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BBC Brasil 2019 (Áudio/Vídeo+CC), Bebianno sobre filho de Bolsonaro como embaixador: Eduardo

Bebianno sobre filho de Bolsonaro como embaixador: Eduardo

[Aug 7, 2019].

Olá, eu sou Mariana Sanches, repórter da BBC News Brasil.

Ao longo da última semana, eu procurei o ex-ministro do governo Bolsonaro Gustavo Bebiano para comentar as polêmicas declarações do presidente e analisar a gestão, que já completou sete meses.

Bebianno foi um aliado importante de Bolsonaro durante a pré-campanha e a corrida eleitoral.

Espécie de "faz tudo", como ele mesmo diz, acabou demitido em fevereiro, em meio a um escândalo de corrupção e desavenças com o filho do presidente, o Carlos.

Bebianno era presidente do PSL ao longo da campanha.

Desde fevereiro, a Polícia Federal investiga um esquema de candidatos laranja do partido.

De acordo com as denúncias, dirigentes do PSL teriam forjado candidaturas para desviar dinheiro do fundo eleitoral e partidário.

Como dirigente da sigla, caberia a Bebianno a administração desses recursos.

Ele nega qualquer envolvimento com o esquema de corrupção.

Bebianno conversou com a gente por telefone.

Por isso, a qualidade da gravação não é ideal

Ouça a seguir os principais trechos da conversa.

Como é que você vê esses ataques recentes que ele fez ao presidente da OAB, o Felipe Santa Cruz.

Enfim, você achava isso esperado, Bebianno?

Sob ponto de vista institucional, olhando-se, assim, a cadeira presidencial, tendo em vista o peso e a importância que qualquer manifestação do presidente tem, não esperava não.

Mas, levando-se em consideração o lado pessoal, a personalidade do presidente e, às vezes, o pensamento um tanto quanto confuso diante de certas questões, eu esperava sim.

Na verdade, olhando pelo lado pessoal, era uma coisa já até previsível.

O que eu imaginava é que ele fosse acabar absorvendo e se conscientizando do peso da cadeira e da palavra dele.

E fosse observar com um pouco mais de atenção a liturgia que o cargo exige.

Ele se abster de certos comentários que obviamente vão ter um eco muito negativo.

Mas, na verdade, esses últimos 10 ou 15 dias mostram o contrário da sua previsão aí.

Outros comentários que ele fez, que foram vistos como muito agressivos.

A história do filé mignon pro Eduardo, a coisa de não ter fome no Brasil, a coisa do ataque à Miriam Leitão, dizendo que ela não foi torturada, toda a história do Inpe, que foi bastante tensa.

Você acha que isso tudo era esperado dada a personalidade dele?

A vida política dele é alimentada por isso.

Então, ele teve uma carreira solo durante quase 30 anos, nunca estabeleceu vínculos partidários nem nunca se preocupou em fazer uma política com realizações.

Nunca participou de uma comissão importante, nunca presidiu uma comissão importante.

Não tem projetos, não teve projetos muito relevantes enquanto deputado.

E ele aprendeu a marcar o nome dele, a manter o nome dele vivo na política com esse tipo de embate.

Só que agora a função é completamente diferente.

Agora ele tem uma função executiva, que exige dele uma equipe, exige dele formação de equipe, exige dele confiança por parte da equipe, exige dele uma série de componentes, que, da forma como ele vem fazendo, me parece que ele desenvolve uma gestão muito mais pela intimidação.

Ou seja, as pessoas que estão ao redor dele trabalham intimidadas, portanto não tem espontaneidade nem sinceridade para falar o que precisa falar pra ele.

Então, eu acho que ele pode errar na dose e isso pode custar pra ele em algum momento um preço bastante alto.

Ele aposta que vai manter viva essa popularidade ao longo de três anos e meio.

Ele está acostumado a bater nos outros.

Como é que ele vai manter, como é que ele pode manter essa posição, sendo que hoje ele é a vidraça.

