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O Assunto (*Generated Transcript*), Petrobras e a nova política de preços I O ASSUNTO I g1

Petrobras e a nova política de preços I O ASSUNTO I g1

O preço de paridade de importação, o chamado PPI, nasceu em 2016.

Foi anunciado por Pedro Parente, à época presidente da Petrobras, como uma mudança

de política da empresa.

O que nós estamos fazendo nesse momento é anunciar a nova política de preços da

companhia, que é uma política de preços baseada na paridade internacional de preços,

que é assim que funciona quando você está lidando com uma comódice.

Essa política definia os reajustes da gasolina e do diesel com base no custo de importação

dos produtos, as oscilações do preço internacional do barril do petróleo e da cotação do dólar.

Decisão tomada para corrigir uma política de preços que levou aos maiores rombos da

história da estatal.

A Petrobras registrou um prejuízo de quase 35 bilhões de reais em 2015.

É o pior resultado financeiro anual da companhia, superando até aquele prejuízo de 21 bilhões

de reais de 2014, que incluía as perdas com corrupção apuradas pela Lava Jato.

A Petrobras teve prejuízo líquido de 14,8 bilhões de reais em 2016.

Com a paridade, o cenário mudou para a Petrobras e para os seus acionistas.

O lucro recorde em 2022 foi de 188 bilhões e 300 milhões de reais e representou o crescimento

de 77% em relação ao lucro líquido do ano anterior.

Mas com os sucessivos aumentos veio também um grande problema.

Os 11 dias de paralisação de caminhoneiros fizeram a produção encolher quase 11%.

Depois da greve dos caminhoneiros, na média, os combustíveis ficaram mais caros.

A alta da gasolina, mais uma vez, ela pesou na prévia da inflação e...

E só sobe, só sobe, tá subindo demais e quem vai pagar é a gente.

Não é possível a gente sobreviver dessa forma, dessa maneira, nós trabalhador, nós

que rodamos mototáxis, as pessoas que rodam Uber, está já cansado de pagar o preço caro

na bomba do preço do combustível.

Com peso direto na inflação e no custo de vida da população, o caso virou promessa

de campanha.

De olho em seu terceiro mandato, Lula prometeu repetidas vezes mudar a política de preços

da maior petrolífera do país.

Eu quero dizer que, alto e bom só, nós vamos abrasileirar o preço da gasolina.

O preço vai ser brasileiro, porque os investimentos são feitos em reais.

E a proposta do atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prats, foi apresentar uma espécie

de meio termo.

Nós não precisamos voltar ao tempo onde não houve nenhum reajuste no ano inteiro.

2006 aconteceu isso, 2007 aconteceu isso.

E nós também não precisamos viver dentro da maratona de 118 reajustes, isso para um

combustível apenas, em 2017, que levou inclusive a uma crise enorme causada pela greve dos

caminhoneiros e todo aquele debate que aconteceu.

O comunicado da Petrobras diz, o anúncio encerra a subordinação obrigatória ao preço

de paridade de importação.

Da redação do G1, eu sou Natuzaneri e o assunto hoje é a nova política de preços

da Petrobras.

Um episódio para entender o que muda, quem ganha, quem perde e por que as novas regras

foram anunciadas agora.

Neste episódio, eu converso com o economista especialista em petróleo, Breno Carvalho

Ross, doutor pela UFRJ e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e com Manuel

Ventura, repórter de economia do jornal O Globo em Brasília.

Quarta-feira, 17 de maio.

Breno, a Petrobras anunciou uma nova política de preço e antes da gente detalhar os aspectos

dessa nova política de preços, eu quero te perguntar, quem é que ganha com essa nova

política?

Quem é que perde com essa nova política?

Se é que se perde de fato?

Olha, primeiramente, eu acho que o consumidor brasileiro tende a ganhar por dois canais.

Uma menor volatilidade no preço doméstico, ou seja, o repasse da referência internacional

ela vai ser menos frequente esse repasse e não tem uma periodicidade definida, então

essa volatilidade nos preços tende a diminuir e por ter uma postura mais competitiva por

parte da Petrobras, que ela sinaliza que vai disputar mercados, ela tende a cobrar preços

relativamente mais baixos em relação ao que estava sendo praticado.

Porque a gente, na verdade, o presidente da companhia, o Jean Paul Prats, em entrevista

à jornalista Miria Leitão, ele falou que a PPI, na verdade, representa a Petrobras

cobrar o preço do concorrente, que é na verdade quem está importando combustíveis para suprir

o mercado brasileiro.

Nós estamos, então, comunicando ao mercado um ajuste na estratégia comercial, da composição

de preços e das condições de venda a clientes da Petrobras.

Esse modelo maximiza a incorporação de vantagens competitivas, portanto, nós vamos usar as

vantagens que a Petrobras tem a nosso favor e a favor do país.

Só que a Petrobras processa o petróleo e produz os derivados em território nacional,

então ela tem custos em reais.

Então é possível ela manter a sua lucratividade e ir cobrando o preço compatível com o seu

custo de produção, que não necessariamente vai ser o custo de importação.

E dá para fazer isso sem prejudicar a empresa, sem prejudicar acionistas da empresa?

Sim, é possível.

É possível e está no comunicado que a empresa deve manter a sua saúde financeira a longo

prazo, porque é isso que vai permitir que ela continue investindo.

Nenhuma empresa consegue realizar investimento se ela não opera com lucratividade.

Na primeira entrevista de Jean Paul Prates como presidente da Petrobras, ele disse que

o petróleo continuará sendo a principal atividade nas próximas décadas, mas que a

empresa será protagonista também na economia de baixo carbono, como, por exemplo, na produção

de energia eólica em alto mar.

Quem é que pode perder nisso?

Quem é que pode, digamos, sofrer algum tipo de acomodação?

São os agentes que atuam no segmento de distribuição.

Porque veja Natuza, a Petrobras é quase monopolista no refino.

Ela tem ali 85, 90% da capacidade de refino.

Nos últimos anos houve uma forte abertura do mercado de distribuição, do segmento

de distribuição, inclusive com a venda da BR Distribuidora.

Hoje no Brasil a gente tem mais de 400 empresas que atuam na comercialização de combustíveis,

parte delas atuando na importação.

Então essas empresas vão ter, pela nova estratégia, uma Petrobras que não vai ser

mais passiva.

Ela não vai mais praticar o preço de paridade de importação.

Ela vai competir nos mercados locais.

Então essas empresas vão precisar rever as suas estratégias, vai ter uma certa acomodação

por parte dessas empresas, vão precisar reduzir custos para competir com a Petrobras.

