eu não seria suficiente.

Como uma menina de piercing, tatuagem aparente no braço,

camiseta de série, de banda,

pode entrar na televisão falando de política, economia,

eu não vou acreditar no que ela diz.

E olha só que curioso...

eu mesma caí nessa armadilha.

Eu, no começo do projeto,

também acreditei que eu não merecia falar

sobre esses assuntos mais complexos, mais densos,

por causa do jeito que eu me vestia.

Então, eu comecei esse projeto totalmente desacreditada em mim.

Só que eu fui. De novo. Fechei o olho e eu fui.

E foi o começo de uma jornada que me fez entender

o poder dessa palavrinha que a gente escuta hoje bastante,

que é autenticidade.

Eu lembro que no começo do G1 em 1 minuto,

uma senhorinha ligou na redação

no meio do dia assim, e ela falou para o meu chefe:

“pede pra essa menina tirar esse arame do nariz,

porque não tem nada a ver com ela.”

E eu lembro que meu chefe desligou, dando risada,

aí eu olhei para ele e falei, “que foi chefe?” Ele falou:

“ah, ligou uma senhora aqui falando

para você tirar esse arame do nariz.”

Aí eu virei para ele e falei assim: “Eu tiro?”

Aí ele: “não, não tira.”

E eu parei e falei: “nossa, tá bom.”

E aqui eu acho muito importante dizer o seguinte,

não foi de um dia para o outro que eu simplesmente acordei

e falei: “quer saber? Eu vou desafiar o sistema,

vou contra todos os códigos, todos os obstáculos que existem,

eu vou passar por tudo isso, vou colocar minha camiseta de banda,

vou aparecer na televisão e o povo que lute.” Não.

Eu tive uma oportunidade, e eu tenho total consciência

da sorte que eu tive de ter pessoas no meu caminho,

que viram algo em mim, que eu mesma não conseguia enxergar.

Que viam que a Mari

podia sim ser suficiente.

A Mari, de verdade.

E não só as pessoas com quem eu trabalhava enxergaram isso.

O público também começou a enxergar o poder dessa autenticidade,

porque o medo que eu tinha de ser rejeitada,

ele meio que ficou para trás.

Porque as pessoas começaram a se identificar comigo, de certa maneira.

Então, nas minhas redes sociais, que, né,

eu colocava ali fotos da minha família,

do meu cachorro e tal...

Eu tinha, sei lá, 300, 400 seguidores,

esse número começou a subir.

subir, subir, subir,subir,

e aí as pessoas começaram a me seguir, a me mandar mensagem.

Eu falei: “Nossa existe um movimento aqui!

Tem alguma coisa acontecendo aqui que não estou entendendo direito que é.

E a maioria das mensagens dizendo que se identificavam comigo

que se viam em mim,

ou mães e avós dizendo que viam as filhas e netas em mim,

os filhos e netos.

Alunos de jornalismo dizendo: “Mari, eu quero fazer jornalismo

e falei para o meu pai que eu quero fazer uma tatuagem

ele disse para mim que jamais vou ser jornalista assim,

hoje eu pego a sua foto, mostro aqui para ele

e falo, ó, ela está lá, eu também posso.”

Uma vez em um evento,

eu encontrei uma menina

que disse que foi ao evento só para conversar comigo.

E aí quando ela me viu, ela pegou na minha mão

e ela tremia assim, começou a chorar.

Aí eu falei: “que aconteceu? Está tudo bem?”

Aí ela falou: “eu queria te agradecer.”

Aí eu falei:“por quê?”

Ai ela falou:“eu faço engenharia, e eu me visto

de um jeito que as pessoas questionam.

As pessoas falam de como eu me visto e vendo você fazendo o que você faz,

fazendo o que você faz, com brilho no olho.

Algo que você ama.

Isso me dá força para resistir, para seguir em frente.

E esse tipo de retorno que começou a aparecer,

me deu uma força absurda, assim, para continuar.

Me fez entender que sim, eu poderia ser suficiente.

Me fez entender que tinha valor

na Mari, de verdade.

E olha que curioso, a gente precisa muitas vezes,

que a outra pessoa valide a gente,

para a gente acreditar em quem a gente é.

Geralmente parte do outro né? Na pessoa olhar para você e falar:

“eu gosto de você assim. Legal, Continue.”

Se a pessoa de repente falar o contrário,

você vai se questionar, vai duvidar de quem você é.