Então, ele tem muita sorte, porque o Paulo Guedes desceu de paraquedas nesse projeto dele.

Paulo Guedes não foi uma pessoa que foi capturada por ele, não foi uma escolha dele: "eu quero alguém com o perfil do Paulo Guedes, então eu vou procurar.

Eu quero o Paulo Guedes".

Não foi isso que aconteceu.

O que aconteceu foi que, até por falta de opção, Paulo Guedes foi o nome que apareceu.

Então, ele percebeu num dado momento que o nome do Paulo Guedes respaldava a candidatura dele perante o eleitorado que ele não teria, só teve porque o Paulo Guedes estava engajado na campanha.

Se o Paulo Guedes tivesse se desvinculado da campanha, provavelmente ele não teria ganhado a eleição.

Então, hoje eu enxergo que há dois governos.

Existe um governo que tenta realizar, que é o governo do Paulo Guedes.

E existe o governo do Jair Bolsonaro, que é isso aí que a gente vai ver até o final, esses embates, essas coisas que, na minha opinião, enquanto parlamentar ele sobreviveu e ascendeu com essa estratégia.

No executivo, me parece uma estratégia... Ela por si só não vai ser vitoriosa.

Ele depende fundamentalmente do Paulo Guedes para realizar.

Sem o Paulo Guedes ele não vai realizar nada.

Bebianno, uma coisa interessante que eu tive, enfim, ao longo da campanha... Eu acompanhei vocês bastante de perto e sempre quem estava ao lado do Jair era você, em várias situações e tal.

Não era uma presença que eu notasse os filhos do Jair.

Eles nuncas participaram de absolutamente nada na campanha.

Deixando-se de lado uma parcela minoritária que é radicalíssima, o presidente pode fazer o que ele quiser.

São como os eleitores do Lula, só que com a cor invertida, com o sinal trocado.

Então, para essa pequena parcela, estamos falando de 18%, 20% do eleitorado no máximo num lado.

Do outro lado, você tem ali 20% do PT.

E no meio você tem a grande massa, que são eleitores e não torcedores.

Uma coisa é você ser torcedor fanático, outra é você ser um eleitor racional que quer melhor para o seu país.

Então, a minha opinião é a mesma, dessa maioria, do "centro" digamos assim, de pessoas que olham com perplexidade para esse nível de favorecimento e até de cara de pau, diria, porque o Eduardo, coitado, ele não tem a menor condição.

Ele sequer sabe o papel de um embaixador.

Ele não tem ideia.

Eu convivi de perto com Eduardo, ele não tem noções básicas de negociação.

É um garoto, um menino, um surfista que teve o mandato por causa do pai, depois surfou de novo a onda do pai no segundo mandato dele, na conquista do segundo mandato.

Mas ele é um rapaz absolutamente inexperiente, o nível dele é acadêmico, assim, bem iniciante.

Ele não tem condições.

Há um equívoco monstruoso.

Primeiro, eu acho imoral essa indicação.

Segundo, ela é péssima para o presidente, ela é antiestratégica para o presidente.

O presidente não está adotando uma postura de um estadista que tem que saber lidar com situações de dificuldade.

Uma situação de dificuldade clássica é negociação com outros países.

Os Estados Unidos são muito mais poderosos do que o Brasil.

E as negociações entre Brasil e Estados Unidos.

Eu tenho uma admiração enorme pelos Estados Unidos.

Acho que os Estados Unidos são um exemplo de nação em vários aspectos.

Acho que se o Brasil adotasse um pouco mais da cultura norte-americana, o Brasil enriqueceria muito rapidamente, certos conceitos muito atrasados que o Brasil ainda mantém.

Mas, dito isso, cada país olha para seus próprios interesses.

Então, na medida em que o presidente bota o filho dele à frente desse tipo de papel quaisquer problemas entre Brasil e Estados Unidos, uma simples disputa perante a OMC, por exemplo, a qualquer desavença vai cair direto no colo do presidente.

O presidente vai tornar pessoal problemas que na verdade não teriam essa configuração.

