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BBC News 2020 (Brasil), Como começou o conflito entre israelenses e palestinos

Como começou o conflito entre israelenses e palestinos

O conflito entre Israel e Palestina é muito complexo.

Durante décadas, essa disputa causou dezenas de milhares de mortes e milhões

de refugiados.

E transformou o Oriente Médio em um barril de pólvora que está sempre

à beira de explodir.

Mas por que israelenses e palestinos lutam?

Eu sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e adianto que a resposta

não é simples.

Por isso, dividimos a resposta em 3 vídeos.

A origem do conflito e as fronteiras, os assentamentos judaicos e a questão de Jerusalém.

Vamos começar pelo início.

Para entender essa história, é preciso voltar no tempo, até o início

do século 19, quando o sionismo se espalhou pela Europa.

O principal objetivo desse movimento nacionalista era a criação de um Estado

para todos os judeus do mundo, que acabaria com milênios de perseguição e exílio.

O movimento apareceu em parte como uma resposta ao anti-semitismo que estava

crescendo pela Europa naquela época.

Um anti-semitismo que teve sua expressão máxima e brutal com o Holocausto, durante

a Segunda Guerra Mundial.

Foi quando cerca de seis milhões de judeus foram exterminados pelo

estado nazista.

E onde eles queriam criar esse estado judeu?

Havia diferentes opções:

Uganda, Argentina ou mesmo uma região da Sibéria chamada Birobidzhan (Birobidjan),

na fronteira entre a Rússia e a China.

E havia partidários, é claro, da criação de um Estado no território onde

se situara o reino de Israel histórico, na área geográfica conhecida na época como

Palestina

Quero dizer, aqui: Nesta faixa de terra de cerca de 400 km de extensão entre

o Mar Mediterrâneo e o vale do rio Jordão.

E qual seria o problema?

Bom, esta região não estava vazia e é considerada

sagrada não apenas pelos judeus, mas também por muçulmanos e cristãos.

Além disso, quando a criação deste Estado judeu começou a ser considerada,

essa área pertencia ao Império Otomano.

E, apesar de existir uma pequena comunidade judaica lá, a população era predominantemente

árabe.

Então aconteceu algo que mudou tudo: a Primeira Guerra Mundial.

No final da chamada Grande Guerra, o Império Otomano foi derrotado e se desintegrou.

As potências européias que venceram a guerra dividiram entre si vários de seus territórios.

Entre outras partes do Oriente Medio, os britanicos passaram a controlar a região da Palestina.

Isso é importante, porque naquela época o governo britânico deu um passo fundamental

em apoio à causa sionista: a Declaração de Balfour.

Uma carta em que, pela primeira vez, o governo britânico apoiou a criação

de "um lar nacional para o povo judeu" na região da Palestina.

Mas deixando claro o seguinte: "nada deve ser feito que possa prejudicar

os direitos civis e religiosos das comunidades não-judias na Palestina".

Ou seja: os direitos dos árabes e de outras etnias deveriam ser respeitados.

Mais tarde veremos por que os árabes não se sentem exatamente respeitados.

O fato é que, nas décadas de 1920 e 1930 milhares de judeus se estabeleceram

nessa região.

E houve tambem o êxodo de quem conseguiu escapar ou sobreviveu ao Holocausto nos anos

seguintes.

Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, os judeus que viviam na Palestina

somavam cerca de 600 mil.

Este número representava cerca da metade da população árabe naquele momento.

E logo as tensões entre as duas comunidades aumentaram.

Para resolver a situação e buscar uma possível convivência, em 1947 a ONU

propôs um plano.

Em que ele consistia?

Bem, na criação de dois estados independentes: um árabe e

o outro judeu, enquanto Jerusalém teria um regime especial.

Os judeus que viviam lá aceitaram a oferta, mas os palestinos não estavam dispostos

a ceder seu território.

O plano da ONU foi aprovado, mas nunca foi implementado.

E detonou uma sucessão de eventos que mudariam a história.

Uma data se destaca: 14 de maio de 1948.

Duas coisas aconteceram nesse dia.

O chamado mandato britânico da Palestina encerrou oficialmente: o governo britânico

havia informado meses antes que concordava com o plano de partilha da ONU, mas que não

iria implementá-lo, marcando uma data para a saída.