Então eu continuei, eu resisti, por causa de todo esse apoio

que eu tive inicialmente, que foi um apoio que me fez entender

o poder da autenticidade.

Então, eu percebi que eu não precisava mais recorrer à seção credibilidade

do meu guarda roupa,

porque a credibilidade estava em mim,

não no jeito que eu me vestia.

Eu podia sim ser competente.

Eu podia falar de política, economia. Eu podia fazer tudo isso

usando piercing, fazendo tatuagem e de camiseta e tênis.

Isso não me fazia menos competente.

Perceber isso foi muito transformador,

não só para a minha carreira, mas para a minha vida também.

Porque eu comecei a perceber, como muitas vezes

a gente limita a gente mesmo

e limita o outro.

Então alguém que tem coragem de ser de verdade,

alguém que tem coragem de assumir o jeito que se veste,

de falar do jeito que fala.

Muitas vezes, a gente tem um olhar cruel

sobre essa pessoa, ne?

E isso também significa um olhar cruel sobre a gente mesmo.

Então eu percebi o poder que esse movimento de autenticidade pode ter,

para tudo. Para as nossas relações, para a nossa profissão,

não só para a gente, para todo mundo.

E eu entendi que muitas vezes, a gente pode ser a barreira,

para o outro ser de verdade. Então, que a gente não seja essa barreira.

Que a gente não seja mais um obstáculo.

Porque, já tem tanto obstáculo né?

Impedindo e dizendo para a gente que a gente não é suficiente.

Entâo, que a gente não seja mais um obstáculo para o outro.

Agora, a gente fala tanto sobre a autenticidade.

A gente fala tanto sobre essa coragem,

esse processo que ao mesmo tempo que é tão difícil, é tão gostoso...

Por que é tão difícil fazer isso?

Porque isso significa derrubar um muro.

E quando você derruba esse muro,

a recepção pode ser positiva, mas ela pode ser muito negativa também.

E eu não estou dizendo aqui que eu só tive elogio,

que as pessoas me amaram 100%, não.

Eu tive muita reação negativa a isso.

Pessoas dizendo que eu não merecia estar naquele lugar,

falando de política, economia.

Pessoas me chamando de estagiária,

por causa do jeito que eu me visto,

sendo que eu já tinha quase 10 anos de carreira

e sendo que eu trabalhava muito.

Apesar de eu estar um minuto na televisão,

eu juro que o trabalho é maior do que isso.

Também aconteceu o contrário, pessoas dizendo:

“ela só está aí por causa da camiseta”.

Eu coloco uma camiseta e um tênis, eu vou na frente da câmera,


Autenticidade: a coragem de ser quem você é | Mari Palma | TEDxSaoPaulo (1)

Transcriber: Andrea Portela Revisor: Elena Crescia Translator: Leticia Rezende Reviewer: David DeRuwe

Quando eu passei no meu primeiro emprego, um estágio na TV Globo, When I got my first job, an internship at Globo TV,

eu lembro que eu contei para meus pais I remember telling my parents, and of course, they were very happy.

e claro, eles ficaram super felizes. Parabéns! Aquela coisa... “Congratulations! What a thing!”

Mas eu lembro que, uma das primeiras coisas I remember one of the first things my mom told me:

que minha mãe me disse foi: filha, ok.

Você passou no seu primeiro emprego, então, agora a gente precisa sair

para comprar roupa de trabalhar.

Eu nunca tinha trabalhado na vida, I’d never worked in my life,

Eu pensei, que será essa tal roupa de trabalhar? I thought, “What are work clothes? Is there something wrong with my clothes?”

o que tem errado com a minha roupa?

E aí a gente pegou e foi para o shopping e eu falei: está bom mãe, Then we went to the mall, and I said, “Okay mom, let’s go buy work clothes.”

então vamos lá, comprar essa roupa de trabalhar.

E aí eu lembro que a gente chegou no shopping, And I remember that when we got to the mall,

e aí minha mãe começou a sair atrás de camisa social, calça social, salto, my mom started looking for a formal shirt, formal pants, and heels.

e eu só olhando né? Está bem, ela sabe o que está fazendo.

Eu preciso começar a trabalhar.

