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O Assunto (*Generated Transcript*), 29.06.23-Censo - o impacto da população crescer menos

29.06.23-Censo - o impacto da população crescer menos

Foi assim que 120 mil recenseadores chegaram para visitar quase 107 milhões de endereços

pelo país, para traçar o retrato de quanto somos, como nos definimos e onde como vivemos.

Quantas pessoas moram com a senhora?

Moram quatro.

Quatro pessoas.

Respostas para um censo muito esperado.

Sem elas, um país vive como se estivesse na mais absoluta escuridão.

O censo é o único momento em que se realizam pesquisas num nível territorial pequeno.

Essas informações, além de ser diretamente responsáveis pela eficiência de todas as

políticas públicas, também são a base com a qual se constrói qualquer outra pesquisa.

A gente precisa entender se essa população precisa de mais creche ou mais escolas, mais

médicos também, postos de saúde.

Então esses dados são fundamentais.

Prevista para ser definida a cada 10 anos, a pesquisa chega com três anos de atraso.

Um hiato provocado pela pandemia e ampliado pelo sucateamento e falta de verbas para o

instituto responsável pela coleta de dados.

O levantamento é feito a cada 10 anos.

O último foi em 2010.

Esse deveria ter sido feito em 2020, mas foi adiado por causa da pandemia.

Em 2021, novo adiamento.

O orçamento do governo Bolsonaro não previu recursos para a realização do censo, que

só começou quando o Supremo Tribunal Federal determinou que o governo liberasse a verba.

Depois ainda teve falta de recenseadores.

O resultado enfim chegou.

Somos 203 milhões, 62 mil e 512 brasileiros.

12 milhões a mais do que em 2010.

Parece muito, mas o país nunca cresceu tão pouco.

Foi a menor taxa dos últimos 150 anos.

Desde a década de 70, esse crescimento vem diminuindo.

E em 2022 foi a primeira vez que essa taxa ficou abaixo de 1%.

No ano passado, o IBGE chegou a divulgar uma projeção de que o país já teria 207 milhões

e 800 mil moradores.

O Instituto explicou hoje que a diferença aconteceu porque esse cálculo foi feito com

dados defasados, com base no censo anterior.

Da redação do G1, eu sou Nathuzaneri e o assunto hoje é o novo censo demográfico brasileiro.

Um episódio para entender a importância da pesquisa definidora de políticas públicas

e porque o número de brasileiros aumenta cada vez menos.

Uma tendência também observada em outros países.

Minha convidada neste episódio é Suzana Kavenaghi, doutora em demografia pela Universidade

do Texas, nos Estados Unidos, e ex-coordenadora, pesquisadora e professora da pós-graduação

da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.

Quinta-feira, 29 de junho.

Suzana, além da taxa de crescimento baixa, os números revelados pelo censo mostram quase

5 milhões de pessoas a menos do que a previsão feita pelo IBGE.

Então eu te peço para nos explicar por que isso é relevante.

Eu não vejo com preocupação, eu acho que é esperado que realmente a gente tenha um

número menor no censo, porque tem dificuldades, não só as dificuldades da coleta em si,

de todo o problema de campo, mas até da recepção da própria população.

O IBGE tenta reduzir o número de casas em favelas que ainda não responderam ao censo.

8% em todo o Brasil e 16% em São Paulo.

Enquanto a média nacional de pesquisas não respondidas é de 5,5%, em condomínios de

alta renda ela vai a 30%.

Tem um condomínio lá, 50 pessoas, 49 se recusaram.

Mas a gente tem aí ferramentas muito boas com o censo para poder identificar se houve

algum local onde isso está localizado.

O que nós olhamos os dados até agora, a gente vê que esses 5 milhões estão espalhados

pelo país.

Tem alguns lugares que tem um pouquinho mais, mas ele não vai afetar as nossas taxas, nossas

distribuições de população por idade, sexo e outras variáveis socioeconômicas que o

censo coleta.

Segundo o IBGE, a região sudeste ainda concentra a maior parte da população brasileira, mais

de 40%.

Mas a população vem caindo desde a década de 1990, no sudeste, nordeste e no sul.

Já no norte e principalmente no centro-oeste, a população aumentou.

Entre 2010 e 2022, o número de domicílios cresceu e eles passaram a ter menos gente

morando junto.

Vai gerar algumas preocupações de que o Brasil está envelhecendo, a população em

idade trabalhadora é menor proporcionalmente à população que já está inativa, já se

aposentou.

Mas, por outro lado, a renda per capita tende a aumentar mais facilmente em países que

não estão tendo grandes crescimentos populacionais.

De fato, a gente não consegue nenhum censo de nenhuma forma que ele consiga coletar 100%

da população.

As pessoas se esquecem, tem gente que mora na rua.

Então dentro desses 5 milhões, obviamente não são todos, mas um pedacinho deles era

população que mora na rua.

Então quando a gente vai nesse vasto país, buscando em cada um dos rincões a população,

muitas pessoas vão ficando para trás na hora do censo, mas ela não compromete os

dados do resultado final que a gente tem, que a gente tem realmente uma população

localizada, super bem localizada no território, nos seus domicílios, no país.

E por que é relevante a gente estar crescendo menos?

O que nos diz a taxa ser menor em 150 anos?

A taxa de crescimento, a gente até chama taxa de crescimento, mas daqui a pouco a gente

precisa chamar de variação, porque ela vai ficar negativa.

Isso acontece com todos os países em desenvolvimento.

