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Buenas Ideias, ZUMBI DOS PALMARES - A LUTA PELA LIBERDADE | EDUARDO BUENO

ZUMBI DOS PALMARES - A LUTA PELA LIBERDADE | EDUARDO BUENO

Zumbi! Zumbi! Mundo zumbi! Apocalipse zumbi! Conhecei o morto vivo que vem

assombrando o Brasil. Cantai os ares! Cantai os mares! Mas não vos

esqueceis de cantar o Quilombo dos Palmares

Quilombo você sabe o que é, né? Quilombo quer dizer "esconderijo na mata". Palavra africana

desde que o Brasil começou a receber aquele que viria ser o maior fluxo de

escravos na história da humanidade. O brasil ficou recheado de quilombos, os

esconderijos na mata para onde fugiam e se refugiavam os escravos que conseguiram

escapar de seus senhores, porém nenhum quilombo foi mais

emblemático, foi mais significativo, foi mais duradouro, foi mais poderoso do que

o Quilombo dos Palmares. O Quilombo dos Palmares se localizava na Serra da

Barriga, a 90 quilômetros da atual Maceió. lnclusive perto ali de Muriqui. Um lugar

terrível, já que é o reduto eleitoral do Renan Calheiros. Que medo! O Quilombo dos

Palmares não era um só quilombo, na verdade é uma rede de quilombos, 12 quilombos

cuja área de influência chegou ocupar 200 quilômetros quadrados. Esse quilombos eram ligados por

trilhas na mata. O mais importante, mais significativo desses quilombos era o

chamado que Quilombo do Macaco, ele teria surgido por volta de 1600, 1602 e foi

florescendo, florescendo. Chegou a ter, alguns dizem, até 8 mil habitantes. Todo

esse conjunto de quilombos teria tido até 20 mil escravos refugiados e também

negros e também brancos fugidos da lei, né? Era uma comunidade que se diz bem

cosmopolita. Não se sabe que língua que se falava no

quilombo, mas muito provavelmente eram línguas africanas, embora línguas

indígenas e também até o português talvez tivesse sido falado lá. O que

interessa é que várias expedições punitivas foram enviadas para combater o

quilombo, desde o ano de 1658. Inclusive por holandeses na época

da ocupação holandesa no Brasil. Todas elas foram vencidas até que em 1678,

quando era senhor desse quilombo, o Ganga Zumba, que aliás quer dizer grande senhor.

Alguns dizem que ele era filho de uma princesa do Congo,

sei lá, porque, cara, tem muita mistificação. Há pouca informação

documental efetiva, né? Sobre os acontecimentos envolvendo o Quilombo dos

Palmares, com exceção, claro, da sua destruição, na qual chegaremos. Mas o fato

é que em 1678 o Ganga Zumba foi chamado para um encontro no Recife com o

governador de Pernambuco. Ele fez uma entrada suntuosa digna de um dignatário

mesmo de um senhor pelas ruas do Recife e teria lá feito um acordo com o

governador de Pernambuco que estabeleceu o seguinte aqueles que havia uma sido no

Quilombo dos Palmares seriam livres, mas aqueles que haviam fugido para lá

retornariam aos seus antigos senhores. O encontro aconteceu, mas não há registro

documental do acordo que teria sido feito. O fato é que dizem que quando

retornou ao quilombo o Ganga Zumba teria sido envenenado e morto pelos seus

próprios súditos, numa conspiração liderada por quem? Liderada por quem? Pelo

Zumbi, cara.

Pelo Zumbi, que seria sobrinho.

Seria filho da irmã do Ganga Zumba, portanto também diretamente ligado a

essa suposta linhagem real dessa princesa congolesa, que teria dado

origem a essa família real que comandava o quilombo. O fato é que o Ganga Zumba morreu.