Também foi quando o líder judeu David Ben-Gurion proclamou o estabelecimento

do Estado de Israel.

No dia seguinte, cinco países árabes vizinhos declararam guerra ao recém-criado

país e invadem o novo estado judeu.

Estamos diante do primeiro conflito entre árabes e israelenses.

Após um ano de batalhas, Israel não apenas vence a guerra, mas também expande

seu territorio - e ocupa a parte ocidental de Jerusalém.

Enquanto isso, a vizinha Jordânia ocupa a Cisjordânia e a parte oriental de

Jerusalém.

O Egito fica com Gaza.

Os palestinos, após a saída dos britânicos e com o fim da guerra, continuam sem um país.

Essa guerra terminou 70 anos atrás, mas teve duas consequências que persistem ainda hoje.

A primeira é o grande número de pessoas desalojadas.

Isso aconteceu com pessoas nos dois lados do conflito, mas o problema afetou

principalmente os árabes que viviam em áreas que passaram a ser ocupadas por forças israelenses.

Estima-se que 750 mil palestinos tiveram que fugir para outras áreas da região

ou para países vizinhos, especialmente a Jordânia.

Os palestinos chamam esse êxodo de Nakba, que em árabe significa "destruição"

ou "catástrofe".

E marcam a data justamente no dia da criação do Estado de Israel.

Hoje, há mais de cinco milhões de refugiados palestinos, filhos e netos dos

que foram deslocados na década de 1940 , segundo a ONU.

A segunda consequência que perdura é a divisão do território palestino em

dois: a Cisjordânia, que inclui Jerusalém Oriental, e a Faixa de Gaza.

Ou seja, foram divididos em dois territorios, sem ligação por terra entre eles.

Alguns anos após a primeira guerra entre árabes e israelenses, uma crise

no canal de Suez causou outro confronto militar em 1956.

Desta vez entre Egito e Israel, que teve o apoio do Reino Unido e da França.

Após 9 dias de conflito, as tropas de Israel, França e Reino Unido se

retiraram do território egípcio e as fronteiras permaneceram como estavam.

Até junho de 1967, quando ocorreu o terceiro conflito, conhecido como Guerra

dos Seis Dias.

Que durou apenas seis dias mesmo - e no final Israel ocupou a Cisjordânia,

incluindo a parte oriental de Jerusalém, Gaza e a Península do Sinai, que pertencia

ao Egito.

A questão de Jerusalém é um caso à parte, também bastante complexo,

que vai ser tratada no terceiro vídeo dessa série.

Bom, o último conflito dessa série de disputas internacionais entre árabes

e israelenses foi a Guerra do Yom Kipur, que em 1973 colocou o Egito e a Síria contra

Israel.

A guerra durou 20 dias, mas suas consequências se estenderam por anos

e levaram a um evento muito importante para a região: em 1978, o Egito se tornou o primeiro

país árabe a assinar a paz com Israel - nos Acordos de Camp David.

Dessa maneira, o Egito recuperou o Sinai, mas renunciou à Faixa de Gaza.

Apenas a Jordânia, além do Egito, assinou um tratado de paz com o Estado judeu.

Esse foi um ponto de inflexão que também marcou o relacionamento de Israel com os outros

países árabes.

Até hoje, os outros Estados árabes da região, além do Irã, não reconhecem o Estado de

Israel e consideram o território sob ocupação ilegal.

No fim das contas, os Acordos de Camp David foram muito importantes porque

marcaram o fim da guerra aberta entre Israel e os Estados árabes vizinhos.

E o que isso significa?

Que a partir daquele momento o conflito se concentrou

não mais na luta entre os Estados árabes vizinhos, de diferentes nacionalidades e Israel,

mas na luta entre palestinos e israelenses.

Até hoje Gaza e Cisjordânia estão em parte sob controle militar de Israel

e, em parte, sob a administração da Autoridade Nacional Palestina e do Hamas, que desde 2007

controla Gaza.

E isso nos leva ao próximo vídeo: sobre os chamados colonos judeus.

Ou seja, habitantes de assentamentos israelenses em terras palestinas ocupadas e o papel dessa

ocupação no conflito.

Para vê-lo, clique aqui ou no link da descrição. Obrigada e até a próxima!