Conforme o país vai se desenvolvendo, a fecundidade vai abaixando, as mulheres vão tendo menos

filhos e a população cresce maiormente devido ao número de novos nascimentos nessa população.

Quanto menos filhos as mulheres têm, menos filhos a gente vai tendo ao longo dos anos.

Em 2005 nós já chegamos a uma taxa de fecundidade que é abaixo do que a gente chama de nível

de reposição.

A gente só está tendo muitos nascimentos ainda, mais nascimentos do que óbitos no

país, porque a gente tem muitas mulheres ainda em idade reprodutiva, então mesmo elas

tendo poucos filhos, elas acabam tendo mais nascimentos do que óbitos na população

como um todo.

Então, assim, é natural que um país, ao se desenvolver, a fecundidade abaixe, as mulheres

ou os casais consigam controlar a fecundidade e ter só os filhos que planejam ter.

Mesmo nas últimas décadas, com famílias menos numerosas, o país continuou crescendo.

Mas com uma diferença, o número de nascimentos começou a cair de forma gradual, ou seja,

a diferença entre nascimentos e óbitos passou a ficar cada vez menor.

A previsão do IBGE era de que essas duas linhas iriam se cruzar em 2047, mas no meio

do caminho apareceu a pandemia.

E aí a população vai diminuir, não só a taxa vai diminuir, mas como a população

em valor absoluto vai diminuir.

E isso vai acontecer no Brasil na próxima década.

A gente vai começar a não só a taxa ser menor cada vez, mas ela vai passar a ser negativa.

Além disso, a gente tem pandemias que podem acontecer de novo, a gente acabou de ver como

a pandemia aumentou o número de óbitos.

Ela é momentânea, aumenta em um período e depois volta aos óbitos normais.

Entre 1950 e 1960, atingimos a maior taxa, 13% de crescimento médio da população ao

ano.

Depois, o índice entrou numa trajetória de queda e entre 2010 e 2022 despencou, 0,5%,

menos da metade do censo anterior.

Pela primeira vez na história brasileira, o número de óbitos é maior do que o número

de nascimentos.

Isso é inédito, isso é inédito.

Então, eu acho que são processos naturais que vão acontecendo e a gente vai ter que

ir ajustando a economia, mercado de trabalho, a educação, enfim, o acesso à saúde para

essa população que vai mudando tanto em número quanto na sua estrutura etária, que

a gente chama, a composição.

Diminuem as pessoas mais jovens e aumentam as pessoas mais idosas e a gente vai ao longo

do tempo ajustando isso com as políticas públicas.

Bom, você explicou que a gente vive uma transição demográfica e hoje nós temos mais pessoas

trabalhando do que crianças e aposentados, mas no futuro nós vamos nos tornar um país

com uma força de trabalho menor e com mais idosos.

Infelizmente, eu acho que a gente está fazendo um péssimo trabalho nesse sentido.

O que a gente chama de bônus demográfico, que é o período onde a gente tem o meio

da pirâmide etária, as pessoas em idade produtiva alcançando o seu máximo produtivo,

potencial de trabalho, a gente não aproveitou.

Por dois motivos, porque não colocou todas as pessoas no mercado de trabalho e quando

colocou, não colocou de uma forma que eu chamo de decente, com trabalho formal, bem

pago, para as pessoas construírem o seu pé de meia para quando chegarem em idade mais

avançada conseguirem ou ter uma aposentadoria ou sobreviver daquilo que ganhou durante a

vida.

A gente não fez isso no país.

Não investiu o necessário em educação para dar profissionalização suficiente para

essa população.

O mercado informal, ou seja, as pessoas que trabalham sem prever o seu futuro, é muito

alto.

Então, pessoas fazendo bico, sem pagar previdência.

Então, a gente ainda tem um tempinho para tentar consertar esse problema, mas é muito

rápido.

As políticas públicas precisam trabalhar de uma maneira muito forte na área de educação,

garantindo educação de qualidade, profissionalizando essas pessoas, dão acesso adequado à saúde

para que as pessoas tenham realmente condições e vivam uma vida saudável e plenamente a

sua vida de emprego, com saúde, para depois, na velhice, poder desfrutar.

Então, eu acho que o Brasil tem falhado muito, não só o Brasil, a América Latina como

um todo.

O que eu acho que é um bônus demográfico, nós não aproveitamos como alguns países

asiáticos, ou o que a gente chama de tigres asiáticos, usaram muito e conseguiram se

desenvolver.

E o problema com isso, se você me perguntar qual é o problema, o problema é que se nós

passarmos a ser um país envelhecido antes do país dar aquele salto para o país de

renda média ou renda alta, nunca mais a gente vai conseguir isso, porque aí não vai ter

a força de trabalho suficiente para poder dar esse salto.

Então, assim, estamos correndo contra o tempo nos últimos momentos do bônus demográfico

para que as políticas públicas realmente invistam em educação de qualidade e mercado

de trabalho decente para a população como um todo.

Ou seja, significa que no futuro vai precisar se ter mais gasto com atenção com as crianças

e também mais gasto previdenciário, o que pode gerar uma distorção enorme para o Estado.

O cenário que você pinta, Suzana, é um cenário preocupante.

O que os países que já estão mais à frente nesse processo de transição populacional

fizeram?

Você citou, por exemplo, os tigres asiáticos.

O Brasil pode se espelhar nesses casos, mas queria primeiro entender como é que eles

surfaram essa onda primeiro.

A Coreia do Sul, por exemplo, foi um país que quando percebeu que a fecundidade estava

baixando e ia pieder essa oportunidade, eles investiram muito em educação.

