×

Мы используем cookie-файлы, чтобы сделать работу LingQ лучше. Находясь на нашем сайте, вы соглашаетесь на наши правила обработки файлов «cookie».


image

Porta Dos Fundos 2020, MECÂNICA VINTAGE

Estou falando com você. É carne assada, porra.

Opa. Beleza, irmão?

Tudo bem? Então, cara,

eu estava lá em casa na garagem.

Acabei dando um totó ali, que deu uma arranhada.

Trouxe pra você dar uma olhada.

Pensei até em acionar o seguro, mas achei melhor

vir aqui primeiro pro senhor ver.

É aqui atrás, olha. É aqui atrás que foi.

-Caralho, calma. -Aqui.

-É esse arranhão aqui? -É. Aí atrás.

Entendi.

Eu estou com um bocadinho de pressa, amigo.

Você pode, por favor, ajeitar ali?

E o retrovisor? Vamos trocar esse retrovisor frouxo aí?

Fazer uma gambiarra aí?

Não, mas o retrovisor não está frouxo.

-O que é isso? -Está frouxo, porra. Está frouxo.

Caralho. Vai demorar agora pra botar essa merda aí?

Ué, a madame está com pressa?

Mas o que vai mexer aqui, querido?

É ali atrás.

Eu estava jantando.

Tem alguma coisa pra você mexer aí embaixo?

Valtinho,

você não queria um espelho pro teu lavabo?

Aí, novinho aí pra tu. Segura aí, filho da puta.

Espera aí, deixa eu falar...

Espera aí, espera aí. Não vai embora, não.

"Espera aí" é o caralho, rapaz. Deixa eu sair do meu carro.

Vem na nossa. Confia, é isso mesmo.

Isso aqui nem é graxa, isso é Pilot preta.

Eu estou tratando o senhor mal de propósito.

Entendeu?

Isso aqui é uma oficina vintage.

O funcionário mal-educado, machista, de higiene absurda.

O menino segura o frango e conserta o motor ao mesmo tempo.

É nesse clima. É pra gente trazer de volta esse universo

saudosista da borracharia raiz.

A demanda vem muito forte depois do mimimi, né?

E também por conta dessas barbearias masculinas

que agora têm sofazinho, cerveja quente.

É. Está bom, mas eu não quero isso, não, querido.

Eu só queria mesmo que consertasse o meu carro.

Consertar, o senhor conserta. Eu estou querendo

lhe proporcionar uma experiência merda, caramba.

Que é o senhor chegar no churrasco e contar a história

três, quatro vezes do quê? "Pô, você acredita

que o mecânico deixou uma garrafa de cachaça

dentro do meu motor?" Puta que pariu.

O pessoal vai rir pra caramba. E isso não tem preço, né?

Quer dizer, tem preço. E é caro,

mas se o senhor fosse mulher, eu ia triplicar esse valor aí.

Valtinho,

pensa rápido, burrão.

Faço pneu de boliche.

É muito gostoso, é pra relaxar, mas fala.

Eu vou acionar o seguro mesmo lá. Vou resolver com eles lá.

Espera aí, espera aí. Senhor, senhor.

Tem certeza que o senhor não quer que eu desempene o seu para-choque?

Eu posso, por exemplo, pintar esse capô aqui

de amarelo táxi e o senhor vai tirar

um monte de história bonita aí, de vida.

Querido, eu não quero historinha nenhuma.

Eu só quero que meu carro seja consertado

sem atraso, entendeu?

Atraso é o carro-chefe da nossa oficina, senhor.

Meu chefe, o senhor ainda não entendeu o clima.

O senhor deixa o carro aqui. Aí liga:

"Está consertado?" Eu digo: "Não está consertado.

Mais uma semaninha." Devolvo do mesmo jeito

que o senhor trouxe e ainda cobro por isso.

É assim que funciona.

Valtinho, vem que tem galinha pra depenar.

Caralho, eu tinha que ter feito a cobertura

de lataria e pintura da minha seguradora, cara.

Olha lá. Pronto, é isso aí que a gente quer causar.

Entendeu, senhor? É exatamente esse sentimento

de arrependimento de não ter ligado pra um corretor

e ter feito uma cobertura de amassado e arranhão

padrão Autoglass. Aí o senhor fica, agora,

assim "Porra, por que eu não fiz?"

Essa madrugada mesmo, o senhor vai acordar

mordendo a boca de ódio porque pagou

mais de 150 merréis num para-choque

-que toda hora cai. -Espera aí,

mas por que isso não está ligando agora?

Está tentando ligar o carro, Valtinho.

Não vai ligar, não.

Os meninos, enquanto a gente conversava,

o senhor estava distraído aí. Eu estou vendo daqui.

Trocaram o chassi aí por um chassi de uma Belina roubada.

Não acredito, meu Deus. Por que vocês fizeram isso

-com o meu carro, porra? -Não sei, não.

São os meninos. Ruins de coração pra caramba.

Aliás, não queria estar na pele do senhor, não.

Porque logo na esquina, tem uma blitz ali,

uns policiais ruins.

Pega mesmo e machuca, mas tenta ligar o carro.

Tenta ligar.

Valtinho, não falei mal da sua mãe, Valtinho.

-Falei mal da comida da sua mãe. -Opa.

-Tudo bem? -Puta que pariu.

O que é isso, Pablo? Pablo.

O que é isso, cara? Sou eu.

Sou eu, o Jair, seu corretor, cara.

-O que é isso? -Porra, é o Jair, caralho.

-Foi mal. -Trouxe aqui a apólice

pra você assinar.

Bom, agora que eu já comecei, você não quer

viver uma experiência aqui, não? Na minha oficina.

