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Gloss European Portuguese Level 2+, Açúcar nos novos cálculos da inflação

Açúcar nos novos cálculos da inflação

Todos os dias lemos o Jornal de Angola. Tal como no velho Pravda, não interessa o que ele diz, mas como o diz. No domingo, dia 13 de Novembro de 2016, uma das notícias informava que os “bens alimentares estão mais baratos”. Segundo o jornal, “o preço do açúcar e o do trigo registaram reduções da ordem de 60 por cento nos mercados Asa Branca e de São Paulo, em Luanda, onde o quilo de qualquer um dos dois produtos baixou de 500 para 200 kwanzas”. A notícia estribava-se numa informação da Angop.

Fomos ler o escrito da Angop, mas constatámos que este nada adiantava sobre as fontes de tal notícia. Seguimos o trilho e fomos ao Instituto Nacional de Estatística. Aí, anunciaram-nos que o website estava em manutenção. Não há acesso a quaisquer dados estatísticos. Finalmente, aterrámos no site do Banco Nacional de Angola. No Banco central, sob a epígrafe “Taxa de Inflação”, os últimos números são de Setembro de 2016. A taxa dos últimos 12 meses ronda os 40 por cento, mas essa informação é há muito pública e já foi reportada no Maka Angola e nos vários órgãos de comunicação. Portanto, nada de novo.

Esta tentativa de encontrar a origem fidedigna da notícia permitiu-nos compreender que o Jornal de Angola não se baseou em qualquer novo dado estatístico ou em qualquer evolução real da economia, antes resulta do passeio de uns simpáticos jornalistas da Angop a dois mercados, onde perguntaram os preços de alguns produtos, escolheram aqueles que mais interessavam e daí fizeram uma notícia indiciando baixa da inflação. Na realidade, a notícia é uma não-notícia.

A verdade é que o regime está nervoso com a inflação e criou um novo índice para medir a evolução dos preços: o passeio dos jornalistas por dois mercados. Será o índice P2M “Passeio por Dois Mercados”, e certamente irá substituir o actual Índice utilizado pelas autoridades oficiais.

Admite-se que a inflação possa ser controlada no curto prazo e que baixe. Basta inundar os mercados de produtos importados, que façam baixar os preços. Mas para importar é preciso divisas, e estas escasseiam. Consegue-se importar num dado mês, mas depois, no mês seguinte, já não se consegue, e tudo volta ao mesmo.

Todavia, o controlo da inflação não parece provável. Segundo dados oficiais, ao longo do primeiro semestre de 2016 as exportações de petróleo totalizaram apenas US$ 11.5 biliões, o que, face ao primeiro semestre de 2015, representa uma redução significativa de mais de 30 por cento. Como é sabido, este decréscimo levou à redução das receitas em moeda externa, o que implica uma desvalorização da moeda nacional. Enquanto no primeiro semestre de 2015 as importações somaram cerca de US$ 12.3 biliões, em 2016, no mesmo período, elas foram de apenas US$ 5.5 biliões, com particular destaque para a redução na importação de bens alimentares, que passou de US $1.54 biliões para US $813.2 milhões, um decréscimo de aproximadamente 50 por cento em 12 meses. Trata-se de factores inflacionistas, e não deflacionistas.

Obviamente, a queda das importações poderia ser compensada por um aumento da produção interna de bens alimentares. Mas a realidade é que todos os números apontam para uma estagnação da economia.

Portanto, o problema estrutural da inflação vai manter-se, independentemente das visitas que se façam aos mercados. Para confirmar isso mesmo, o Maka Angola também visitou os mercados de Luanda. Constatámos que a farinha de trigo custa acima de 200 kwanzas o quilo, excepto num único supermercado, e que o açúcar custa sempre acima dos 300 kwanzas. Pelos vistos, não tivemos a mesma “sorte” dos jornalistas …

A verdade é que estas meias-verdades e cortinas de fumo mais não são do que tentativas políticas de condicionar a opinião pública.

Quando os números oficiais não se adequam às esperanças do regime, há que controlar e deturpar as informações, nem que seja visitando mercados e anunciando falsas baixas de preços.

Tudo isto faz lembrar as manobras de Kirchner, a antiga presidente da Argentina que, quando começou a ficar descontente com as taxas de inflação anunciadas pelo Instituto Nacional de Estatísticas, mandou alterar a fórmula de cálculo da inflação. O país passou a ter duas medidas de inflação: a do Instituto oficial e a outra, levada a cabo por académicos privados independentes. O Instituto Nacional anunciava taxas que eram metade das que os académicos calculavam. Tudo caiu numa descredibilização enorme, tendo levado o FMI a fazer uma declaração de censura à Argentina.

Portanto, fica a pergunta, que não há resposta: Neste período pré-eleitoral, estará o Governo angolano a preparar alguma alteração ao cálculo da taxa de inflação?


