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Buenas Ideias, OS SETE POVOS DAS MISSÕES ORIENTAIS - EDUARDO BUENO - YouTube (1)

OS SETE POVOS DAS MISSÕES ORIENTAIS - EDUARDO BUENO - YouTube (1)

Pegue o seu lenço... Tá, ninguém mais usa lenço. Pegue o seu guardanapo, toalha de

rosto, ou talvez até uma toalha de banho. E, para aqueles que me dizem que veem os episódios

do canal Buenas Ideias na cama, pegue uma colcha. Para que? Para enxugar as lágrimas.

Para enxugar as tuas lágrimas. Porque eu vou contar agora para você um dos mais trágicos,

um dos mais absurdos, um dos mais cruéis episódios da história do Brasil, que o Brasil

faz de conta que não sabe. Esse até sabe um pouquinho mais. Porque você sabe, eu já

te contei aqui, pra comemorar o centésimo episódio do canal Buenas Ideias, foi sobre

as Missões. A criação das Missões. O 100o e o 101o. Esse não é o 102o episódio, mas

esse episódio está sendo gravado para comemorar os 500 mil inscritos do canal Buenas Ideias,

marca que atingimos recentemente e que segue crescendo. Então, conforme eu havia prometido,

quando eu contei aqui a gênese das Missões, um episódio que ninguém conhece, quando

neguinho fala das Missões, tá, já ouviu falar das Missões, mas não daquelas que

eu contei, que se iniciaram no início do século 17. Só sabem a história, os que

sabem, sabem um pouco da história posterior das Missões, mas nem essa de fato sabem.

Saberão a partir de agora, porque eu vou contar para você a tragédia dos Sete Povos

das Missões. "Missões, missões, por que nunca aprendemos as trágicas lições?".

Meu, é uma história muito inacreditável. Se você não viu, vá lá ver os episódios

"A Criação das Missões". E aí você vai saber que no dia 11 de março de 1641 pela

primeira vez os índios missioneiros, liderados pelos padres, deram uma surra nos bandeirantes

paulistas. E como eles apanharam, eles botaram o rabo entre as pernas e foram embora lá

de volta pra São Paulo. E aí, lentamente, lentamente, os jesuítas voltaram a reagrupar

essas nações guaranis e durante as dez décadas seguintes, durante um século, portanto, 11

décadas, na verdade, um século e mais dez anos, eles viveram um período de relativa

paz nessa grande mesopotâmia formada pelos rios Paraguai, Uruguai e Paraná, um território

hoje ocupado ã basicamente pelo Paraguai, mas pelo norte da Argentina, pelo oeste do

Rio Grande do Sul e por porções do Paraná e de Santa Catarina, e ali voltaram a restabelecer

as Missões. São essas as Missões que a gente, às vezes, ouve falar. Os chamados

30 Povos Guaranis. Sim, porque eram trinta povos. Antes disso, naquela pré-história,

chamemos assim, das Missões, eram quase cem! Eram quase cem! Essas Missões Jesuíticas,

que foram destruídas, arrasadas pelos bandeirantes paulistas que teriam escravizado mais de cem

mil índios e os levado para labutar em São Paulo, alguns até sendo conduzidos para trabalhar

nas lavouras canavieiras lá do nordeste do Brasil, não é. Mas quando os os os jesuítas

começam a restabelecer esse seu "projeto civilizatório", que tinha sido abortado e

destruído, eles fazem trinta povos. Trinta povos. Mas o que nos interessa, especificamente,

são aqueles que viriam a ser chamados como os sete povos orientais. E por que eram chamados

sete povos orientais? Porque eram sete povos que ficavam ao oriente, que ficavam a leste,

que ficavam onde hoje é o Rio Grande do Sul. Os demais ficavam todos no ocidente, a oeste,

no lugar onde hoje é o Paraguai e a Argentina. Bom, e aí eles puderam reestruturar esses

povos, e eram 30, e tinham entre 12 mil e 2 mil habitantes cada um! Havia alguns desses

povos, como São Inácio Mini, hoje na Argentina, com 12 mil índios. E ali moravam, sob a coordenação,

sob a batuta de apenas três ou quatro, ou no máximo cinco padres jesuítas, que coordenavam

toda aquela obra. Se você estuda essas Missões, vai ver que elas foram uma reinvenção autoritária

do espaço e do tempo. Do espaço, porque elas tinham uma forma de um quartel! Eram

120, 150 barracões, rigidamente alinhados... Um barracão aqui, outro barracão aqui, outro

barracão aqui, outro barracão aqui, você vai ver aqui imagens, vou mostrar pra vocês,

imagens, que parecia realmente um quartel. E a vida ali, a reinvenção do tempo, também

era uma reinvenção autoritária porque não era mais o tempo cósmico, não era mais o

tempo rural. Embora, de certa forma, fosse o tempo rural, porque como você vai ver,

eles produziam muita ãã produtividade agrícola, nas lavouras. Essas lavouras eram comunais.