E a partir de 1680 quem coordena, quem vira o chefe inconteste desse quilombo é

o zumbi, que de fato existiu. Há muita mistificação em torno dele, mas ele foi

uma figura real. Ele teve existência concreta e palpável e foi ele que

resistiu ao combate, à ofensiva que viria a ser ofensiva final a derrocada

dos quilombos, quando o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi

contratado a peso de ouro para com uma grande tropa de mais de 6 mil soldados

atacar a Serra da Barrica. Da Barriga. Serra da Barrica seria bom, né? Mas não é Barrica

Serra da Barriga, animal, Barriga e a serra foi atacada mais precisamente no dia 6

de fevereiro de 1994, o quilombo caiu, mas um zumbi conseguiu escapar. Escapou

reguiou-se na mata e era muito importante, muito importante pela visão

dos senhores de escravos, pela visão do poder estabelecido que ele fosse

capturado e morto e ele acabou sendo traído,

dizem que por um tal André Furtado, Antônio Furtado, não se sabe direito o

nome do cara e ele foi capturado nos arredores da região da Serra da Barriga

e morto no dia 20 de novembro de 1695, que depois, muitos séculos depois, viria a

ser considerado o dia da Consciência Negra no Brasil, não é? E ele foi morto e

decapitado e a sua cabeça foi levada para ser exposta no Paço Central do

Recife, o texto diz o seguinte: para satisfazer os ofendidos e os

justamente queixosos e acima de tudo para atemorizar os negros que achavam

que ele era imortal. Então já num depoimento da

época porque isso é um texto de 1695, se diz que os seguidores do Zumbi achavam

que ele era imortal, ou seja, isso já concede a ele essa aura que só haveria

crescer com o tempo, especialmente a partir do século 20, quando nos anos 50

60 e 70 do século XX, o século passado, historiadores, especialmente

historiadores de esquerda começaram a criar um poderoso mito do Zumbi como um

guerrilheiro, do Zumbi como um guerreiro invencível. Edson Carneiro, grande

historiador baiano, escreveu um livro lindo sobre o Quilombo dos Palmares.

Décio Freitas, meu amigo e conterrâneo gaúcho, escreveu um livro meio

chutador assim. Eu adorava o Décio, mas, na verdade, é o seguinte, cara, tem

pouca prova documental. É um livro muito mais metafórico, é um livro muito mais

simbólico do que realmente historiográfico, mas faz sentido, faz

sentido porque a gente precisa lembrar que o Brasil recebeu o maior número de

escravos na história da humanidade. Foi o último país digno do nome, né? Porque eu já

disse aqui o Brasil foi o último país do mundo a

abolir a escravidão. Daí uns comentaristas lá "não foi, foi a Mauritânia" estou falando

em país, to falando de país, né? O último país digno do nome

foi o Brasil ao abolir a escravidão legalmente, falando em 1988. Então é

normal, é natural que os Zumbi se torne um símbolo de liberdade, de revolta, né?

Mas é preciso separar o mito da história e há muito mito em torno do Zumbi, embora

de fato tenha existido uma das incongruências dessa história é que a

primeira menção documental à existência do Zumbi foi feita por um

senhor de engenho. Baiano, Sebastião da Rocha Pita,

que escreveu um livro chamado História da América Portuguesa né

Ele não diz nem Brasil. O nome América Portuguesa é bem reveladora, na qual ele

saúda o fim tão glorioso, quanto útil do Quilombo dos Palmares.

É a primeira menção efetiva e documental à existência desse quilombo que

simbolizou e simboliza a luta pela liberdade. Não só a luta do negro pela

liberdade, claro que principalmente a luta do negro, mas a luta do índio, a luta

dos desvalidos, a luta de todos aqueles que não acreditam num mundo onde haja

escravidão e hoje o local onde era o quilombo está lá.

Sugiro que você vá visitá-lo. Vai no município de União dos Palmares e sobe. Um

local extraordinário, mágico. Claro que não é assim né a vibe mais leve do mundo.

A vibração é tensa, é intensa, mas é um lugar incrível. Eu tive lá o quilombo foi

inclusive a passou por escavações arqueológicas patrocinadas pela National

Geographic nos anos 1990, aonde se descobriu muita coisa realmente

documental sobre esse quilombo, mas o que interessa, e assim encerro esse episódio,

não é tanto a existência real do Quilombo dos Palmares, é a existência

simbólica do Quilombo dos Palmares por todos aqueles que acreditam na liberdade

do ser humano e na destruição daqueles que acreditam que podem ser senhores de

outros humanos.

Que episódio político. É isso aí! Falou! Então tá!

Tchau! O que você acaba de ver está repleto de generalizações e

simplificações, mas o quadro geral era esse aí mesmo.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram então você vai

ter que ler.


