A Segunda Guerra Mundial (1)
A história da mais sangrenta e cruel guerra de todos os tempos.
FICHA TÉCNICA
Pesquisa, roteiro e produção: Christian Gurtner
Esse episódio foi possível graças ao apoio de Canal sobre cinema Acabou de Acabar, WannaPlay, George Fernando, Belém Bezerra, Fulvio Longhi, Silton, Filipe Chaves
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TRAILER DO EPISÓDIO
Os trailers normalmente são publicados alguns dias antes do lançamento do podcast. Acompanhe através de nosso canal no Youtube.
TRILHA SONORA
Grave Blow — Kevin MacLeod
Grim League — Kevin MacLeod
Interloper — Kevin MacLeod
Das SS Lied — German SS
Evil March — Kevin MacLeod
Scheming Weasel Faster — Kevin MacLeod
Serpentine trek — Kevin MacLeod
Shamanistik — Kevin MacLeod
Tempting Secrets — Kevin MacLeod
Auf Auf zum Kampf — German SS
All This — Kevin MacLeod
Sarabande — Frideric Handel
Dangerous — Kevin MacLeod
Epic Unease — Kevin MacLeod
Exciting Trailer — Kevin MacLeod
Fairytale Waltz — Kevin MacLeod
Long Road Ahead B — Kevin MacLeod
Ich Hatt Einen Kameraden — Wehrmacht
BIBLIOGRAFIA
MAGNOLI, D. A história das Guerras. 3.ed. São Paulo: Contexto, 2006
NEITZEL, S. Soldados: sobre lutar, matar e morrer. 1.ed. São Paulo: Cia das Letras, 2014
FINKELSTEIN, N. A indústria do Holocausto. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006
BAKER, N. Fumaça humana. 1.ed. São Paulo: Cia das Letras, 2010
TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO
(As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los)
Ler a transcrição completa do episódio
Fim da Primeira Guerra Mundial
Norte da França, 11 de novembro de 1918 2h05 da madrugada.
Num vagão de trem estavam reunidas as delegações dos países em guerra para assinar um armistício. Alemanha finalmente cedia, perdendo a guerra. Como condição para o fim das batalhas a Alemanha entregaria praticamente todo seu equipamento de guerra, recolheria todos os soldados para dentro da Alemanha e cederia os territórios ocupados na Europa Oriental.
Em 1919, após meses de negociação, o tratado de paz é assinado, encerrando oficialmente a Primeira Guerra Mundial. Conhecido como Tratado de Versalhes, ele impôs severas penas à Alemanha, tomando grande parte de seu território, impondo multas altíssimas a serem pagas à várias nações, diminuindo seu exército a números quase nulos, obrigado a Alemanha a dar a independência à Áustria, e proibindo a construção de submarinos, navios pesados, tanques e artilharia.
Já não bastasse a desumana ação de Churchill, então Primeiro Lorde do Almirantado da Inglaterra, com seu bloqueio naval cujo objetivo era, de acordo com suas palavras, “impor a fome a homens, mulheres, crianças e velhos, feridos ou sãos, até que eles cedessem”, mas que manteve o bloqueio mesmo depois que eles tinham cedido, também as condições do tratado eram absurdas e exageradas. A Alemanha seria tomada pela fome e miséria, fazendo com que os alemães se tornassem escravos da Europa.
A humilhação que estava sendo imposta ao povo alemão, preocupou alguns dos aliados, como o supremo comandante aliado, marechal Ferdinand Foch, que disse “Isto não é a paz. É apenas um armistício válido pelos próximos vinte anos”.
Hitler sobe ao poder
Com o passar dos anos pós guerra, a Alemanha, em visível decadência e desespero enfrentado pelo povo faminto, vivia um clima de desamparo e revolta. Foi aí que surgiu alguém prometendo acabar com a humilhação e reerguer a Alemanha e fazendo seu povo prosperar. Com seus discursos calorosos e olhar carismático, ele se mostrava como um guia para a nação, um Führer.
Adolf Hitler, após tentar um golpe, fora preso e enquanto estava detido escreveu sua polêmica obra Mein Kampf, ou em português, Minha Luta, publicada em 1925. Onde expõe seus ideais anti-semitas e raciais, bem como a estrutura política do seu partido Nacional Socialista.
