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História do Brasil (History of Brazil), O Brasil foi descoberto pelos índios | We'e'ena Tikuna | TEDxLaçador

O Brasil foi descoberto pelos índios | We'e'ena Tikuna | TEDxLaçador

Transcriber: Najara Bertoli Revisor: Claudia Sander

(Ticuna) Olá!

Nós, os povos indígenas, não somos analfabetos.

Somos povos ágrafos.

Ágrafos são os povos

que, por não terem conhecido o papel e a caneta,

não escrevem sua história e sabedoria.

Todo conhecimento é passado na oralidade de pai para filho.

Nós, os indígenas que estamos vivendo na cidade,

não deixamos de ser indígenas.

No Brasil, criou-se um preconceito de que o indígena é um ser inferior.

Que o indígena formado numa universidade,

sendo médico, advogado, nutricionista,

usando celular, usando roupa deixou de ser indígena.

Pré é antes. Conceito é saber ou conhecer.

O preconceito é o julgamento prévio daquilo que você não conhece.

Lugar de índio é na aldeia?

O fato de uma pessoa ser indígena não define onde ela vive.

Nós, indígenas, estamos nas cidades,

nas aldeias e em todos os lugares

onde a gente quiser estar.

Por que não?

Muitos que não conhecem a nossa cultura indígena

dizem que nós somos selvagens,

preguiçosos, burros e até analfabetos.

Sempre um termo mais pejorativo.

Mas ninguém respeita aquilo que não conhece.

Precisa conhecer para respeitar.

O Brasil não foi descoberto pelos portugueses.

É preciso reconhecer que a própria escola

traz uma versão da história

contada e escrita do ponto de vista dos colonizadores.

É preciso reconhecer que não existe uma história única e definitiva

a respeito do Brasil.

O preconceito começa

quando a própria história dos povos indígenas

não pode ser contada por nós, que somos nativos.

Em 1500, quando Cabral chegou aqui,

o Brasil tinha aproximadamente 6 bilhões de indígenas,

com 914 etnias.

Hoje, segundo dados do IBGE,

o último censo de 2010 mostrou que no Brasil tem 89 mil indígenas

e 305 etnias.

Mesmo representando menos de 5% da população mundial,

nós, os indígenas, protegemos

80% da biodiversidade global.

Sim, cada povo tem a sua ciência,

a sua história e a sua espiritualidade.

É preciso reconhecer

a pluralidade da nossa cultura indígena.

Nós, indígenas, não somos apenas fantasia.

Nós somos a história.

E a nossa história não começa em 1988.

Porque nesta terra chamada Brasil,

nós somos os aborígenes, nós somos os anfitriões,

nós somos o povo indígena, sim, senhor.

Nós pedimos respeito ao sistema,

nós pedimos respeito à sociedade,

pedimos respeito à nossa cultura indígena,

pedimos respeito à nossa história, à nossa ancestralidade.

Por muitos anos, nós, os povos indígenas,

fomos tutelados por segundos, por terceiros

e hoje, nós somos

os próprios protagonistas da nossa história.

O meu povo ticuna é marcado

pela entrada violenta de seringueiros e madeireiros

na região do Alto Rio Solimões.

Primeiro,

sofremos vários tipos de violência dentro e fora das aldeias.

Índio é coisa do passado?

O nosso povo sempre é visto como marginal.

Por isso a militância indígena vive dentro de nós, os indígenas;

a luta pela vida e pela resistência.

Eu nasci vendo a luta dos meus avós e dos meus pais

para manter a nossa tradição.

Hoje, a maior população indígena do Brasil é o povo ticuna,

do Amazonas;

e o segundo povo é o povo guarani.

Nós, os povos ticuna,

ainda temos nossa tradição, nossa língua

e o ritual da moça nova, que é um ritual sagrado para meu povo ticuna.

O povo ticuna é conhecido pelas pinturas de rosto,

porque nós somos divididos por clãs de animais da terra e do céu.

Por isso vocês estão vendo esta pintura.

O clã do meu pai é de onça. O clã da minha mãe é de arara.

Não podemos, na minha cultura, casar [com pessoas do mesmo clã].

Tem que ser clãs diferentes, por isso meus pais se casaram,

porque eles são de clãs diferentes.

E eu levo a linhagem do meu pai, que é a linhagem de onça.

É como se fosse um sobrenome.

Por isso vocês estão vendo essa pintura no meu rosto.

Desde criança, nós aprendemos a respeitar a natureza, que é uma escola pra nós.

Na aldeia, os animais são os nossos professores.

Eles nos ensinam como nos alimentar.

Observando os animais,

nós selecionamos a nossa alimentação boa e também as venenosas.