Essas empresas de refino, quando você cita a expressão refino, só para deixar todo

mundo da mesma página, é a transformação do óleo cru, do petróleo ali extraído,

em derivados que tenham valor comercial, como o diesel, como gasolina, é isso?

Perfeito.

O segmento da cadeia de petróleo é formado por três segmentos.

A produção do petróleo bruto, o refino, que é o processamento desse petróleo e a

sua transformação em derivados, diesel, gasolina, nafta, o gás de cozinha.

E a gente tem o segmento da distribuição.

A distribuição são empresas que compram das refinarias, fazem a mistura da gasolina

com o etanol naquela proporção, o diesel com o biodiesel e as distribuidoras vendem

para os postos de gasolina.

Breno, a Petrobras apresentou na terça-feira a nova política de preços e disse que a

referência internacional vai ser mantida, mas também vai considerar outros fatores

como o custo da produção.

Pode parecer complicado para quem nos ouve, então eu vou te pedir para fazer a mágica

de nos ajudar a explicar quais são essas principais mudanças, por favor.

O PPI representa a paridade de preços de importação.

Então era a política que vinha sendo praticada pela Petrobras desde 2016.

É uma política que a gente pode simplificar dizendo que é uma estratégia passiva, na

qual a Petrobras considera como preço dos seus derivados o que seria o valor da importação

do mercado internacional mais os custos de frete.

Então esse seria o preço oficial praticado no mercado brasileiro.

A mudança estratégica na empresa que se deu a partir do comunicado de hoje prevê

uma postura mais ativa da empresa para atuar como uma formadora de preços, atuar de forma

competitiva no mercado.

Ela vai deixar de ter essa postura passiva e, para tanto, ela vai levar em consideração

que a maior parte do petróleo é processado no território brasileiro, por meio das refinarias

da Petrobras.

Então ela vai levar em consideração os custos nacionais e as suas estratégias para

manter a sua fatia de mercado.

Então isso ficou lá explícito no comunicado que a Petrobras chamou de custo alternativo

do cliente.

Ela vai considerar que os clientes se deparam com diferentes fornecedores no mercado, que

é o mercado livre que foi aberto, o mercado de distribuidoras de combustíveis e, inclusive,

de produtos substitutos a esses derivados.

Um preço muito alto dos derivados por muito tempo pode levar à substituição por outros

produtos.

E também vai levar em consideração o custo de oportunidade da Petrobras, que seria a

estratégia mais lucrativa para a Petrobras, a depender do mercado local.

Como assim?

Algo que tem no comunicado da empresa é que ela vai levar em consideração a estratégia

comercial preços competitivos por polo de venda.

Isso dá uma margem para a gente interpretar que ela pode praticar preços diferenciados

nos mercados regionais.

Isso tudo que você nos relata é o que eu estou interpretando como o seu entendimento

do que ficou claro, do que a empresa comunicou.

Mas o que não ficou tão claro assim?

Porque eu ouvi críticas de falta de transparência em outros pontos.

Queria que você traduzisse isso para a gente.

É, você tem razão que o comunicado ainda deixa algumas dúvidas.

Ele não apresenta, digamos, uma fórmula de precificação.

A gente não tem uma fórmula de calcular o preço com as informações que foram fornecidas

no comunicado.

Diferentemente do PPI, o preço de paridade de importação a gente sabe que é o preço

internacional do derivado, mais o custo de trazer esse derivado, o custo do frete

de trazer esse derivado e fornecê-lo no mercado local.

Esse era o preço, que eu estou chamando um preço passivo, que a Petrobras praticava.

Agora ela vai levar em consideração fatores como a visão do cliente e a sua estratégia

em diferentes mercados locais.

Isso ela sinalizou no comunicado.

Pode ser que em alguns mercados seja vantajoso para ela a importação dos derivados.

Em outros mercados ela vai suprir com as suas refinarias próprias.

Então ainda tem algumas dúvidas, mas eu acho que a grande coisa que precisa ser esclarecida

é que a referência internacional permanece.

Ela permanece e está explícito aqui no comunicado da empresa que irá manter a referência com

as cotações internacionais, porém de maneira suavizada.

Suavizar os repasses do barril do preço internacional do petróleo e as oscilações

da taxa de câmbio.

É bom enfatizar que quando eu digo referência não é paridade de importação, é referência

internacional.

Portanto, isso significa que evidentemente quando o mercado lá fora estiver aquecido

no petróleo e nos seus derivados com preços fora do comum, mais altos e consolidadamente

mais altos, isso será refletido no Brasil.

Breno, horas depois de a Petrobras anunciar essa mudança na política de preços, a empresa

reduziu os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha já numa mudança valendo

a partir de quarta-feira.

O que essa redução feita inclusive dentro da nova política de preços nos diz sobre

as novas regras?

Sinaliza que a Petrobras continuará seguindo parâmetros de mercado.

Deixa eu só trazer um dado aqui.

A instituição Abicom, que é a Associação dos Importadores de Combustíveis, ela periodicamente

calcula qual seria o preço de PPI para os derivados de paridade de importação.

No último relatório ela sinalizou que havia uma defasagem de 7% do diesel e 12% da gasolina.

Ou seja, nas últimas semanas os derivados diesel e gasolina estavam sendo vendidos

no Brasil a um preço superior ao da cotação internacional, que seria o PPI.

No caso da gasolina o reajuste anunciado hoje foi exatamente de 12%.

Ele cobre essa defasagem do PPI.

Então a gente poderia dizer que no caso da gasolina a gente ainda está em cima do PPI

de acordo com esse reajuste de hoje.

No caso do diesel já a redução do preço já foi maior.

Havia uma defasagem de 7% e o reajuste foi de 12%.

O litro da gasolina do tipo A vai ficar 12,6% mais barato nas refinarias, uma redução

de R$ 0,40 por litro.

No preço do diesel a queda será de 12,8%, menos R$ 0,44 por litro.

E o botijão de gás de 13 kg vai ficar 21% mais barato, redução de quase R$ 9,00 por

botijão.

Existe a possibilidade de o preço da gasolina aqui no Brasil ficar abaixo do mercado internacional?

Como é que devem ser essas oscilações e quem é que vai pagar por elas?

Pois é, existe essa possibilidade, mas não de maneira permanente.

Como é que eu posso explicar isso?

Se a gente tem um choque de preços no mercado internacional, pelo comunicado da Petrobras,

esse choque não necessariamente vai ser repassado integralmente e no mesmo momento

que ele ocorreu.

E essa estratégia simétrica também, se tem uma redução muito drástica lá fora

na referência internacional, não quer dizer que essa redução vai ser repassada por completo

no mercado doméstico.

