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BBC Brasil 2020 (Áudio/Vídeo+CC), Coronavírus: Brasil será o novo epicentro da pandemia?

Coronavírus: Brasil será o novo epicentro da pandemia?

[May 26, 2020].

Com quase 700 mil casos confirmados oficialmente, a América Latina se tornou para a Organização Mundial da Saúde, o novo epicentro da pandemia de coronavírus.

E o Brasil é o país que mais preocupa.

Sobre o caso brasileiro, o diretor da OMS Michael Ryan disse que embora o maior número de casos tenha sido registrado em São Paulo, a situação mais séria é a do Amazonas, que tem o maior número de casos em relação à população.

Mas o que torna o Brasil o país mais preocupante?

Eu sou Laís Alegretti, da BBC News Brasil, e neste vídeo eu vou explicar por que o Brasil tem sido visto como o possível futuro epicentro da pandemia de covid-19.

Segundo os especialistas, é uma combinação de fatores.

O mais importante é este tripé aqui: Subnotificação de casos.

Subnotificação de mortos.

E a trajetória ascendente de mortes.

Além disso, temos uma taxa de contágio ainda muito alta, uma baixa adesão da população às medidas de isolamento social e a inabilidade de gestores públicos de reconhecer a gravidade da situação.

O alerta de que o Brasil já teria se tornado o novo epicentro da pandemia foi dado no início de maio a partir de um estudo liderado pelo Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, ligado à Universidade de São Paulo, a USP.

O meu colega Luis Barrucho conversou com o responsável por esse estudo, Domingos Alves.

Segundo ele, o total de infectados por coronavírus, na verdade, tá muito acima do que o governo registrou até agora.

Em vez dos cerca de 370 mil, segundo os dados oficiais, o número real seria superior a 4 milhões.

Ou seja, quase 12 vezes mais.

Isso numa estimativa conservadora, segundo ele.

Por quê?

Porque os cálculos feitos pelos pesquisadores foram baseados no número de mortes oficiais e no tempo de internação de 10 dias entre a confirmação do caso e a morte.

O pesquisador disse que, se fossem contabilizadas as mortes não notificadas e o tempo total de infecção, de 20 dias, o total de infectados seria ainda maior.

Lembrando que essa cifra de 4 milhões também é superior ao total de casos confirmados oficialmente pelos Estados Unidos, que está em torno de 1,6 milhão.

Todos esses dados podem acessados no portal Covid-19 Brasil, que reúne pesquisadores de diversas universidades brasileiras.

A gente vai deixar o link aqui embaixo, nos comentários, para quem quiser ver.

Um dos motivos principais para tanta discrepância dos dados é a baixa testagem da população.

Até agora, o Brasil fez apenas 3.500 testes por milhão de habitantes.

Para efeitos de comparação, os Estados Unidos realizaram 45 mil testes por milhão de habitantes e a Espanha, o país que mais testou a população, fez 76 mil testes por milhão de habitantes, segundo a empresa de dados Statista.

Sem muitos testes, não dá pra saber do tamanho do problema.

Dessa forma, é mais difícil adotar medidas específicas para frear o contágio, seja pelo isolamento dos casos assintomáticos ou com sintomas leves, seja pelo rastreamento dos contatos desses infectados.

Outros estudos sobre subnotificação feitos por pesquisadores brasileiros, apesar de adotarem metodologias diferentes, apontam nessa mesma direção.

Vamos falar agora das mortes.

Também temos subnotificação nesses números, embora menor do que no número de casos.

Segundo Alves, os cálculos preliminares apontam que os dados oficiais representariam apenas 60% do total de óbitos.

Sendo assim, em vez das 22 mil mortes anunciadas pelo Ministério da Saúde, o número real já estaria próximo a 40 mil.

Os especialistas dizem que essa subnotificação de mortes se deve a uma combinação de fatores, incluindo excesso de pedidos de exames.

Isso acaba fazendo com que o resultado dos testes atrasem.

Sem esse resultado, os médicos acabam fazendo declarações de óbitos sem um, diagnóstico específico.

Um exemplo é o número de mortes causadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave, doença causada pelo novo coronavírus.