Eles acordavam, um sino tocava pelas seis e meia da manhã, o que já não é bom, né

cara, o que já não é bom, o canal Buenas Ideias, por exemplo, só acorda às dez da

manhã, não sei você, que horas você acorda, né. Seis e meia da manhã já PEEEM, tocava

a campainha ali do colégio Anchieta, PEEEEM, aí todos eles PEEEEM, aí todos eles recebiam

uma papa de milho, né, do milho plantado por eles próprios, era um desjejum e, às

sete da manhã, partiam em fila indiana.. Hehe, fila indiana... Portando piedosos estandartes

e e e e cantando ã cânticos religiosos em direção às terras comunais. É, o tupambé,

tupambé, os campos de tupã, os campos de deus, né, que eram terras comunais, porque

muita gente diz e denuncia que AQUELAS MISSÕES ERAM COMUNISTAS, ERAM COMUNISTAS, DEVERIAM

ESTAR EM CUBA, DEVERIAM ESTAR NA VENEZUELA, e não no solo sagrado da América, no caso

da América do Sul e ainda mais na porção brasileira da América do Sul, né. Um visitante,

em 1789, disse "quem viu uma dessas Missões, viu todas" porque elas de fato eram exatamente

iguais, eram esses barracões com uma imponente igreja no meio, um campanário e o cemitério,

cercados por essas terras comunais onde eles plantavam basicamente milho, mas também introduziram

a cultura do trigo, e e e rebanhos de gado, e ervais! E vastos, e produtivos ervais! Inclusive

os jesuítas, em colaboração com os índios, desenvolveram uma fórmula da erva mate graças

à modificações genéticas e cruzamentos... Que foi a melhor erva mate que jamais existiu,

e cujo segredo da fabricação se perdeu, como tanta coisa ali se perdeu. Então eles

cultivavam a terra comunal até às 11 da manhã, às 11 da manhã PEEM PEEEM, tocava

uma sineta... Não, não era uma campainha, que nem eu tô fazendo aqui, ã, tinha uma

pausa pro almoço e a parte da tarde era dedicada ao plantio nas terras próprias das famílias,

cada família continuava mantendo a sua terra própria, e às aulas de latim, música e

escultura. Sim, cara, porque se produziu muita arte... Arte de esquerda, é claro né, arte

engajada, e com financiamento da lei Rouanet... A GENTE VAI ACABAR COM ISSO... Produziram

muita arte, muita arte, a escultura missioneira é uma escultura de qualidade. Os artesão

guaranis eram grandes artistas, os grupos musicais que tocavam rabecas, que

tocavam violino, que tocavam uma série de instrumento que eles próprios tinham desenvolvido

sobre a tutela, sobre a orientação dos jesuítas, eram extraordinários. E a música que eles

produziam, porque os guaranis eram... SÃO, né, porque os guaranis graças a deus estão

vivos, não conseguiram eliminar os guaranis ainda, então é um povo muito musical, que

tinha uma grande tradição musical, ã, cânticos tribais e ritmos, né, que viraram quase uma

música europeia, uma música híbrida na verdade, eles tocavam muito ali. E aí, chegava

às seis da tarde e era hora de se recolher, e se recolhiam para esses grandes alojamentos,

porém esses alojamentos tinham celas porque os padres, evidentemente, eram contra a poligamia

tribal que, durante centenas de anos, milhares de anos, tinha sido o modus vivendi no povo

guarani, e eles eram agora obrigados a terem casais monogâmicos né, aí viviam nas suas

celas os casais com filhos, não é. E assim transcorria a vida nessas missões. Mas porém

elas estavam num paiol de pólvora, elas estavam em um baú de surpresas desagradáveis. Porque

elas se localizavam num território que era a a cujos limites ainda não tinham sido plenamente

entre os impérios bastante agressivos de Portugal e Espanha. Você sabe do velho blablablá,

tinha o tratado de Tordesilhas, isso e aquilo, ninguém sabia onde a linha do tratado de

Tordesilhas de fato passava e os portugueses foram se adiantando, se adiantando, se adiantando.