Deram educação de qualidade para toda a população.

E hoje em dia, a Coreia, se você é um exemplo de país com uma boa educação.

Uma das consultorias mais respeitadas do mundo na avaliação de sistemas de ensino colocou

o Brasil no penúltimo lugar no ranking da qualidade da educação.

O estudo analisou dados de 40 países.

No topo do ranking, duas superpotências da educação, Finlândia e Coreia do Sul.

A pesquisa levou em conta a qualidade dos professores e o desempenho escolar no ensino

fundamental em áreas como matemática, ciências e línguas.

Outros critérios foram os índices de alfabetização e de conclusão de cursos universitários.

Só a educação garante o mercado de trabalho decente, emprego para todos?

Não.

Então precisa agora, depois desse primeiro investimento na educação, você precisa

do investimento e obviamente é paralelo, que isso tudo tem que acontecer, um investimento

para empregos que são realmente de qualidade.

A maior parte da nossa população não pagou previdência.

E o que a gente tem é uma mistura de assistência social com previdência.

Todas as pessoas que trabalharam na área rural não tiveram previdência pagas lá atrás,

a gente tem que ir com assistência social, mas é via previdência corrigir esses problemas

e a gente tem que passar a evitar.

Os países que desenvolveram corrigiram esses erros do passado e tentaram olhar para frente

e dizer, bom, essa população e idade produtiva vai diminuir, o que eu tenho que fazer?

Eu tenho que dar maior chance, não só de educação e um bom mercado de trabalho para

quem tem a idade de trabalhar, como expandir também e trazer para o mercado de trabalho

pessoas de idades mais avançadas.

A gente está vendo que a tecnologia tem ajudado a avanços incríveis no mercado de trabalho,

aumento de produtividade.

Então o que esses países fizeram foi trabalhar em todas as áreas para aumentar a taxa de

produtividade dos seus trabalhadores.

Se a gente não fizer isso, a gente vai ficar para trás.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com a Suzana.

Suzana, agora eu quero abordar contigo um outro ponto que o censo nos revelou, a ocupação

das cidades.

A pesquisa mostrou que oito das 27 capitais brasileiras tiveram uma queda inédita no

número de habitantes e a gente também viu uma alta na concentração de pessoas em cidades

de médio porte.

Como a gente pode ler essas pequenas mudanças e como a mudança na distribuição da população

acaba afetando as definições de políticas públicas?

Esse movimento de uma desconcentração dos centros urbanos, grandes metrópoles, grandes

áreas urbanas, já vinha acontecendo de uma maneira mais lenta, mas agora a gente conseguiu

o consenso depois de 12 anos, ver isso com um pouco, oito capitais estão diminuindo

em tamanho, elas não passaram a diminuir de repente, elas já vinham num ritmo de crescimento

menor e agora estão crescendo menos.

O censo mostra que a população brasileira continua aglomerada nos grandes centros urbanos.

A concentração urbana de São Paulo reúne 20 milhões e 600 mil pessoas.

Já as de Goiânia e Brasília foram as que mais cresceram.

E a do Rio foi uma das que mais encolheram.

O censo também detectou um movimento de saída das grandes cidades.

Entre as dez cidades mais populosas do país, cinco perderam moradores entre 2010 e 2022.

Salvador, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Fortaleza.

O próprio envelhecimento populacional, as pessoas se aposentam e não querem viver mais

nessas áreas conurbadas, com problemas de mobilidade, com problemas de violência.

Então você tem um movimento natural para cidades de médio e pequeno porte, de uma

população já um pouco mais idosa, que já não está em idade de trabalho.

A América Latina, de fato, ela tem uma peculiaridade de concentração em áreas urbanas, um êxodo

rural que a gente teve do passado, muito forte.

Então todo o trabalho, toda a infraestrutura estava nos centros urbanos.

Hoje em dia a gente já vê que também a tecnologia ajuda, não só aqueles que estão

aposentados, mas aqueles que ainda estão no mercado de trabalho não necessariamente

precisam estar nos grandes centros para poder trabalhar e ter uma vida altamente produtiva.

Podem estar em cidades menores, com melhores condições de vida.

Eu acho que é um movimento natural.

E das 20 maiores cidades que perderam habitantes, seis estão no estado do Rio.

A primeira do ranking é São Gonçalo, que tinha quase um milhão de habitantes e perdeu

mais de 10% da população entre 2010 e 2022.

A paz, esse silêncio, fala por si só.

Mas eu estava morando no centrão da cidade, pegando muito trânsito.

Durante a pandemia eu vim passar um fim de semana só, que era aniversário da minha

mãe, para conhecer.

E ali mesmo, assim que eu pisei nesse chão aqui, eu notei que era meu lugar.

Eu acho que ele vai continuar acontecendo na próxima década, mas ele vai ter um limite.

Mas eu acho que a tecnologia vai ajudar a gente a resolver problemas de comunicação,

de transporte.

Então assim, eu sou muito otimista com esses movimentos.

Eu não vejo como ruim, ao contrário.

Um pouco de desconcentração desses nossos centros urbanos tão conurbados, eu acho até bom.

Faz sentido.

O Censo, Suzana, ele deveria ter sido feito em 2020.

E aí a pesquisa acabou enfrentando uma série de dificuldades, como a quantidade de gente

que acabou se recusando a responder à pesquisa, queria saber de você qual é a justificativa

apontada, se é negacionismo, se é outra coisa.

E também a quantidade de recursos disponíveis para a coleta e para o processamento dos dados.

