06.06.23-Junho de 2013: as manifestações que abalaram o país
Vinte centavos, vamos lutar contra isso.
Você vai se lembrar, o estopim foi o preço das tarifas de transporte.
O aumento foi adiado no início daquele ano a pedido do governo federal.
Houve só o que explicaram à época os prefeitos das duas maiores cidades do país,
Eduardo Paes do Rio e Fernando Haddad de São Paulo.
No início de 2013, ou final de 2012, acho que início de 2013, o Guido Mântega chama
a minha ou o Haddad para uma conversa, fez um pedido dizendo, olha, a inflação está
saindo um pouco de controle, o preço do ônibus em São Paulo e no Rio, nas duas capitais,
ele impacta muito no índice do IPCA, então a presidente pediu que vocês adiassem o reajuste
das passagens.
Um aumento de tarifa fora de hora, porque era para ter acontecido em janeiro, e a pedido
do governo federal foi adiado de forma quase que impositiva.
A combinação entre as táticas black bloc de parte dos manifestantes e a repressão
policial fez a violência explodir.
E as coisas aqui em Salvador acabaram seguindo rumo aos absurdos, porque foi confronto mesmo,
tiro de borracha, gás, assim como nos outros lugares do Brasil.
Saiu uma bomba, a gente acredita que de efeito moral, de dentro do palácio do Itamaraty.
As pessoas estão correndo muita fumaça agora e aparentemente estão também soltando balas
de borracha, porque a gente percebe aquelas fagulhas saindo ali das mãos dos policiais militares.
Era diferente para nós, na polícia militar, lidar com aquele tipo de movimento, porque
não era um movimento de uma classe específica.
Porque quando é assim, você tem uma liderança com quem você conversa, com quem você faz
os ajustes, os acordos.
Ali não, você não sabia quem chegaria.
Poderia chegar qualquer um.
Vocês não podem chegar lá, filha, não podem.
Não podem entrar.
Não podem entrar.
Não podem entrar.
Não podem entrar.
Não podem entrar.
50 mil pessoas.
Gente, gente, não pode passar dali, não pode.
Não tem como não.
Olha lá.
Não podem ir.
Não, não tem responsabilidade, vocês não podem entrar.
Sem lideranças e contra partidos tradicionais.
Não tem um partido, não tem um partido, não tem um partido.
O Brasil acordou.
O povo brasileiro não vai mais aceitar os governantes não fazendo o que o povo quer.
Isso aqui é uma democracia e o povo tem o poder supremo.
Não nos representam, só tem petista ali.
Eles não nos representam.
Querem virar herói dessa bosta.
Não vão virar herói, protestar lá em frente à prefeitura deles.
Só nos representam.
A prefeitura deles.
Não vai passar aqui.
E com os atos inflados, as pautas também se ampliaram.
A gente se encheu daquilo que o governo impõe pra gente.
As taxas, os juros, os altos impostos, a corrupção.
20 centavos, vamos lutar contra isso.
Cada um levava o seu cartaz.
Então não tinha aquele que podia falar pelas ruas.
Todo mundo estava com muita sede de participação política direta.
Quando tinha um milhão nas ruas, tinha um milhão de pautas.
Da redação do G1, eu sou Natuzaneri e o assunto hoje é
Junho de 2013, as manifestações que abalaram o Brasil.
Como os protestos por 20 centavos do transporte público
influenciaram profundamente a política brasileira na última década.
Neste episódio, eu converso com Roberto Andrés,
professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais
e autor do livro A Razão dos Centavos, Crise Urbana,
Vida Democrática e as Revoltas de 2013.
Terça-feira, 6 de junho.
Roberto, você no seu livro relembra uma série de revoltas urbanas
contra o aumento da passagem ao longo da história das cidades brasileiras,
antes mesmo de 2013.
Na sua visão, quais outros fatores além do preço das passagens
explicam a explosão de revolta que aconteceu dez anos atrás?
Esse é um ponto muito pouco conhecido da história urbana brasileira
e da história de lutas.
A gente tem um ciclo de revoltas contra aumentos tarifares
ou contra condições de transporte que remete, inclusive, ao período imperial.
A primeira delas foi em 1880.
Revoltas súbitas, avassaladoras, que pegaram a classe política de surpresa
e que abalaram o poder em muitos momentos,
1880, 1909, 1930 em Salvador, 1946 em São Paulo
e depois diversas outras.
Mas a gente teve um mecanismo da sociedade brasileira com essas revoltas
que é uma denegação das razões dela.