Como começou o conflito entre israelenses e palestinos How the conflict between Israelis and Palestinians began Cómo empezó el conflicto entre israelíes y palestinos Як почався конфлікт між ізраїльтянами та палестинцями

O conflito entre Israel e Palestina é muito complexo.

Durante décadas, essa disputa causou dezenas de milhares de mortes e milhões

de refugiados.

E transformou o Oriente Médio em um barril de pólvora que está sempre

à beira de explodir.

Mas por que israelenses e palestinos lutam?

Eu sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e adianto que a resposta

não é simples.

Por isso, dividimos a resposta em 3 vídeos.

A origem do conflito e as fronteiras, os assentamentos judaicos e a questão de Jerusalém.

Vamos começar pelo início.

Para entender essa história, é preciso voltar no tempo, até o início

do século 19, quando o sionismo se espalhou pela Europa.

O principal objetivo desse movimento nacionalista era a criação de um Estado

para todos os judeus do mundo, que acabaria com milênios de perseguição e exílio.

O movimento apareceu em parte como uma resposta ao anti-semitismo que estava

crescendo pela Europa naquela época.

Um anti-semitismo que teve sua expressão máxima e brutal com o Holocausto, durante

a Segunda Guerra Mundial.

Foi quando cerca de seis milhões de judeus foram exterminados pelo

estado nazista.

E onde eles queriam criar esse estado judeu?

Havia diferentes opções:

Uganda, Argentina ou mesmo uma região da Sibéria chamada Birobidzhan (Birobidjan),

na fronteira entre a Rússia e a China.

E havia partidários, é claro, da criação de um Estado no território onde

se situara o reino de Israel histórico, na área geográfica conhecida na época como

Palestina

Quero dizer, aqui: Nesta faixa de terra de cerca de 400 km de extensão entre

o Mar Mediterrâneo e o vale do rio Jordão.

E qual seria o problema?

Bom, esta região não estava vazia e é considerada

sagrada não apenas pelos judeus, mas também por muçulmanos e cristãos.

Além disso, quando a criação deste Estado judeu começou a ser considerada,

essa área pertencia ao Império Otomano.

E, apesar de existir uma pequena comunidade judaica lá, a população era predominantemente

árabe.

Então aconteceu algo que mudou tudo: a Primeira Guerra Mundial.

No final da chamada Grande Guerra, o Império Otomano foi derrotado e se desintegrou.

As potências européias que venceram a guerra dividiram entre si vários de seus territórios.

Entre outras partes do Oriente Medio, os britanicos passaram a controlar a região da Palestina.

Isso é importante, porque naquela época o governo britânico deu um passo fundamental

em apoio à causa sionista: a Declaração de Balfour.

Uma carta em que, pela primeira vez, o governo britânico apoiou a criação

de "um lar nacional para o povo judeu" na região da Palestina.

Mas deixando claro o seguinte: "nada deve ser feito que possa prejudicar

os direitos civis e religiosos das comunidades não-judias na Palestina".

Ou seja: os direitos dos árabes e de outras etnias deveriam ser respeitados.

Mais tarde veremos por que os árabes não se sentem exatamente respeitados.

O fato é que, nas décadas de 1920 e 1930 milhares de judeus se estabeleceram

nessa região.

E houve tambem o êxodo de quem conseguiu escapar ou sobreviveu ao Holocausto nos anos

seguintes.

Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, os judeus que viviam na Palestina

somavam cerca de 600 mil.

Este número representava cerca da metade da população árabe naquele momento.

E logo as tensões entre as duas comunidades aumentaram.

Para resolver a situação e buscar uma possível convivência, em 1947 a ONU

propôs um plano.

Em que ele consistia?

Bem, na criação de dois estados independentes: um árabe e

o outro judeu, enquanto Jerusalém teria um regime especial.

Os judeus que viviam lá aceitaram a oferta, mas os palestinos não estavam dispostos

a ceder seu território.

O plano da ONU foi aprovado, mas nunca foi implementado.

E detonou uma sucessão de eventos que mudariam a história.

Uma data se destaca: 14 de maio de 1948.

Duas coisas aconteceram nesse dia.

O chamado mandato britânico da Palestina encerrou oficialmente: o governo britânico

havia informado meses antes que concordava com o plano de partilha da ONU, mas que não

iria implementá-lo, marcando uma data para a saída.

Também foi quando o líder judeu David Ben-Gurion proclamou o estabelecimento

do Estado de Israel.