Só a contexto de memória, o governo Bolsonaro e sobretudo o então Ministério da Economia

foi muito pressionado para colocar dinheiro para o IBGE conseguir fazer o Censo e demorou-se

muito para a ficha cair.

Então eu te pergunto, como é que você enxerga essas duas dificuldades e quais os possíveis

efeitos disso e como se evita no futuro?

Ou seja, como se engaja as pessoas a responderem às perguntas dos recenseadores e como se

garante recurso para que a gente tenha o Censo no período pré-determinado de 10 em 10 anos?

O aumento da não resposta, ele acontece mundialmente, não é só no Brasil, não é só nos países

onde a gente teve polarização política, vai havendo as pessoas vão se exaurindo de receber,

porque cada vez mais você vê uma pesquisa, usa um hospital ou um centro de emergência,

você responde uma pesquisa, usa, então assim, a cada momento tem alguém fazendo alguma pergunta

e isso no mundo inteiro vai criando essa exaustão das pessoas que são entrevistadas,

então é natural que aumente essa não resposta.

Agora para o Censo, eu acho que o que falta e já pensando aí o que a gente tem que pensar para o futuro,

é uma consciência de cidadania, eu acho que as pessoas têm que ter noção que elas precisam responder,

não porque ela vai estar ajudando o governo A ou governo B, ela está ajudando o país,

ela está ajudando a sociedade a se conhecer e para que o recurso que é escasso e que cada vez vai ser mais escasso

no orçamento da União, dos estados e dos municípios, que ele seja bem usado.

Eu sempre uso esse exemplo porque eu acho que ele é muito prático, das crianças,

se você não sabe quantas crianças de 0 a 2 anos eu tenho na minha população,

eu não sei quanta vacina de poliomielite eu tenho que colocar naquele município.

A outra forma que a gente vai vendo, que o futuro vai trazendo para a gente a tecnologia,

é que a gente vai buscando novas formas, não necessariamente a gente vai bater na porta da pessoa

e fazer as perguntas, mas vai buscar outras formas, de buscar em registros administrativos,

outras formas de coleta como por telefone, por internet, que o Censo até teve essa opção,

mas foi pouquíssimo usado, menos de 1%.

Eu acho que no futuro a gente vai usar mais isso, quando as pessoas começarem a se acostumar,

ter credibilidade na instituição e falar assim, não, eu vou responder, essa informação não vai ser usada

de maneira errada, ela vai ser usada para a política pública, para o bem do país,

aí elas passam a responder, então eu acho que isso é super importante.

Agora, para tudo isso, é isso que você falou, o país precisa de recurso,

você não consegue produzir um Censo sem o recurso adequado.

O IBGE comunicou a saída de Suzana Cordeiro Guerra da presidência do Instituto,

num anúncio curto.

O pedido veio um dia depois que o Congresso Nacional aprovou o orçamento de 2021,

com um corte de quase 90% do valor previsto para o Censo demográfico.

Dos R$ 2 bilhões previstos inicialmente, sobraram menos de R$ 100 milhões.

Com isso, o IBGE reduziu o número de questões do Censo de 112 para 76,

o que provocou protestos e críticas de servidores.

A Suzana Guerra decidiu deixar o cargo porque considerou inaceitável reduzir a quase zero

o orçamento do Censo demográfico, e que a medida vai comprometer a base de dados do Brasil

para a geração de várias políticas públicas, principalmente as mais urgentes,

saúde, educação, transporte e emprego.

Foi muito difícil, o IBGE fez esse Censo com poucos recursos,

e de fato, não só recursos financeiros, com recursos humanos muito restritos.

O IBGE teve aposentadorias ao longo dessa última década,

mais de 40% do seu corpo funcional se aposentou.

E você não consegue manter essas pessoas que ganham conhecimento,

experiência para fazer as pesquisas bem feitas,

e aí elas saem porque se aposentam e você não formou os quadros novamente.

E isso é essencial, que o país tenha, que ele invista dinheiro,

não só no momento do Censo, mas que ele tenha um planejamento adequado

para a produção dos dados, das informações que o país precisa

durante os anos intercensitários também, não só durante a década.

Então, isso é essencial, que a gente tenha a noção que realmente

colocar recursos para produzir os dados não é caro.

Ele bem planejado, ele vai ser bem usado e vai trazer um retorno muito maior

do que aquilo que a gente pode imaginar.

Suzana, foi um prazer te ouvir com tanta clareza,

e aproveito aqui em nome da equipe do assunto para te mandar um abraço,

e para mandar um abraço também aos recenseadores,

que fizeram um trabalho difícil e que, enfim, atuaram com muita dedicação.

Obrigada por ter topado falar com a gente.

Eu que agradeço e também, assim, agradeço muito você lembrar,

eu acho que os recenseadores são a base fundamental para fazer a pesquisa.

E olha, eu sempre digo, esse pessoal tem o couro grosso,

porque trabalhou no sol, trabalhou na chuva, pesado,

resistiu um trabalho enorme, mas não desistiram.

E o IBGE como um todo também, aqui queria deixar de público

o agradecimento aos técnicos todos que trabalharam dia e noite

para que esse censo pudesse sair.

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Comigo na equipe do assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato,

Lorena Lara, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczorowski,

Gabriel de Campos, Guilherme Romero e Nayara Fernandes.

Eu sou Nath Zaneri e fico por aqui.

Até o próximo assunto.