Desde pequenos, nós observamos os animais,

e todo esse conhecimento é passado pra nós na oralidade

através dos nossos anciões, que são os nossos mestres.

A nossa maior riqueza é a floresta.

Na floresta, nós temos os nossos sagrados remédios.

A nossa vida anda junto com a floresta, porque ali está a nossa vida,

ali está a nossa sobrevivência.

Nós somos brasileiros,

nós somos os mais legítimos de todos os brasileiros

porque aqui já estávamos, quando chegaram os colonizadores.

Pense na herança que você carrega no seu DNA,

nas palavras de origem indígena presentes no seu vocabulário,

e na alimentação, na culinária indígena.

Eu tenho muito orgulho de ser mulher indígena.

Não é fácil ser mulher indígena. Essa é a primeira coisa.

Os brasileiros ainda têm muita dificuldade

de enxergar uma mulher indígena forte e batalhadora.

O preconceito é muito grande.

Como você pode ser um antirracista? Como você pode superar?

Para superar o preconceito contra nós, os povos indígenas, é preciso refletir

sobre essas ideias pré-concebidas facilmente produzidas pela sociedade.

Índio usa roupa? Índio usa celular?

Evite produzir pré-julgamento,

que dói muito.

Busque mais informações sobre a nossa cultura,

a nossa realidade atual.

O indígena está aí, de mãos dadas com a população.

É muito importante avaliar fontes históricas orais,

que são a nossa [perspectiiva] indígena.

Quero deixar bem claro que nós, indígenas, somos do mesmo sangue.

Por isso, a nossa reivindicação é única: vidas indígenas importam.

Vidas negras importam.

Vidas brancas importam.

Porque nós somos (palavra ticuna)

que na minha língua quer dizer que nós somos sagrados.

Não podemos generalizar pela cor.

Nossa resistência, nossa conquista,

todos nós sabemos a nossa trajetória de vida.

Por isso, nós estamos aqui.

Todas as vidas importam.

Somos todos seres humanos.

E ainda digo: posso ser quem você é, sem deixar de ser quem eu sou.

Chega de racismo.

Chega de preconceito.

(Ticuna) Gratidão. Gratidão.


O Brasil foi descoberto pelos índios | We'e'ena Tikuna | TEDxLaçador Brasilien wurde von den Indianern entdeckt | We'e'ena Tikuna | TEDxLaçador Brazil was discovered by the Indians | We'e'ena Tikuna | TEDxLaçador Brasil fue descubierto por los indios | We'e'ena Tikuna | TEDxLaçador Brazilië werd ontdekt door de Indianen | We'e'ena Tikuna | TEDxLaçador 巴西是由印第安人发现的|维埃娜蒂库纳 | TEDxLaçador

Transcriber: Najara Bertoli Revisor: Claudia Sander

(Ticuna) Olá!

Nós, os povos indígenas, não somos analfabetos.

Somos povos ágrafos.

Ágrafos são os povos

que, por não terem conhecido o papel e a caneta,

não escrevem sua história e sabedoria.

Todo conhecimento é passado na oralidade de pai para filho.

Nós, os indígenas que estamos vivendo na cidade,

não deixamos de ser indígenas.

No Brasil, criou-se um preconceito de que o indígena é um ser inferior.

Que o indígena formado numa universidade,

sendo médico, advogado, nutricionista,

usando celular, usando roupa deixou de ser indígena.

Pré é antes. Conceito é saber ou conhecer.

O preconceito é o julgamento prévio daquilo que você não conhece.

Lugar de índio é na aldeia?

O fato de uma pessoa ser indígena não define onde ela vive.

Nós, indígenas, estamos nas cidades,

nas aldeias e em todos os lugares

onde a gente quiser estar.

Por que não?

Muitos que não conhecem a nossa cultura indígena

dizem que nós somos selvagens,

preguiçosos, burros e até analfabetos.

Sempre um termo mais pejorativo.

Mas ninguém respeita aquilo que não conhece.

Precisa conhecer para respeitar.

O Brasil não foi descoberto pelos portugueses.

É preciso reconhecer que a própria escola

traz uma versão da história

contada e escrita do ponto de vista dos colonizadores.

É preciso reconhecer que não existe uma história única e definitiva

a respeito do Brasil.

O preconceito começa

quando a própria história dos povos indígenas

não pode ser contada por nós, que somos nativos.

Em 1500, quando Cabral chegou aqui,

o Brasil tinha aproximadamente 6 bilhões de indígenas,

com 914 etnias.

Hoje, segundo dados do IBGE,

o último censo de 2010 mostrou que no Brasil tem 89 mil indígenas

e 305 etnias.