O tratado, na verdade, passava em Cananeia, no sul de São Paulo, um lugar muito importante

do Bacharel de Cananeia, tudo... Você é um aficionado do canal Buenas Ideias, você

já sabe, vai saber muito mais porque nos fomos ao vivo em Cananeia, in loco, numa nova

série do canal Buenas Ideias que chama "in loko" ã gravar a história do Bacharel de

Cananeia. Ficava ali o marco de Tordesilhas mas os portugueses imediatamente... imediatamente

não, mas com o tempo, empurraram com a barriga os limites para Laguna. Pra Laguna, em Santa

Catarina. E, em Laguna, se inicia a maior costa retilínea do mundo, já falei isso

dez vezes, 660km... Vou beber água pela primeira vez... Opa, não tem água. Ia beber água

mas é só pra você ver essa bela caneca aqui. Tá vazia, impressionante, tá vazia.

Não beberei água, continuarei falando. O o de Laguna, até Punta del Este, no Uruguai,

se inicia a maior costa retilínea, se estende a maior costa retilínea do mundo, 660km sem

nenhuma baía, nenhum porto, nenhuma reentrância. Não dava pra conquistar por mar aquele território.

Sabe o que que os portugueses fizeram, cara? Que dá um super episódio, um super episódio

ainda mais pra ti que não sabe nada. Os portugueses criaram em 1680, eu acho, aparece aqui a data

correta, a Colônia de Sacramento. A Colônia do Sacramento é fundamental na história

do sul do Brasil, é fundamental na história do Mercosul e ninguém sabe nada dela, o que

é uma vergonha. Daí os portugueses... os espanhóis retomaram com ferro e fogo a colônia,

os portugueses conseguiram ela de volta na diplomacia, os espanhóis tomaram de volta,

os portugueses conseguiam na diplomacia de novo, os espanhóis tomaram outra vez, os

portugueses conseguiram.... Verdade, não tô brincando, durante seis, por seis ocasiões

a Colônia de Sacramento mudou de mãos. A Colônia de Sacramento que tinha sido construída

desafiadora, absurdamente em frente a Buenos Aires, num flagrante, num absurdo avanço

português no território que era evidentemente espanhol, pelas regras de Tordesilhas, né...

O TERRITÓRIO ERA INDÍGENA, PORRA! Mas era, já tava na mão de portugueses e espanhóis...

Os espanhóis "não é possível que esses caras... a gente vai lá, bate neles, expulsa

eles e nas mesas diplomáticas da da Europa os portugueses retomam o direito de ocupar

essa colônia QUE NÃO É DELE!", né. E aí uma briga, uma briga, uma briga... Seria mais

ou menos o seguinte, cara. Eu entro na tua casa e tomo o teu computador. Tá, levo pra

minha casa e digo: "esse computador é meu". "Nãao, esse computador memememim", aí tu

diz pra mim "eu quero que você devolva o meu computador", e eu digo: "tudo bem, então

tu me dá o teu carro que eu te devolvo o computador". Há, foi assim, cara! Porque

quando a Espanha disse "eu não aguento mais, me devolve, me dá a Colônia de Sacramento",

Portugal disse "ok, eu te dou, se tu me der os sete povos orientais das Missões". Foi

isso, cara. Foi assim que aconteceu, entendeu. E como a Espanha, aí que eu preciso te explicar,

por quê que a Espanha aceitou... Porque tanto as coroas da Espanha como de Portugal viam

com cada vez mais desconfiança o surgimento daquilo que era uma civilização jesuítico

missioneira. E os jesuítas respondiam diretamente ao Vaticano, ao a à sede da ordem que ficava

em Roma, que ficava no Vaticano. Não respondiam diretamente à coroa espanhola nem à coroa

portuguesa, entendeu. Então os caras achavam que eles tavam criando um estado-tampão...