Legendas pela comunidade Amara.org

29.06.23-Censo - o impacto da população crescer menos 29.06.23-Volkszählung - die Auswirkungen des geringeren Bevölkerungswachstums 06.29.23-Census - the impact of population growth slowing down

Foi assim que 120 mil recenseadores chegaram para visitar quase 107 milhões de endereços

pelo país, para traçar o retrato de quanto somos, como nos definimos e onde como vivemos.

Quantas pessoas moram com a senhora?

Moram quatro.

Quatro pessoas.

Respostas para um censo muito esperado.

Sem elas, um país vive como se estivesse na mais absoluta escuridão.

O censo é o único momento em que se realizam pesquisas num nível territorial pequeno.

Essas informações, além de ser diretamente responsáveis pela eficiência de todas as

políticas públicas, também são a base com a qual se constrói qualquer outra pesquisa.

A gente precisa entender se essa população precisa de mais creche ou mais escolas, mais

médicos também, postos de saúde.

Então esses dados são fundamentais.

Prevista para ser definida a cada 10 anos, a pesquisa chega com três anos de atraso.

Um hiato provocado pela pandemia e ampliado pelo sucateamento e falta de verbas para o

instituto responsável pela coleta de dados.

O levantamento é feito a cada 10 anos.

O último foi em 2010.

Esse deveria ter sido feito em 2020, mas foi adiado por causa da pandemia.

Em 2021, novo adiamento.

O orçamento do governo Bolsonaro não previu recursos para a realização do censo, que

só começou quando o Supremo Tribunal Federal determinou que o governo liberasse a verba.

Depois ainda teve falta de recenseadores.

O resultado enfim chegou.

Somos 203 milhões, 62 mil e 512 brasileiros.

12 milhões a mais do que em 2010.

Parece muito, mas o país nunca cresceu tão pouco.

Foi a menor taxa dos últimos 150 anos.

Desde a década de 70, esse crescimento vem diminuindo.

E em 2022 foi a primeira vez que essa taxa ficou abaixo de 1%.

No ano passado, o IBGE chegou a divulgar uma projeção de que o país já teria 207 milhões

e 800 mil moradores.

O Instituto explicou hoje que a diferença aconteceu porque esse cálculo foi feito com

dados defasados, com base no censo anterior.

Da redação do G1, eu sou Nathuzaneri e o assunto hoje é o novo censo demográfico brasileiro.

Um episódio para entender a importância da pesquisa definidora de políticas públicas

e porque o número de brasileiros aumenta cada vez menos.

Uma tendência também observada em outros países.

Minha convidada neste episódio é Suzana Kavenaghi, doutora em demografia pela Universidade

do Texas, nos Estados Unidos, e ex-coordenadora, pesquisadora e professora da pós-graduação

da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.

Quinta-feira, 29 de junho.

Suzana, além da taxa de crescimento baixa, os números revelados pelo censo mostram quase

5 milhões de pessoas a menos do que a previsão feita pelo IBGE.

Então eu te peço para nos explicar por que isso é relevante.

Eu não vejo com preocupação, eu acho que é esperado que realmente a gente tenha um

número menor no censo, porque tem dificuldades, não só as dificuldades da coleta em si,

de todo o problema de campo, mas até da recepção da própria população.

O IBGE tenta reduzir o número de casas em favelas que ainda não responderam ao censo.

8% em todo o Brasil e 16% em São Paulo.

Enquanto a média nacional de pesquisas não respondidas é de 5,5%, em condomínios de

alta renda ela vai a 30%.

Tem um condomínio lá, 50 pessoas, 49 se recusaram.

Mas a gente tem aí ferramentas muito boas com o censo para poder identificar se houve

algum local onde isso está localizado.

O que nós olhamos os dados até agora, a gente vê que esses 5 milhões estão espalhados

pelo país.

Tem alguns lugares que tem um pouquinho mais, mas ele não vai afetar as nossas taxas, nossas

distribuições de população por idade, sexo e outras variáveis socioeconômicas que o

censo coleta.

Segundo o IBGE, a região sudeste ainda concentra a maior parte da população brasileira, mais

de 40%.

Mas a população vem caindo desde a década de 1990, no sudeste, nordeste e no sul.

Já no norte e principalmente no centro-oeste, a população aumentou.

Entre 2010 e 2022, o número de domicílios cresceu e eles passaram a ter menos gente

morando junto.

Vai gerar algumas preocupações de que o Brasil está envelhecendo, a população em

idade trabalhadora é menor proporcionalmente à população que já está inativa, já se

aposentou.

Mas, por outro lado, a renda per capita tende a aumentar mais facilmente em países que

não estão tendo grandes crescimentos populacionais.

De fato, a gente não consegue nenhum censo de nenhuma forma que ele consiga coletar 100%

da população.

As pessoas se esquecem, tem gente que mora na rua.

Então dentro desses 5 milhões, obviamente não são todos, mas um pedacinho deles era

população que mora na rua.

Então quando a gente vai nesse vasto país, buscando em cada um dos rincões a população,

muitas pessoas vão ficando para trás na hora do censo, mas ela não compromete os

dados do resultado final que a gente tem, que a gente tem realmente uma população

localizada, super bem localizada no território, nos seus domicílios, no país.

E por que é relevante a gente estar crescendo menos?

O que nos diz a taxa ser menor em 150 anos?

A taxa de crescimento, a gente até chama taxa de crescimento, mas daqui a pouco a gente

precisa chamar de variação, porque ela vai ficar negativa.

Isso acontece com todos os países em desenvolvimento.

