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Gloss Brazilian Portuguese Level 2+, Cientista político aborda vários temas em uma entrevista.

Cientista político aborda vários temas em uma entrevista.

Âncora: Mas quem já está conosco, no estúdio aqui em Brasília, é o nosso convidado, o cientista político Leonardo Barreto, ele que é doutor em ciência política pela Universidade de Brasília.

Repórter: Bom, eu quero aproveitar para perguntar ao professor Leonardo assim, mais uma vez, são duas décadas pelo menos de polarização entre dois partidos políticos; o PT e o PSDB. Muitos especialistas apontam que amanhã, independente do resultado, o grande desafio do presidente eleito, será a reforma política. Qual é sua avaliação professor?

Leonardo Barreto: Olha, acho que o desafio que a gente vai ter amanhã, independente de quem vença, é de construir pontes, né? Porque o país de fato tá muito dividido, é uma polarização muito maior em relação a um jeito de fazer política que as pessoas é... não querem, e isso é reconhecido como um defeito não apenas do partido no governo, mas também dos partidos de oposição, e você tem o desafio é... de construção de pontes, entre; as pessoas e suas instituições, né?

Hoje as pessoas estão muito desacreditadas, muito chateadas, a gente tem escutado muito as pessoas dizendo assim:

> "- Ah, eu vou votar, mas eu não tô empolgado”.“- Eu vou votar na alternativa que é menos pior”, e tal.

Então tem um exercício aí de recomposição dos laços, das pessoas com as instituições, da retomada da confiança, ah... da construção de um debate duro, mas maduro, né, reconhecendo que há problemas, mas também reconhecendo que há ganhos enormes, que nem tudo são ruínas, porque, o que que define um país maduro democraticamente é; você desconstrói as fantasias, que existem salvadores da pátria, e de que cada um faz o seu trabalho, de forma incremental e de forma contínua pra melhoria do país. E me parece que é esse o conhecimento coletivo que a.. essas eleições, todas elas, né, o processo todo, tem que gerar na gente.

Âncora: E no caso a reforma política seria uma dessas pontes ou a prinicipal delas?

Leonardo: A principal delas. A principal delas.

Âncora: É uma sinalização positiva então?

Leonardo: Exatamente.

Âncora: Iniciar a discussão disso.

Leonardo: Exatamente.

Repórter: Cadu?

Cadu: É... eu queria entrar também dentro desse mote da reforma política. Claro, a gente sabe que governar hoje, já há bastante tempo até, tem a ver com composições, né, políticas, e a gente sabe que a Câmara Federal tem aí, vai ter aí uma certa renovação. Como é que a gente pode relativizar isso dentro da conjuntura dessa nova proposta, dessa propositiva dos novos é... governos que virão aí pros próximos quatro anos, né, inclusive dessa polarização, dessa divisão que acontece hoje, daqui pra frente?

Leonardo Barreto: É um grande desafio esse processo de reconciliação, ele acontece também dentro Congresso Nacional, né? Principalmente na Câmara, a gente teve um aumento do número de partidos pra vinte e seis legendas, os maiores partidos né, perderam deputados, então a gente tem um universo muito pulverizado, o que dificulta esses esforços de você construir uma agenda de reforma política.

Uma outra coisa que dificulta bastante é que a gente não tem um diagnóstico muito claro a respeito daquilo que precisa ser reformado. Foi muito comum escutar dos políticos, ao longo da campanha, que as manifestações de 2013 não... não trouxeram uma mensagem clara, né, de que não havia liderança, não havia propostas e tal. Mas na verdade não é por aí, tem um filósofo chamado Rousseau que ele diz assim: eu não sei ser claro pra quem não sabe ser um bom leitor, né, um bom ouvinte. E nós precisamos ser bons ouvintes, pra respeito daquilo que já tá acontecendo, não apenas das pessoas que saíram em 2013, mas dos movimentos sociais organizados, das críticas, da falta de confiança e basicamente, que a gente tem que buscar é uma diminuição da impunidade porque isso massacra as pessoas, né, elas ficam duplamente indignadas quando acontece um caso, é... de corrupção porque, primeiro elas ficam indignadas com o caso, depois elas ficam indignadas de novo sabendo que o caso [Reporter: ficará impune] provavelmente não vai dar em nada e uma coisa que o mensalão ensinou pra gente é que as nossas instituições não estão preparadas pra julgar políticos. O STF demorou oito anos para terminar o jugalmento.


Cientista político aborda vários temas em uma entrevista. Political scientist addresses several topics in one interview.

