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Mescla - Entrevistas, Refugiados contam como vieram parar no Brasil

Refugiados contam como vieram parar no Brasil

Meu nome é Omar Slebie, tenho 39 anos...

Prosper Dinganga, sou natural da República Democrática do Congo...

Meu nome é Uchen Henry, tenho 26 anos...

A gente chegou na hora que você sai de casa... você não sabe se você vai voltar, não...

A única coisa que... que me deu a força pra sair de lá é minha filha. Caiu uma bomba no prédio ao lado de nosso prédio 3 horas da manhã.

Ela tava com quase 2 anos. Ela ficou assim como... acordou como doida.

Aí falei pra minha esposa, vamos. Vamos deixar tudo aqui, vamos sair... Não adianta a gente continuar aqui.

Eu nasci num país, num regime de ditadura, que não podia se falar nada, não existe quase a liberdade de expressão.

Eu tive que deixá-lo por esse motivo de perseguição política. As minhas opiniões eram contrárias ao governo, e porque não tinha opção.

Essa história começou em 2013... eu tenho um irmão que faleceu.

Ele teve problemas com políticos do meu país.

Ele era chamado... chairman... esqueci como chamar... tipo vereador... não, não é vereador, é superior que vereador, né? Aí meu irmão teve problema com ele...

Uma noite ele foi atrás do meu irmão e ele mandou esses vagabundos pra ir atrás dele e bater nele.

Quando eu fui lá, meu irmão tava sangrando, essas coisas, e eu fui na polícia. Só que como ele é vereador do local, as polícias, todas as informações chegam nele.

Aí ele foi falar que eu tô tentando terminar ou destruir a carreira política dele.

Quando você tem poder, você tem tudo.

Aí ele mandou esses vagabundos pra vir atrás de mim. Só que eu morava perto do porto, né? Na Nigéria, na época.

Aí eu entrei no porto e fui me esconder dentro de um navio. Só que, coincidentemente, o navio do porto tava saindo.

Fiquei lá um dia, dois dias, três dias... o navio não parou.

Tentei viajar pra Europa, perdi 15 mil dólares com um traficante...

e voltamos pra Síria.

Procurei na internet qual consulado que estava com as portas abertas pros refugiados sírios... achei só o consulado do Brasil.

Nosso conflito... é um conflito extremamente complexo. Muitas pessoas não sabem realmente o que acontece nesse país.

Nos 54 países africanos, a maioria vive do... na economia baseada nos minerais, nas riquezas nacionais.

O governo não tem muito acesso a esses minerais, que são, 90%, explorados numa maneira ilegal através das milícias, que exploram,

chegam nos vilarejos, estupram as mulheres, matam os homens, ou alistam as crianças soldados e eles acabam tendo posse desses territórios,

fazendo a exploração dos minerais e fazendo a saída desses minerais através dos países vizinhos.

O nome do mineral em si chama coltan. O coltan é presente em todos os equipamentos eletrônicos hoje que a gente usa.

Dos nossos smartphones até nossa TV, computadores, tudo...

Se eu tenho um equipamento eletrônico que eu tanto gosto, tem muita gente que deixou sua vida por isso.

Quando eu cheguei no Brasil, eu cheguei no Brasil, eu saí de onde eu me escondi. Eu vi todo mundo branco, e fiquei assustado.

Porque tinha muito movimento e as pessoas carregando as coisas... Me misturei com pessoas lá e tive que descer.

Aí eu saí fora do Porto de Santos, eu comecei a me virar.

Mas a primeira coisa que eu vi é que as pessoas simpatizam muito comigo e pessoas me acolhem muito.

O que eu pensei é que o povo brasileiro é igual... desculpe até falar, igual povo europeu.

Mas aqui no Brasil, não. O povo brasileiro é um povo acolhedor.

Povo...

Povo de paz de verdade.

Há 8 anos atrás, 8 anos atrás, eu nunca tinha pensado que um dia eu podia morar ou viver num país cujo... não falo a língua e viver no estado de refúgio, por exemplo.

No começo foi muito difícil. Tem um amigo meu que ele faz doce árabe. Então, eu levei os pratos pequenos dele e comecei vender, assim, na rua.

Passava de loja em loja pra vender.

Não sabia falar nenhuma palavra em português. Só o que eu sabia falar era: doce sírio e o valor.

O refugiado, ele não está aqui pra roubar o emprego dos outros.

O refugiado...

ele tá aqui pra contribuir também.

Nesse processo dele tentando ajudar a sua própria vida, ele acaba ajudando também esse país que lhe acolheu.

Agora, graças a Deus, a gente já tem nosso nome, temos nossa empresa, tá indo as coisas. Então...

Eu tô morando aqui em São Paulo, e sou professor de inglês. E também sou músico.

Meu estilo é afropop e...

é um estilo que é muito forte na África, que tem ritmo pop, popular, e tem as melodias e as batidas africanas.

E eu tô tentando trazer esse estilo pro Brasil também.

A esperança que eu tinha era de ter uma paz, de viver num país onde eu posso ter uma... essa facilidade de poder me expressar, o que eu penso...

Eu nasci nesse contexto, acho que eu nasci pra falar, pra poder me expressar.

