Cidades Pequenas são Estranhas
Quem aqui não tem alguma história sobre aquela vez que foi para uma cidade pequena?
Ou quem aqui nunca ficou intrigado com a maneira que o pessoal desses lugares vive?
Tem coisas que não dá pra entender, e tem outras que você só pode abaixar a cabeça
e rir internamente porque... não pode ser real.
E é por essas e por outras mais que eu ainda vou te mostrar nesse vídeo que eu digo que
CIDADES PEQUENAS SÃO ESTRANHAS.
Começando, vamos definir o que é cidade pequena, porque se você morar em São Paulo,
com certeza todas as outras cidades do Brasil são pequenas.
Mas não, estamos falando de cidades com até 10 mil habitantes.
A regra é a seguinte: quanto menos gente mais interessante fica.
Presta a atenção.
Você que é de fora já deve ter percebido uma coisinha sobre cidade pequena.
Toda vez que você visita um lugar desses as pessoas param o que estão fazendo pra
cuidar a placa do teu carro porque elas querem descobrir, acima de tudo, de onde que você é.
- Por$% Dio!
Vieram me roubar milho de novo.
E se você ficar perdido, sem o GPS num lugar desses, não adianta memorizar nome de rua
porque o pessoal não sabe nome de rua.
Eles usam um sistema um pouco mais eficaz.
- Opa!
- Opa!
- O senhor sabe me dizer onde que fica a rua da vinícola Sul Monte?
- Mas tu sabe assim que de rua não sei não como chega lá.
- Mas e o senhor sabe me dizer como que faz pra chegar lá?
- Ah, bem fácil, aqui ó.
Tu vai pegar essa estrada, seguir reto bastante pra lá.
Aí tu vai passar pela frente da casa da Ivete.
Tu vai ver ali que tem uns tratores, umas vacas paradas.
Tem uma árvore que também foi recém cortada.
Aí tu dobra a direita ali, tu vai passar na rua do Antônio.
Na rua do Antônio também vai ter um portãozão.
Aí tu pára bem na frente do portãozão e tu vai ter que ir a pé.
Tem uns cachorrão lá dentro mas não se preocupa que eles não mord...
Na verdade uma vez até morderam, mas não mordem mais.
Aí tu sobe lá e tu vai ver bem lá de cima do topo do moro, tu consegue enxergar uma
casinha, é bem lá que fica a vinícola.
Mas tu consegue descer de carro se tu quiser também, mas daí não sei se tu consegue
voltar porque o pessoal geralmente vai de trator pra aqueles lados.
- Ah tá!
Entendi, é na rua da Ivete!
Como não pensei nisso antes?!
Obrigado... cara louco!
E em cidade pequena todo mundo se conhece, então é total falta de educação não cumprimentar
as pessoas na rua.
Até em velório vai todo mundo que senão depois fica feio pra família.
Por isso sempre cumprimente!
- Ô Mariza, tudo bom?
- Opa vizinho.
- Ô seu Antônio, como que vai?
- Ô!
- Ô Regina, tudo bom?
Como vai teu piá?
- Ô vizinho!
- Quem é aquele?
... Ô... ô...
- Ô seu policial!
- Tudo bom?
- Tem um guri estranho ali, dá uma olhada.
- Pode deixar!
- Seu Pedro...
Ô rapaz!
E como velório é evento social, quem avisa para a população na cidade é sempre a torre
da igreja.
E nesse momento todo mundo para o que tá fazendo pra ouvir quem é que foi o desastrado
da rodada.
- É com pesar que informamos o falecimento do Senhor Antônio da Silva Souza Machado
da Cunha de Assis Filho, no auge dos seus 98 anos de juventude.
Convidamos todos os familiares para a missa que ocorrerá na capela amanhã às 9 horas
da manhã.
- Grande Antônio!
E essa gente não tem o costume de ver pessoas tatuadas o tempo todo.
Piercing então nem pensar.
Por isso, é recomendado que, sempre que você for para um lugar desses, esconda suas marcas
porque senão você vai estar dando pano pra manga e ninguém quer isso.
- Regina!
Regina, escuta!
Tem um bandido na cidade!
Vai na janela olhar.
- Aonde comadre?
- Olha lá perto daquele "auto".