De tal forma, o que a gente pode entender do comunicado é que na média, no médio

prazo, essas oscilações vão se compensar.

De tal forma que a Petrobras, obviamente, não pratica um subsídio, ela pratica preços

de mercado, considerando que ela atua numa cadeia internacional, mas também considerando

que parte dos seus custos são em reais, são de petróleo processado nas refinarias brasileiras.

A nova estratégia, aprovada ontem pela diretoria executiva da empresa, continua levando em

conta os preços do mercado internacional, mas retira o custo do frete internacional

em dólar e que tem peso relevante.

Novos itens do mercado local serão diluídos na conta.

Na verdade, quem paga a conta é o consumidor, ele vai estar pagando o custo de produção

daquele produto e mais a margem de lucro da empresa.

A empresa precisa e continuará lucrativa pelo que foi anunciado.

E na tua avaliação, os efeitos macroeconômicos, como é que essa mudança na política de preço

pode afetar a queda da inflação?

Porque no anúncio, tanto o ministro de Minas e Energia quanto o presidente da Petrobras

mencionaram esse aspecto.

Sim, certamente teremos repercussões macroeconômicas, no sentido de que o preço dos combustíveis

tem um peso muito significativo no IPCA e afeta várias cadeias produtivas da economia

só para sinalizar uma delas, o setor de transporte, o diesel, o frete, o transporte urbano.

Então, se você tem preços compatíveis com os custos nacionais, você tende a ter

aí um arrefecimento das pressões inflacionárias.

O ministro de Minas e Energia, também presente no comunicado, disse que a mudança segue

uma diretriz do governo.

Essa nova política, além de servir a uma política comercial adequada, que é competir

internamente e vai se tornar os preços mais atrativos para o consumidor, vai diminuir

o impacto na inflação e vai ajudar o Brasil, inclusive, nesse momento, a sensibilizar,

por exemplo, o Banco Central, para que a gente possa diminuir a nossa taxa de juros.

E veja, Natuza, isso não significa necessariamente que a Petrobras vai perder receita, certo?

Porque a gente tem que lembrar que receita é preço vezes quantidade, certo?

Com o preço muito alto da gasolina, do diesel, há uma certa contração da demanda também.

Na medida que o preço fica mais competitivo, pode haver um aumento da quantidade comercializada

de combustível e isso ser um canal para aumentar as receitas da Petrobras.

Breno, muito obrigada pela sua participação.

Foi um prazer recebê-lo aqui no assunto.

O prazer foi meu, na disposição.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Manuel Ventura.

Manuel, depois do anúncio feito pela Petrobras, as ações da empresa subiram e a Bolsa de

Valores de São Paulo também subiu.

Então, eu quero te pedir para nos explicar como o mercado reagiu ao anúncio de terça

e se isso, de alguma maneira, te surpreendeu.

Natuza, surpreende porque a lógica que você espera de uma relação dessa, que se esperava

de uma reação do mercado com essa mudança, era de que fosse uma, inicialmente, houvesse

uma reação negativa.

Mas após as primeiras reações, as informações que vêm do mercado são de que a mudança

na política de preços da Petrobras, ela já estava precificada, ou seja, ela já era esperada,

já estava no preço das ações de alguma forma.

Só que a mudança que foi anunciada nesta terça-feira, ela veio um pouco melhor do

que o mercado esperava, do que o mercado financeiro esperava.

Hoje, o dólar subiu e as ações da Petrobras fecharam o dia com alta de 2,49%.

Era uma regra menos transparente, sem dúvida, porque agora os pesos não estão tão explícitos.

O que é importante é que a companhia tome as decisões corretas para ter uma boa lucratividade,

para fazer uma boa questão.

Afinal de contas, estamos falando de um patrimônio público.

A nova política que foi divulgada na visão do mercado financeiro, ela não refletiu ainda

um represamento de preços, uma política que tem uma promessa de manter algum nível

de referência com os preços praticados no mercado internacional e que, de alguma forma,

isso potencializa essa reação do mercado.

Nessa terça, a Petrobras também fez um anúncio de redução do preço dos combustíveis,

o que já era esperado, mas esse anúncio, o preço, o nível do preço do combustível

veio abaixo do que o mercado calculava como possível.

Então o mercado já tinha calculado que a Petrobras poderia fazer esse reajuste nos

preços agora, considerando o valor do dólar e do barril de petróleo.

E o mercado fez um cálculo, inclusive, mais generoso do que a Petrobras.

Então como veio abaixo do que o mercado esperava, tudo isso influenciou no movimento positivo

das ações.

O mercado esperava o pior na visão do mercado.

Como não veio o pior na visão do mercado, acabou se considerando positivo o que foi

divulgado pela Petrobras.

Porque também é um momento propício para a Petrobras fazer isso.

A Petrobras está com nível... o barril de petróleo está em queda, já tem alguns dias,

o dólar está caindo.

Então a Petrobras hoje consegue fazer um movimento, ter uma gordura maior de preços

e esse movimento feito nesse momento acabou ajudando nesse movimento das ações.

E o que essa mudança nos diz sobre a forma como o governo Lula enxerga a Petrobras, Manuel?

E também como essa visão mudou dos primeiros mandatos do governo Lula para esse terceiro mandato?

O governo Lula, o presidente Lula, os ministros, eles consideram a Petrobras como a ponta de

lança de políticas públicas.

E quer fazer a Petrobras uma estatal, uma empresa para fazer políticas públicas, seja

com preço dos combustíveis, seja com investimentos.

A gente viu nos últimos dias, a Petrobras anunciou, por exemplo, questão voltada a

transportes, a navios no país.

Então são políticas de investimento que o governo quer fazer da Petrobras.

E é importante colocar como contexto nisso que a situação fiscal do país, ela é ruim,

ela não está boa e quando você tem uma empresa que está financeiramente saudável,

ela consegue ser uma empresa que vai fazer, na visão do governo Lula, possibilidade de

fazer política pública.

Mas nisso o presidente Lula pessoalmente esbarra numa diferença fundamental do que

ele saiu, de quanto ele saiu da presidência em 2010, no seu segundo mandato, e está agora.

Em Brasília tem se falado muito que o presidente tem se queixado de pouco poder em relação

às estatais, em relação à Petrobras.

Ele já vinha se queixando há algum tempo com o presidente da Petrobras, Jean-Paul Pratts,

na demora do presidente fazer esse movimento de redução de preços.

A Petrobras, ao invés de investir, ela resolveu agraciar os acionistas minoritários com 215

bilhões.

Teve um lucro de 195 bilhões.

E quanto foi o investimento da Petrobras?

Quase nada.

