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Política Global, O que se sabe sobre a vacina da Rússia contra a covid-19 e por que é preciso cautela

O que se sabe sobre a vacina da Rússia contra a covid-19 e por que é preciso cautela

A Rússia anunciou que deve começar a vacinar em massa sua população contra a covid-19

em outubro deste ano.

Diante da urgência para se tentar frear os avanços do novo coronavírus pelo mundo,

algumas etapas do processo de desenvolvimento de uma vacina foram acelerados em boa parte

das mais de 160 pesquisas registradas pela Organização Mundial de Saúde.

Ainda assim, o prazo colocado pelos russos parece otimista demais e levantou uma série

de dúvidas sobre a vacina do país.

Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e vou resumir nesse vídeo o que sabemos sobre

ela.

Bom, a vacina russa vem sendo desenvolvida pelo Centro Nacional de Investigação de

Epidemiologia e Microbiologia, o Instituto Gamaleya, junto ao Ministério da Defesa.

Ela não está entre as vacinas mais avançadas no processo de desenvolvimento, aquelas que

estão na fase 3 dos testes clínicos.

A pesquisa russa acaba de concluir a fase 2, agora no início de agosto.

Os testes foram realizados em voluntários no hospital militar Burdenko, conforme o vice-ministro

da Defesa, Rusan Tsalikov, de forma “bem-sucedida”.

Segundo ele, todos os voluntários que receberam imunização se sentiam bem e, portanto, a

primeira vacina doméstica contra a covid-19 estaria pronta.

O ministro da Saúde russo, Mikhail Murashko, anunciou que os documentos para o procedimento

de registro da vacina estão sendo preparados e que a produção em escala industrial deve

ter início em setembro.

A fase 3 aconteceria entre os dois momentos, com um grupo de 1600 voluntários.

O problema é que, além de não ter concluído ainda todas as etapas da pesquisa, a Rússia

não divulgou qualquer evidência científica que confirme a eficácia e a segurança da

vacina.

Aliás, o país não publicou nenhum estudo detalhado sobre as outras etapas do processo

até aqui.

Os resultados das fases 1 e 2 dos estudos clínicos da vacina de Oxford, por exemplo,

foram publicados no periódico científico The Lancet agora no fim de julho.

E no cenário mais otimista, ela ficaria pronta apenas no fim do ano.

Aliás, vamos aproveitar para relembrar rapidamente: de forma geral, as vacinas passam por estudos

pré-clínicos e três fases de testes clínicos, feitos em humanos.

A primeira, conforme as informações do Instituto Butantan, tem como objetivo verificar a segurança

- ou seja, se a vacina produz algum tipo de efeito colateral.

A segunda fase estabelece a imunogenicidade da vacina, ou seja, verifica qual resposta

imunológica ela desperta.

A terceira e última fase dos estudos clínicos procura demonstrar sua eficácia, ou seja,

se ela de fato protege o organismo.

Já haveria interessados na vacina russa em mais de 20 países, entre eles o Brasil, segundo

o chefe do Fundo de Investimento Direto do governo da Rússia, Kirill Dmitriev – que,

aliás, comparou o suposto sucesso da pesquisa ao lançamento do Sputnik, o primeiro satélite

artificial a orbitar na Terra.

A comparação é bem simbólica, já que muita gente compara o esforço global para

a descoberta da vacina com a corrida espacial que o mundo viveu na Guerra Fria (mas falo

sobre isso daqui a pouco).

Bom, a falta de transparência da pesquisa russa gerou críticas de boa parte da comunidade

científica, inclusive do principal especialista do governo dos Estados Unidos para doenças

infecciosas, Anthony Fauci.

"Nós também poderíamos ter uma vacina amanhã”, ele disse.

“Não seria segura ou eficaz, mas poderíamos ter uma vacina amanhã."

O OMS não chegou a se manifestar diretamente, mas ressaltou, nesta segunda-feira, que provavelmente

não haverá solução imediata.

Segundo o serviço em russo da BBC, existe um temor entre vários especialistas de que

os ensaios clínicos tenham sido insuficientes, diante de um foco exagerado do Kremlin para

ganhar a tal da corrida mundial por uma vacina - a releitura da corrida espacial da guerra

fria - e usar o feito como instrumento de propaganda.

Em abril, o presidente Vladimir Putin chegou a instruir o governo a tomar decisões para

simplificar e encurtar o prazo para os ensaios clínicos e pré-clínicos.

Um mês depois, o país noticiava que os próprios cientistas do Instituto Gamaleya haviam se

inoculado com algumas doses quando a vacina ainda estava em fase de testes em animais,

o que foi duramente criticado pela Associação de Organizadores de Pesquisas Clínicas, que

afirmou que isso violava um dos princípios fundamentais das pesquisas clínicas.

Segundo o Ministério da Saúde da Rússia, após o registro e a produção, a vacinação

deve ter início em outubro, de forma gratuita.

A ideia é começar começar por professores e profissionais da saúde.

A gente continua acompanhando esse assunto por aqui.