Então, acho que o Brasil perde com essa indicação.

O presidente tem na cabeça dele uma visão até parecida com o Lula, uma coisa meio personalista demais: "ah, que o Trump é meu amigo".

O Trump não é amigo dele.

O Trump é presidente dos Estados Unidos.

Acho que é antiestratégico e perigoso para o próprio presidente esse tipo de medida.

O Carlos mantém uma influência mais a distância.

Quer dizer, próxima, mas velada, não aparece.

Ele gosta de fazer as coisas nos bastidores.

E o Flávio atravessa esse problema aí.

Dos 200 e tantos contratados pelos gabinetes da família, detectaram ali mais de uma centena de familiares.

Isso tudo é muito ruim, porque isso nada mais é do que a velha política.

Você tem algum arrependimento de ter feito com que esse projeto fosse pra frente e acabasse sendo vitorioso também?

Não, acho que cada momento é um momento.

O momento ali era de se buscar uma interrupção da sequência de governos petistas.

Se o PT ganhasse com o Haddad, seria o quinto mandato.

Eu acho que o PT representa exatamente essas ideias atrasadas que acho que empobrecem o Brasil.

Acho que era um momento de ruptura ali, e o objetivo foi alcançado.

O que eu não esperava foi o comportamento posterior do presidente.

Logo após a eleição, o comportamento dele mudou, ele virou outra pessoa.

Pra mim, irreconhecível.

De que maneira?

Me descreve um pouco.

Ele sempre passava uma posição muito humilde, escutava as orientações que nós passávamos pra ele.

Ele nunca foi de mergulhar muito nos assuntos.

Ele tem a característica de tratar de forma superficial as coisas.

Mas ele delegava, deixava a gente trabalhar.

E sempre defendendo a bandeira de moralidade, tudo mais.

Com a chegada do Paulo Guedes, que eu trabalhei muito para manter.

As desavenças ali ao longo da pré-campanha e da campanha foi somente por conta da reforma da Previdência, que o presidente não acreditava na reforma da Previdência.

Era contra.

E nós trabalhávamos muito no sentido de convencê-lo da importância daquilo.

Ele achava que era uma balela.

E o Paulo Guedes chegou a ter alguns estremecimentos com ele ao longo da pré-campanha e da campanha.

E isso me preocupava sobremaneira porque eu tinha consciência.

Se o Paulo Guedes saísse do projeto, ele não seria eleito.

Então, eu acreditava que, depois de eleito ele fosse adotar uma postura mais séria, mais calmo, mais ponderado.

Só que o que ele fez?

Ele puxou pra perto de si uma entourage muito ruim, que o acompanhou durante muitos anos, mas uma entourage muito ruim.

Pessoas muito incultas, pessoas muito agressivas, um nível muito aquém do que precisa um presidente da República.

Quem são essas as pessoas?

Não vou mencionar nomes.

Mas essa entourage permanece ao lado dele, uma entourage muito fraca, muito ruim, sem pulso também, sem opinião própria.

Uma das coisas que ele fez foi afastar as pessoas que têm opinião própria em benefício dele, como o general Santos Cruz, que é uma pessoa seríssima, fidelíssima, sempre foi fiel, sempre foi leal, uma pessoa correta.

Então, o presidente hoje é cercado por pessoas que não ousam dar as suas verdadeiras opiniões.

Essa ascendência do Olavo de Carvalho sobre o presidente e os filhos, você tinha conhecimento disso, Bebianno?

Não, isso nunca existiu.

Olavo nunca participou de nada.

Eu me lembro que ele era inclusive muito reticente em relação ao nome do Jair lá atrás.

Então, o nome dele passou a ser um pouco mais corrente depois da eleição ganha.

Então, o que acontece é isso, isso que o presidente está cego.

E o que eu observo é isso: várias pessoas e esses puxa sacos que não fizeram absolutamente nada ou fizeram muito pouco ao longo da campanha, tomaram conta ali e hoje o presidente é cercado por essas pessoas.