Porque a Petrobras, que no nosso tempo era uma empresa de desenvolvimento desse país,

agora é uma empresa exportadora de óleo cru.

Não foi para isso que nós descobrimos o pré-sal.

Só que esse é um cenário que mudou de 2010 até agora.

A gente teve a lei das estatais, a governança das empresas estatais foi aprimorada, os estatutos,

os minoritários das empresas têm ações mais proativas hoje na justiça em caso de

danos.

Então, tudo isso foi um processo de aperfeiçoamento da governança das estatais que ainda está

sendo assimilado pelo presidente.

Você chegou a mencionar uma frustração do presidente da República, segundo relatos

das suas fontes em Brasília, por ter menos poder sobre a Petrobras e sobre estatais.

Mas acho que esse é um diagnóstico geral.

Lula se debate com menos poder presidencial em relação a todas as áreas praticamente

de governo.

Só fiz esse a parte porque a tua avaliação me parece geral, não só para o caso específico

da Petrobras.

E aí eu queria te fazer uma outra pergunta, Manuel.

Me parece que não é por acaso que essa mudança foi feita nessa semana.

Queria checar se a sua percepção é a mesma e te pedir para nos explicar o movimento

político e a estratégia por trás do anúncio ser feito agora.

Natuza, não é por acaso.

O fator mais de momento é o fato de ser votado nesta semana a urgência e na sequência

o projeto em si, o projeto do novo arcabouço fiscal, que é a nova regra de controle das

contas públicas, que veio um relatório do deputado Claudio Cajado, veio um relatório

muito apertado em relação às exigências de cumprimento da regra fiscal, em que ele

impede, por exemplo, reajuste para servidores em caso de descumprimento reiterado da meta

fiscal.

O projeto agora determina que a cada dois meses o governo apresente um relatório sobre

as despesas e as receitas.

Pela proposta original, o documento era facultativo e apresentado três vezes por ano.

Esse relatório é um termômetro de como estão as contas públicas e a partir dele,

caso as receitas previstas não tenham se confirmado, o governo bloqueia despesas.

A expectativa é que amanhã seja aprovado o pedido de urgência para a votação do

novo marco fiscal.

Com isso, o projeto não vai precisar ser debatido nas comissões.

Será levado direto para o plenário da Câmara.

O PT, que oferecia resistências, concordou com o texto.

Havia uma reclamação da base do PT, havia uma reclamação de parlamentares, ainda há

uma reclamação de parlamentares com relação a isso, e o governo precisava mostrar que

não está a rebote, seja do Congresso ou de outras entidades ou de outras instituições

em Brasília, o governo precisava mostrar que tem poder e o presidente precisava mostrar

que está tomando medidas como prometeu na campanha.

Essa questão da mudança na regra da Petrobras foi prometida durante a campanha, então o

presidente precisava mostrar que estava tomando medidas para reduzir o preço dos combustíveis,

inclusive como forma de acenar para a base dele, que se incomodou e está incomodada

com a bolsa fiscal.

Essa mudança na política de preços vem logo depois da Petrobras anunciar um pagamento

de dividendo de mais de 20 bilhões de reais nesse ano.

Então de alguma forma o governo Petrobras liberou dividendos, o que para o mercado financeiro

foi positivo, mas essa liberação de dividendos também foi criticada por bases do PT, por

setores do PT, que estavam vendo o movimento errado, que não era o movimento que o presidente

tinha prometido.

Então você faz um movimento casado, ao mesmo tempo muda a política de preços, mas

fez o movimento de liberar o dividendo, então agradando de alguma maneira os dois lados.

E, Manoel, para finalizar, eu acho que vale a pena a gente fazer um resgate histórico

do por que que o PPI, que era essa política de preço de repasse dos valores internacionais

para cá, foi instituída, porque essa política que o PT, a própria esquerda, sempre criticou

muito porque repassava as oscilações do valor do barril de petróleo lá fora, numa

formação de preço em dólar quando se tem muito petróleo aqui no Brasil, mas isso

veio depois de a empresa ficar à deriva, justamente em razão de interferência na

política de preço, ou seja, a empresa tomou prejuízo em detrimento de uma vontade do

governo acionista majoritário.

Você pode contar um pouco essa história para a gente?

Ela surgiu porque a Petrobras, durante muitos anos, especialmente durante o segundo governo

Dilma, ela segurou o preço dos combustíveis por determinação da presidente, e isso foi

feito abertamente, sabia-se que a presidente estava pedindo para segurar o preço dos combustíveis

como forma de controlar a inflação.

Só que a partir do momento que a Petrobras segurou o preço dos combustíveis, a empresa

passou a ter prejuízos recorrentemente em relação a essa comercialização, porque

a Petrobras vendia no Brasil os preços muito abaixo do que eram praticados no mercado

internacional.

E por que isso dá prejuízo para a empresa?

Por alguns aspectos.

O primeiro deles é a cadeia do petróleo, é uma cadeia em dólar e que é referenciada

ao barril de petróleo, ela não é uma cadeia em reais.

A Petrobras precisa importar a parte do petróleo que ela refina, e também porque o Brasil

precisa sempre importar a gasolina e diesel, porque as nossas refinarias não dão conta

de refinar toda a capacidade, toda a demanda por diesel e gasolina que a gente tem.

Então junta todos esses fatores, quando coloca tudo isso numa cesta de preços, a Petrobras

no passado, durante o governo Dilma, a Petrobras acabava tendo prejuízos porque importava

com valor mais alto do que vendia, porque explorava com valor mais alto do que vendia,

e isso tudo ficava como prejuízo para a empresa, como prejuízo para os acionistas,

o governo federal e os principais acionistas da Petrobras, de maneira que o governo federal

acabava sendo o principal prejudicado.

Então durante o governo Michel Temer, o então presidente da Petrobras, Pedro Parente, instituiu

essa política para dizer que o preço vendido no mercado interno tinha que estar equiparado

aos valores do mercado externo, ou seja, do dólar, do barril de petróleo, que são as

referências para a produção de petróleo.

E assim recuperar a empresa financeiramente.

Exatamente, foi o que aconteceu.

A Petrobras passou a dar lucro e a Petrobras reduziu o seu endevidamento de maneira substancial.

Manuel, muito obrigada.

Obrigado.

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Comigo na equipe do Assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato, Tiago Aguiar, Luiz

Felipe Silva, Tiago Kazurowski, Gabriel de Campos, Nayara Fernandes e Guilherme Romero.

Eu sou Natuzaneri e fico por aqui.

Até o próximo assunto.

