A forma como você encara um momento pode mudar tudo | Paola Antonini | TEDxNovaLima (1)
Tradutor: Fernanda Almeida Revisor: Leonardo Silva
Vocês já pararam para pensar
que a grande oportunidade da vida de vocês
poderia estar exatamente no momento mais difícil dela?
Eu vou contar um pouquinho da minha história para vocês
e vou mostrar como o nosso pensamento e a forma de encarar a vida
têm o poder de mudar tudo à nossa volta.
Há quase três anos, no dia 27 de dezembro de 2014,
eu tava indo fazer uma viagem de carro com o meu namorado,
nossa primeira viagem juntos, de réveillon.
E a gente decidiu sair bem cedinho, por volta das 5:30 da manhã,
pra não pegar trânsito,
e assim foi feito.
Eu desci com duas bolsas
e eu resolvi colocar uma no porta malas porque o carro já estava muito cheio.
E aí, no momento que eu estava colocando a bolsa no porta malas,
uma moça estava voltando da balada
e ela tinha bebido alguns drinks,
e aí ela perdeu o controle do carro dela
e acabou me prensando contra o carro do meu namorado.
Nesse momento eu caí e esperei por ajuda pra ir pro hospital.
E aí, eu tive que passar por uma cirurgia de 14 horas de duração.
Antes de eu entrar na cirurgia, eu cheguei pra médica:
"Eu não vou morrer não, né? Porque eu não me despedi de ninguém ainda".
E ela me falou: "Não, fica tranquila".
Era só o que eu conseguia pensar.
Eu estava tão assustada...
Mas eu fui tranquila.
E as 14 horas de duração da cirurgia foram bem pesadas, assim.
Eles tentaram salvar minha perna por tudo,
mas eles não conseguiram.
Eles inclusive tiraram a minha safena.
Eu tenho uma cicatriz grandona nessa perna...
mas não foi possível.
Então, eles tiveram que amputar.
E, a partir de agora, o que eu vou contar pra vocês
é como minha vida mudou totalmente a partir daquele dia
e como eu me tornei alguém [ininteligível],
alguém que ama desafios, alguém que aproveita a vida ao máximo,
e, mais importante,
alguém que encontrou um verdadeiro propósito de vida naquele dia.
Meus pais chegaram pra me dar a notícia da amputação às 6h da manhã,
e a minha reação, assim, de cara, foi falar:
"Tá bom, graças a Deus que eu tô viva, né?"
Era só o que eu conseguia pensar. Era agradecer e agradecer.
Eu senti um alívio tão grande de não ter perdido minha vida naquele dia
que eu não me vi no direito de reclamar por ter perdido uma perna.
Eu tinha várias incertezas, assim. Eu não sabia como ia ser.
Eu não conhecia nenhum amputado.
Eu não sabia como era uma prótese, se ela era cinza, se ela era bege...
A minha hoje é brilhante, né?
Mas eu não sabia...
E eu não sabia se eu ia ficar bem, como que ia ser tudo,
mas eu resolvi não sofrer por antecipação.
Eu falei assim:
"Vamos encarar cada dia de uma vez.
Vamos ver como é que eu estou.
Agora, eu só consigo agradecer.
Não vamos pensar no amanhã".
E foi assim que tudo aconteceu.
Mesmo no meio de tantas incertezas, eu ainda tinha várias certezas.
Cada dia mais, à medida que eu ia ficando no hospital, eu pensava e falava:
"Gente, isso não é nada perto da minha vida.
O que é perder uma perna, sendo que eu estou aqui,
que eu tenho todo mundo que eu amo.
Eu podia ter ido embora sem ter me despedido de ninguém".
E isso me deu muita força na minha recuperação.
A minha recuperação não foi fácil.
Eu achei que eu ia chegar lá, ia colocar a prótese, sair andando...
E eu tomei um susto
porque, fora as dores que eu já sentia, dor fantasma,
era muito difícil me equilibrar com a prótese,
era muito difícil andar com a prótese,
doía muito.
Mas eu queria muito andar.
Então, eu chegava em casa, doida pra tirar a prótese,
e eu não tirava.
