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Uma história de amor ou de (s) encontros - Português Europeu, Uma história de amor ou de (s) encontros 14

Uma história de amor ou de (s) encontros 14

E assim passou tempo, dissimulando uma, disfarçando outro… Foram cedo para casa, na terça‑feira. Com pressa de dormir porque o dia seguinte seria carregado de surpresas. As que tinham preparado e as que nem adivinhavam que iriam ter. Procuraram não falar sobre o que pudesse trai‑los, até porque, como se costuma dizer, o diabo – e não só ela – tece-as, e há conspirações – e não só as dele – que são do silêncio. Apesar disso, correram várias vezes o risco de se desmascararem. De qualquer dos lados das frágeis trincheiras. Só que estavam tão preocupados em se esconder que nem reparavam no que o outro, inadvertidamente, pudesse revelar. Ele não teve razão para se arrepender, naquela aparentemente calma noite de véspera, de ter começado a contar a belíssima história de O. Henry sobre as prendas de dois amantes que se tinham desencontrado. Ele – o do conto – a vender o relógio de família, que era a sua maior "fortuna", para lhe comprar a tiara caríssima que merecesse os longos cabelos dela, de que tanto se orgulhava; ela – a do conto – a cortar o cabelo e a vendê‑lo para poder comprar a corrente a condizer com o relógio dele. Depois, a surpresa que tiveram os dois quando se encontraram. Ele, perplexo com o novo visual dela, a oferecer‑lhe uma tiara para um cabelo que fora cortado, ela a dar‑lhe uma correia para um relógio que mudara de pulso e de dono. Nem com o tão revelador conto do O. Henry ela desconfiou… Ele suspirou de alívio quando viu que ela não pegara na história que não conseguira deixar de contar até ao fim. Embora, por ela não o ter feito, ele tivesse sentido o aguilhão das suas permanentes desconfianças, a que não queria chamar ciúme. Estava distraída, e ele sentia isso quase sempre como uma agressão. "Em que é que ela estará a pensar?..." Como ele não notou a incontrolada ironia dela…

Ela, apesar de não querer conversar sobre amores, comemorações, prendas e surpresas, ainda se descaiu a ripostar que ele não pensasse que tinha o exclusivo das leituras inspiradoras e da inventiva ficcionista, "sim... porque não penses que és só tu que és capaz de inventar (ou de te lembrar de) contos de amor!... Ainda um dia destes vais ficar surpreendido...". Sérgio Ribeiro

http://anonimosecxxi.blogspot.pt/2007/08/uma-histria-de-amor-ou-de-s-encontros_22.html

Uma história de amor ou de (s) encontros 14 Eine Geschichte von Liebe oder (s)einer Begegnung 14 A story of love or (s) encounters 14 Una historia de amor o (s)encuentros 14 愛と出会いの物語 14

E assim passou tempo, dissimulando uma, disfarçando outro… Foram cedo para casa, na terça‑feira. Com pressa de dormir porque o dia seguinte seria carregado de surpresas. As que tinham preparado e as que nem adivinhavam que iriam ter. Procuraram não falar sobre o que pudesse trai‑los, até porque, como se costuma dizer, o diabo – e não só ela – tece-as, e há conspirações – e não só as dele – que são do silêncio. Apesar disso, correram várias vezes o risco de se desmascararem. De qualquer dos lados das frágeis trincheiras. Só que estavam tão preocupados em se esconder que nem reparavam no que o outro, inadvertidamente, pudesse revelar. Ele não teve razão para se arrepender, naquela aparentemente calma noite de véspera, de ter começado a contar a belíssima história de O. Henry sobre as prendas de dois amantes que se tinham desencontrado. Ele – o do conto – a vender o relógio de família, que era a sua maior "fortuna", para lhe comprar a tiara caríssima que merecesse os longos cabelos dela, de que tanto se orgulhava; ela – a do conto – a cortar o cabelo e a vendê‑lo para poder comprar a corrente a condizer com o relógio dele. Depois, a surpresa que tiveram os dois quando se encontraram. Ele, perplexo com o novo visual dela, a oferecer‑lhe uma tiara para um cabelo que fora cortado, ela a dar‑lhe uma correia para um relógio que mudara de pulso e de dono. Nem com o tão revelador conto do O. Henry ela desconfiou… Ele suspirou de alívio quando viu que ela não pegara na história que não conseguira deixar de contar até ao fim. Embora, por ela não o ter feito, ele tivesse sentido o aguilhão das suas permanentes desconfianças, a que não queria chamar ciúme. Estava distraída, e ele sentia isso quase sempre como uma agressão. "Em que é que ela estará a pensar?..." Como ele não notou a incontrolada ironia dela…

Ela, apesar de não querer conversar sobre amores, comemorações, prendas e surpresas, ainda se descaiu a ripostar que ele não pensasse que tinha o exclusivo das leituras inspiradoras e da inventiva ficcionista, "sim... porque não penses que és só tu que és capaz de inventar (ou de te lembrar de) contos de amor!... Ainda um dia destes vais ficar surpreendido...". Sérgio Ribeiro

http://anonimosecxxi.blogspot.pt/2007/08/uma-histria-de-amor-ou-de-s-encontros_22.html