Legendas pela comunidade Amara.org

Petrobras e a nova política de preços I O ASSUNTO I g1 Petrobras und die neue Preispolitik I DAS THEMA I g1 Petrobras and the new pricing policy I THE SUBJECT I g1 ペトロブラスと新価格政策 I テーマ I g1 Petrobras i nowa polityka cenowa I PRZEDMIOT I g1 Petrobras 和新定价政策 IO SUBJECT I g1

O preço de paridade de importação, o chamado PPI, nasceu em 2016.

Foi anunciado por Pedro Parente, à época presidente da Petrobras, como uma mudança

de política da empresa.

O que nós estamos fazendo nesse momento é anunciar a nova política de preços da

companhia, que é uma política de preços baseada na paridade internacional de preços,

que é assim que funciona quando você está lidando com uma comódice.

Essa política definia os reajustes da gasolina e do diesel com base no custo de importação

dos produtos, as oscilações do preço internacional do barril do petróleo e da cotação do dólar.

Decisão tomada para corrigir uma política de preços que levou aos maiores rombos da

história da estatal.

A Petrobras registrou um prejuízo de quase 35 bilhões de reais em 2015.

É o pior resultado financeiro anual da companhia, superando até aquele prejuízo de 21 bilhões

de reais de 2014, que incluía as perdas com corrupção apuradas pela Lava Jato.

A Petrobras teve prejuízo líquido de 14,8 bilhões de reais em 2016.

Com a paridade, o cenário mudou para a Petrobras e para os seus acionistas.

O lucro recorde em 2022 foi de 188 bilhões e 300 milhões de reais e representou o crescimento

de 77% em relação ao lucro líquido do ano anterior.

Mas com os sucessivos aumentos veio também um grande problema.

Os 11 dias de paralisação de caminhoneiros fizeram a produção encolher quase 11%.

Depois da greve dos caminhoneiros, na média, os combustíveis ficaram mais caros.

A alta da gasolina, mais uma vez, ela pesou na prévia da inflação e...

E só sobe, só sobe, tá subindo demais e quem vai pagar é a gente.

Não é possível a gente sobreviver dessa forma, dessa maneira, nós trabalhador, nós

que rodamos mototáxis, as pessoas que rodam Uber, está já cansado de pagar o preço caro

na bomba do preço do combustível.

Com peso direto na inflação e no custo de vida da população, o caso virou promessa

de campanha.

De olho em seu terceiro mandato, Lula prometeu repetidas vezes mudar a política de preços

da maior petrolífera do país.

Eu quero dizer que, alto e bom só, nós vamos abrasileirar o preço da gasolina.

O preço vai ser brasileiro, porque os investimentos são feitos em reais.

E a proposta do atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prats, foi apresentar uma espécie

de meio termo.

Nós não precisamos voltar ao tempo onde não houve nenhum reajuste no ano inteiro.

2006 aconteceu isso, 2007 aconteceu isso.

E nós também não precisamos viver dentro da maratona de 118 reajustes, isso para um

combustível apenas, em 2017, que levou inclusive a uma crise enorme causada pela greve dos

caminhoneiros e todo aquele debate que aconteceu.

O comunicado da Petrobras diz, o anúncio encerra a subordinação obrigatória ao preço

de paridade de importação.

Da redação do G1, eu sou Natuzaneri e o assunto hoje é a nova política de preços

da Petrobras.

Um episódio para entender o que muda, quem ganha, quem perde e por que as novas regras

foram anunciadas agora.

Neste episódio, eu converso com o economista especialista em petróleo, Breno Carvalho

Ross, doutor pela UFRJ e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e com Manuel

Ventura, repórter de economia do jornal O Globo em Brasília.

Quarta-feira, 17 de maio.

Breno, a Petrobras anunciou uma nova política de preço e antes da gente detalhar os aspectos

dessa nova política de preços, eu quero te perguntar, quem é que ganha com essa nova

política?

Quem é que perde com essa nova política?

Se é que se perde de fato?

Olha, primeiramente, eu acho que o consumidor brasileiro tende a ganhar por dois canais.

Uma menor volatilidade no preço doméstico, ou seja, o repasse da referência internacional

ela vai ser menos frequente esse repasse e não tem uma periodicidade definida, então

essa volatilidade nos preços tende a diminuir e por ter uma postura mais competitiva por

parte da Petrobras, que ela sinaliza que vai disputar mercados, ela tende a cobrar preços

relativamente mais baixos em relação ao que estava sendo praticado.

Porque a gente, na verdade, o presidente da companhia, o Jean Paul Prats, em entrevista

à jornalista Miria Leitão, ele falou que a PPI, na verdade, representa a Petrobras

cobrar o preço do concorrente, que é na verdade quem está importando combustíveis para suprir

o mercado brasileiro.

Nós estamos, então, comunicando ao mercado um ajuste na estratégia comercial, da composição

de preços e das condições de venda a clientes da Petrobras.

Esse modelo maximiza a incorporação de vantagens competitivas, portanto, nós vamos usar as

vantagens que a Petrobras tem a nosso favor e a favor do país.

Só que a Petrobras processa o petróleo e produz os derivados em território nacional,

então ela tem custos em reais.

Então é possível ela manter a sua lucratividade e ir cobrando o preço compatível com o seu

custo de produção, que não necessariamente vai ser o custo de importação.

E dá para fazer isso sem prejudicar a empresa, sem prejudicar acionistas da empresa?

Sim, é possível.

É possível e está no comunicado que a empresa deve manter a sua saúde financeira a longo

prazo, porque é isso que vai permitir que ela continue investindo.

Nenhuma empresa consegue realizar investimento se ela não opera com lucratividade.

Na primeira entrevista de Jean Paul Prates como presidente da Petrobras, ele disse que

o petróleo continuará sendo a principal atividade nas próximas décadas, mas que a

empresa será protagonista também na economia de baixo carbono, como, por exemplo, na produção

de energia eólica em alto mar.

Quem é que pode perder nisso?

Quem é que pode, digamos, sofrer algum tipo de acomodação?

São os agentes que atuam no segmento de distribuição.

Porque veja Natuza, a Petrobras é quase monopolista no refino.

Ela tem ali 85, 90% da capacidade de refino.

Nos últimos anos houve uma forte abertura do mercado de distribuição, do segmento

de distribuição, inclusive com a venda da BR Distribuidora.

Hoje no Brasil a gente tem mais de 400 empresas que atuam na comercialização de combustíveis,

parte delas atuando na importação.

Então essas empresas vão ter, pela nova estratégia, uma Petrobras que não vai ser

mais passiva.

Ela não vai mais praticar o preço de paridade de importação.

Ela vai competir nos mercados locais.