Então, o rei não tem que lhe avise que está quase nu.


Bebianno sobre filho de Bolsonaro como embaixador: Eduardo

[Aug 7, 2019].

Olá, eu sou Mariana Sanches, repórter da BBC News Brasil.

Ao longo da última semana, eu procurei o ex-ministro do governo Bolsonaro Gustavo Bebiano para comentar as polêmicas declarações do presidente e analisar a gestão, que já completou sete meses.

Bebianno foi um aliado importante de Bolsonaro durante a pré-campanha e a corrida eleitoral.

Espécie de "faz tudo", como ele mesmo diz, acabou demitido em fevereiro, em meio a um escândalo de corrupção e desavenças com o filho do presidente, o Carlos.

Bebianno era presidente do PSL ao longo da campanha.

Desde fevereiro, a Polícia Federal investiga um esquema de candidatos laranja do partido.

De acordo com as denúncias, dirigentes do PSL teriam forjado candidaturas para desviar dinheiro do fundo eleitoral e partidário.

Como dirigente da sigla, caberia a Bebianno a administração desses recursos.

Ele nega qualquer envolvimento com o esquema de corrupção.

Bebianno conversou com a gente por telefone.

Por isso, a qualidade da gravação não é ideal

Ouça a seguir os principais trechos da conversa.

Como é que você vê esses ataques recentes que ele fez ao presidente da OAB, o Felipe Santa Cruz.

Enfim, você achava isso esperado, Bebianno?

Sob ponto de vista institucional, olhando-se, assim, a cadeira presidencial, tendo em vista o peso e a importância que qualquer manifestação do presidente tem, não esperava não.

Mas, levando-se em consideração o lado pessoal, a personalidade do presidente e, às vezes, o pensamento um tanto quanto confuso diante de certas questões, eu esperava sim.

Na verdade, olhando pelo lado pessoal, era uma coisa já até previsível.

O que eu imaginava é que ele fosse acabar absorvendo e se conscientizando do peso da cadeira e da palavra dele.

E fosse observar com um pouco mais de atenção a liturgia que o cargo exige.

Ele se abster de certos comentários que obviamente vão ter um eco muito negativo.

Mas, na verdade, esses últimos 10 ou 15 dias mostram o contrário da sua previsão aí.

Outros comentários que ele fez, que foram vistos como muito agressivos.

A história do filé mignon pro Eduardo, a coisa de não ter fome no Brasil, a coisa do ataque à Miriam Leitão, dizendo que ela não foi torturada, toda a história do Inpe, que foi bastante tensa.

Você acha que isso tudo era esperado dada a personalidade dele?

A vida política dele é alimentada por isso.

Então, ele teve uma carreira solo durante quase 30 anos, nunca estabeleceu vínculos partidários nem nunca se preocupou em fazer uma política com realizações.

Nunca participou de uma comissão importante, nunca presidiu uma comissão importante.

Não tem projetos, não teve projetos muito relevantes enquanto deputado.

E ele aprendeu a marcar o nome dele, a manter o nome dele vivo na política com esse tipo de embate.

Só que agora a função é completamente diferente.

Agora ele tem uma função executiva, que exige dele uma equipe, exige dele formação de equipe, exige dele confiança por parte da equipe, exige dele uma série de componentes, que, da forma como ele vem fazendo, me parece que ele desenvolve uma gestão muito mais pela intimidação.

Ou seja, as pessoas que estão ao redor dele trabalham intimidadas, portanto não tem espontaneidade nem sinceridade para falar o que precisa falar pra ele.

Então, eu acho que ele pode errar na dose e isso pode custar pra ele em algum momento um preço bastante alto.

Ele aposta que vai manter viva essa popularidade ao longo de três anos e meio.

Ele está acostumado a bater nos outros.

Como é que ele vai manter, como é que ele pode manter essa posição, sendo que hoje ele é a vidraça.

Então, ele tem muita sorte, porque o Paulo Guedes desceu de paraquedas nesse projeto dele.