ZUMBI DOS PALMARES - A LUTA PELA LIBERDADE | EDUARDO BUENO ZUMBI DOS PALMARES - LA LUTTE POUR LA LIBERTÉ | EDUARDO BUENO

Zumbi! Zumbi! Mundo zumbi! Apocalipse zumbi! Conhecei o morto vivo que vem

assombrando o Brasil. Cantai os ares! Cantai os mares! Mas não vos

esqueceis de cantar o Quilombo dos Palmares

Quilombo você sabe o que é, né? Quilombo quer dizer "esconderijo na mata". Palavra africana

desde que o Brasil começou a receber aquele que viria ser o maior fluxo de

escravos na história da humanidade. O brasil ficou recheado de quilombos, os

esconderijos na mata para onde fugiam e se refugiavam os escravos que conseguiram

escapar de seus senhores, porém nenhum quilombo foi mais

emblemático, foi mais significativo, foi mais duradouro, foi mais poderoso do que

o Quilombo dos Palmares. O Quilombo dos Palmares se localizava na Serra da

Barriga, a 90 quilômetros da atual Maceió. lnclusive perto ali de Muriqui. Um lugar

terrível, já que é o reduto eleitoral do Renan Calheiros. Que medo! O Quilombo dos

Palmares não era um só quilombo, na verdade é uma rede de quilombos, 12 quilombos

cuja área de influência chegou ocupar 200 quilômetros quadrados. Esse quilombos eram ligados por

trilhas na mata. O mais importante, mais significativo desses quilombos era o

chamado que Quilombo do Macaco, ele teria surgido por volta de 1600, 1602 e foi

florescendo, florescendo. Chegou a ter, alguns dizem, até 8 mil habitantes. Todo

esse conjunto de quilombos teria tido até 20 mil escravos refugiados e também

negros e também brancos fugidos da lei, né? Era uma comunidade que se diz bem

cosmopolita. Não se sabe que língua que se falava no

quilombo, mas muito provavelmente eram línguas africanas, embora línguas

indígenas e também até o português talvez tivesse sido falado lá. O que

interessa é que várias expedições punitivas foram enviadas para combater o

quilombo, desde o ano de 1658. Inclusive por holandeses na época

da ocupação holandesa no Brasil. Todas elas foram vencidas até que em 1678,

quando era senhor desse quilombo, o Ganga Zumba, que aliás quer dizer grande senhor.

Alguns dizem que ele era filho de uma princesa do Congo,

sei lá, porque, cara, tem muita mistificação. Há pouca informação

documental efetiva, né? Sobre os acontecimentos envolvendo o Quilombo dos

Palmares, com exceção, claro, da sua destruição, na qual chegaremos. Mas o fato

é que em 1678 o Ganga Zumba foi chamado para um encontro no Recife com o

governador de Pernambuco. Ele fez uma entrada suntuosa digna de um dignatário

mesmo de um senhor pelas ruas do Recife e teria lá feito um acordo com o

governador de Pernambuco que estabeleceu o seguinte aqueles que havia uma sido no

Quilombo dos Palmares seriam livres, mas aqueles que haviam fugido para lá

retornariam aos seus antigos senhores. O encontro aconteceu, mas não há registro

documental do acordo que teria sido feito. O fato é que dizem que quando

retornou ao quilombo o Ganga Zumba teria sido envenenado e morto pelos seus

próprios súditos, numa conspiração liderada por quem? Liderada por quem? Pelo

Zumbi, cara.

Pelo Zumbi, que seria sobrinho.

Seria filho da irmã do Ganga Zumba, portanto também diretamente ligado a

essa suposta linhagem real dessa princesa congolesa, que teria dado

origem a essa família real que comandava o quilombo. O fato é que o Ganga Zumba morreu.