Antes ele estava se coçando e apareceu um desenho nas costas... olha lá ele se coçou
de novo.
- Mas deve de tá vendendo droga pra aquela criança, pobre inocente!
- Tá, Regina eu vou ter que desligar porque tenho que ligar para a mulher do policial
que eu tenho que falar para ela falar para ele ir lá prender esse bandido, né?!
Nessa altura você já deve estar percebendo que são muitas as coisas que acontecem em
cidade pequena.
Todo mundo sabe sobre a vida de todo mundo e acaba que tudo, no fim das contas, vira
assunto pra roda da fofoca.
Porque fofoca é a única rádio que nunca tem intervalo comercial, e ainda porque o
sinal não pega muito bem acaba sofrendo uma leve alteração de grau.
- Então Regina, descobri que aquele rapaz que estava ontem ali na cidade não era bandido
não.
Só estava procurando um lugar pra comer, um restaurante, sabe!
- Menos mal, né comadre!
Eu já estava ficando toda preocupada.
Ontem à noite mesmo eu dormi com a porta encostada.
- Mas Regina, aquela tatuagem dele me parece muito coisa do diabo.
Eu acho que era uma estrela virada, ou então uma cruz virada.
Era do diabo aquilo.
- Olha só o que a Roberta, lá do restaurante que ele comeu, me falou.
Disse que ele deve ser meio envolvido com satanismo porque ela viu ela tatuagem dele
e ela falou a mesma coisa que tu me disse.
Falou que ele comeu bastante carne lá também, então acho que ele é meio satânico.
- Ah!
Deve ser disso então.
Ele deve ter vindo aqui pra cidade pra sacrificar alguém naqueles rituais loucos deles.
- Isso dá medo comadre.
Ainda mais aqui na nossa cidadezinha que nunca acontece nada.
Tem que ficar de olho!
- Sim comadre!
Chega a dar medo isso!
O que a gente faz agora?
- Comadre, fica tranquila que é só eu chegar em casa que pego o telefone e vou ligar pra
Ana, pra Mariza e pra Marta pra falar pra elas ligarem pra mulher do policial e contar
pra todo mundo também pra irem lá e prender logo esse bandido.
Onde já se viu!
E quando faltam coisas em casa, o mercadinho é seu melhor amigo.
E ele serve de mercearia, de shopping, de fruteira, às vezes fica numa cancha que o
pessoal vai jogar futsal.
Ele também é farmácia, é loteria, ponto dos velhos jogar baralho, também aquele lugar
que as pessoas apostam no bicho... e o que mais sua cabecinha fértil conseguir imaginar.
Mas e você sabe com o que as pessoas pagam o mercadinho?
Com a moeda mais importante do mundo... a confiança.
- Então Renato, são 143 reais... fizemos por 140.
Como tu vai pagar?
- Põe na conta aí chefe!
- Ô Renato, mas a tua conta tá bem alta.
São 143 agora, tem mais 150 do mês de fevereiro, tem 450 de janeiro e também mais 15 reais
que tu gastou em papel higiênico final do ano, que tu me disse que estava "apertado",
e não me pagou ainda.
- Nossa, mas tá bem alta essa dívida aí, hein?!
- E tá bem alta mesmo, vamos acertar isso, ou não?
- Claro, claro, semana que vem eu venho aqui de novo e acerto contigo... tá bom?
Tcháu!
- Tá bem!
E continue comprando sempre aqui, tá bom amigo?!
Até a próxima!
E a vida em cidade pequena é pacata, ela é muito boa.
Quem vive nesses lugares jamais pensaria em sair, até porque a segurança é uma coisa
que só existe em cidade pequena.
Coisa que gente que mora em cidade grande jamais entenderia.
- Ahhh!
Casa devidamente aberta pra arejar bem.
Acho que tô pronta pras minhas férias.
Ai que delícia!
Vou só deixar um bilhetinho pros vizinhos não ficarem preocupados... ai aqui vou eu.
Só vou desligar o registro porque não quero me preocupar com nada na praia... ai isso
é tão legal!
E se você se pergunta como funcionam as festas, é bem simples.
Elas não funcionam.
Na verdade elas não funcionam como cidade grande.