Essas não foram mortes registradas como casos de covid-19.

Segundo dados do Painel COVID Registral, o número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave de 16 de março a 25 de maio deste ano foi de 5.784 contra 297 em igual período do ano passado.

O aumento é de quase 2.000%.

Ou seja, provavelmente, segundo os especialistas, essas mortes em excesso são explicadas pela covid-19, mas como essas pessoas que morreram não foram testadas, não se pode colocar isso no atestado de óbito, pela razão que eu acabei de explicar.

Além disso, devido à falta de estrutura, os Laboratórios Centrais de Saúde Pública, responsáveis pela coleta de dados, podem demorar quase um mês para entregar os resultados sobre o motivo do óbito.

Meu colega Matheus Magenta conversou com o físico Roberto Kraenkel, professor da Unesp e membro do Observatório Covid-19, uma iniciativa independente de 43 pesquisadores.

Ele também chama atenção para os casos dos doentes que não passam pelo sistema de saúde.

Segundo ele, esses casos são quase impossíveis de serem quantificados, mas podem ser estimados por testes sorológicos, em busca de quantas pessoas tiveram contato com a doença e desenvolveram anticorpos.

O epidemiologista Paulo Lotufo, professor da USP, disse que descobertas recentes sobre a covid-19 tornam ainda mais difícil monitorar o avanço da pandemia, porque muitas pessoas infectadas morrem sem apresentar os sintomas associados à doença, como febre ou falta de ar, e por isso nem chegam a ser testadas.

Nos países mais afetados pela pandemia, os hospitais têm recebido cada vez mais pacientes com problemas cardíacos e renais causados pela doença.

Vêm surgindo ainda estudos que vinculam a ação do vírus em crianças à síndrome do choque tóxico, doença rara que pode gerar insuficiência renal aguda.

Por último, a trajetória ascendente de mortos.

Olhem este gráfico.

Viram como a curva de mortos no Brasil continua a subir enquanto a de outros países já aponta para baixo, na mesma fase da pandemia?

Se tudo continuar do jeito que está, o Brasil pode ultrapassar os Estados Unidos.

E não chegamos nem ao pico! Esse gráfico mostra o número de mortos por dia baseado nos últimos sete dias.

Ou seja, o que você vê no dia de hoje, por exemplo, não eh a quantidade de pessoas morreram no dia anterior, mas a média de mortos dos sete dias anteriores.

Isso é importante porque reduz possíveis distorções e permite uma comparação mais adequada, segundo especialistas.

Lembrando que a pandemia atingiu os países em momentos diferentes.

No Brasil, ela teria começado depois da Ásia, Europa e Estados Unidos.

Por causa desse tripé de que eu acabei de falar, os especialistas dizem que precisamos urgentemente fazer algo para conter a expansão do vírus.

Mas, segundo eles, a inabilidade dos gestores públicos em admitir a gravidade da pandemia e tomar medidas para confinar a população vem contribuindo para o ritmo de expansão da covid-19 no Brasil.

Crítico do lockdown, o presidente Jair Bolsonaro alega que o custo econômico de um confinamento nacional seria gigantesco e vem se opondo às tentativas de governadores de manterem a população dentro de casa.

Já fizemos vídeo sobre isso.

De fato, a adesão da população ao isolamento social no Brasil é baixa.

De acordo com dados da empresa Inloco, o índice de isolamento social no Brasil é de 45,3%.

Sem essas medidas duras de confinamento, a taxa de contágio deve permanecer alta.

Dados da Universidade Imperial College de Londres mostram que a taxa de contágio do Brasil é de 1,3, o 12º mais alto do mundo.

O levantamento analisou 54 países com transmissão ativa do vírus.

Isso significa que três pessoas no Brasil podem passar a doença para outras quatro.

Aqui no Reino Unido, esse número é 0,84.

Já na Argentina, 1,17.

Eu fico por aqui.

Espero que este vídeo tenha sido útil.

Não deixem de nos acompanhar nas redes sociais e se inscrever no nosso canal.

Até a próxima.