Eu discuto isso um pouco ali no livro, quer dizer, sempre se tomou...
Essa frase que se usou em 2013, não é pelos 20 centavos,
é como se ela tivesse sido repetida ao longo da história brasileira.
E com isso, a questão urbana, essa questão do transporte,
nunca foi bem endereçada no país, da mobilidade urbana,
então ela volta de tempos em tempos dessa maneira pouco compreendida.
Ali em junho de 2013, essa questão que estava muito forte,
a gente viveu uma crise de mobilidade urbana nos governos petistas,
pelo boom de automóveis que congestionou as ruas
e também pela falta de políticas para o transporte público,
que fez com que as tarifas subissem acima da inflação no período
e que o tempo de viagem dos ônibus piorasse.
Mas tiveram outras razões, algumas delas ligadas também à questão urbana,
que se somaram ali nas ruas.
Uma delas é uma certa crise de forma de vida, de modelo de vida.
Aparecia uma geração que aspirava uma vida nas cidades,
nos espaços públicos, o Ocupistelita naquele momento representa muito isso,
mas de outro lado as cidades não entregavam isso.
A primeira manifestação foi no Emeboemirim,
a gente fez uma manifestação na madrugada da segunda-feira,
dia seis, cinco, quatro, do dia três,
quando subiu o aumento da tarifa para 3,20.
Cerca de 50 pessoas.
Era uma manifestação bem regional que fechou a Avenida Emeboemirim.
E naquela noite, do dia 13 de junho,
ali se perdeu totalmente o controle.
Então, a partir daquele dia, aquele dia é um divisor de águas.
E com a Copa do Mundo, que promoveu uma série de intervenções nas cidades,
remoções de moradores,
e o sentimento da população de que isso vinha de cima para baixo,
esses fatores confluíram e acabaram aquecendo aquele caldeirão das revoltas de 2013.
Eu quero falar da importância das redes sociais na formação
e também no espalhamento dos protestos de junho daquele ano,
porque pela primeira vez um fenômeno político
teve uso intenso das redes sociais por aqui,
inclusive com a convocação pela internet.
E aí, pensando nisso, como as redes sociais e a presença digital
influenciaram os protestos e acabaram mudando a cara da política a partir dali.
Perfeito. Isso foi uma característica daquele ciclo.
Se debatia muito como que a Primavera Árabe,
os protestos na Espanha, nos Estados Unidos ou no Chile,
foram marcados pela convocação pelas redes.
E elas, de fato, trouxeram elementos novos muito significativos.
Pesquisas da época apontavam que mais da metade dos manifestantes nas ruas
se informavam dos atos pelo Facebook,
que era a rede muito usada naquele momento.
Um dos efeitos dessa possibilidade,
você pode pensar um efeito positivo de democratização,
de mais gente podendo chamar, convocar,
mas também há um efeito negativo de uma certa...
do debate ficar mais raso, mais superficial em muitas dessas convocações.
Mas, de fato, as redes sociais acabaram destronando
os líderes tradicionais de convocação para protesto.
Naquele momento, quem convocou para protesto não foram
somente as organizações mais estruturadas,
que já faziam seus trabalhos de base,
que já estavam organizadas, mas também sujeitos a avulsos.
A gente vem desde a época do Olkut.
Eu decidi botar o Revoltados Online na rede social.
E, automaticamente, o público, acho que o nome muito forte,
o público, automaticamente, começou a falar de política.
Todo esse processo dos movimentos que nasceram,
os movimentos de rua, iniciaram, nessa nova geração,
primeiro os movimentos nas redes sociais.
Então, o início de tudo começou na rede social.
O Fora do Eixo tinha 40 mil seguidores, 50 mil seguidores.
A direita estava esfacelada.
Então, 2011 e 2012 eram dois anos onde você podia estar
à esquerda da Dilma sem estar fazendo o jogo da direita.
O nosso slogan era Copa pra quem?
Copa pra quem vai desfrutar e quem vai aproveitar dessa Copa?
Agora, aquelas manifestações acabaram desencadeando
uma série de fatos e consequências políticas
que transformariam, como a gente disse um pouquinho atrás,
a cara da política brasileira.
Mas, num dos capítulos do seu livro, na terceira parte do seu livro,
você discute o depois.
Quais os principais efeitos das chamadas jornadas de junho
na política nacional, Roberto, na sua opinião?
Hoje, no Brasil, como o debate está sendo feito,
fica parecendo que o mês que veio depois de junho de 2013
foi agosto de 2016, quando a Dilma Rousseff foi empichada.