Obrigada e até a próxima!


O que se sabe sobre a vacina da Rússia contra a covid-19 e por que é preciso cautela What is known about Russia's COVID-19 vaccine and why caution is needed

A Rússia anunciou que deve começar a vacinar em massa sua população contra a covid-19

em outubro deste ano.

Diante da urgência para se tentar frear os avanços do novo coronavírus pelo mundo,

algumas etapas do processo de desenvolvimento de uma vacina foram acelerados em boa parte

das mais de 160 pesquisas registradas pela Organização Mundial de Saúde.

Ainda assim, o prazo colocado pelos russos parece otimista demais e levantou uma série

de dúvidas sobre a vacina do país.

Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e vou resumir nesse vídeo o que sabemos sobre

ela.

Bom, a vacina russa vem sendo desenvolvida pelo Centro Nacional de Investigação de

Epidemiologia e Microbiologia, o Instituto Gamaleya, junto ao Ministério da Defesa.

Ela não está entre as vacinas mais avançadas no processo de desenvolvimento, aquelas que

estão na fase 3 dos testes clínicos.

A pesquisa russa acaba de concluir a fase 2, agora no início de agosto.

Os testes foram realizados em voluntários no hospital militar Burdenko, conforme o vice-ministro

da Defesa, Rusan Tsalikov, de forma “bem-sucedida”.

Segundo ele, todos os voluntários que receberam imunização se sentiam bem e, portanto, a

primeira vacina doméstica contra a covid-19 estaria pronta.

O ministro da Saúde russo, Mikhail Murashko, anunciou que os documentos para o procedimento

de registro da vacina estão sendo preparados e que a produção em escala industrial deve

ter início em setembro.

A fase 3 aconteceria entre os dois momentos, com um grupo de 1600 voluntários.

O problema é que, além de não ter concluído ainda todas as etapas da pesquisa, a Rússia

não divulgou qualquer evidência científica que confirme a eficácia e a segurança da

vacina.

Aliás, o país não publicou nenhum estudo detalhado sobre as outras etapas do processo

até aqui.

Os resultados das fases 1 e 2 dos estudos clínicos da vacina de Oxford, por exemplo,

foram publicados no periódico científico The Lancet agora no fim de julho.

E no cenário mais otimista, ela ficaria pronta apenas no fim do ano.

Aliás, vamos aproveitar para relembrar rapidamente: de forma geral, as vacinas passam por estudos

pré-clínicos e três fases de testes clínicos, feitos em humanos.

A primeira, conforme as informações do Instituto Butantan, tem como objetivo verificar a segurança

- ou seja, se a vacina produz algum tipo de efeito colateral.

A segunda fase estabelece a imunogenicidade da vacina, ou seja, verifica qual resposta

imunológica ela desperta.

A terceira e última fase dos estudos clínicos procura demonstrar sua eficácia, ou seja,

se ela de fato protege o organismo.

Já haveria interessados na vacina russa em mais de 20 países, entre eles o Brasil, segundo

o chefe do Fundo de Investimento Direto do governo da Rússia, Kirill Dmitriev – que,

aliás, comparou o suposto sucesso da pesquisa ao lançamento do Sputnik, o primeiro satélite

artificial a orbitar na Terra.

A comparação é bem simbólica, já que muita gente compara o esforço global para

a descoberta da vacina com a corrida espacial que o mundo viveu na Guerra Fria (mas falo

sobre isso daqui a pouco).

Bom, a falta de transparência da pesquisa russa gerou críticas de boa parte da comunidade

científica, inclusive do principal especialista do governo dos Estados Unidos para doenças

infecciosas, Anthony Fauci.

"Nós também poderíamos ter uma vacina amanhã”, ele disse.

“Não seria segura ou eficaz, mas poderíamos ter uma vacina amanhã."

O OMS não chegou a se manifestar diretamente, mas ressaltou, nesta segunda-feira, que provavelmente

não haverá solução imediata.

Segundo o serviço em russo da BBC, existe um temor entre vários especialistas de que

os ensaios clínicos tenham sido insuficientes, diante de um foco exagerado do Kremlin para

ganhar a tal da corrida mundial por uma vacina - a releitura da corrida espacial da guerra

fria - e usar o feito como instrumento de propaganda.

Em abril, o presidente Vladimir Putin chegou a instruir o governo a tomar decisões para

simplificar e encurtar o prazo para os ensaios clínicos e pré-clínicos.

Um mês depois, o país noticiava que os próprios cientistas do Instituto Gamaleya haviam se

inoculado com algumas doses quando a vacina ainda estava em fase de testes em animais,

o que foi duramente criticado pela Associação de Organizadores de Pesquisas Clínicas, que

afirmou que isso violava um dos princípios fundamentais das pesquisas clínicas.

Segundo o Ministério da Saúde da Rússia, após o registro e a produção, a vacinação

deve ter início em outubro, de forma gratuita.

A ideia é começar começar por professores e profissionais da saúde.

A gente continua acompanhando esse assunto por aqui.

Obrigada e até a próxima!