**Âncora**: Mas quem já está conosco, no estúdio aqui em Brasília, é o nosso convidado, o cientista político Leonardo Barreto, ele que é doutor em ciência política pela Universidade de Brasília.

**Repórter**: Bom, eu quero aproveitar para perguntar ao professor Leonardo assim, mais uma vez, são duas décadas pelo menos de polarização entre dois partidos políticos; o PT e o PSDB. Muitos especialistas apontam que amanhã, independente do resultado, o grande desafio do presidente eleito, será a reforma política. Qual é sua avaliação professor?

**Leonardo Barreto**: Olha, acho que o desafio que a gente vai ter amanhã, independente de quem vença, é de construir pontes, né? Porque o país de fato tá muito dividido, é uma polarização muito maior em relação a um jeito de fazer política que as pessoas é... não querem, e isso é reconhecido como um defeito não apenas do partido no governo, mas também dos partidos de oposição, e você tem o desafio é... de construção de pontes, entre; as pessoas e suas instituições, né?

Hoje as pessoas estão muito desacreditadas, muito chateadas, a gente tem escutado muito as pessoas dizendo assim: Today people are very discredited, very upset, we have heard people saying this a lot:

> "- Ah, eu vou votar, mas eu não tô empolgado”.“- Eu vou votar na alternativa que é menos pior”, e tal.

Então tem um exercício aí de recomposição dos laços, das pessoas com as instituições, da retomada da confiança, ah... da construção de um debate duro, mas maduro, né, reconhecendo que há problemas, mas também reconhecendo que há ganhos enormes, que nem tudo são ruínas, porque, o que que define um país maduro democraticamente é; você desconstrói as fantasias, que existem salvadores da pátria, e de que cada um faz o seu trabalho, de forma incremental e de forma contínua pra melhoria do país. E me parece que é esse o conhecimento coletivo que a.. essas eleições, todas elas, né, o processo todo, tem que gerar na gente.

**Âncora**: E no caso a reforma política seria uma dessas pontes ou a prinicipal delas? Anchor: And in this case, would political reform be one of these bridges or the main one?

**Leonardo**: A principal delas. A principal delas.

**Âncora**: É uma sinalização positiva então?

**Leonardo**: Exatamente.

**Âncora**: Iniciar a discussão disso.

**Leonardo**: Exatamente.

**Repórter**: Cadu?

**Cadu**: É... eu queria entrar também dentro desse mote da reforma política. Claro, a gente sabe que governar hoje, já há bastante tempo até, tem a ver com composições, né, políticas, e a gente sabe que a Câmara Federal tem aí, vai ter aí uma certa renovação. Como é que a gente pode relativizar isso dentro da conjuntura dessa nova proposta, dessa propositiva dos novos é... governos que virão aí pros próximos quatro anos, né, inclusive dessa polarização, dessa divisão que acontece hoje, daqui pra frente?

**Leonardo Barreto**: É um grande desafio esse processo de reconciliação, ele acontece também dentro Congresso Nacional, né? Principalmente na Câmara, a gente teve um aumento do número de partidos pra vinte e seis legendas, os maiores partidos né, perderam deputados, então a gente tem um universo muito pulverizado, o que dificulta esses esforços de você construir uma agenda de reforma política.

Uma outra coisa que dificulta bastante é que a gente não tem um diagnóstico muito claro a respeito daquilo que precisa ser reformado. Foi muito comum escutar dos políticos, ao longo da campanha, que as manifestações de 2013 não... não trouxeram uma mensagem clara, né, de que não havia liderança, não havia propostas e tal. Mas na verdade não é por aí, tem um filósofo chamado Rousseau que ele diz assim: eu não sei ser claro pra quem não sabe ser um bom leitor, né, um bom ouvinte. E nós precisamos ser bons ouvintes, pra respeito daquilo que já tá acontecendo, não apenas das pessoas que saíram em 2013, mas dos movimentos sociais organizados, das críticas, da falta de confiança e basicamente, que a gente tem que buscar é uma diminuição da impunidade porque isso massacra as pessoas, né, elas ficam duplamente indignadas quando acontece um caso, é... de corrupção porque, primeiro elas ficam indignadas com o caso, depois elas ficam indignadas de novo sabendo que o caso [Reporter: ficará impune] provavelmente não vai dar em nada e uma coisa que o mensalão ensinou pra gente é que as nossas instituições não estão preparadas pra julgar políticos. O STF demorou oito anos para terminar o jugalmento.