Conforme o país vai se desenvolvendo, a fecundidade vai abaixando, as mulheres vão tendo menos

filhos e a população cresce maiormente devido ao número de novos nascimentos nessa população.

Quanto menos filhos as mulheres têm, menos filhos a gente vai tendo ao longo dos anos.

Em 2005 nós já chegamos a uma taxa de fecundidade que é abaixo do que a gente chama de nível

de reposição.

A gente só está tendo muitos nascimentos ainda, mais nascimentos do que óbitos no

país, porque a gente tem muitas mulheres ainda em idade reprodutiva, então mesmo elas

tendo poucos filhos, elas acabam tendo mais nascimentos do que óbitos na população

como um todo.

Então, assim, é natural que um país, ao se desenvolver, a fecundidade abaixe, as mulheres

ou os casais consigam controlar a fecundidade e ter só os filhos que planejam ter.

Mesmo nas últimas décadas, com famílias menos numerosas, o país continuou crescendo.

Mas com uma diferença, o número de nascimentos começou a cair de forma gradual, ou seja,

a diferença entre nascimentos e óbitos passou a ficar cada vez menor.

A previsão do IBGE era de que essas duas linhas iriam se cruzar em 2047, mas no meio

do caminho apareceu a pandemia.

E aí a população vai diminuir, não só a taxa vai diminuir, mas como a população

em valor absoluto vai diminuir.

E isso vai acontecer no Brasil na próxima década.

A gente vai começar a não só a taxa ser menor cada vez, mas ela vai passar a ser negativa.

Além disso, a gente tem pandemias que podem acontecer de novo, a gente acabou de ver como

a pandemia aumentou o número de óbitos.

Ela é momentânea, aumenta em um período e depois volta aos óbitos normais.

Entre 1950 e 1960, atingimos a maior taxa, 13% de crescimento médio da população ao

ano.

Depois, o índice entrou numa trajetória de queda e entre 2010 e 2022 despencou, 0,5%,

menos da metade do censo anterior.

Pela primeira vez na história brasileira, o número de óbitos é maior do que o número

de nascimentos.

Isso é inédito, isso é inédito.

Então, eu acho que são processos naturais que vão acontecendo e a gente vai ter que

ir ajustando a economia, mercado de trabalho, a educação, enfim, o acesso à saúde para

essa população que vai mudando tanto em número quanto na sua estrutura etária, que

a gente chama, a composição.

Diminuem as pessoas mais jovens e aumentam as pessoas mais idosas e a gente vai ao longo

do tempo ajustando isso com as políticas públicas.

Bom, você explicou que a gente vive uma transição demográfica e hoje nós temos mais pessoas

trabalhando do que crianças e aposentados, mas no futuro nós vamos nos tornar um país

com uma força de trabalho menor e com mais idosos.

Infelizmente, eu acho que a gente está fazendo um péssimo trabalho nesse sentido.

O que a gente chama de bônus demográfico, que é o período onde a gente tem o meio

da pirâmide etária, as pessoas em idade produtiva alcançando o seu máximo produtivo,

potencial de trabalho, a gente não aproveitou.

Por dois motivos, porque não colocou todas as pessoas no mercado de trabalho e quando

colocou, não colocou de uma forma que eu chamo de decente, com trabalho formal, bem

pago, para as pessoas construírem o seu pé de meia para quando chegarem em idade mais

avançada conseguirem ou ter uma aposentadoria ou sobreviver daquilo que ganhou durante a

vida.

A gente não fez isso no país.

Não investiu o necessário em educação para dar profissionalização suficiente para

essa população.

O mercado informal, ou seja, as pessoas que trabalham sem prever o seu futuro, é muito

alto.

Então, pessoas fazendo bico, sem pagar previdência.

Então, a gente ainda tem um tempinho para tentar consertar esse problema, mas é muito

rápido.

As políticas públicas precisam trabalhar de uma maneira muito forte na área de educação,

garantindo educação de qualidade, profissionalizando essas pessoas, dão acesso adequado à saúde

para que as pessoas tenham realmente condições e vivam uma vida saudável e plenamente a

sua vida de emprego, com saúde, para depois, na velhice, poder desfrutar.

Então, eu acho que o Brasil tem falhado muito, não só o Brasil, a América Latina como

um todo.

O que eu acho que é um bônus demográfico, nós não aproveitamos como alguns países

asiáticos, ou o que a gente chama de tigres asiáticos, usaram muito e conseguiram se

desenvolver.

E o problema com isso, se você me perguntar qual é o problema, o problema é que se nós

passarmos a ser um país envelhecido antes do país dar aquele salto para o país de

renda média ou renda alta, nunca mais a gente vai conseguir isso, porque aí não vai ter

a força de trabalho suficiente para poder dar esse salto.

Então, assim, estamos correndo contra o tempo nos últimos momentos do bônus demográfico

para que as políticas públicas realmente invistam em educação de qualidade e mercado

de trabalho decente para a população como um todo.

Ou seja, significa que no futuro vai precisar se ter mais gasto com atenção com as crianças

e também mais gasto previdenciário, o que pode gerar uma distorção enorme para o Estado.

O cenário que você pinta, Suzana, é um cenário preocupante.

O que os países que já estão mais à frente nesse processo de transição populacional

fizeram?

Você citou, por exemplo, os tigres asiáticos.

O Brasil pode se espelhar nesses casos, mas queria primeiro entender como é que eles

surfaram essa onda primeiro.

A Coreia do Sul, por exemplo, foi um país que quando percebeu que a fecundidade estava

baixando e ia pieder essa oportunidade, eles investiram muito em educação.