Paulo Guedes não foi uma pessoa que foi capturada por ele, não foi uma escolha dele: "eu quero alguém com o perfil do Paulo Guedes, então eu vou procurar.

Eu quero o Paulo Guedes".

Não foi isso que aconteceu.

O que aconteceu foi que, até por falta de opção, Paulo Guedes foi o nome que apareceu.

Então, ele percebeu num dado momento que o nome do Paulo Guedes respaldava a candidatura dele perante o eleitorado que ele não teria, só teve porque o Paulo Guedes estava engajado na campanha.

Se o Paulo Guedes tivesse se desvinculado da campanha, provavelmente ele não teria ganhado a eleição.

Então, hoje eu enxergo que há dois governos.

Existe um governo que tenta realizar, que é o governo do Paulo Guedes.

E existe o governo do Jair Bolsonaro, que é isso aí que a gente vai ver até o final, esses embates, essas coisas que, na minha opinião, enquanto parlamentar ele sobreviveu e ascendeu com essa estratégia.

No executivo, me parece uma estratégia... Ela por si só não vai ser vitoriosa.

Ele depende fundamentalmente do Paulo Guedes para realizar.

Sem o Paulo Guedes ele não vai realizar nada.

Bebianno, uma coisa interessante que eu tive, enfim, ao longo da campanha... Eu acompanhei vocês bastante de perto e sempre quem estava ao lado do Jair era você, em várias situações e tal.

Não era uma presença que eu notasse os filhos do Jair.

Eles nuncas participaram de absolutamente nada na campanha.

Deixando-se de lado uma parcela minoritária que é radicalíssima, o presidente pode fazer o que ele quiser.

São como os eleitores do Lula, só que com a cor invertida, com o sinal trocado.

Então, para essa pequena parcela, estamos falando de 18%, 20% do eleitorado no máximo num lado.

Do outro lado, você tem ali 20% do PT.

E no meio você tem a grande massa, que são eleitores e não torcedores.

Uma coisa é você ser torcedor fanático, outra é você ser um eleitor racional que quer melhor para o seu país.

Então, a minha opinião é a mesma, dessa maioria, do "centro" digamos assim, de pessoas que olham com perplexidade para esse nível de favorecimento e até de cara de pau, diria, porque o Eduardo, coitado, ele não tem a menor condição.

Ele sequer sabe o papel de um embaixador.

Ele não tem ideia.

Eu convivi de perto com Eduardo, ele não tem noções básicas de negociação.

É um garoto, um menino, um surfista que teve o mandato por causa do pai, depois surfou de novo a onda do pai no segundo mandato dele, na conquista do segundo mandato.

Mas ele é um rapaz absolutamente inexperiente, o nível dele é acadêmico, assim, bem iniciante.

Ele não tem condições.

Há um equívoco monstruoso.

Primeiro, eu acho imoral essa indicação.

Segundo, ela é péssima para o presidente, ela é antiestratégica para o presidente.

O presidente não está adotando uma postura de um estadista que tem que saber lidar com situações de dificuldade.

Uma situação de dificuldade clássica é negociação com outros países.

Os Estados Unidos são muito mais poderosos do que o Brasil.

E as negociações entre Brasil e Estados Unidos.

Eu tenho uma admiração enorme pelos Estados Unidos.

Acho que os Estados Unidos são um exemplo de nação em vários aspectos.

Acho que se o Brasil adotasse um pouco mais da cultura norte-americana, o Brasil enriqueceria muito rapidamente, certos conceitos muito atrasados que o Brasil ainda mantém.

Mas, dito isso, cada país olha para seus próprios interesses.

Então, na medida em que o presidente bota o filho dele à frente desse tipo de papel quaisquer problemas entre Brasil e Estados Unidos, uma simples disputa perante a OMC, por exemplo, a qualquer desavença vai cair direto no colo do presidente.

O presidente vai tornar pessoal problemas que na verdade não teriam essa configuração.

Então, acho que o Brasil perde com essa indicação.