Coronavírus: Brasil será o novo epicentro da pandemia? Coronavirus: Ist Brasilien das neue Epizentrum der Pandemie? Coronavirus: Is Brazil the new epicenter of the pandemic? Коронавірус: Бразилія - новий епіцентр пандемії?

[May 26, 2020].

Com quase 700 mil casos confirmados oficialmente, a América Latina se tornou para a Organização Mundial da Saúde, o novo epicentro da pandemia de coronavírus.

E o Brasil é o país que mais preocupa.

Sobre o caso brasileiro, o diretor da OMS Michael Ryan disse que embora o maior número de casos tenha sido registrado em São Paulo, a situação mais séria é a do Amazonas, que tem o maior número de casos em relação à população. Regarding the Brazilian case, WHO director Michael Ryan said that although the largest number of cases has been recorded in São Paulo, the most serious situation is that of Amazonas, which has the highest number of cases in relation to the population.

Mas o que torna o Brasil o país mais preocupante?

Eu sou Laís Alegretti, da BBC News Brasil, e neste vídeo eu vou explicar por que o Brasil tem sido visto como o possível futuro epicentro da pandemia de covid-19.

Segundo os especialistas, é uma combinação de fatores.

O mais importante é este tripé aqui: Subnotificação de casos.

Subnotificação de mortos.

E a trajetória ascendente de mortes.

Além disso, temos uma taxa de contágio ainda muito alta, uma baixa adesão da população às medidas de isolamento social e a inabilidade de gestores públicos de reconhecer a gravidade da situação.

O alerta de que o Brasil já teria se tornado o novo epicentro da pandemia foi dado no início de maio a partir de um estudo liderado pelo Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, ligado à Universidade de São Paulo, a USP.

O meu colega Luis Barrucho conversou com o responsável por esse estudo, Domingos Alves.

Segundo ele, o total de infectados por coronavírus, na verdade, tá muito acima do que o governo registrou até agora.

Em vez dos cerca de 370 mil, segundo os dados oficiais, o número real seria superior a 4 milhões.

Ou seja, quase 12 vezes mais.

Isso numa estimativa conservadora, segundo ele.

Por quê?

Porque os cálculos feitos pelos pesquisadores foram baseados no número de mortes oficiais e no tempo de internação de 10 dias entre a confirmação do caso e a morte.

O pesquisador disse que, se fossem contabilizadas as mortes não notificadas e o tempo total de infecção, de 20 dias, o total de infectados seria ainda maior.

Lembrando que essa cifra de 4 milhões também é superior ao total de casos confirmados oficialmente pelos Estados Unidos, que está em torno de 1,6 milhão.

Todos esses dados podem acessados no portal Covid-19 Brasil, que reúne pesquisadores de diversas universidades brasileiras.

A gente vai deixar o link aqui embaixo, nos comentários, para quem quiser ver.

Um dos motivos principais para tanta discrepância dos dados é a baixa testagem da população.

Até agora, o Brasil fez apenas 3.500 testes por milhão de habitantes.

Para efeitos de comparação, os Estados Unidos realizaram 45 mil testes por milhão de habitantes e a Espanha, o país que mais testou a população, fez 76 mil testes por milhão de habitantes, segundo a empresa de dados Statista.

Sem muitos testes, não dá pra saber do tamanho do problema.

Dessa forma, é mais difícil adotar medidas específicas para frear o contágio, seja pelo isolamento dos casos assintomáticos ou com sintomas leves, seja pelo rastreamento dos contatos desses infectados.

Outros estudos sobre subnotificação feitos por pesquisadores brasileiros, apesar de adotarem metodologias diferentes, apontam nessa mesma direção.

Vamos falar agora das mortes.

Também temos subnotificação nesses números, embora menor do que no número de casos.

Segundo Alves, os cálculos preliminares apontam que os dados oficiais representariam apenas 60% do total de óbitos.

Sendo assim, em vez das 22 mil mortes anunciadas pelo Ministério da Saúde, o número real já estaria próximo a 40 mil.

Os especialistas dizem que essa subnotificação de mortes se deve a uma combinação de fatores, incluindo excesso de pedidos de exames.

Isso acaba fazendo com que o resultado dos testes atrasem.