Deram educação de qualidade para toda a população.

E hoje em dia, a Coreia, se você é um exemplo de país com uma boa educação.

Uma das consultorias mais respeitadas do mundo na avaliação de sistemas de ensino colocou

o Brasil no penúltimo lugar no ranking da qualidade da educação.

O estudo analisou dados de 40 países.

No topo do ranking, duas superpotências da educação, Finlândia e Coreia do Sul.

A pesquisa levou em conta a qualidade dos professores e o desempenho escolar no ensino

fundamental em áreas como matemática, ciências e línguas.

Outros critérios foram os índices de alfabetização e de conclusão de cursos universitários.

Só a educação garante o mercado de trabalho decente, emprego para todos?

Não.

Então precisa agora, depois desse primeiro investimento na educação, você precisa

do investimento e obviamente é paralelo, que isso tudo tem que acontecer, um investimento

para empregos que são realmente de qualidade.

A maior parte da nossa população não pagou previdência.

E o que a gente tem é uma mistura de assistência social com previdência.

Todas as pessoas que trabalharam na área rural não tiveram previdência pagas lá atrás,

a gente tem que ir com assistência social, mas é via previdência corrigir esses problemas

e a gente tem que passar a evitar.

Os países que desenvolveram corrigiram esses erros do passado e tentaram olhar para frente

e dizer, bom, essa população e idade produtiva vai diminuir, o que eu tenho que fazer?

Eu tenho que dar maior chance, não só de educação e um bom mercado de trabalho para

quem tem a idade de trabalhar, como expandir também e trazer para o mercado de trabalho

pessoas de idades mais avançadas.

A gente está vendo que a tecnologia tem ajudado a avanços incríveis no mercado de trabalho,

aumento de produtividade.

Então o que esses países fizeram foi trabalhar em todas as áreas para aumentar a taxa de

produtividade dos seus trabalhadores.

Se a gente não fizer isso, a gente vai ficar para trás.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com a Suzana.

Suzana, agora eu quero abordar contigo um outro ponto que o censo nos revelou, a ocupação

das cidades.

A pesquisa mostrou que oito das 27 capitais brasileiras tiveram uma queda inédita no

número de habitantes e a gente também viu uma alta na concentração de pessoas em cidades

de médio porte.

Como a gente pode ler essas pequenas mudanças e como a mudança na distribuição da população

acaba afetando as definições de políticas públicas?

Esse movimento de uma desconcentração dos centros urbanos, grandes metrópoles, grandes

áreas urbanas, já vinha acontecendo de uma maneira mais lenta, mas agora a gente conseguiu

o consenso depois de 12 anos, ver isso com um pouco, oito capitais estão diminuindo

em tamanho, elas não passaram a diminuir de repente, elas já vinham num ritmo de crescimento

menor e agora estão crescendo menos.

O censo mostra que a população brasileira continua aglomerada nos grandes centros urbanos.

A concentração urbana de São Paulo reúne 20 milhões e 600 mil pessoas.

Já as de Goiânia e Brasília foram as que mais cresceram.

E a do Rio foi uma das que mais encolheram.

O censo também detectou um movimento de saída das grandes cidades.

Entre as dez cidades mais populosas do país, cinco perderam moradores entre 2010 e 2022.

Salvador, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Fortaleza.

O próprio envelhecimento populacional, as pessoas se aposentam e não querem viver mais

nessas áreas conurbadas, com problemas de mobilidade, com problemas de violência.

Então você tem um movimento natural para cidades de médio e pequeno porte, de uma

população já um pouco mais idosa, que já não está em idade de trabalho.

A América Latina, de fato, ela tem uma peculiaridade de concentração em áreas urbanas, um êxodo

rural que a gente teve do passado, muito forte.

Então todo o trabalho, toda a infraestrutura estava nos centros urbanos.

Hoje em dia a gente já vê que também a tecnologia ajuda, não só aqueles que estão

aposentados, mas aqueles que ainda estão no mercado de trabalho não necessariamente

precisam estar nos grandes centros para poder trabalhar e ter uma vida altamente produtiva.

Podem estar em cidades menores, com melhores condições de vida.

Eu acho que é um movimento natural.

E das 20 maiores cidades que perderam habitantes, seis estão no estado do Rio.

A primeira do ranking é São Gonçalo, que tinha quase um milhão de habitantes e perdeu

mais de 10% da população entre 2010 e 2022.

A paz, esse silêncio, fala por si só.

Mas eu estava morando no centrão da cidade, pegando muito trânsito.

Durante a pandemia eu vim passar um fim de semana só, que era aniversário da minha

mãe, para conhecer.

E ali mesmo, assim que eu pisei nesse chão aqui, eu notei que era meu lugar.

Eu acho que ele vai continuar acontecendo na próxima década, mas ele vai ter um limite.

Mas eu acho que a tecnologia vai ajudar a gente a resolver problemas de comunicação,

de transporte.

Então assim, eu sou muito otimista com esses movimentos.

Eu não vejo como ruim, ao contrário.

Um pouco de desconcentração desses nossos centros urbanos tão conurbados, eu acho até bom.

Faz sentido.

O Censo, Suzana, ele deveria ter sido feito em 2020.

E aí a pesquisa acabou enfrentando uma série de dificuldades, como a quantidade de gente

que acabou se recusando a responder à pesquisa, queria saber de você qual é a justificativa

apontada, se é negacionismo, se é outra coisa.

