Uma história de amor ou de (s) encontros 6
Foi uma noite agitada
Passou a noite meio desperto, entre dúvidas e contradições.
De manhã, meteu‑se no duche como quem procura uma terapia que o desperte para um dia novo, lavado da insónia, limpo das teias de aranha com que as noites mal ou não dormidas enchem as cabeças.
Mais uma vez, como gostava de fazer, ele interpretava aquela subtileza linguística que valoriza o português face ao francês. É que, enquanto os franceses não fazem mais que "se laver les cheveux" , os portugueses lavam é a cabeça. Às vezes com tanta força que até o fazem por dentro... Como ele o fez naquela manhã.
De repente, do meio da espuma espalhada pelo cabelo, barba e resto do corpo, saiu o eureka tantas vezes repetido desde que um grego - parece que filósofo - o gritou no banho de imersão em que flutuava sem saber porquê até esse tal eureka que o fez saltar da banheira.
Foi depois desse preciso, concreto e aportuguesado eureka , soltado do duche e não do banho de imersão, que começou a lenta e laboriosa montagem de um plano, peça por peça, como se fosse um assalto a um comboio-correio. Ou uma conspiração. Como, no “antigamente”, participara em algumas.
"Ela ia ver... ah!, ela ia ver...”
Sérgio Ribeiro
http://anonimosecxxi.blogspot.pt/2007/08/uma-histria-de-amor-ou-de-s-encontros-7.html