(E de certa forma eles estavam criando um estado tampão). Além de tudo, embora os

guaranis fossem um povo pacífico e vivesse desarmado, eles lembravam que tinha acontecido

a batalha de M'Boboré, em 1641! Portanto os jesuítas podiam armar de novo os guaranis

e resistirem, já que aquela era uma terra guarani, né. Então a Espanha diz "tudo bem,


OS SETE POVOS DAS MISSÕES ORIENTAIS - EDUARDO BUENO - YouTube (1)

Pegue o seu lenço... Tá, ninguém mais usa lenço. Pegue o seu guardanapo, toalha de

rosto, ou talvez até uma toalha de banho. E, para aqueles que me dizem que veem os episódios

do canal Buenas Ideias na cama, pegue uma colcha. Para que? Para enxugar as lágrimas.

Para enxugar as tuas lágrimas. Porque eu vou contar agora para você um dos mais trágicos,

um dos mais absurdos, um dos mais cruéis episódios da história do Brasil, que o Brasil

faz de conta que não sabe. Esse até sabe um pouquinho mais. Porque você sabe, eu já

te contei aqui, pra comemorar o centésimo episódio do canal Buenas Ideias, foi sobre

as Missões. A criação das Missões. O 100o e o 101o. Esse não é o 102o episódio, mas

esse episódio está sendo gravado para comemorar os 500 mil inscritos do canal Buenas Ideias,

marca que atingimos recentemente e que segue crescendo. Então, conforme eu havia prometido,

quando eu contei aqui a gênese das Missões, um episódio que ninguém conhece, quando

neguinho fala das Missões, tá, já ouviu falar das Missões, mas não daquelas que

eu contei, que se iniciaram no início do século 17. Só sabem a história, os que

sabem, sabem um pouco da história posterior das Missões, mas nem essa de fato sabem.

Saberão a partir de agora, porque eu vou contar para você a tragédia dos Sete Povos

das Missões. "Missões, missões, por que nunca aprendemos as trágicas lições?".

Meu, é uma história muito inacreditável. Se você não viu, vá lá ver os episódios

"A Criação das Missões". E aí você vai saber que no dia 11 de março de 1641 pela

primeira vez os índios missioneiros, liderados pelos padres, deram uma surra nos bandeirantes

paulistas. E como eles apanharam, eles botaram o rabo entre as pernas e foram embora lá

de volta pra São Paulo. E aí, lentamente, lentamente, os jesuítas voltaram a reagrupar

essas nações guaranis e durante as dez décadas seguintes, durante um século, portanto, 11

décadas, na verdade, um século e mais dez anos, eles viveram um período de relativa

paz nessa grande mesopotâmia formada pelos rios Paraguai, Uruguai e Paraná, um território

hoje ocupado ã basicamente pelo Paraguai, mas pelo norte da Argentina, pelo oeste do

Rio Grande do Sul e por porções do Paraná e de Santa Catarina, e ali voltaram a restabelecer

as Missões. São essas as Missões que a gente, às vezes, ouve falar. Os chamados

30 Povos Guaranis. Sim, porque eram trinta povos. Antes disso, naquela pré-história,

chamemos assim, das Missões, eram quase cem! Eram quase cem! Essas Missões Jesuíticas,

que foram destruídas, arrasadas pelos bandeirantes paulistas que teriam escravizado mais de cem

mil índios e os levado para labutar em São Paulo, alguns até sendo conduzidos para trabalhar

nas lavouras canavieiras lá do nordeste do Brasil, não é. Mas quando os os os jesuítas

começam a restabelecer esse seu "projeto civilizatório", que tinha sido abortado e

destruído, eles fazem trinta povos. Trinta povos. Mas o que nos interessa, especificamente,

são aqueles que viriam a ser chamados como os sete povos orientais. E por que eram chamados

sete povos orientais? Porque eram sete povos que ficavam ao oriente, que ficavam a leste,

que ficavam onde hoje é o Rio Grande do Sul. Os demais ficavam todos no ocidente, a oeste,

no lugar onde hoje é o Paraguai e a Argentina. Bom, e aí eles puderam reestruturar esses

povos, e eram 30, e tinham entre 12 mil e 2 mil habitantes cada um! Havia alguns desses

povos, como São Inácio Mini, hoje na Argentina, com 12 mil índios. E ali moravam, sob a coordenação,

sob a batuta de apenas três ou quatro, ou no máximo cinco padres jesuítas, que coordenavam

toda aquela obra. Se você estuda essas Missões, vai ver que elas foram uma reinvenção autoritária

do espaço e do tempo. Do espaço, porque elas tinham uma forma de um quartel! Eram

120, 150 barracões, rigidamente alinhados... Um barracão aqui, outro barracão aqui, outro

barracão aqui, outro barracão aqui, você vai ver aqui imagens, vou mostrar pra vocês,

imagens, que parecia realmente um quartel. E a vida ali, a reinvenção do tempo, também

era uma reinvenção autoritária porque não era mais o tempo cósmico, não era mais o

tempo rural. Embora, de certa forma, fosse o tempo rural, porque como você vai ver,

eles produziam muita ãã produtividade agrícola, nas lavouras. Essas lavouras eram comunais.