Então vamos seguir isso, e aí, a gente foi para o provador. We went to the fitting room,

Aí no provador eu colocando aquelas roupas que eu nunca tinha colocado, and I was putting on clothes I’d never worn before.

e aí eu lembro que começou a provocar uma comoção no provador I remember it all causing a commotion in the fitting room

com outras mulheres que estavam lá. with the other women that were there.

Minha mãe claro, super orgulhosa, contando para todo mundo... My mom, of course, was super proud, and telling everyone,

ai, minha filha passou na Globo. “My daughter got into Globo. She’s going to work.”

Ela vai começar a trabalhar e aí, as pessoas olhando para mim

com aquela roupa de trabalhar, falando: Nossa você está linda! “You look beautiful!”

desse jeito eu tenho certeza que vai dar tudo certo, and because they said this, I knew it would work out fine:

você vai ser uma grande profissional. I was going to be a big professional.

Como se, por colocar aquela roupa, As if, by putting on those clothes,

como se por se vestir daquela maneira, by dressing like that,

já fosse certeza de que eu seria competente, I was for sure going to be competent,

de que eu seria uma grande profissional, de que eu teria uma carreira maravilhosa. that I would be a big professional and have a wonderful career.

De certa maneira, eu também acreditei naquilo. In a certain way, I also believed it to be true.

Por muito tempo. For a long time.

Então eu acreditei, que eu precisava me vestir daquela maneira So I believed I needed to dress like that

porque o jeito que eu me vestia, talvez não seria suficiente because perhaps the way I dressed before wasn’t good enough

se eu quisesse crescer como profissional. if I wanted to grow professionally.

Então eu lembro que, eu comecei a minha carreira, I remember that I started my career

sendo quem as pessoas achavam que eu deveria ser, trying to be the person others thought I should be,

mas não sendo quem eu era de verdade. not who I really was.

E aí eu lembro que eu fui trabalhar, And then I remember going to work.

meu primeiro dia... My first day ...

super desconfortável com aquela roupa. super uncomfortable with those clothes.

Era como se eu não me encaixasse ali dentro, de certa maneira. In a way, it was like I didn’t fit in.

Então eu estava no ônibus, de salto, There I was on the bus in heels,

com camisa suando, aquele calor.. and I was sweating in that shirt and the heat ...

e aí meio desconfortável, eu não sabia direito I was so uncomfortable,

como ficar com a roupa e tal... and I didn’t know how I could keep wearing those clothes.

Mas eu fui. But I went.

Nesse, eu fui... In those clothes, I went.

passou muito tempo. Anos e anos, Time passed - years and years,

da Mari fantasiada de algo que ela achava que precisava ser and I was dressing like I thought I should be in order to get somewhere,

para alcançar alguma coisa, to achieve something,

e não da Mari sendo a Mari de verdade. not like the real Mari.

E é muito curioso, porque por muito tempo, And it’s very curious because for a long time

eu fui trabalhar de salto, era assim que meus amigos me conheciam. I went to work in heels, and that was how my friends knew me.

Mas não era como eu me vestia normalmente. Eu queria estar ali,

fantasiada de profissional competente, masquerading as a competent professional,

mesmo que fosse contra quem eu sou de verdade. even if it was the opposite of who I really was.

Trabalhando na Globo, eu fui convidada então para participar de um projeto,

que seria o G1 em um minuto.

E aí me convidaram para fazer um piloto desse projeto. They invited me to make a pilot for this project:

Mari, a gente precisa que você venha amanhã “Mari, we need you to come tomorrow to make a pilot.”

para fazer um piloto. Eu não sabia direito o que era, e tal... I didn’t know what it was, but they continued on:

E a gente precisa que você venha. É um piloto de vídeo,

para você ser apresentadora de um projeto em rede nacional.

Falei: nossa! O que que eu fiz? I said, “Wow! What have I done?”

Corri para a seção credibilidade do meu armário, digamos assim... I ran to what we could call the “credibility section” of my closet,

Peguei todas as roupas que eu achava que me faziam parecer séria and I got out all the clothes I thought made me look serious -

com credibilidade e tal... have credibility and such.

Cheguei arrasando no dia, I arrived there rocking it,

e aí eu lembro que um dos meus chefes olhou para mim and I remember one of my bosses looking at me and saying,

e falou assim: “não Mari, a gente não quer você assim.

A gente quer você de verdade.”

E aí, sabe, eu olhei de baixo para cima, assim, falei: “sério?”