Então essas empresas vão precisar rever as suas estratégias, vai ter uma certa acomodação

por parte dessas empresas, vão precisar reduzir custos para competir com a Petrobras.

Essas empresas de refino, quando você cita a expressão refino, só para deixar todo

mundo da mesma página, é a transformação do óleo cru, do petróleo ali extraído,

em derivados que tenham valor comercial, como o diesel, como gasolina, é isso?

Perfeito.

O segmento da cadeia de petróleo é formado por três segmentos.

A produção do petróleo bruto, o refino, que é o processamento desse petróleo e a

sua transformação em derivados, diesel, gasolina, nafta, o gás de cozinha.

E a gente tem o segmento da distribuição.

A distribuição são empresas que compram das refinarias, fazem a mistura da gasolina

com o etanol naquela proporção, o diesel com o biodiesel e as distribuidoras vendem

para os postos de gasolina.

Breno, a Petrobras apresentou na terça-feira a nova política de preços e disse que a

referência internacional vai ser mantida, mas também vai considerar outros fatores

como o custo da produção.

Pode parecer complicado para quem nos ouve, então eu vou te pedir para fazer a mágica

de nos ajudar a explicar quais são essas principais mudanças, por favor.

O PPI representa a paridade de preços de importação.

Então era a política que vinha sendo praticada pela Petrobras desde 2016.

É uma política que a gente pode simplificar dizendo que é uma estratégia passiva, na

qual a Petrobras considera como preço dos seus derivados o que seria o valor da importação

do mercado internacional mais os custos de frete.

Então esse seria o preço oficial praticado no mercado brasileiro.

A mudança estratégica na empresa que se deu a partir do comunicado de hoje prevê

uma postura mais ativa da empresa para atuar como uma formadora de preços, atuar de forma

competitiva no mercado.

Ela vai deixar de ter essa postura passiva e, para tanto, ela vai levar em consideração

que a maior parte do petróleo é processado no território brasileiro, por meio das refinarias

da Petrobras.

Então ela vai levar em consideração os custos nacionais e as suas estratégias para

manter a sua fatia de mercado.

Então isso ficou lá explícito no comunicado que a Petrobras chamou de custo alternativo

do cliente.

Ela vai considerar que os clientes se deparam com diferentes fornecedores no mercado, que

é o mercado livre que foi aberto, o mercado de distribuidoras de combustíveis e, inclusive,

de produtos substitutos a esses derivados.

Um preço muito alto dos derivados por muito tempo pode levar à substituição por outros

produtos.

E também vai levar em consideração o custo de oportunidade da Petrobras, que seria a

estratégia mais lucrativa para a Petrobras, a depender do mercado local.

Como assim?

Algo que tem no comunicado da empresa é que ela vai levar em consideração a estratégia

comercial preços competitivos por polo de venda.

Isso dá uma margem para a gente interpretar que ela pode praticar preços diferenciados

nos mercados regionais.

Isso tudo que você nos relata é o que eu estou interpretando como o seu entendimento

do que ficou claro, do que a empresa comunicou.

Mas o que não ficou tão claro assim?

Porque eu ouvi críticas de falta de transparência em outros pontos.

Queria que você traduzisse isso para a gente.

É, você tem razão que o comunicado ainda deixa algumas dúvidas.

Ele não apresenta, digamos, uma fórmula de precificação.

A gente não tem uma fórmula de calcular o preço com as informações que foram fornecidas

no comunicado.

Diferentemente do PPI, o preço de paridade de importação a gente sabe que é o preço

internacional do derivado, mais o custo de trazer esse derivado, o custo do frete

de trazer esse derivado e fornecê-lo no mercado local.

Esse era o preço, que eu estou chamando um preço passivo, que a Petrobras praticava.

Agora ela vai levar em consideração fatores como a visão do cliente e a sua estratégia

em diferentes mercados locais.

Isso ela sinalizou no comunicado.

Pode ser que em alguns mercados seja vantajoso para ela a importação dos derivados.

Em outros mercados ela vai suprir com as suas refinarias próprias.

Então ainda tem algumas dúvidas, mas eu acho que a grande coisa que precisa ser esclarecida

é que a referência internacional permanece.

Ela permanece e está explícito aqui no comunicado da empresa que irá manter a referência com

as cotações internacionais, porém de maneira suavizada.

Suavizar os repasses do barril do preço internacional do petróleo e as oscilações

da taxa de câmbio.

É bom enfatizar que quando eu digo referência não é paridade de importação, é referência

internacional.

Portanto, isso significa que evidentemente quando o mercado lá fora estiver aquecido

no petróleo e nos seus derivados com preços fora do comum, mais altos e consolidadamente

mais altos, isso será refletido no Brasil.

Breno, horas depois de a Petrobras anunciar essa mudança na política de preços, a empresa

reduziu os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha já numa mudança valendo

a partir de quarta-feira.

O que essa redução feita inclusive dentro da nova política de preços nos diz sobre

as novas regras?

Sinaliza que a Petrobras continuará seguindo parâmetros de mercado.

Deixa eu só trazer um dado aqui.

A instituição Abicom, que é a Associação dos Importadores de Combustíveis, ela periodicamente

calcula qual seria o preço de PPI para os derivados de paridade de importação.

No último relatório ela sinalizou que havia uma defasagem de 7% do diesel e 12% da gasolina.

Ou seja, nas últimas semanas os derivados diesel e gasolina estavam sendo vendidos

no Brasil a um preço superior ao da cotação internacional, que seria o PPI.

No caso da gasolina o reajuste anunciado hoje foi exatamente de 12%.

Ele cobre essa defasagem do PPI.

Então a gente poderia dizer que no caso da gasolina a gente ainda está em cima do PPI

de acordo com esse reajuste de hoje.

No caso do diesel já a redução do preço já foi maior.

Havia uma defasagem de 7% e o reajuste foi de 12%.

O litro da gasolina do tipo A vai ficar 12,6% mais barato nas refinarias, uma redução

de R$ 0,40 por litro.

No preço do diesel a queda será de 12,8%, menos R$ 0,44 por litro.

E o botijão de gás de 13 kg vai ficar 21% mais barato, redução de quase R$ 9,00 por

botijão.

Existe a possibilidade de o preço da gasolina aqui no Brasil ficar abaixo do mercado internacional?

Como é que devem ser essas oscilações e quem é que vai pagar por elas?

Pois é, existe essa possibilidade, mas não de maneira permanente.

Como é que eu posso explicar isso?

Se a gente tem um choque de preços no mercado internacional, pelo comunicado da Petrobras,

esse choque não necessariamente vai ser repassado integralmente e no mesmo momento

que ele ocorreu.