No dia seguinte, cinco países árabes vizinhos declararam guerra ao recém-criado

país e invadem o novo estado judeu.

Estamos diante do primeiro conflito entre árabes e israelenses.

Após um ano de batalhas, Israel não apenas vence a guerra, mas também expande After a year of battles, Israel not only wins the war, but also expands its borders.

seu territorio - e ocupa a parte ocidental de Jerusalém.

Enquanto isso, a vizinha Jordânia ocupa a Cisjordânia e a parte oriental de

Jerusalém.

O Egito fica com Gaza.

Os palestinos, após a saída dos britânicos e com o fim da guerra, continuam sem um país.

Essa guerra terminou 70 anos atrás, mas teve duas consequências que persistem ainda hoje. That war ended 70 years ago, but it had two consequences that still persist today.

A primeira é o grande número de pessoas desalojadas.

Isso aconteceu com pessoas nos dois lados do conflito, mas o problema afetou

principalmente os árabes que viviam em áreas que passaram a ser ocupadas por forças israelenses.

Estima-se que 750 mil palestinos tiveram que fugir para outras áreas da região

ou para países vizinhos, especialmente a Jordânia.

Os palestinos chamam esse êxodo de Nakba, que em árabe significa "destruição"

ou "catástrofe".

E marcam a data justamente no dia da criação do Estado de Israel.

Hoje, há mais de cinco milhões de refugiados palestinos, filhos e netos dos

que foram deslocados na década de 1940 , segundo a ONU.

A segunda consequência que perdura é a divisão do território palestino em

dois: a Cisjordânia, que inclui Jerusalém Oriental, e a Faixa de Gaza.

Ou seja, foram divididos em dois territorios, sem ligação por terra entre eles.

Alguns anos após a primeira guerra entre árabes e israelenses, uma crise

no canal de Suez causou outro confronto militar em 1956.

Desta vez entre Egito e Israel, que teve o apoio do Reino Unido e da França. This time between Egypt and Israel, which was supported by the United Kingdom and France.

Após 9 dias de conflito, as tropas de Israel, França e Reino Unido se

retiraram do território egípcio e as fronteiras permaneceram como estavam.

Até junho de 1967, quando ocorreu o terceiro conflito, conhecido como Guerra

dos Seis Dias.

Que durou apenas seis dias mesmo - e no final Israel ocupou a Cisjordânia,

incluindo a parte oriental de Jerusalém, Gaza e a Península do Sinai, que pertencia

ao Egito.

A questão de Jerusalém é um caso à parte, também bastante complexo,

que vai ser tratada no terceiro vídeo dessa série.

Bom, o último conflito dessa série de disputas internacionais entre árabes

e israelenses foi a Guerra do Yom Kipur, que em 1973 colocou o Egito e a Síria contra

Israel.

A guerra durou 20 dias, mas suas consequências se estenderam por anos

e levaram a um evento muito importante para a região: em 1978, o Egito se tornou o primeiro

país árabe a assinar a paz com Israel - nos Acordos de Camp David.

Dessa maneira, o Egito recuperou o Sinai, mas renunciou à Faixa de Gaza.

Apenas a Jordânia, além do Egito, assinou um tratado de paz com o Estado judeu.

Esse foi um ponto de inflexão que também marcou o relacionamento de Israel com os outros

países árabes.

Até hoje, os outros Estados árabes da região, além do Irã, não reconhecem o Estado de

Israel e consideram o território sob ocupação ilegal.

No fim das contas, os Acordos de Camp David foram muito importantes porque

marcaram o fim da guerra aberta entre Israel e os Estados árabes vizinhos.

E o que isso significa?

Que a partir daquele momento o conflito se concentrou

não mais na luta entre os Estados árabes vizinhos, de diferentes nacionalidades e Israel,

mas na luta entre palestinos e israelenses.

Até hoje Gaza e Cisjordânia estão em parte sob controle militar de Israel

e, em parte, sob a administração da Autoridade Nacional Palestina e do Hamas, que desde 2007

controla Gaza.

E isso nos leva ao próximo vídeo: sobre os chamados colonos judeus.

Ou seja, habitantes de assentamentos israelenses em terras palestinas ocupadas e o papel dessa

ocupação no conflito.

Para vê-lo, clique aqui ou no link da descrição. Obrigada e até a próxima!