Festa em cidade pequena acontece lá de vez em quando e é sempre no salão comunitário
da igreja.
Então já dá pra perceber a situação porque se é da igreja o padre vai estar lá, e se
o padre está lá não dá pra pecar.
E o mais louco é que qualquer corpo que vem de fora da cidade, e aparece nesse lugar,
é atacado que nem carniça por urubu.
Todo mundo quer um pedaço.
Mas essas festas, no geral, são sempre bem divertidas.
Tem gente fazendo fiasco, tem aquela piazada do lado de fora com som alto, tem gente caindo
até nunca mais levar, acontecem várias coisas, mas o mais legal de tudo ainda é o seguinte...
Ninguém se pega, porque se isso acontecer... aí você já sabe.
- Mas então Diogo!
Fiquei sabendo pela cidade inteira que tu beijou a filha da Cristina ontem lá na festa
da comunidade, é isso?!
- Desculpa mesmo mãe.
- Tu não me responde, tu sabe que toda a cidade agora só fala sobre isso, né?!
- É, eu imagino sim, deve ser bem chato...
- Tu não me responde, já disse.
Já decidiu se vai namorar, se vai casar?
Tá todo mundo falando que essa guria tá grávida de 3 meses.
- Mas é que a gente só se beijou, mãe!
- Tu sabe que muito bem que beijo em cidade pequena engravida sim, então trate de arrumar
um casamento com essa menina aí porque senão vou te dar umas bofetadas.
E grave aqui algumas informações importantes.
Em cidade pequena o caminhão do ovo passa de hora em hora.
Se chega carta tu precisa ir buscar nos Correios porque eles não entregam na tua casa.
Domingos são sempre muito sagrados, então nunca nada abre na cidade, então se precisar
comprar carne pro churrasco seja mais esperto e compre no sábado.
E por último observe, porque cada cidade tem uma lenda própria, e em cada lugar ela
é mais absurda e mais inacreditável o possível.
E o pior é que essa gente acredita.
- Eu vou contar pra vocês agora a lenda do comerciante.
Diz a lenda que todas as noites, ali pelas 8 horas, o comerciante da cidade fecha o mercadinho
dele e começa a somar a dívida de cada uma das pessoas que vão lá durante o dia e compram
fiado.
E sabe o que ele faz depois de somar essas dívidas?
Ele reza a Deus para que as pessoas paguem ele, porque se elas não pagarem vocês sabem
o que acontece?
Não acontece nada.
Por isso a melhor coisa pra se fazer com seus amigos ainda é ir pro posto, ou pra praça
da cidade, encostar o carro, colocar o sonzinho ali e ficar apreciando os corpinhos.
[AQUELA BATIDA CHATA QUE TODO CARRO TEM]
E não sei se você sabe, mas sempre tem aquela
opção de ir pra cidade grande fazer uma visita, porque lá ninguém é de ninguém,
ninguém vai falar de ti, até porque ninguém te conhece.
Mas só tem um pequeno detalhe que, não importa pra onde você vá, em qualquer lugar do mundo
isso nunca vai te abandonar...
o seu sotaque.
- Ai gato, então já que a gente deu match no Tinder me fala mais sobre ti!
- Mas então, gata, eu preciso te dizer... eu moro lá em Flores da Cunha, minha família
tem um monte de plantação de uva por lá.
Também sei descascar batata, a gente tem uma "tobatinha" muito boa que a gente dirige
lá por aquelas bandas.
Sei quando vai chover, por exemplo, hoje vai chover, tá meio quente, tem um "solão" pegando
aqui na minha cara.
Planto uma mandioca como ninguém!
Tu tem que ver...
- Não, não moça, moça volta, volta, preciso te contar ainda daquela vez que entrou uma
raposa no teto de casa e nós achamos que era um bandido!
Moça... moça volta!
E se você gostou desse vídeo não esqueça de curtir e compartilhar com seus amigos e
também de escrever aqui embaixo sobre todas as outras coisas bizarras e loucas que acontecem
em cidades pequenas, porque com certeza tem muito mais coisa.
Meu nome é Diogo Elzinga, por favor me siga nas redes sociais, não esqueça de se inscrever
no canal, tá bom?!
Um beijo pra vocês, nas tetas com respeito, e até a próxima :)