Eles acordavam, um sino tocava pelas seis e meia da manhã, o que já não é bom, né

cara, o que já não é bom, o canal Buenas Ideias, por exemplo, só acorda às dez da

manhã, não sei você, que horas você acorda, né. Seis e meia da manhã já PEEEM, tocava

a campainha ali do colégio Anchieta, PEEEEM, aí todos eles PEEEEM, aí todos eles recebiam

uma papa de milho, né, do milho plantado por eles próprios, era um desjejum e, às

sete da manhã, partiam em fila indiana.. Hehe, fila indiana... Portando piedosos estandartes

e e e e cantando ã cânticos religiosos em direção às terras comunais. É, o tupambé,

tupambé, os campos de tupã, os campos de deus, né, que eram terras comunais, porque

muita gente diz e denuncia que AQUELAS MISSÕES ERAM COMUNISTAS, ERAM COMUNISTAS, DEVERIAM

ESTAR EM CUBA, DEVERIAM ESTAR NA VENEZUELA, e não no solo sagrado da América, no caso

da América do Sul e ainda mais na porção brasileira da América do Sul, né. Um visitante,

em 1789, disse "quem viu uma dessas Missões, viu todas" porque elas de fato eram exatamente

iguais, eram esses barracões com uma imponente igreja no meio, um campanário e o cemitério,

cercados por essas terras comunais onde eles plantavam basicamente milho, mas também introduziram

a cultura do trigo, e e e rebanhos de gado, e ervais! E vastos, e produtivos ervais! Inclusive

os jesuítas, em colaboração com os índios, desenvolveram uma fórmula da erva mate graças

à modificações genéticas e cruzamentos... Que foi a melhor erva mate que jamais existiu,

e cujo segredo da fabricação se perdeu, como tanta coisa ali se perdeu. Então eles

cultivavam a terra comunal até às 11 da manhã, às 11 da manhã PEEM PEEEM, tocava

uma sineta... Não, não era uma campainha, que nem eu tô fazendo aqui, ã, tinha uma

pausa pro almoço e a parte da tarde era dedicada ao plantio nas terras próprias das famílias,

cada família continuava mantendo a sua terra própria, e às aulas de latim, música e

escultura. Sim, cara, porque se produziu muita arte... Arte de esquerda, é claro né, arte

engajada, e com financiamento da lei Rouanet... A GENTE VAI ACABAR COM ISSO... Produziram

muita arte, muita arte, a escultura missioneira é uma escultura de qualidade. Os artesão

guaranis eram grandes artistas, os grupos musicais que tocavam rabecas, que

tocavam violino, que tocavam uma série de instrumento que eles próprios tinham desenvolvido

sobre a tutela, sobre a orientação dos jesuítas, eram extraordinários. E a música que eles

produziam, porque os guaranis eram... SÃO, né, porque os guaranis graças a deus estão

vivos, não conseguiram eliminar os guaranis ainda, então é um povo muito musical, que

tinha uma grande tradição musical, ã, cânticos tribais e ritmos, né, que viraram quase uma

música europeia, uma música híbrida na verdade, eles tocavam muito ali. E aí, chegava

às seis da tarde e era hora de se recolher, e se recolhiam para esses grandes alojamentos,

porém esses alojamentos tinham celas porque os padres, evidentemente, eram contra a poligamia

tribal que, durante centenas de anos, milhares de anos, tinha sido o modus vivendi no povo

guarani, e eles eram agora obrigados a terem casais monogâmicos né, aí viviam nas suas

celas os casais com filhos, não é. E assim transcorria a vida nessas missões. Mas porém

elas estavam num paiol de pólvora, elas estavam em um baú de surpresas desagradáveis. Porque

elas se localizavam num território que era a a cujos limites ainda não tinham sido plenamente

entre os impérios bastante agressivos de Portugal e Espanha. Você sabe do velho blablablá,

tinha o tratado de Tordesilhas, isso e aquilo, ninguém sabia onde a linha do tratado de

Tordesilhas de fato passava e os portugueses foram se adiantando, se adiantando, se adiantando.