E essa estratégia simétrica também, se tem uma redução muito drástica lá fora

na referência internacional, não quer dizer que essa redução vai ser repassada por completo

no mercado doméstico.

De tal forma, o que a gente pode entender do comunicado é que na média, no médio

prazo, essas oscilações vão se compensar.

De tal forma que a Petrobras, obviamente, não pratica um subsídio, ela pratica preços

de mercado, considerando que ela atua numa cadeia internacional, mas também considerando

que parte dos seus custos são em reais, são de petróleo processado nas refinarias brasileiras.

A nova estratégia, aprovada ontem pela diretoria executiva da empresa, continua levando em

conta os preços do mercado internacional, mas retira o custo do frete internacional

em dólar e que tem peso relevante.

Novos itens do mercado local serão diluídos na conta.

Na verdade, quem paga a conta é o consumidor, ele vai estar pagando o custo de produção

daquele produto e mais a margem de lucro da empresa.

A empresa precisa e continuará lucrativa pelo que foi anunciado.

E na tua avaliação, os efeitos macroeconômicos, como é que essa mudança na política de preço

pode afetar a queda da inflação?

Porque no anúncio, tanto o ministro de Minas e Energia quanto o presidente da Petrobras

mencionaram esse aspecto.

Sim, certamente teremos repercussões macroeconômicas, no sentido de que o preço dos combustíveis

tem um peso muito significativo no IPCA e afeta várias cadeias produtivas da economia

só para sinalizar uma delas, o setor de transporte, o diesel, o frete, o transporte urbano.

Então, se você tem preços compatíveis com os custos nacionais, você tende a ter

aí um arrefecimento das pressões inflacionárias.

O ministro de Minas e Energia, também presente no comunicado, disse que a mudança segue

uma diretriz do governo.

Essa nova política, além de servir a uma política comercial adequada, que é competir

internamente e vai se tornar os preços mais atrativos para o consumidor, vai diminuir

o impacto na inflação e vai ajudar o Brasil, inclusive, nesse momento, a sensibilizar,

por exemplo, o Banco Central, para que a gente possa diminuir a nossa taxa de juros.

E veja, Natuza, isso não significa necessariamente que a Petrobras vai perder receita, certo?

Porque a gente tem que lembrar que receita é preço vezes quantidade, certo?

Com o preço muito alto da gasolina, do diesel, há uma certa contração da demanda também.

Na medida que o preço fica mais competitivo, pode haver um aumento da quantidade comercializada

de combustível e isso ser um canal para aumentar as receitas da Petrobras.

Breno, muito obrigada pela sua participação.

Foi um prazer recebê-lo aqui no assunto.

O prazer foi meu, na disposição.

Espera um pouquinho que eu já volto para falar com o Manuel Ventura.

Manuel, depois do anúncio feito pela Petrobras, as ações da empresa subiram e a Bolsa de

Valores de São Paulo também subiu.

Então, eu quero te pedir para nos explicar como o mercado reagiu ao anúncio de terça

e se isso, de alguma maneira, te surpreendeu.

Natuza, surpreende porque a lógica que você espera de uma relação dessa, que se esperava

de uma reação do mercado com essa mudança, era de que fosse uma, inicialmente, houvesse

uma reação negativa.

Mas após as primeiras reações, as informações que vêm do mercado são de que a mudança

na política de preços da Petrobras, ela já estava precificada, ou seja, ela já era esperada,

já estava no preço das ações de alguma forma.

Só que a mudança que foi anunciada nesta terça-feira, ela veio um pouco melhor do

que o mercado esperava, do que o mercado financeiro esperava.

Hoje, o dólar subiu e as ações da Petrobras fecharam o dia com alta de 2,49%.

Era uma regra menos transparente, sem dúvida, porque agora os pesos não estão tão explícitos.

O que é importante é que a companhia tome as decisões corretas para ter uma boa lucratividade,

para fazer uma boa questão.

Afinal de contas, estamos falando de um patrimônio público.

A nova política que foi divulgada na visão do mercado financeiro, ela não refletiu ainda

um represamento de preços, uma política que tem uma promessa de manter algum nível

de referência com os preços praticados no mercado internacional e que, de alguma forma,

isso potencializa essa reação do mercado.

Nessa terça, a Petrobras também fez um anúncio de redução do preço dos combustíveis,

o que já era esperado, mas esse anúncio, o preço, o nível do preço do combustível

veio abaixo do que o mercado calculava como possível.

Então o mercado já tinha calculado que a Petrobras poderia fazer esse reajuste nos

preços agora, considerando o valor do dólar e do barril de petróleo.

E o mercado fez um cálculo, inclusive, mais generoso do que a Petrobras.

Então como veio abaixo do que o mercado esperava, tudo isso influenciou no movimento positivo

das ações.

O mercado esperava o pior na visão do mercado.

Como não veio o pior na visão do mercado, acabou se considerando positivo o que foi

divulgado pela Petrobras.

Porque também é um momento propício para a Petrobras fazer isso.

A Petrobras está com nível... o barril de petróleo está em queda, já tem alguns dias,

o dólar está caindo.

Então a Petrobras hoje consegue fazer um movimento, ter uma gordura maior de preços

e esse movimento feito nesse momento acabou ajudando nesse movimento das ações.

E o que essa mudança nos diz sobre a forma como o governo Lula enxerga a Petrobras, Manuel?

E também como essa visão mudou dos primeiros mandatos do governo Lula para esse terceiro mandato?

O governo Lula, o presidente Lula, os ministros, eles consideram a Petrobras como a ponta de

lança de políticas públicas.

E quer fazer a Petrobras uma estatal, uma empresa para fazer políticas públicas, seja

com preço dos combustíveis, seja com investimentos.

A gente viu nos últimos dias, a Petrobras anunciou, por exemplo, questão voltada a

transportes, a navios no país.

Então são políticas de investimento que o governo quer fazer da Petrobras.

E é importante colocar como contexto nisso que a situação fiscal do país, ela é ruim,

ela não está boa e quando você tem uma empresa que está financeiramente saudável,

ela consegue ser uma empresa que vai fazer, na visão do governo Lula, possibilidade de

fazer política pública.

Mas nisso o presidente Lula pessoalmente esbarra numa diferença fundamental do que

ele saiu, de quanto ele saiu da presidência em 2010, no seu segundo mandato, e está agora.

Em Brasília tem se falado muito que o presidente tem se queixado de pouco poder em relação

às estatais, em relação à Petrobras.

Ele já vinha se queixando há algum tempo com o presidente da Petrobras, Jean-Paul Pratts,

na demora do presidente fazer esse movimento de redução de preços.

A Petrobras, ao invés de investir, ela resolveu agraciar os acionistas minoritários com 215

bilhões.