Mesmo representando menos de 5% da população mundial,

nós, os indígenas, protegemos

80% da biodiversidade global.

Sim, cada povo tem a sua ciência,

a sua história e a sua espiritualidade.

É preciso reconhecer

a pluralidade da nossa cultura indígena.

Nós, indígenas, não somos apenas fantasia.

Nós somos a história.

E a nossa história não começa em 1988.

Porque nesta terra chamada Brasil,

nós somos os aborígenes, nós somos os anfitriões,

nós somos o povo indígena, sim, senhor.

Nós pedimos respeito ao sistema,

nós pedimos respeito à sociedade,

pedimos respeito à nossa cultura indígena,

pedimos respeito à nossa história, à nossa ancestralidade.

Por muitos anos, nós, os povos indígenas,

fomos tutelados por segundos, por terceiros

e hoje, nós somos

os próprios protagonistas da nossa história.

O meu povo ticuna é marcado

pela entrada violenta de seringueiros e madeireiros

na região do Alto Rio Solimões.

Primeiro,

sofremos vários tipos de violência dentro e fora das aldeias.

Índio é coisa do passado?

O nosso povo sempre é visto como marginal.

Por isso a militância indígena vive dentro de nós, os indígenas;

a luta pela vida e pela resistência.

Eu nasci vendo a luta dos meus avós e dos meus pais

para manter a nossa tradição.

Hoje, a maior população indígena do Brasil é o povo ticuna,

do Amazonas;

e o segundo povo é o povo guarani.

Nós, os povos ticuna,

ainda temos nossa tradição, nossa língua

e o ritual da moça nova, que é um ritual sagrado para meu povo ticuna.

O povo ticuna é conhecido pelas pinturas de rosto,

porque nós somos divididos por clãs de animais da terra e do céu.

Por isso vocês estão vendo esta pintura.

O clã do meu pai é de onça. O clã da minha mãe é de arara.

Não podemos, na minha cultura, casar [com pessoas do mesmo clã].

Tem que ser clãs diferentes, por isso meus pais se casaram,

porque eles são de clãs diferentes.

E eu levo a linhagem do meu pai, que é a linhagem de onça.

É como se fosse um sobrenome.

Por isso vocês estão vendo essa pintura no meu rosto.

Desde criança, nós aprendemos a respeitar a natureza, que é uma escola pra nós.

Na aldeia, os animais são os nossos professores.

Eles nos ensinam como nos alimentar.

Observando os animais,

nós selecionamos a nossa alimentação boa e também as venenosas.

Desde pequenos, nós observamos os animais,

e todo esse conhecimento é passado pra nós na oralidade

através dos nossos anciões, que são os nossos mestres.

A nossa maior riqueza é a floresta.

Na floresta, nós temos os nossos sagrados remédios.

A nossa vida anda junto com a floresta, porque ali está a nossa vida,

ali está a nossa sobrevivência.

Nós somos brasileiros,

nós somos os mais legítimos de todos os brasileiros

porque aqui já estávamos, quando chegaram os colonizadores.

Pense na herança que você carrega no seu DNA,

nas palavras de origem indígena presentes no seu vocabulário,

e na alimentação, na culinária indígena.

Eu tenho muito orgulho de ser mulher indígena.

Não é fácil ser mulher indígena. Essa é a primeira coisa.

Os brasileiros ainda têm muita dificuldade

de enxergar uma mulher indígena forte e batalhadora.

O preconceito é muito grande.

Como você pode ser um antirracista? Como você pode superar?

Para superar o preconceito contra nós, os povos indígenas, é preciso refletir

sobre essas ideias pré-concebidas facilmente produzidas pela sociedade.

Índio usa roupa? Índio usa celular?

Evite produzir pré-julgamento,

que dói muito.

Busque mais informações sobre a nossa cultura,

a nossa realidade atual.

O indígena está aí, de mãos dadas com a população.

É muito importante avaliar fontes históricas orais,

que são a nossa [perspectiiva] indígena.

Quero deixar bem claro que nós, indígenas, somos do mesmo sangue.

Por isso, a nossa reivindicação é única: vidas indígenas importam.

Vidas negras importam.

Vidas brancas importam.

Porque nós somos (palavra ticuna)

que na minha língua quer dizer que nós somos sagrados.

Não podemos generalizar pela cor.

Nossa resistência, nossa conquista,

todos nós sabemos a nossa trajetória de vida.

Por isso, nós estamos aqui.

Todas as vidas importam.

Somos todos seres humanos.

E ainda digo: posso ser quem você é, sem deixar de ser quem eu sou.

Chega de racismo.

Chega de preconceito.

(Ticuna) Gratidão. Gratidão.