Aí ele falou: “sério, nesse projeto He said, ″Really, on this project, we want you to be the real you.

a gente quer que você seja de verdade, a gente quer você com suas roupas,

a gente quer você falando do jeito que você fala.”

Aí eu falei “nossa! Será?” I said: ″Wow, really?”

Enfim, voltei para casa, So, I went back home,

coloquei as minhas camisetas de banda, de série e tal, got out my band and TV-show t-shirts and such,

vesti a minha roupa. Sem a fantasia. and dressed myself in my clothes, without the costume.

E aí eu comecei naquele desafio, naquele projeto, Then I began that challenge, that project, with mixed feelings inside me.

com uma sensação um pouco complexa dentro de mim,

porque, ao mesmo tempo que eu estava muito feliz, At the same time that I was very happy

porque eu tinha de certa maneira me libertado daquela caixa, because, in a certain way, I’d freed myself from that box

que eu achei por muitos anos that I’d thought I needed to be in for so many years,

que eu precisava entrar, que precisava estar.

Mas ao mesmo tempo, at the same time, I was afraid of rejection.

eu estava com muito medo da rejeição.

Porque a gente passa a vida inteira We spend our whole life trying to be accepted;

tentando ser aceito, a gente passa a vida inteira

tentando pertencer a algum grupo.

E dentro da minha fantasia profissional Inside my professional costume,

eu pertencia, de certa maneira, a algum grupo. in a certain way, I belonged to a particular group:

Eu estava ali, como profissional competente. I was a competent professional.

Então sem aquela proteção, digamos assim, One could say that without that protection,

eu estava sem nenhum muro there were no walls between me and the public.

entre mim e o público.

Isso me assustava, eu tinha muito medo da rejeição. That scared me; I was very afraid of rejection.

Eu tinha medo de confirmar aquilo, que por muito tempo eu acreditei, I was afraid to confirm that for a long time I believed

que eu não seria suficiente. that I wasn’t enough.

Como uma menina de piercing, tatuagem aparente no braço, “If a girl with piercing, with a tattoo on her arm,

camiseta de série, de banda, and TV show and band T-shirts

pode entrar na televisão falando de política, economia, can get onto TV talking about politics and economics,

eu não vou acreditar no que ela diz. I’m not going to believe what she says.

E olha só que curioso... Oh, look how odd ... ”

eu mesma caí nessa armadilha. I myself fell into that trap.

Eu, no começo do projeto, At the beginning of the project,

também acreditei que eu não merecia falar I, too, believed that I didn’t deserve to speak about more complex, dense topics

sobre esses assuntos mais complexos, mais densos,

por causa do jeito que eu me vestia. because of the way I dressed.

Então, eu comecei esse projeto totalmente desacreditada em mim. So I started this project totally not believing in myself.

Só que eu fui. De novo. Fechei o olho e eu fui. But I went. Again. Closed my eyes and went.

E foi o começo de uma jornada que me fez entender And this was the beginning of a journey that made me understand

o poder dessa palavrinha que a gente escuta hoje bastante, the power of this word that we hear today a lot:

que é autenticidade. authenticity.

Eu lembro que no começo do G1 em 1 minuto, I remember that at the beginning of “G1 em 1 Minuto,”

uma senhorinha ligou na redação a lady called the newsroom

no meio do dia assim, e ela falou para o meu chefe: in the middle of the day, and she told my boss:

“pede pra essa menina tirar esse arame do nariz, “Tell that girl to take that wire from her nose

porque não tem nada a ver com ela.” because it has nothing to do with her.”

E eu lembro que meu chefe desligou, dando risada, And I remember my boss hung up laughing,

aí eu olhei para ele e falei, “que foi chefe?” Ele falou: and I looked at him and asked, “What is it, boss?”

“ah, ligou uma senhora aqui falando He said, “Oh, a lady called here telling you to take the wire from your nose.”

para você tirar esse arame do nariz.”

Aí eu virei para ele e falei assim: “Eu tiro?” So I turned to him and asked, “Should I?” and he said, “No, you shouldn’t.”

Aí ele: “não, não tira.”

E eu parei e falei: “nossa, tá bom.” I stopped and said, “Wow, OK.”