O presidente tem na cabeça dele uma visão até parecida com o Lula, uma coisa meio personalista demais: "ah, que o Trump é meu amigo".

O Trump não é amigo dele.

O Trump é presidente dos Estados Unidos.

Acho que é antiestratégico e perigoso para o próprio presidente esse tipo de medida.

O Carlos mantém uma influência mais a distância.

Quer dizer, próxima, mas velada, não aparece.

Ele gosta de fazer as coisas nos bastidores.

E o Flávio atravessa esse problema aí.

Dos 200 e tantos contratados pelos gabinetes da família, detectaram ali mais de uma centena de familiares.

Isso tudo é muito ruim, porque isso nada mais é do que a velha política.

Você tem algum arrependimento de ter feito com que esse projeto fosse pra frente e acabasse sendo vitorioso também?

Não, acho que cada momento é um momento.

O momento ali era de se buscar uma interrupção da sequência de governos petistas.

Se o PT ganhasse com o Haddad, seria o quinto mandato.

Eu acho que o PT representa exatamente essas ideias atrasadas que acho que empobrecem o Brasil.

Acho que era um momento de ruptura ali, e o objetivo foi alcançado.

O que eu não esperava foi o comportamento posterior do presidente.

Logo após a eleição, o comportamento dele mudou, ele virou outra pessoa.

Pra mim, irreconhecível.

De que maneira?

Me descreve um pouco.

Ele sempre passava uma posição muito humilde, escutava as orientações que nós passávamos pra ele.

Ele nunca foi de mergulhar muito nos assuntos.

Ele tem a característica de tratar de forma superficial as coisas.

Mas ele delegava, deixava a gente trabalhar.

E sempre defendendo a bandeira de moralidade, tudo mais.

Com a chegada do Paulo Guedes, que eu trabalhei muito para manter.

As desavenças ali ao longo da pré-campanha e da campanha foi somente por conta da reforma da Previdência, que o presidente não acreditava na reforma da Previdência.

Era contra.

E nós trabalhávamos muito no sentido de convencê-lo da importância daquilo.

Ele achava que era uma balela.

E o Paulo Guedes chegou a ter alguns estremecimentos com ele ao longo da pré-campanha e da campanha.

E isso me preocupava sobremaneira porque eu tinha consciência.

Se o Paulo Guedes saísse do projeto, ele não seria eleito.

Então, eu acreditava que, depois de eleito ele fosse adotar uma postura mais séria, mais calmo, mais ponderado.

Só que o que ele fez?

Ele puxou pra perto de si uma entourage muito ruim, que o acompanhou durante muitos anos, mas uma entourage muito ruim.

Pessoas muito incultas, pessoas muito agressivas, um nível muito aquém do que precisa um presidente da República.

Quem são essas as pessoas?

Não vou mencionar nomes.

Mas essa entourage permanece ao lado dele, uma entourage muito fraca, muito ruim, sem pulso também, sem opinião própria.

Uma das coisas que ele fez foi afastar as pessoas que têm opinião própria em benefício dele, como o general Santos Cruz, que é uma pessoa seríssima, fidelíssima, sempre foi fiel, sempre foi leal, uma pessoa correta.

Então, o presidente hoje é cercado por pessoas que não ousam dar as suas verdadeiras opiniões.

Essa ascendência do Olavo de Carvalho sobre o presidente e os filhos, você tinha conhecimento disso, Bebianno?

Não, isso nunca existiu.

Olavo nunca participou de nada.

Eu me lembro que ele era inclusive muito reticente em relação ao nome do Jair lá atrás.

Então, o nome dele passou a ser um pouco mais corrente depois da eleição ganha.

Então, o que acontece é isso, isso que o presidente está cego.

E o que eu observo é isso: várias pessoas e esses puxa sacos que não fizeram absolutamente nada ou fizeram muito pouco ao longo da campanha, tomaram conta ali e hoje o presidente é cercado por essas pessoas.

Então, o rei não tem que lhe avise que está quase nu.