Sem esse resultado, os médicos acabam fazendo declarações de óbitos sem um, diagnóstico específico.

Um exemplo é o número de mortes causadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave, doença causada pelo novo coronavírus.

Essas não foram mortes registradas como casos de covid-19.

Segundo dados do Painel COVID Registral, o número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave de 16 de março a 25 de maio deste ano foi de 5.784 contra 297 em igual período do ano passado.

O aumento é de quase 2.000%.

Ou seja, provavelmente, segundo os especialistas, essas mortes em excesso são explicadas pela covid-19, mas como essas pessoas que morreram não foram testadas, não se pode colocar isso no atestado de óbito, pela razão que eu acabei de explicar.

Além disso, devido à falta de estrutura, os Laboratórios Centrais de Saúde Pública, responsáveis pela coleta de dados, podem demorar quase um mês para entregar os resultados sobre o motivo do óbito.

Meu colega Matheus Magenta conversou com o físico Roberto Kraenkel, professor da Unesp e membro do Observatório Covid-19, uma iniciativa independente de 43 pesquisadores.

Ele também chama atenção para os casos dos doentes que não passam pelo sistema de saúde.

Segundo ele, esses casos são quase impossíveis de serem quantificados, mas podem ser estimados por testes sorológicos, em busca de quantas pessoas tiveram contato com a doença e desenvolveram anticorpos.

O epidemiologista Paulo Lotufo, professor da USP, disse que descobertas recentes sobre a covid-19 tornam ainda mais difícil monitorar o avanço da pandemia, porque muitas pessoas infectadas morrem sem apresentar os sintomas associados à doença, como febre ou falta de ar, e por isso nem chegam a ser testadas.

Nos países mais afetados pela pandemia, os hospitais têm recebido cada vez mais pacientes com problemas cardíacos e renais causados pela doença.

Vêm surgindo ainda estudos que vinculam a ação do vírus em crianças à síndrome do choque tóxico, doença rara que pode gerar insuficiência renal aguda.

Por último, a trajetória ascendente de mortos.

Olhem este gráfico.

Viram como a curva de mortos no Brasil continua a subir enquanto a de outros países já aponta para baixo, na mesma fase da pandemia?

Se tudo continuar do jeito que está, o Brasil pode ultrapassar os Estados Unidos.

E não chegamos nem ao pico! Esse gráfico mostra o número de mortos por dia baseado nos últimos sete dias.

Ou seja, o que você vê no dia de hoje, por exemplo, não eh a quantidade de pessoas morreram no dia anterior, mas a média de mortos dos sete dias anteriores.

Isso é importante porque reduz possíveis distorções e permite uma comparação mais adequada, segundo especialistas.

Lembrando que a pandemia atingiu os países em momentos diferentes.

No Brasil, ela teria começado depois da Ásia, Europa e Estados Unidos.

Por causa desse tripé de que eu acabei de falar, os especialistas dizem que precisamos urgentemente fazer algo para conter a expansão do vírus.

Mas, segundo eles, a inabilidade dos gestores públicos em admitir a gravidade da pandemia e tomar medidas para confinar a população vem contribuindo para o ritmo de expansão da covid-19 no Brasil.

Crítico do lockdown, o presidente Jair Bolsonaro alega que o custo econômico de um confinamento nacional seria gigantesco e vem se opondo às tentativas de governadores de manterem a população dentro de casa.

Já fizemos vídeo sobre isso.

De fato, a adesão da população ao isolamento social no Brasil é baixa.

De acordo com dados da empresa Inloco, o índice de isolamento social no Brasil é de 45,3%.

Sem essas medidas duras de confinamento, a taxa de contágio deve permanecer alta.

Dados da Universidade Imperial College de Londres mostram que a taxa de contágio do Brasil é de 1,3, o 12º mais alto do mundo.

O levantamento analisou 54 países com transmissão ativa do vírus.

Isso significa que três pessoas no Brasil podem passar a doença para outras quatro.

Aqui no Reino Unido, esse número é 0,84.

Já na Argentina, 1,17.

Eu fico por aqui.

Espero que este vídeo tenha sido útil.

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Até a próxima.