Eu ficava com ela o dia inteiro.
E, assim, rapidinho, eu voltei a andar.
Eu fui aos poucos voltando a fazer tudo que eu já fazia.
Foi muito legal porque, aos meus 20 anos,
eu pude reaprender a fazer coisas sobre as quais eu jamais tinha pensado,
como, por exemplo, andar.
Eu nunca tinha parado pra pensar que o nosso braço acompanha nossa perna;
ou que, quando a gente vai subir uma rampa,
o nosso tronco tem que acompanhar o nosso corpo...
E foi muito especial pra mim isso, foi muito valioso.
Eu falava: "Eu agradeço muito por estar vendo como essas coisas são incríveis
e por estar dando tanto valor as coisas
que, até os meus 20 anos, eu achava tão pequenas, né?"
E aí, eu voltei a fazer tudo que eu já fazia
e comecei a fazer coisas que eu nunca tinha feito antes,
como dançar, surfar, andar de skate...
cada dia, eu inventando uma coisa nova.
Eu me comprometi comigo mesma:
"Eu não vou deixar a bola cair, eu vou ficar firme.
Eu quero surpreender a mim mesma e a todo mundo que está à minha volta".
E eu acho que isso foi possível,
mas tudo isso foi possível graças a quatro lições
que eu levei comigo todos os dias
e que tiveram, assim, um papel fundamental nisso tudo.
A minha primeira lição foi:
não supervalorize o que não é essencial pra você.
E nisso cabem várias interpretações, né?
Mas duas eu acho bem importantes.
O primeiro tema que eu quero falar é sobre problemas.
Todo mundo tem problema,
todo mundo está passando por um problema agora,
ou tem problemas enormes dentro de casa.
Só que a gente não precisa dar um peso muito grande pra eles.
A gente pode simplesmente escolher
como é que a gente quer encarar esses problemas.
Eles não precisam ter um peso enorme.
Você não precisa perder o seu dia inteiro
estressado, bravo, por causa desse problema.
Deixa ele ter um peso menor.
E a segunda coisa sobre supervalorizar
é a nossa beleza.
Assim, até meus 20 anos,
eu sempre fui focada, assim, em corpo, né?
A gente sempre quer um corpo melhor...
A gente está ali, malhando, exercitando: "Ai, tô insatisfeita com uma gordurinha".
E, quando uma coisa dessas acontece,
quando a gente sofre um acidente
em que a gente vê que a gente podia ter perdido a nossa vida,
a gente fala: "Meu Deus, que bobagem!
Pra quê que eu ficava me importando com isso?
Isso não é nada!"
Cada um tem suas imperfeições. É assim que a vida é.
É muito mais legal cada um ter um nariz, uma gordurinha, um tipo de corpo...
Imagina se todo mundo fosse igual...
Ia ser tão sem graça, né?
Eu tenho muito orgulho da minha perna, da minha cicatriz, e de todas elas,
do meu roxo que eu tenho no joelho,
porque isso tá contando minha história.
Aqui é que está a minha história, pelo o que eu passei,
os meus tombos, os meus acertos.
E eu acho que a gente devia pensar mais nisso
do que querer sempre melhorar e melhorar e melhorar.
A minha segunda lição, né, que eu tirei pra minha vida
é que, se você tem uma ideia, seja ela qual for, ou um sonho,
vá atrás dela,
porque pode ser sua última chance.
Quando eu sofri o meu acidente...
Eu tenho dois "exemplinhos",
que são pequenos, mas representam muito isso.
Quando eu sofri o meu acidente,
eu tinha acabado de trancar uma faculdade de administração
em que eu tinha entrado e fiz um ano e meio...
mas meu sonho sempre tinha sido fazer jornalismo.
Mas eu não quis fazer jornalismo por que era muito difícil dar certo,
era uma profissão complicada...
E aí eu fui tentando, e não dei certo em administração.
Eu estava fazendo cursinho...
E aí, dois dias depois do meu acidente, eu falei:
"Meu Deus, eu tenho que fazer jornalismo, rápido.
É o meu sonho, é o que eu amo!
Eu ia ter morrido com 20 anos sem fazer o que eu amo!