E aqui eu acho muito importante dizer o seguinte, Here I think it’s very important to say the following:

não foi de um dia para o outro que eu simplesmente acordei It wasn’t just overnight that I simply woke up and said,

e falei: “quer saber? Eu vou desafiar o sistema, ”You know what? I’ll challenge the system.

vou contra todos os códigos, todos os obstáculos que existem, I’ll go against all codes, all existing obstacles,

eu vou passar por tudo isso, vou colocar minha camiseta de banda, I'll get through it all, I'll put on my band shirt,

vou aparecer na televisão e o povo que lute.” Não. No!

Eu tive uma oportunidade, e eu tenho total consciência I had an opportunity, and I am fully aware

da sorte que eu tive de ter pessoas no meu caminho,

que viram algo em mim, que eu mesma não conseguia enxergar. who saw something in me that I myself couldn’t see,

Que viam que a Mari who saw that Mari could be enough -

podia sim ser suficiente.

A Mari, de verdade.

E não só as pessoas com quem eu trabalhava enxergaram isso. It wasn’t only the people I work with who saw that,

O público também começou a enxergar o poder dessa autenticidade, but the viewers also began to see the power of this authenticity

porque o medo que eu tinha de ser rejeitada, because the fear of rejection I had before was left behind.

ele meio que ficou para trás.

Porque as pessoas começaram a se identificar comigo, de certa maneira. People began relating to me in a certain way.

Então, nas minhas redes sociais, que, né, So I put photos of my family, my dog, and such

eu colocava ali fotos da minha família, onto my social media accounts.

do meu cachorro e tal...

Eu tinha, sei lá, 300, 400 seguidores, I had, I don’t know, 300 or 400 followers, and this number started to rise.

esse número começou a subir.

subir, subir, subir,subir, Rise, rise, rise, and rise some more,

e aí as pessoas começaram a me seguir, a me mandar mensagem. and then people started following me and sending me messages.

Eu falei: “Nossa existe um movimento aqui! I thought: “Wow, it’s a movement!

Tem alguma coisa acontecendo aqui que não estou entendendo direito que é. There’s something happening here, and I don’t get what it is”

E a maioria das mensagens dizendo que se identificavam comigo Most of messages said that they identified with me,

que se viam em mim, that they saw themselves in me.

ou mães e avós dizendo que viam as filhas e netas em mim,

os filhos e netos.

Alunos de jornalismo dizendo: “Mari, eu quero fazer jornalismo Journalism students said: “Mari, I want be a journalist,

e falei para o meu pai que eu quero fazer uma tatuagem and I told my dad that I wanted to get a tattoo,

ele disse para mim que jamais vou ser jornalista assim, but he told me that if I did, I’d never be a journalist

hoje eu pego a sua foto, mostro aqui para ele Today I took your picture, and I showed it to him

e falo, ó, ela está lá, eu também posso.” and said, ‘Look, she did it; I can too.’”

Uma vez em um evento, Once at a event, I met a girl

eu encontrei uma menina

que disse que foi ao evento só para conversar comigo. who told me that she came to the event just to talk to me.

E aí quando ela me viu, ela pegou na minha mão When she saw me, she took my hand, and she started to tremble and cry.

e ela tremia assim, começou a chorar.

Aí eu falei: “que aconteceu? Está tudo bem?” I said, “What happened? Is everything OK?”

Aí ela falou: “eu queria te agradecer.” She told me, “I just wanted to thank you.”

Aí eu falei:“por quê?” “Why?” I asked.

Ai ela falou:“eu faço engenharia, e eu me visto She said, “I’m studying engineering, and I dress in a way that people question.

de um jeito que as pessoas questionam.

As pessoas falam de como eu me visto e vendo você fazendo o que você faz, People tell me about how I dress, and how you do the same.

fazendo o que você faz, com brilho no olho. You do what you do, with a sparkle in your eye,

Algo que você ama. something that you love,

Isso me dá força para resistir, para seguir em frente. and that gives me the strength to resist and move forward.

E esse tipo de retorno que começou a aparecer, This was the feedback that began appearing,

me deu uma força absurda, assim, para continuar. and it gave me an absurd strength to move on.

Me fez entender que sim, eu poderia ser suficiente. It made me understand that, yes, I could be enough.

Me fez entender que tinha valor It made me understand that there was value in Mari, the real Mari.

na Mari, de verdade.

E olha que curioso, a gente precisa muitas vezes, And how odd it is:

que a outra pessoa valide a gente, Many times we need for another person to validate us

para a gente acreditar em quem a gente é. so that we can believe in who we are.