Teve um lucro de 195 bilhões.

E quanto foi o investimento da Petrobras?

Quase nada.

Porque a Petrobras, que no nosso tempo era uma empresa de desenvolvimento desse país,

agora é uma empresa exportadora de óleo cru.

Não foi para isso que nós descobrimos o pré-sal.

Só que esse é um cenário que mudou de 2010 até agora.

A gente teve a lei das estatais, a governança das empresas estatais foi aprimorada, os estatutos,

os minoritários das empresas têm ações mais proativas hoje na justiça em caso de

danos.

Então, tudo isso foi um processo de aperfeiçoamento da governança das estatais que ainda está

sendo assimilado pelo presidente.

Você chegou a mencionar uma frustração do presidente da República, segundo relatos

das suas fontes em Brasília, por ter menos poder sobre a Petrobras e sobre estatais.

Mas acho que esse é um diagnóstico geral.

Lula se debate com menos poder presidencial em relação a todas as áreas praticamente

de governo.

Só fiz esse a parte porque a tua avaliação me parece geral, não só para o caso específico

da Petrobras.

E aí eu queria te fazer uma outra pergunta, Manuel.

Me parece que não é por acaso que essa mudança foi feita nessa semana.

Queria checar se a sua percepção é a mesma e te pedir para nos explicar o movimento

político e a estratégia por trás do anúncio ser feito agora.

Natuza, não é por acaso.

O fator mais de momento é o fato de ser votado nesta semana a urgência e na sequência

o projeto em si, o projeto do novo arcabouço fiscal, que é a nova regra de controle das

contas públicas, que veio um relatório do deputado Claudio Cajado, veio um relatório

muito apertado em relação às exigências de cumprimento da regra fiscal, em que ele

impede, por exemplo, reajuste para servidores em caso de descumprimento reiterado da meta

fiscal.

O projeto agora determina que a cada dois meses o governo apresente um relatório sobre

as despesas e as receitas.

Pela proposta original, o documento era facultativo e apresentado três vezes por ano.

Esse relatório é um termômetro de como estão as contas públicas e a partir dele,

caso as receitas previstas não tenham se confirmado, o governo bloqueia despesas.

A expectativa é que amanhã seja aprovado o pedido de urgência para a votação do

novo marco fiscal.

Com isso, o projeto não vai precisar ser debatido nas comissões.

Será levado direto para o plenário da Câmara.

O PT, que oferecia resistências, concordou com o texto.

Havia uma reclamação da base do PT, havia uma reclamação de parlamentares, ainda há

uma reclamação de parlamentares com relação a isso, e o governo precisava mostrar que

não está a rebote, seja do Congresso ou de outras entidades ou de outras instituições

em Brasília, o governo precisava mostrar que tem poder e o presidente precisava mostrar

que está tomando medidas como prometeu na campanha.

Essa questão da mudança na regra da Petrobras foi prometida durante a campanha, então o

presidente precisava mostrar que estava tomando medidas para reduzir o preço dos combustíveis,

inclusive como forma de acenar para a base dele, que se incomodou e está incomodada

com a bolsa fiscal.

Essa mudança na política de preços vem logo depois da Petrobras anunciar um pagamento

de dividendo de mais de 20 bilhões de reais nesse ano.

Então de alguma forma o governo Petrobras liberou dividendos, o que para o mercado financeiro

foi positivo, mas essa liberação de dividendos também foi criticada por bases do PT, por

setores do PT, que estavam vendo o movimento errado, que não era o movimento que o presidente

tinha prometido.

Então você faz um movimento casado, ao mesmo tempo muda a política de preços, mas

fez o movimento de liberar o dividendo, então agradando de alguma maneira os dois lados.

E, Manoel, para finalizar, eu acho que vale a pena a gente fazer um resgate histórico

do por que que o PPI, que era essa política de preço de repasse dos valores internacionais

para cá, foi instituída, porque essa política que o PT, a própria esquerda, sempre criticou

muito porque repassava as oscilações do valor do barril de petróleo lá fora, numa

formação de preço em dólar quando se tem muito petróleo aqui no Brasil, mas isso

veio depois de a empresa ficar à deriva, justamente em razão de interferência na

política de preço, ou seja, a empresa tomou prejuízo em detrimento de uma vontade do

governo acionista majoritário.

Você pode contar um pouco essa história para a gente?

Ela surgiu porque a Petrobras, durante muitos anos, especialmente durante o segundo governo

Dilma, ela segurou o preço dos combustíveis por determinação da presidente, e isso foi

feito abertamente, sabia-se que a presidente estava pedindo para segurar o preço dos combustíveis

como forma de controlar a inflação.

Só que a partir do momento que a Petrobras segurou o preço dos combustíveis, a empresa

passou a ter prejuízos recorrentemente em relação a essa comercialização, porque

a Petrobras vendia no Brasil os preços muito abaixo do que eram praticados no mercado

internacional.

E por que isso dá prejuízo para a empresa?

Por alguns aspectos.

O primeiro deles é a cadeia do petróleo, é uma cadeia em dólar e que é referenciada

ao barril de petróleo, ela não é uma cadeia em reais.

A Petrobras precisa importar a parte do petróleo que ela refina, e também porque o Brasil

precisa sempre importar a gasolina e diesel, porque as nossas refinarias não dão conta

de refinar toda a capacidade, toda a demanda por diesel e gasolina que a gente tem.

Então junta todos esses fatores, quando coloca tudo isso numa cesta de preços, a Petrobras

no passado, durante o governo Dilma, a Petrobras acabava tendo prejuízos porque importava

com valor mais alto do que vendia, porque explorava com valor mais alto do que vendia,

e isso tudo ficava como prejuízo para a empresa, como prejuízo para os acionistas,

o governo federal e os principais acionistas da Petrobras, de maneira que o governo federal

acabava sendo o principal prejudicado.

Então durante o governo Michel Temer, o então presidente da Petrobras, Pedro Parente, instituiu

essa política para dizer que o preço vendido no mercado interno tinha que estar equiparado

aos valores do mercado externo, ou seja, do dólar, do barril de petróleo, que são as

referências para a produção de petróleo.

E assim recuperar a empresa financeiramente.

Exatamente, foi o que aconteceu.

A Petrobras passou a dar lucro e a Petrobras reduziu o seu endevidamento de maneira substancial.

Manuel, muito obrigada.

Obrigado.

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Comigo na equipe do Assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato, Tiago Aguiar, Luiz

Felipe Silva, Tiago Kazurowski, Gabriel de Campos, Nayara Fernandes e Guilherme Romero.

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Até o próximo assunto.

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