Eu ia gastar dias da minha vida sem fazer o que eu amo,
preocupada com o retorno que isso ia me dar?
Qual o sentido disso?
Eu quero ser feliz!"
E era algo que eu tinha muito certo.
E o segundo "exemplinho"
é uma coisa muito curiosa, assim.
Mas a primeira coisa que eu queria fazer depois do meu acidente
era fazer uma tatuagem.
E ninguém estava entendendo:
"Como assim? Tem tanta coisa pra ela fazer.
Por que ela quer fazer uma tatuagem?"
Mas, logo antes do meu acidente, eu queria fazer uma tatuagem.
E falei "Ah, não vou fazer.
Estou muito nova. Vou me arrepender com certeza mais pra frente".
E aí eu falei: "Meu Deus, olha o tanto de coisa que eu ia deixar de fazer
por uma bobagem, por medo de me arrepender".
Então, eu fui, com as duas muletas, ainda sem prótese, no estúdio de tatuagem,
e fiz três de uma vez.
(Risos)
Agora eu já estou com dez, né, e não sei quando eu vou parar.
Mas esse pequeno gesto, assim...
Isso, pra mim, representou muito porque representou uma liberdade.
Eu estava aprisionada nas coisas que eu tinha medo de fazer
por medo de me arrepender.
E quando eu vi que a vida é tão frágil, eu falei: "Eu não posso fazer isso.
Vamos aproveitar".
A minha terceira lição, e que é superimportante pra mim,
é sobre medo.
O medo está sempre aqui.
Cada um tem os seus medos. O medo é uma coisa totalmente individual.
Tem gente que tem medo de perder alguém, tem gente que tem medo de algum animal...
E eu, depois do meu acidente, desenvolvi um medo muito grande:
um de carro - eu fiquei com medo, sem noção espacial -
mas o maior foi de avião.
E era um pânico, assim.
É difícil explicar pra quem talvez nunca sofreu disso.
Mas minha mão suava, eu passava mal, eu chorava...
Era muito difícil pra mim.
E aí, o meu primeiro trabalho fora de Belo Horizonte:
eles me convidaram pra um desfile em São Paulo.
E, ao mesmo tempo que eu fiquei muito feliz:
"Meu Deus, meu desfile... Como é que vai ser isso tudo?",
eu falei: "Eu acho que eu não vou.
Eu vou inventar uma desculpa, vou falar que eu estou doente,
porque eu estou com muito medo, eu estou pressentindo algo ruim...
Eu acho que não vai dar certo".
E eu fiquei uma semana pensando no que fazer.
E aí eu decidi ir.
E foi muito importante isso pra mim,
porque eu ter ido foi o pontapé, foi o que me libertou,
foi o que tornou possível a minha vida ser assim hoje.
Eu viajo semanalmente.
Eu viajo, às vezes, várias vezes por semana.
Eu faço voos internacionais sozinha.
E isso talvez não teria sido possível, nada disso teria acontecido,
se eu tivesse deixado o medo me vencer aquele dia.
Eu falo que talvez o medo fique comigo pro resto da minha vida,
mas o que eu sempre vou poder escolher é como eu enfrento o meu medo,
como eu encaro o meu medo.
Tem uma frase que eu levo sempre comigo, que é:
"Corajoso não é aquele que não tem medo.
É aquele que tem medo e que, mesmo assim, vai lá e faz".
Isso em todos os aspectos da nossa vida:
medo de arriscar, medo da mudança,
medo de mudar de trabalho, de casa...
Isso me leva à minha última lição
e que, pra mim, é a mais importante e talvez resuma tudo,
que é sobre mudança.
Mudanças acontecem, a todo momento.
A hora está passando, tem alguém mexendo a mão, a cabeça...
E tem mudanças de todos os jeitos:
mudanças grandes, pequenas, boas, ruins,
algumas que a gente escolhe e outras que não.
O que a gente sempre vai poder escolher é como a gente age depois dessas mudanças.
Eu perdi a minha perna.
Não foi uma mudança que eu escolhi. Foi uma que aconteceu comigo.
Mas naquele momento estava lidando com um fato.