Geralmente parte do outro né? Na pessoa olhar para você e falar: Usually it comes from someone else, right?

“eu gosto de você assim. Legal, Continue.” A person who looks at you and says: “I like you like this. Nice, continue.”

Se a pessoa de repente falar o contrário, If somebody tells you the opposite,

você vai se questionar, vai duvidar de quem você é. you’re going to question yourself, and you’re going to doubt who you are.

Então eu continuei, eu resisti, por causa de todo esse apoio

que eu tive inicialmente, que foi um apoio que me fez entender

o poder da autenticidade.

Então, eu percebi que eu não precisava mais recorrer à seção credibilidade

do meu guarda roupa,

porque a credibilidade estava em mim, because the credibility that was in me, not the way that I dressed myself.

não no jeito que eu me vestia.

Eu podia sim ser competente. Yes, I could be competent; I could talk about politics, economics.

Eu podia falar de política, economia. Eu podia fazer tudo isso And I could do all of this

usando piercing, fazendo tatuagem e de camiseta e tênis. while wearing piercings tattoes, T-shirts, and sneakers.

Isso não me fazia menos competente. This didn’t make me less competent.

Perceber isso foi muito transformador, Realizing this was transforming,

não só para a minha carreira, mas para a minha vida também. not only for my career, but for my life too.

Porque eu comecei a perceber, como muitas vezes

a gente limita a gente mesmo we limit ourselves

e limita o outro.

Então alguém que tem coragem de ser de verdade, So someone who has the courage to be real,

alguém que tem coragem de assumir o jeito que se veste, someone who has the courage to assume the way he dresses,

de falar do jeito que fala.

Muitas vezes, a gente tem um olhar cruel Many times, we have a cruel look

sobre essa pessoa, ne? about this person, ne?

E isso também significa um olhar cruel sobre a gente mesmo. And this also means we have a cruel view about ourselves.

Então eu percebi o poder que esse movimento de autenticidade pode ter, So I realized the power this authenticity movement could have for everything -

para tudo. Para as nossas relações, para a nossa profissão, for our relationships, for our careers,

não só para a gente, para todo mundo. and not only for us, but for everybody.

E eu entendi que muitas vezes, a gente pode ser a barreira, And I understand that a lot of times, we can be the barrier

para o outro ser de verdade. Então, que a gente não seja essa barreira. that keeps the other from being real, so we don’t want to be that barrier,

Que a gente não seja mais um obstáculo. and we don’t want to be another obstacle because there are so many obstacles

Porque, já tem tanto obstáculo né?

Impedindo e dizendo para a gente que a gente não é suficiente.

Entâo, que a gente não seja mais um obstáculo para o outro.

Agora, a gente fala tanto sobre a autenticidade.

A gente fala tanto sobre essa coragem,

esse processo que ao mesmo tempo que é tão difícil, é tão gostoso... this process that at the same time is so hard and is so good ...

Por que é tão difícil fazer isso? Why is it so hard to do this?

Porque isso significa derrubar um muro. Because it means breaking down a wall,

E quando você derruba esse muro, and when you break down this wall,

a recepção pode ser positiva, mas ela pode ser muito negativa também. the feedback can be positive, but it can be very negative as well.

E eu não estou dizendo aqui que eu só tive elogio, I’m not saying here that I only received praise,

que as pessoas me amaram 100%, não. that people loved me 100%, no.

Eu tive muita reação negativa a isso. I had a lot of negative reactions:

Pessoas dizendo que eu não merecia estar naquele lugar, People told me that I didn’t deserve to be in that place

falando de política, economia. speaking about politics and economics.

Pessoas me chamando de estagiária, People called me an intern because of the way I dressed,

por causa do jeito que eu me visto,

sendo que eu já tinha quase 10 anos de carreira knowing I’d had already spent almost 10 years in my career

e sendo que eu trabalhava muito. and that I worked a lot.

Apesar de eu estar um minuto na televisão, Despite only appearing one minute on television,

eu juro que o trabalho é maior do que isso. I swear the job is much bigger than that.

Também aconteceu o contrário, pessoas dizendo: The opposite also happened.

“ela só está aí por causa da camiseta”. People said: “She’s only here because of her T-shirt.”

Eu coloco uma camiseta e um tênis, eu vou na frente da câmera, I put on a T-shirt and sneakers, I went in front of the camera,