×

Мы используем cookie-файлы, чтобы сделать работу LingQ лучше. Находясь на нашем сайте, вы соглашаетесь на наши правила обработки файлов «cookie».


image

Gloss European Portuguese Level 2+, Ponte 25 de Abril, um "sonho" que demorou 90 anos a realizar

Ponte 25 de Abril, um "sonho" que demorou 90 anos a realizar

Jornalista: É hoje o ícone da cidade de Lisboa. Foram necessários 90 anos para qu'o sonho de construir uma ponte sobre o Rio Tejo fosse real. Foi inaugurada a 6 de agosto 1966 para ligar Lisboa a Almada. A Ponte 25 de Abril faz 50 anos.

Luís F. Rodrigues: (Autor do livro "A Ponte Inevitável") – Lisboa seria o grande cais da Europa, ou seja, euh, a ponte serviria para escoar mercadorias para o resto da Europa e para servir também de ponte para oh ah o Atlântico.

Jornalista: O projeto para a construção da ponte teve muitos problemas e sofreu bastantes obstáculos até ao arranque da obra.

Luís F. Rodrigues: Grandes turbulência[s] a nível institucional, euh, uma Primeira Guerra Mundial, uma Segunda Guerra Mundial depois, euh eurh euh e a nível técnico é essencialmente o euh desenvolvimento da tecnologia das pontes suspensas que só em 1937, com a inauguração da Ponte do Golden Gate é que permitiu equacionar uma travessia com mais de dois quilómetros sem interrupção por vãos que pudessem perturbar a fluidez no rio.

Jornalista: A ponte começou a ser construída a 5 de novembro de 1962, a cargo d'uma empresa Norte Americana e com a participação de 3000 trabalhadores. Custou cerca de dois milhões de conto, um investimento essencialmente financiado pela Banca estrangeira. António Rosa Lopes trabalhou na ponte deste o início, dedicou a vida à construção e manutenção desta travessia entre as duas margens do Tejo.

António Rosa Lopes: (Antigo pintor da Ponte). A minha alcunha era "Dono da Ponte", que era quem mandava ali, porque eu a partir dali daquela entrada dali pa' frente, se viesse o engenheiro a dizer qualquer coisa, eu noh o deixava entrar ali na ponte sem ele coisa, nem entravam ali.

Jornalista: Para o antigo pintor a construção do gigante di'aço foi um trabalho duro mas muito produtivo.

António Rosa Lopes: Os americanos feh trabalhavam muito bem, não é, além de trabalharem bem, pronto tiveram boas ajudas porque o português não era inferior aos americanos. Qualquer obra que se faça hoje em Portugal, ou fica naquele prazo ou passa sempre do prazo. Esta não, acabou-se com alguns seis meses d'antecedência.

Jornalista: Construída em pleno regime do Estado Novo a ponte sobre o Tejo é inaugurada a 6 de agosto de 1966 e batizada de Ponte Salazar apesar do ditador não ter interferido na obra.

Luís F. Rodrigues: Isto foi deixado ao cargo dos engenheiros, foi deixado ao cargo dos operários, foi deixado ao cargo de pintores, de euh eletricistas, portanto no houve, não havia aqui quase intervenção política.

Jornalista: O nome de Ponte Salazar acabou por durar pouco tempo. O regime ditatorial do 'Stado Novo é derrubado com a Revolução de 74 e a ponte passa a chamar-se 25 de Abril.

António Costa Pinto: (Historiador) É dada a dinâmica da nossa transição à democracia, a maior parte dos nomes associados à ditadura, na toponímia, foram eliminados.

Jornalista: Irene Tomás foi uma das primeiras portageiras. O contacto com os utentes foi o que mais a marcou.

Irene Tomás: (Antiga portageira da Ponte). Muitas vezes tive problemas, vinha pr'aqui aborrecida e chigava [sic] aqui, ligava o meu radio, começava a trabalhar e conversa com um outro utente conhecido e euh e a tristeza passava.

Jornalista: Da cobrança das portagens, Irene Tomás, recorda que por vezes tinha que correr atrás de notas de voavam, mas mais caricato era o uso de uma fita métrica para saber que tarifa cobrar.

Irene Tomás: Media-se o carro de eixo a eixo e ai se… se determinava qual era a a a pro... a classe do carro.

Jornalista: O preço das portagens rondava os 10 'scudos na inauguração da ponte, valor que com o passar dos anos registou maior subida em 1994 de 100 para 150 'scudos. Os automobilistas protestaram contra o aumento das tarifas conhecido como o "Buzinão", o protesto deixou más memórias.

Irene Tomás: Fomos muito enxovalhadas, porque da... davam-nos moedas muito pequeninas para… para trocos, nós tínhamos que trocar os tostões. Davam-nos moe... notas de 5… 5 e 10… e 10 contos para … a seguir de uns dos outros para dificultar os trocos. No dia seguinte vinham-nos com ramos de flores, pedir-nos desculpas e nós não aceitávamos.

Jornalista: Nem tudo foram rosas, mas a Irene Tomás gostou de trabalhar na Ponte 25 de Abril. Quem também gostou de participar na ponte foi o antigo pintor que apesar de já estar reformado continua a assumir ainda qu'à distância o cargo do "Dono da Ponte".

Jornalista: No fim do século XX, a Ponte 25 de Abril cresceu. O tabuleiro rodoviário passou de quatro para seis faixas e foram introduzidos os comboios. Atualmente passam na ponte cerca de 140 000 veículos e quase 150 comboios por dia. A portagem custa €1.70. Por ano são arrecadados mais de €600 milhões de receita. A travessia entre as duas margens do rio Tejo, qu'antigamente só era possível de barco, passou a ser mais fácil e rápida com a construção da Ponte 25 de Abril, já lá vão 50 anos.