Açúcar nos novos cálculos da inflação Sugar in the new inflation calculations

Todos os dias lemos o Jornal de Angola. Tal como no velho Pravda, não interessa o que ele diz, mas como o diz. No domingo, dia 13 de Novembro de 2016, uma das notícias informava que os “bens alimentares estão mais baratos”. Segundo o jornal, “o preço do açúcar e o do trigo registaram reduções da ordem de 60 por cento nos mercados Asa Branca e de São Paulo, em Luanda, onde o quilo de qualquer um dos dois produtos baixou de 500 para 200 kwanzas”. A notícia estribava-se numa informação da Angop.

Fomos ler o escrito da Angop, mas constatámos que este nada adiantava sobre as fontes de tal notícia. Seguimos o trilho e fomos ao Instituto Nacional de Estatística. Aí, anunciaram-nos que o website estava em manutenção. Não há acesso a quaisquer dados estatísticos. Finalmente, aterrámos no site do Banco Nacional de Angola. No Banco central, sob a epígrafe “Taxa de Inflação”, os últimos números são de Setembro de 2016. A taxa dos últimos 12 meses ronda os 40 por cento, mas essa informação é há muito pública e já foi reportada no Maka Angola e nos vários órgãos de comunicação. Portanto, nada de novo.

Esta tentativa de encontrar a origem fidedigna da notícia permitiu-nos compreender que o Jornal de Angola não se baseou em qualquer novo dado estatístico ou em qualquer evolução real da economia, antes resulta do passeio de uns simpáticos jornalistas da Angop a dois mercados, onde perguntaram os preços de alguns produtos, escolheram aqueles que mais interessavam e daí fizeram uma notícia indiciando baixa da inflação. Na realidade, a notícia é uma não-notícia.

A verdade é que o regime está nervoso com a inflação e criou um novo índice para medir a evolução dos preços: o passeio dos jornalistas por dois mercados. Será o índice P2M “Passeio por Dois Mercados”, e certamente irá substituir o actual Índice utilizado pelas autoridades oficiais.

Admite-se que a inflação possa ser controlada no curto prazo e que baixe. Basta inundar os mercados de produtos importados, que façam baixar os preços. Mas para importar é preciso divisas, e estas escasseiam. Consegue-se importar num dado mês, mas depois, no mês seguinte, já não se consegue, e tudo volta ao mesmo.

Todavia, o controlo da inflação não parece provável. Segundo dados oficiais, ao longo do primeiro semestre de 2016 as exportações de petróleo totalizaram apenas US$ 11.5 biliões, o que, face ao primeiro semestre de 2015, representa uma redução significativa de mais de 30 por cento. Como é sabido, este decréscimo levou à redução das receitas em moeda externa, o que implica uma desvalorização da moeda nacional. Enquanto no primeiro semestre de 2015 as importações somaram cerca de US$ 12.3 biliões, em 2016, no mesmo período, elas foram de apenas US$ 5.5 biliões, com particular destaque para a redução na importação de bens alimentares, que passou de US $1.54 biliões para US $813.2 milhões, um decréscimo de aproximadamente 50 por cento em 12 meses. Trata-se de factores inflacionistas, e não deflacionistas.

Obviamente, a queda das importações poderia ser compensada por um aumento da produção interna de bens alimentares. Mas a realidade é que todos os números apontam para uma estagnação da economia.

Portanto, o problema estrutural da inflação vai manter-se, independentemente das visitas que se façam aos mercados. Para confirmar isso mesmo, o Maka Angola também visitou os mercados de Luanda. Constatámos que a farinha de trigo custa acima de 200 kwanzas o quilo, excepto num único supermercado, e que o açúcar custa sempre acima dos 300 kwanzas. Pelos vistos, não tivemos a mesma “sorte” dos jornalistas …

A verdade é que estas meias-verdades e cortinas de fumo mais não são do que tentativas políticas de condicionar a opinião pública.

Quando os números oficiais não se adequam às esperanças do regime, há que controlar e deturpar as informações, nem que seja visitando mercados e anunciando falsas baixas de preços.

Tudo isto faz lembrar as manobras de Kirchner, a antiga presidente da Argentina que, quando começou a ficar descontente com as taxas de inflação anunciadas pelo Instituto Nacional de Estatísticas, mandou alterar a fórmula de cálculo da inflação. O país passou a ter duas medidas de inflação: a do Instituto oficial e a outra, levada a cabo por académicos privados independentes. O Instituto Nacional anunciava taxas que eram metade das que os académicos calculavam. Tudo caiu numa descredibilização enorme, tendo levado o FMI a fazer uma declaração de censura à Argentina.

Portanto, fica a pergunta, que não há resposta: Neste período pré-eleitoral, estará o Governo angolano a preparar alguma alteração ao cálculo da taxa de inflação?