E a partir de 1680 quem coordena, quem vira o chefe inconteste desse quilombo é

o zumbi, que de fato existiu. Há muita mistificação em torno dele, mas ele foi

uma figura real. Ele teve existência concreta e palpável e foi ele que

resistiu ao combate, à ofensiva que viria a ser ofensiva final a derrocada

dos quilombos, quando o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi

contratado a peso de ouro para com uma grande tropa de mais de 6 mil soldados

atacar a Serra da Barrica. Da Barriga. Serra da Barrica seria bom, né? Mas não é Barrica

Serra da Barriga, animal, Barriga e a serra foi atacada mais precisamente no dia 6

de fevereiro de 1994, o quilombo caiu, mas um zumbi conseguiu escapar. Escapou

reguiou-se na mata e era muito importante, muito importante pela visão

dos senhores de escravos, pela visão do poder estabelecido que ele fosse

capturado e morto e ele acabou sendo traído,

dizem que por um tal André Furtado, Antônio Furtado, não se sabe direito o

nome do cara e ele foi capturado nos arredores da região da Serra da Barriga

e morto no dia 20 de novembro de 1695, que depois, muitos séculos depois, viria a

ser considerado o dia da Consciência Negra no Brasil, não é? E ele foi morto e

decapitado e a sua cabeça foi levada para ser exposta no Paço Central do

Recife, o texto diz o seguinte: para satisfazer os ofendidos e os

justamente queixosos e acima de tudo para atemorizar os negros que achavam

que ele era imortal. Então já num depoimento da

época porque isso é um texto de 1695, se diz que os seguidores do Zumbi achavam

que ele era imortal, ou seja, isso já concede a ele essa aura que só haveria

crescer com o tempo, especialmente a partir do século 20, quando nos anos 50

60 e 70 do século XX, o século passado, historiadores, especialmente

historiadores de esquerda começaram a criar um poderoso mito do Zumbi como um

guerrilheiro, do Zumbi como um guerreiro invencível. Edson Carneiro, grande

historiador baiano, escreveu um livro lindo sobre o Quilombo dos Palmares.

Décio Freitas, meu amigo e conterrâneo gaúcho, escreveu um livro meio

chutador assim. Eu adorava o Décio, mas, na verdade, é o seguinte, cara, tem

pouca prova documental. É um livro muito mais metafórico, é um livro muito mais

simbólico do que realmente historiográfico, mas faz sentido, faz

sentido porque a gente precisa lembrar que o Brasil recebeu o maior número de

escravos na história da humanidade. Foi o último país digno do nome, né? Porque eu já

disse aqui o Brasil foi o último país do mundo a

abolir a escravidão. Daí uns comentaristas lá "não foi, foi a Mauritânia" estou falando

em país, to falando de país, né? O último país digno do nome

foi o Brasil ao abolir a escravidão legalmente, falando em 1988. Então é

normal, é natural que os Zumbi se torne um símbolo de liberdade, de revolta, né?

Mas é preciso separar o mito da história e há muito mito em torno do Zumbi, embora

de fato tenha existido uma das incongruências dessa história é que a

primeira menção documental à existência do Zumbi foi feita por um

senhor de engenho. Baiano, Sebastião da Rocha Pita,

que escreveu um livro chamado História da América Portuguesa né

Ele não diz nem Brasil. O nome América Portuguesa é bem reveladora, na qual ele

saúda o fim tão glorioso, quanto útil do Quilombo dos Palmares.

É a primeira menção efetiva e documental à existência desse quilombo que

simbolizou e simboliza a luta pela liberdade. Não só a luta do negro pela

liberdade, claro que principalmente a luta do negro, mas a luta do índio, a luta

dos desvalidos, a luta de todos aqueles que não acreditam num mundo onde haja

escravidão e hoje o local onde era o quilombo está lá.

Sugiro que você vá visitá-lo. Vai no município de União dos Palmares e sobe. Um

local extraordinário, mágico. Claro que não é assim né a vibe mais leve do mundo.

A vibração é tensa, é intensa, mas é um lugar incrível. Eu tive lá o quilombo foi

inclusive a passou por escavações arqueológicas patrocinadas pela National

Geographic nos anos 1990, aonde se descobriu muita coisa realmente

documental sobre esse quilombo, mas o que interessa, e assim encerro esse episódio,

não é tanto a existência real do Quilombo dos Palmares, é a existência

simbólica do Quilombo dos Palmares por todos aqueles que acreditam na liberdade

do ser humano e na destruição daqueles que acreditam que podem ser senhores de

outros humanos.

Que episódio político. É isso aí! Falou! Então tá!

Tchau! O que você acaba de ver está repleto de generalizações e

simplificações, mas o quadro geral era esse aí mesmo.

Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram então você vai

ter que ler.