Apesar de levar o crédito pelas ideias racistas e preconceituosas, principalmente no que se trata dos judeus, elas não eram nem de longe originais, e sim parte de teorias e pensamentos que já rondavam a Europa e outras partes do mundo há muito tempo. Como podemos ver num artigo de Winston Churchill de 1920, onde ele afirma que: “o movimento judeu se trata-se de uma conspiração mundial para derrocar a civilização e reconstituir a sociedade na base do desenvolvimento contido, da malevolência invejosa e do igualitarismo impossível.”. Também uma carta da futura primeira dama americana, Eleanor Roosevelt, em 1918, para sua sogra mostra o pensamento anti-semita nas Américas: “Eu tive de ir à festa de Harris, embora preferisse a forca a ser vista lá. Praticamente só judeus”.
As ambições de Hitler não seriam muito difíceis de serem conquistas, pois além do povo que se agarraria a qualquer chance de melhorar suas vidas, havia também inúmeros militantes que seguiam seu líder como um ser divino. Após a publicação de seu livro, mais adeptos ao nazismo surgiam de todos os cantos.
Hitler estava ciente disso. Num encontro com dois editores americanos em 1931 ele afirmou que “somente com o fanatismo conseguiremos realizar alguma coisa”.
E fanatismo não faltava na Sturmabteilung (conhecida como S.A. Ou camisas pardas), uma milícia paramilitar nazista, que exercia funções como levantes, protestos, perseguição a judeus e apoio incondicional a Hitler. Era uma milícia de baderneiros cuja principal função era a pressão política.
Com esse apoio, somado também a tudo que a Alemanha passava, Hitler finalmente sobe ao poder em 1933, tornando-se chanceler.
A partir de então Hitler elimina todos os demais partidos, prende inimigos políticos e finalmente acaba com a SA, assassinando seus líderes em uma única noite conhecida como Noite das Facas Longas. O motivo para esse ato era simples para Hitler, os baderneiros da SA não era o que ele queria para o novo exército daquilo que ele planejava ser um grandioso império, e seu comandante, Ernst Röhm estava cada vez mais poderoso e com desejos se tomar o lugar do Exército. No lugar da S.A. entra a S.S. ou Schutzstaffel, mais disciplinados, elegantemente vestidos com uniformes pretos criados por Hugo Boss e bem treinados sob o comando de Heinrich Himmler.
Hitler agora tinha o comando da Alemanha e a mão de ferro.
O Tratado de Versalhes é violado
A partir de 1935, Hitler foi mais aclamado pelo povo quando começou a focar num dos principais problemas que a Alemanha enfrentava: o desemprego. Abriu vagas na indústria, no serviço para-militar e, finalmente, desrespeitando o Tratado de Versalhes, reabre o alistamento militar. Com isso ele resolvia dois problemas: o social e o militar, que era essencial para seus próximos passos.
Enquanto o clima de tensão crescia na Europa, os Estados Unidos lucravam como nunca. Seus principais clientes na venda de armas e equipamentos de guerra eram a Alemanha e a China.
Com esse último, os americanos acabavam por provocar os japoneses, que há tempos travavam batalhas com os chineses. Além disso os Estados Unidos ainda enviaram pilotos e outros técnicos para a China, para assim treinarem os pilotos chineses e também pilotar os aviões americanos que lhes foram vendidos. A tensão aumentou ainda mais quando os americanos passaram a fazer manobras militares no Pacífico, o que o Japão afirmou se tratar de uma afronta.
Em 1936 Alemanha e Japão firmam o Pacto Anti-komintern, que se tornaria uma espécie de aliança contra o comunismo. No ano seguinte, a Itália, liderada por Mussolini, que também iniciava seu projeto de expansão entraria na aliança.
Alemanha, 1937
Hitler discute na Chancelaria do Reich a expansão territorial vital para a Alemanha, tendo assim acesso a recursos para que o país voltasse a prosperar. Era hora de retomar o que havia sido tomado da Alemanha na Primeira Guerra. Mas Hitler iria além: era hora de expandir o Império Alemão.
Através de um plebiscito com resultado quase unânime, a Áustria é anexada à Alemanha em 1938 e em seguida partes da Tchecoslováquia também são anexadas.
Até então somente com observadores pasmos, os Ingleses e Franceses decidem, dessa vez, intervir diplomaticamente. Uma reunião entre os líderes desses países e também Itália e Alemanha, firma em 1938 o Acordo de Munique, cujo objetivo era aceitar as anexações promovidas pela Alemanha até agora desde que a expansão parasse por ali e a Alemanha não exigisse nenhum outro território.