(cantando em inglês)


Refugiados contam como vieram parar no Brasil Refugees tell how they ended up in Brazil

Meu nome é Omar Slebie, tenho 39 anos...

Prosper Dinganga, sou natural da República Democrática do Congo...

Meu nome é Uchen Henry, tenho 26 anos...

A gente chegou na hora que você sai de casa... você não sabe se você vai voltar, não...

A única coisa que... que me deu a força pra sair de lá é minha filha. Caiu uma bomba no prédio ao lado de nosso prédio 3 horas da manhã.

Ela tava com quase 2 anos. Ela ficou assim como... acordou como doida.

Aí falei pra minha esposa, vamos. Vamos deixar tudo aqui, vamos sair... Não adianta a gente continuar aqui.

Eu nasci num país, num regime de ditadura, que não podia se falar nada, não existe quase a liberdade de expressão.

Eu tive que deixá-lo por esse motivo de perseguição política. As minhas opiniões eram contrárias ao governo, e porque não tinha opção.

Essa história começou em 2013... eu tenho um irmão que faleceu.

Ele teve problemas com políticos do meu país.

Ele era chamado... chairman... esqueci como chamar... tipo vereador... não, não é vereador, é superior que vereador, né? Aí meu irmão teve problema com ele...

Uma noite ele foi atrás do meu irmão e ele mandou esses vagabundos pra ir atrás dele e bater nele.

Quando eu fui lá, meu irmão tava sangrando, essas coisas, e eu fui na polícia. Só que como ele é vereador do local, as polícias, todas as informações chegam nele.

Aí ele foi falar que eu tô tentando terminar ou destruir a carreira política dele.

Quando você tem poder, você tem tudo.

Aí ele mandou esses vagabundos pra vir atrás de mim. Só que eu morava perto do porto, né? Na Nigéria, na época.

Aí eu entrei no porto e fui me esconder dentro de um navio. Só que, coincidentemente, o navio do porto tava saindo.

Fiquei lá um dia, dois dias, três dias... o navio não parou.

Tentei viajar pra Europa, perdi 15 mil dólares com um traficante...

e voltamos pra Síria.

Procurei na internet qual consulado que estava com as portas abertas pros refugiados sírios... achei só o consulado do Brasil.

Nosso conflito... é um conflito extremamente complexo. Muitas pessoas não sabem realmente o que acontece nesse país.

Nos 54 países africanos, a maioria vive do... na economia baseada nos minerais, nas riquezas nacionais.

O governo não tem muito acesso a esses minerais, que são, 90%, explorados numa maneira ilegal através das milícias, que exploram,

chegam nos vilarejos, estupram as mulheres, matam os homens, ou alistam as crianças soldados e eles acabam tendo posse desses territórios,

fazendo a exploração dos minerais e fazendo a saída desses minerais através dos países vizinhos.

O nome do mineral em si chama coltan. O coltan é presente em todos os equipamentos eletrônicos hoje que a gente usa.

Dos nossos smartphones até nossa TV, computadores, tudo...

Se eu tenho um equipamento eletrônico que eu tanto gosto, tem muita gente que deixou sua vida por isso.

Quando eu cheguei no Brasil, eu cheguei no Brasil, eu saí de onde eu me escondi. Eu vi todo mundo branco, e fiquei assustado.

Porque tinha muito movimento e as pessoas carregando as coisas... Me misturei com pessoas lá e tive que descer.

Aí eu saí fora do Porto de Santos, eu comecei a me virar.

Mas a primeira coisa que eu vi é que as pessoas simpatizam muito comigo e pessoas me acolhem muito.

O que eu pensei é que o povo brasileiro é igual... desculpe até falar, igual povo europeu.

Mas aqui no Brasil, não. O povo brasileiro é um povo acolhedor.

Povo...

Povo de paz de verdade.

Há 8 anos atrás, 8 anos atrás, eu nunca tinha pensado que um dia eu podia morar ou viver num país cujo... não falo a língua e viver no estado de refúgio, por exemplo.

No começo foi muito difícil. Tem um amigo meu que ele faz doce árabe. Então, eu levei os pratos pequenos dele e comecei vender, assim, na rua.

Passava de loja em loja pra vender.

Não sabia falar nenhuma palavra em português. Só o que eu sabia falar era: doce sírio e o valor.

O refugiado, ele não está aqui pra roubar o emprego dos outros.

O refugiado...

ele tá aqui pra contribuir também.

Nesse processo dele tentando ajudar a sua própria vida, ele acaba ajudando também esse país que lhe acolheu.

Agora, graças a Deus, a gente já tem nosso nome, temos nossa empresa, tá indo as coisas. Então...

Eu tô morando aqui em São Paulo, e sou professor de inglês. E também sou músico.

Meu estilo é afropop e...

é um estilo que é muito forte na África, que tem ritmo pop, popular, e tem as melodias e as batidas africanas.

E eu tô tentando trazer esse estilo pro Brasil também.

A esperança que eu tinha era de ter uma paz, de viver num país onde eu posso ter uma... essa facilidade de poder me expressar, o que eu penso...

Eu nasci nesse contexto, acho que eu nasci pra falar, pra poder me expressar.

(cantando em inglês)