Ponte 25 de Abril, um "sonho" que demorou 90 anos a realizar 25 de Abril Bridge, a "dream" that took 90 years to come true

Jornalista: É hoje o ícone da cidade de Lisboa. Foram necessários 90 anos para qu'o sonho de construir uma ponte sobre o Rio Tejo fosse real. Foi inaugurada a 6 de agosto 1966 para ligar Lisboa a Almada. A Ponte 25 de Abril faz 50 anos.

Luís F. Rodrigues: (Autor do livro "A Ponte Inevitável") – Lisboa seria o grande cais da Europa, ou seja, euh, a ponte serviria para escoar mercadorias para o resto da Europa e para servir também de ponte para oh ah o Atlântico.

Jornalista: O projeto para a construção da ponte teve muitos problemas e sofreu bastantes obstáculos até ao arranque da obra.

Luís F. Rodrigues: Grandes turbulência[s] a nível institucional, euh, uma Primeira Guerra Mundial, uma Segunda Guerra Mundial depois, euh eurh euh e a nível técnico é essencialmente o euh desenvolvimento da tecnologia das pontes suspensas que só em 1937, com a inauguração da Ponte do Golden Gate é que permitiu equacionar uma travessia com mais de dois quilómetros sem interrupção por vãos que pudessem perturbar a fluidez no rio.

Jornalista: A ponte começou a ser construída a 5 de novembro de 1962, a cargo d'uma empresa Norte Americana e com a participação de 3000 trabalhadores. Custou cerca de dois milhões de conto, um investimento essencialmente financiado pela Banca estrangeira. António Rosa Lopes trabalhou na ponte deste o início, dedicou a vida à construção e manutenção desta travessia entre as duas margens do Tejo.

António Rosa Lopes: (Antigo pintor da Ponte). A minha alcunha era "Dono da Ponte", que era quem mandava ali, porque eu a partir dali daquela entrada dali pa' frente, se viesse o engenheiro a dizer qualquer coisa, eu noh o deixava entrar ali na ponte sem ele coisa, nem entravam ali.

Jornalista: Para o antigo pintor a construção do gigante di'aço foi um trabalho duro mas muito produtivo.

António Rosa Lopes: Os americanos feh trabalhavam muito bem, não é, além de trabalharem bem, pronto tiveram boas ajudas porque o português não era inferior aos americanos. Qualquer obra que se faça hoje em Portugal, ou fica naquele prazo ou passa sempre do prazo. Esta não, acabou-se com alguns seis meses d'antecedência.

Jornalista: Construída em pleno regime do Estado Novo a ponte sobre o Tejo é inaugurada a 6 de agosto de 1966 e batizada de Ponte Salazar apesar do ditador não ter interferido na obra.

Luís F. Rodrigues: Isto foi deixado ao cargo dos engenheiros, foi deixado ao cargo dos operários, foi deixado ao cargo de pintores, de euh eletricistas, portanto no houve, não havia aqui quase intervenção política.

Jornalista: O nome de Ponte Salazar acabou por durar pouco tempo. O regime ditatorial do 'Stado Novo é derrubado com a Revolução de 74 e a ponte passa a chamar-se 25 de Abril.

António Costa Pinto: (Historiador) É dada a dinâmica da nossa transição à democracia, a maior parte dos nomes associados à ditadura, na toponímia, foram eliminados.

Jornalista: Irene Tomás foi uma das primeiras portageiras. O contacto com os utentes foi o que mais a marcou.

Irene Tomás: (Antiga portageira da Ponte). Muitas vezes tive problemas, vinha pr'aqui aborrecida e chigava [sic] aqui, ligava o meu radio, começava a trabalhar e conversa com um outro utente conhecido e euh e a tristeza passava.

Jornalista: Da cobrança das portagens, Irene Tomás, recorda que por vezes tinha que correr atrás de notas de voavam, mas mais caricato era o uso de uma fita métrica para saber que tarifa cobrar.

Irene Tomás: Media-se o carro de eixo a eixo e ai se… se determinava qual era a a a pro... a classe do carro.

Jornalista: O preço das portagens rondava os 10 'scudos na inauguração da ponte, valor que com o passar dos anos registou maior subida em 1994 de 100 para 150 'scudos. Os automobilistas protestaram contra o aumento das tarifas conhecido como o "Buzinão", o protesto deixou más memórias.

Irene Tomás: Fomos muito enxovalhadas, porque da... davam-nos moedas muito pequeninas para… para trocos, nós tínhamos que trocar os tostões. Davam-nos moe... notas de 5… 5 e 10… e 10 contos para … a seguir de uns dos outros para dificultar os trocos. No dia seguinte vinham-nos com ramos de flores, pedir-nos desculpas e nós não aceitávamos.

Jornalista: Nem tudo foram rosas, mas a Irene Tomás gostou de trabalhar na Ponte 25 de Abril. Quem também gostou de participar na ponte foi o antigo pintor que apesar de já estar reformado continua a assumir ainda qu'à distância o cargo do "Dono da Ponte".

Jornalista: No fim do século XX, a Ponte 25 de Abril cresceu. O tabuleiro rodoviário passou de quatro para seis faixas e foram introduzidos os comboios. Atualmente passam na ponte cerca de 140 000 veículos e quase 150 comboios por dia. A portagem custa €1.70. Por ano são arrecadados mais de €600 milhões de receita. A travessia entre as duas margens do rio Tejo, qu'antigamente só era possível de barco, passou a ser mais fácil e rápida com a construção da Ponte 25 de Abril, já lá vão 50 anos.