Nesse mesmo ano a empresa americana Lockheed, fez a maior venda de aeronaves de sua história para os Ingleses, mas também venderam, em seguida, para os japoneses.
Na Alemanha e países anexados e simpatizantes, a perseguição aos judeus se tornava implacável. Durante os anos após a ascensão de Hitler, eles tiveram direitos revogados, suas crianças não podiam frequentar escolas de não judeus, nenhum deles poderia ter seguro saúde, não poderiam participar da política, suas lojas foram boicotadas e constantemente eram mal tratados nas ruas. Com isso os nazistas esperavam que eles simplesmente fossem embora.
Para os muitos que tentaram se mudar, recebiam somente portas na cara. Já passava das centenas de milhares os refugiados judeus.
O britânico Lorde Winterton, disse que a Inglaterra não era país de imigração. Os americanos informavam não possuir mais cota de imigração para essa “categoria” de refugiados.
Um jornal alemão publicou a manchete: “Judeus à venda — Quem os quer? Ninguém”.
O fato é que nenhuma nação quis receber os judeus. A única exceção foi a Republica Dominicana, que aceitou a entrada de 100.000 refugiados que formaram uma pequena colônia chamada Sosúa.
Os poucos campos de concentração que antes eram destinados à presos políticos, agora recebiam também judeus.
Presságios de Guerra
Boa parte do povo alemão apoiava Hitler. Ele havia reerguido a Alemanha e acabado com o humilhante Tratado de Versalhes. A perseguição aos judeus era um caso complexo, já que era algo historicamente incrustado nas civilizações, e isso talvez, justifique um pouco a passividade com que boa parte dos alemães e também outras nações assistiam as injustiças nazistas.
As coisas ficaram mais acaloradas quando então um judeu em Paris revoltado com o tratamento que a família recebera na Alemanha foi até a embaixada alemã e alvejou um diplomata.
Como represália, e para deixar parecer que a população alemã estava toda enfurecida, o partido deu ordens aos seus militantes para iniciar uma revolta por toda a Alemanha, onde judeus foram espancados, sinagogas queimadas e casas e lojas destruídas. A revolta ficou conhecida como Noite dos Cristais, e repercutiu por todo o mundo.
Americanos membros de instituições beneficentes dialogaram com a Gestapo uma forma de amenizar o sofrimento dos judeus. Receberam autorização dos alemães para visitarem os centro de refugiados para inspeção. Descobriram que o objetivo dos alemães era deportar todos os judeus da Alemanha, porém nenhum outro país os aceitava, mesmo que a maioria se apresentava na mídia preocupada com o “problema judeu” e alguns tentaram estabelecer colônias de refugiados fora de seu território. Com o clamor de parte da população americana e inglesa, aos poucos começaram a abrir exceções para algumas milhares de crianças judias.
Erra porém, aquele que hoje prega que os alemães foram coniventes com a monstruosidade que acontecia e com a que estava por vir. O meio militar, onde estavam aqueles que tinham mais informações que a população em geral, era onde Hitler mais encontrava opositores.
Com exceção dos fanáticos militantes de Hitler, ninguém mais desejava iniciar uma guerra.
O general Ludwig Beck, chefe do Estado Maior, recomendou a seus generais não obedecer as ordens de Hitler caso ele tentasse invadir a Tchecoslovakia. Mas a notícia rapidamente chegou aos ouvidos do ditador que obrigou o general a renunciar.
Porém, Franz Halder, que assumiu o posto de Beck, também tinha a consciência no lugar e, depois de observar Hitler, o julgou cruel e portador de alguma doença mental.
Junto com alguns conspiradores, tentou elaborar um golpe, mas receoso do clamor popular. Resolveu esperar um melhor momento para o golpe, e ter provas concretas de que o ditador planejava levar a Alemanha a uma nova guerra mundial. Alguns mais radicais queriam assassinar Hitler o mais rápido possível.
Contudo, o general Halder esperou tempo demais.
Em 1939, quebrando o acordo de Munique, Hitler invade o restante da Tchecoslováquia e então coloca seus olhos na Polônia, cuja grande parte era de regiões antes alemãs.
A França e a Inglaterra deram um ultimato a Hitler, informando que não aceitariam uma possível invasão à Polônia.