Os Africanos - Raízes do Brasil #3
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Até recentemente, muito pouco era estudado sobre a história da África, normalmente reduzida à Antiguidade e aos egípcios.
Porém, o crescimento do interesse e importância desse continente jogou luzes sobre a esquecida África sub-saariana.
Cercados por florestas, savanas, montanhas, o mar e o deserto, e convivendo com uma rica fauna, esses africanos viviam em pequenos reinos, muito parecidos com as cidades-Estado da Antiguidade.
Dominavam técnicas de agricultura, metalurgia e mineração.
Cultuavam diversos deuses e a natureza, acreditando num deus maior e criador, que variava de nome entre as tribos.
Evitavam guerras estreitando laços através do casamento.
Porém, quando o conflito era inevitável, não visava expansão territorial.
Com a exploração europeia da costa da África, os nativos começaram a ser capturados e enviados como escravos para a Europa.
A rota do tráfico negreiro mudou a partir da colonização do Novo Mundo e o comércio de seres humanos atingiu grandes proporções pela necessidade de mão-de-obra nas novas terras.
Os portugueses dividiam os africanos em três grandes grupos: os sudaneses, os guinenos-sudaneses mulçumanos e os bantus, todos representando uma determinada região do continente e tendo destinos diferentes.
O Brasil recebeu cerca de 40% de todos os escravos africanos trazidos para a América, já que demandava mão-de-obra para trabalhar em suas culturas de cana-de-açúcar no Nordeste, no ciclo de ouro em Minas Gerais e nas lavouras de café do Rio de Janeiro no século XIX.
O transporte desses povos, amontoados nos porões dos navios negreiros, era feito em condições desumanas, e muitos acabavam morrendo na travessia marítima, tendo seus corpos jogados ao mar.
Já desembarcados, os escravos eram vendidos e conduzidos aos seus destinos nas fazendas, onde eram obrigados a trabalhar de sol a sol, com roupas e alimentação de péssima qualidade.
Dormiam em habitações escuras e úmidas, as senzalas, e muitas vezes eram acorrentados para evitar fugas.
Os castigos físicos eram comuns, e o mais usado era o açoite.
Com o comércio constante de escravos, não havia preocupação em manter seu bem-estar, já que podiam ser facilmente substituídos por novos africanos, fazendo sua expectativa de vida no Brasil ser muito baixa.
Eram proibidos de praticar sua religião e obrigados a adotar o catolicismo e a língua portuguesa.
Mantiveram sua cultura viva realizando seus rituais africanos escondidos, criando até um tipo de luta: a capoeira.
A maior parte dos africanos traficados para o Brasil eram homens, por serem mais valorizados nos trabalhos forçados.
As mulheres que não eram aproveitadas nas lavouras viravam escravas domésticas, as chamadas mucamas.
Nessa época, independente da origem ou etnia, as mulheres eram subordinadas aos homens e seus caprichos.
A mulher negra e escrava vivia situação ainda mais degradante, sendo colocada como mero objeto sexual do homem branco.
A miscigenação entre africanos, europeus e indígenas foi ponto-chave na constituição da população brasileira.
As revoltas eram muito comuns nas fazendas, fazendo com que grupos de escravos organizados fugissem e formassem, nas florestas, os famosos quilombos, onde viviam em liberdade em comunidades similares às que existiam na África.
Alguns escravos também conseguira comprar sua liberdade adquirindo sua carta de alforria.
Com o constante crescimento do sentimento abolicionista, o fim da escravidão era questão de tempo.
Infelizmente, apesar de promover sua liberdade jurídica, a abolição não garantiu condições de vida dignas para os ex-escravos.
A realidade que encontraram foi cruel, pois não possuíam moradia, condições econômicas ou assistência do Estado, fazendo muitos negros passarem por dificuldades após a liberdade.
O preconceito e a discriminação os impediram de encontrar trabalho nas cidades.
Já nas lavouras, tinham sido substituídos pelos novos imigrantes livres europeus, a maioria italianos.
A escravidão deixou cicatrizes profundas.
Os negros vivem ainda hoje em condições inferiores aos brancos, devido ao grande processo de exclusão social.
Têm menor escolaridade, menos qualificação, salários menores, menos representação na mídia e em entidades governamentais, além de menos cargos de chefia e liderança.
É uma situação degradante, considerando a imensurável participação do negro na vida brasileira.
Infelizmente, o pouco que se aprende nas escolas sobre a herança africana reduz o negro a estereótipos ligados às origens de musicalidades como o samba e ao trabalho braçal como escravo.
Esse pensamento induz muitas ideias erradas ou incompletas sobre as populações negras.
Há muito mais sob essa superfície.
Os africanos foram, sobretudo, fonte de informação para os portugueses, que não tinham conhecimento sobre cultivo e exploração de produtos de regiões tropicais.
Foi a tecnologia africana, com seu conhecimento agrícola aprimorado por milênios, além de suas técnicas de mineração, que tornou possíveis os principais ciclos econômicos do Brasil, como a cultura da cana-de-açúcar, a extração mineral e o cultivo do algodão e do café, gerando riqueza e transformando a geografia e a História do país naquelas que conhecemos hoje.
Estima-se que chegaram ao Brasil cerca de cinco milhões de africanos entre os anos de 1500 e 1850, de um total de seis milhões que deixaram forçados a África com destino ao país.
É uma vergonha que ainda hoje seus descendentes passem por diversos tipos de privações e violências, em um país cuja colonização africana foi muito maior que a europeia.
Felizmente, graças à luta do movimento negro, diversas injustiças históricas estão sendo corrigidas, vislumbrando um futuro de esperança, inclusão e igualdade para um povo que sangra, mas resiste.