O tratado, na verdade, passava em Cananeia, no sul de São Paulo, um lugar muito importante

do Bacharel de Cananeia, tudo... Você é um aficionado do canal Buenas Ideias, você

já sabe, vai saber muito mais porque nos fomos ao vivo em Cananeia, in loco, numa nova

série do canal Buenas Ideias que chama "in loko" ã gravar a história do Bacharel de

Cananeia. Ficava ali o marco de Tordesilhas mas os portugueses imediatamente... imediatamente

não, mas com o tempo, empurraram com a barriga os limites para Laguna. Pra Laguna, em Santa

Catarina. E, em Laguna, se inicia a maior costa retilínea do mundo, já falei isso

dez vezes, 660km... Vou beber água pela primeira vez... Opa, não tem água. Ia beber água

mas é só pra você ver essa bela caneca aqui. Tá vazia, impressionante, tá vazia.

Não beberei água, continuarei falando. O o de Laguna, até Punta del Este, no Uruguai,

se inicia a maior costa retilínea, se estende a maior costa retilínea do mundo, 660km sem

nenhuma baía, nenhum porto, nenhuma reentrância. Não dava pra conquistar por mar aquele território.

Sabe o que que os portugueses fizeram, cara? Que dá um super episódio, um super episódio

ainda mais pra ti que não sabe nada. Os portugueses criaram em 1680, eu acho, aparece aqui a data

correta, a Colônia de Sacramento. A Colônia do Sacramento é fundamental na história

do sul do Brasil, é fundamental na história do Mercosul e ninguém sabe nada dela, o que

é uma vergonha. Daí os portugueses... os espanhóis retomaram com ferro e fogo a colônia,

os portugueses conseguiram ela de volta na diplomacia, os espanhóis tomaram de volta,

os portugueses conseguiam na diplomacia de novo, os espanhóis tomaram outra vez, os

portugueses conseguiram.... Verdade, não tô brincando, durante seis, por seis ocasiões

a Colônia de Sacramento mudou de mãos. A Colônia de Sacramento que tinha sido construída

desafiadora, absurdamente em frente a Buenos Aires, num flagrante, num absurdo avanço

português no território que era evidentemente espanhol, pelas regras de Tordesilhas, né...

O TERRITÓRIO ERA INDÍGENA, PORRA! Mas era, já tava na mão de portugueses e espanhóis...

Os espanhóis "não é possível que esses caras... a gente vai lá, bate neles, expulsa

eles e nas mesas diplomáticas da da Europa os portugueses retomam o direito de ocupar

essa colônia QUE NÃO É DELE!", né. E aí uma briga, uma briga, uma briga... Seria mais

ou menos o seguinte, cara. Eu entro na tua casa e tomo o teu computador. Tá, levo pra

minha casa e digo: "esse computador é meu". "Nãao, esse computador memememim", aí tu

diz pra mim "eu quero que você devolva o meu computador", e eu digo: "tudo bem, então

tu me dá o teu carro que eu te devolvo o computador". Há, foi assim, cara! Porque

quando a Espanha disse "eu não aguento mais, me devolve, me dá a Colônia de Sacramento",

Portugal disse "ok, eu te dou, se tu me der os sete povos orientais das Missões". Foi

isso, cara. Foi assim que aconteceu, entendeu. E como a Espanha, aí que eu preciso te explicar,

por quê que a Espanha aceitou... Porque tanto as coroas da Espanha como de Portugal viam

com cada vez mais desconfiança o surgimento daquilo que era uma civilização jesuítico

missioneira. E os jesuítas respondiam diretamente ao Vaticano, ao a à sede da ordem que ficava

em Roma, que ficava no Vaticano. Não respondiam diretamente à coroa espanhola nem à coroa

portuguesa, entendeu. Então os caras achavam que eles tavam criando um estado-tampão...

(E de certa forma eles estavam criando um estado tampão). Além de tudo, embora os

guaranis fossem um povo pacífico e vivesse desarmado, eles lembravam que tinha acontecido

a batalha de M'Boboré, em 1641! Portanto os jesuítas podiam armar de novo os guaranis

e resistirem, já que aquela era uma terra guarani, né. Então a Espanha diz "tudo bem,