ME XINGA

Vai, está gostando?

-Muito. Muito, vai. -É?

Vai, me xinga.

-Oi? -Me xinga.

É, vai... Gostosa.

Não, me xinga.

Sua louca.

Não! Me xinga de puta.

-Desculpa, amor, isso não. -Quê?

Não, puta não é nem xingamento pra começar, Virgínia.

A puta é uma profissão,

é uma mulher que está comercializando o corpo dela

que é um direito inclusive dela...

-Cala a boca, porra! -...porque o corpo é dela.

-Geraldo... -Opa.

Aqui a sua putinha, fala.

Eu não tenho putinha.

Eu tenho uma mulher empoderada aqui em cima de mim.

Não, Geraldo, me chama de puta. De puta!

Eu acho um desrespeito. Eu não consigo, Virgínia.

Geraldo, me chama de vagabunda, agora.

Pode ser "safada"?

Ai, fala "piranha" aqui no meu ouvidinho, vai.

"Piranha". Chama, chama.

Não dá. Não dá, meu amor.

É igual a chamar um negro de crioulo.

Mas se o negro quiser e te pedir, pode.

Só tem nós dois aqui, vai.

Isso é até uma questão interessante, mas, na minha opinião, não pode.

Nem sozinho no quarto.

É que você me chamar de puta me dá tesão

e não me ofende enquanto mulher.

-Ai, me chama, amor. -Eu sei, Virgínia,

mas é que bate num lugar errado aqui dentro de mim quando eu falo.

Parece que eu estou reforçando um estereótipo.

-Não me sinto bem. -Tá! Tá bem!

Tá bem, tá. Então...

Então me bate.

Desculpa, eu vou fingir que nem ouvi isso.

Geraldo, se você não me chamar de puta agora,

eu vou sair por aquela porta

e pegar o primeiro idiota que aparecer na minha frente.

Desculpa.

Piranha...

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