E também a quantidade de recursos disponíveis para a coleta e para o processamento dos dados.

Só a contexto de memória, o governo Bolsonaro e sobretudo o então Ministério da Economia

foi muito pressionado para colocar dinheiro para o IBGE conseguir fazer o Censo e demorou-se

muito para a ficha cair.

Então eu te pergunto, como é que você enxerga essas duas dificuldades e quais os possíveis

efeitos disso e como se evita no futuro?

Ou seja, como se engaja as pessoas a responderem às perguntas dos recenseadores e como se

garante recurso para que a gente tenha o Censo no período pré-determinado de 10 em 10 anos?

O aumento da não resposta, ele acontece mundialmente, não é só no Brasil, não é só nos países

onde a gente teve polarização política, vai havendo as pessoas vão se exaurindo de receber,

porque cada vez mais você vê uma pesquisa, usa um hospital ou um centro de emergência,

você responde uma pesquisa, usa, então assim, a cada momento tem alguém fazendo alguma pergunta

e isso no mundo inteiro vai criando essa exaustão das pessoas que são entrevistadas,

então é natural que aumente essa não resposta.

Agora para o Censo, eu acho que o que falta e já pensando aí o que a gente tem que pensar para o futuro,

é uma consciência de cidadania, eu acho que as pessoas têm que ter noção que elas precisam responder,

não porque ela vai estar ajudando o governo A ou governo B, ela está ajudando o país,

ela está ajudando a sociedade a se conhecer e para que o recurso que é escasso e que cada vez vai ser mais escasso

no orçamento da União, dos estados e dos municípios, que ele seja bem usado.

Eu sempre uso esse exemplo porque eu acho que ele é muito prático, das crianças,

se você não sabe quantas crianças de 0 a 2 anos eu tenho na minha população,

eu não sei quanta vacina de poliomielite eu tenho que colocar naquele município.

A outra forma que a gente vai vendo, que o futuro vai trazendo para a gente a tecnologia,

é que a gente vai buscando novas formas, não necessariamente a gente vai bater na porta da pessoa

e fazer as perguntas, mas vai buscar outras formas, de buscar em registros administrativos,

outras formas de coleta como por telefone, por internet, que o Censo até teve essa opção,

mas foi pouquíssimo usado, menos de 1%.

Eu acho que no futuro a gente vai usar mais isso, quando as pessoas começarem a se acostumar,

ter credibilidade na instituição e falar assim, não, eu vou responder, essa informação não vai ser usada

de maneira errada, ela vai ser usada para a política pública, para o bem do país,

aí elas passam a responder, então eu acho que isso é super importante.

Agora, para tudo isso, é isso que você falou, o país precisa de recurso,

você não consegue produzir um Censo sem o recurso adequado.

O IBGE comunicou a saída de Suzana Cordeiro Guerra da presidência do Instituto,

num anúncio curto.

O pedido veio um dia depois que o Congresso Nacional aprovou o orçamento de 2021,

com um corte de quase 90% do valor previsto para o Censo demográfico.

Dos R$ 2 bilhões previstos inicialmente, sobraram menos de R$ 100 milhões.

Com isso, o IBGE reduziu o número de questões do Censo de 112 para 76,

o que provocou protestos e críticas de servidores.

A Suzana Guerra decidiu deixar o cargo porque considerou inaceitável reduzir a quase zero

o orçamento do Censo demográfico, e que a medida vai comprometer a base de dados do Brasil

para a geração de várias políticas públicas, principalmente as mais urgentes,

saúde, educação, transporte e emprego.

Foi muito difícil, o IBGE fez esse Censo com poucos recursos,

e de fato, não só recursos financeiros, com recursos humanos muito restritos.

O IBGE teve aposentadorias ao longo dessa última década,

mais de 40% do seu corpo funcional se aposentou.

E você não consegue manter essas pessoas que ganham conhecimento,

experiência para fazer as pesquisas bem feitas,

e aí elas saem porque se aposentam e você não formou os quadros novamente.

E isso é essencial, que o país tenha, que ele invista dinheiro,

não só no momento do Censo, mas que ele tenha um planejamento adequado

para a produção dos dados, das informações que o país precisa

durante os anos intercensitários também, não só durante a década.

Então, isso é essencial, que a gente tenha a noção que realmente

colocar recursos para produzir os dados não é caro.

Ele bem planejado, ele vai ser bem usado e vai trazer um retorno muito maior

do que aquilo que a gente pode imaginar.

Suzana, foi um prazer te ouvir com tanta clareza,

e aproveito aqui em nome da equipe do assunto para te mandar um abraço,

e para mandar um abraço também aos recenseadores,

que fizeram um trabalho difícil e que, enfim, atuaram com muita dedicação.

Obrigada por ter topado falar com a gente.

Eu que agradeço e também, assim, agradeço muito você lembrar,

eu acho que os recenseadores são a base fundamental para fazer a pesquisa.

E olha, eu sempre digo, esse pessoal tem o couro grosso,

porque trabalhou no sol, trabalhou na chuva, pesado,

resistiu um trabalho enorme, mas não desistiram.

E o IBGE como um todo também, aqui queria deixar de público

o agradecimento aos técnicos todos que trabalharam dia e noite

para que esse censo pudesse sair.

Este foi o Assunto Podcast Diário disponível no G1,

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Comigo na equipe do assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato,

Lorena Lara, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczorowski,

Gabriel de Campos, Guilherme Romero e Nayara Fernandes.

Eu sou Nath Zaneri e fico por aqui.

Até o próximo assunto.

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