Pode ser. Como é essa experiência aí?

É bom que você esteja com o seu seguro em dia

porque você vai precisar.


Estou falando com você. É carne assada, porra.

Opa. Beleza, irmão?

Tudo bem? Então, cara,

eu estava lá em casa na garagem.

Acabei dando um totó ali, que deu uma arranhada.

Trouxe pra você dar uma olhada.

Pensei até em acionar o seguro, mas achei melhor

vir aqui primeiro pro senhor ver.

É aqui atrás, olha. É aqui atrás que foi.

-Caralho, calma. -Aqui.

-É esse arranhão aqui? -É. Aí atrás.

Entendi.

Eu estou com um bocadinho de pressa, amigo.

Você pode, por favor, ajeitar ali?

E o retrovisor? Vamos trocar esse retrovisor frouxo aí?

Fazer uma gambiarra aí?

Não, mas o retrovisor não está frouxo.

-O que é isso? -Está frouxo, porra. Está frouxo.

Caralho. Vai demorar agora pra botar essa merda aí?

Ué, a madame está com pressa?

Mas o que vai mexer aqui, querido?

É ali atrás.

Eu estava jantando.

Tem alguma coisa pra você mexer aí embaixo?

Valtinho,

você não queria um espelho pro teu lavabo?

Aí, novinho aí pra tu. Segura aí, filho da puta.

Espera aí, deixa eu falar...

Espera aí, espera aí. Não vai embora, não.

"Espera aí" é o caralho, rapaz. Deixa eu sair do meu carro.

Vem na nossa. Confia, é isso mesmo.

Isso aqui nem é graxa, isso é Pilot preta.

Eu estou tratando o senhor mal de propósito.

Entendeu?

Isso aqui é uma oficina vintage.

O funcionário mal-educado, machista, de higiene absurda.

O menino segura o frango e conserta o motor ao mesmo tempo.

É nesse clima. É pra gente trazer de volta esse universo

saudosista da borracharia raiz.

A demanda vem muito forte depois do mimimi, né?

E também por conta dessas barbearias masculinas

que agora têm sofazinho, cerveja quente.

É. Está bom, mas eu não quero isso, não, querido.

Eu só queria mesmo que consertasse o meu carro.

Consertar, o senhor conserta. Eu estou querendo

lhe proporcionar uma experiência merda, caramba.

Que é o senhor chegar no churrasco e contar a história

três, quatro vezes do quê? "Pô, você acredita

que o mecânico deixou uma garrafa de cachaça

dentro do meu motor?" Puta que pariu.

O pessoal vai rir pra caramba. E isso não tem preço, né?

Quer dizer, tem preço. E é caro,

mas se o senhor fosse mulher, eu ia triplicar esse valor aí.

Valtinho,

pensa rápido, burrão.

Faço pneu de boliche.

É muito gostoso, é pra relaxar, mas fala.

Eu vou acionar o seguro mesmo lá. Vou resolver com eles lá.

Espera aí, espera aí. Senhor, senhor.

Tem certeza que o senhor não quer que eu desempene o seu para-choque?

Eu posso, por exemplo, pintar esse capô aqui

de amarelo táxi e o senhor vai tirar

um monte de história bonita aí, de vida.

Querido, eu não quero historinha nenhuma.

Eu só quero que meu carro seja consertado

sem atraso, entendeu?

Atraso é o carro-chefe da nossa oficina, senhor.

Meu chefe, o senhor ainda não entendeu o clima.

O senhor deixa o carro aqui. Aí liga:

"Está consertado?" Eu digo: "Não está consertado.

Mais uma semaninha." Devolvo do mesmo jeito

que o senhor trouxe e ainda cobro por isso.

É assim que funciona.

Valtinho, vem que tem galinha pra depenar.

Caralho, eu tinha que ter feito a cobertura

de lataria e pintura da minha seguradora, cara.

Olha lá. Pronto, é isso aí que a gente quer causar.

Entendeu, senhor? É exatamente esse sentimento

de arrependimento de não ter ligado pra um corretor

e ter feito uma cobertura de amassado e arranhão

padrão Autoglass. Aí o senhor fica, agora,

assim "Porra, por que eu não fiz?"

Essa madrugada mesmo, o senhor vai acordar

mordendo a boca de ódio porque pagou

mais de 150 merréis num para-choque

-que toda hora cai. -Espera aí,

mas por que isso não está ligando agora?

Está tentando ligar o carro, Valtinho.

Não vai ligar, não.

Os meninos, enquanto a gente conversava,

o senhor estava distraído aí. Eu estou vendo daqui.

Trocaram o chassi aí por um chassi de uma Belina roubada.

Não acredito, meu Deus. Por que vocês fizeram isso

-com o meu carro, porra? -Não sei, não.

São os meninos. Ruins de coração pra caramba.

Aliás, não queria estar na pele do senhor, não.

Porque logo na esquina, tem uma blitz ali,

uns policiais ruins.

Pega mesmo e machuca, mas tenta ligar o carro.

Tenta ligar.

Valtinho, não falei mal da sua mãe, Valtinho.

-Falei mal da comida da sua mãe. -Opa.

-Tudo bem? -Puta que pariu.

O que é isso, Pablo? Pablo.

O que é isso, cara? Sou eu.

Sou eu, o Jair, seu corretor, cara.

-O que é isso? -Porra, é o Jair, caralho.

-Foi mal. -Trouxe aqui a apólice

pra você assinar.

Bom, agora que eu já comecei, você não quer

viver uma experiência aqui, não? Na minha oficina.

Pode ser. Como é essa experiência aí?

É bom que você esteja com o seu seguro em dia

porque você vai precisar.