Mas foi julho de 2013.
E julho de 2013 foi o mês com o maior ciclo
de ocupações de câmaras municipais da história do Brasil.
São 30 cidades com ocupações simultâneas,
uma agenda à esquerda pelo transporte, pela educação, etc.
Que pouca gente se lembra.
Aquele segundo semestre de 2013 foi muito marcado
por uma luta popular intensa.
Foi um ciclo gigantesco também de ocupações urbanas,
ocupações de moradia.
Naquele momento que o MTST cresceu,
formou inclusive a liderança do Guilherme Boulos,
greve de professores no Rio de Janeiro,
rolézinho no final do ano, greve dos Garis
no início do ano seguinte, também no Rio de Janeiro.
E uma série de protestos que decidiram trazer
esse grito do Não Vai Ter Copa.
A repressão a esse conjunto de coisas
fez com que aqueles atores que lideraram
junho à esquerda saíssem das ruas.
Quando chega a Copa, essa repressão muito forte
gera um vácuo das ruas.
E aí eu falo no livro de uma outra desmobilização de junho,
que foi o fato de que o ator político que, em junho,
mais se beneficiou dos protestos,
mais ganhou intenção de voto nas pesquisas presidenciais,
foi a Marina Silva.
Ela dá um salto ali justamente no perfil,
inclusive, jovens de setores intermediários,
moradores dos centros urbanos,
são os que estavam mais inclinados a votar nela.
E na eleição de 2014, a gente sabe que essa alternativa
foi também soterrada, reprimida,
inclusive, com certa violência política.
Então, acho que o que vem depois de 2014
parte desse vácuo.
E assim como ontem, a passeata foi dividida.
Um grupo foi para um dos terminais de ônibus
mais movimentados da cidade.
E outro caminhou até a prefeitura,
onde queimou um boneco que simbolizava o PT e o PSDB.
E aí a gente abre em 2014 um novo ciclo
muito polarizado entre esquerda e direita,
com um antipetismo muito forte.
E ali vários atores passam a usar
esse vácuo das ruas e esse vácuo de representação
para convocar.
Depois a gente tem uma longa história até aqui.
Deixa eu te interromper um pouco,
porque eu fiquei com uma dúvida.
Você fala que das lideranças políticas,
Marina Silva foi a que mais mimetizou
o sentimento das ruas de 2013.
Mas só para lembrar que nas eleições de 2014,
depois da morte de Eduardo Campos,
ela era vice, candidata vice de Eduardo Campos,
ela de fato sobe muito,
mas ela sofre um verdadeiro bombardeio
da candidatura de Dilma Rousseff à época
e acaba desidratando.
Então eu queria só entender se a Marina
era aquele personagem, era a personagem
que tinha o sentimento da rua de junho de 2013
por que ela desidratou?
Houve uma campanha muito forte,
não foi só da campanha da Dilma Rousseff,
embora a da Dilma Rousseff tenha sido
de fato abaixo da linha da cintura,
mas houve também uma campanha muito forte
do Aécio Neves contra a Marina Silva.
Mas essa representatividade da Marina
do manifestante médio de junho,
a gente vê nas pesquisas,
nas datafolhas de 2014
ou datafolha logo depois de junho,
realmente aquele perfil de manifestante
era o mais inclinado a votar nela,
ela vencia os outros candidatos
naquele perfil de jovens,
de setores intermediários,
moradores de centros urbanos.
Era um setor que foi majoritário
talvez nas manifestações de junho,
nessa juventude,
mas certamente não era a maioria da população.
Agora quando eu te interrompi,
você falava que não só isso,
você ainda ia acrescentar mais ingredientes
a esse seu diagnóstico do depois.
Eu acho que esse depois é legal a gente olhar
para o que aconteceu no mundo.
A gente teve a crise de 2008,
depois tivemos uma série
de revoltas, de protestos,
de mobilizações de caráter
majoritariamente progressista,
o ciclo de 2011 a 2013,
com o 15M na Espanha,
o Occupy Wall Street nos Estados Unidos,
a revolta dos pinguins no Chile, etc.
Grande parte desses movimentos
não são capazes de resultar
imediatamente em transformações
institucionais que estavam
vocalizadas por eles.
Quando grande parte das mudanças
que geraram esses incômodos
desses movimentos
não foram endereçadas,
não foram tratadas institucionalmente,
na segunda metade da década
aparecem os extremistas de direita,
os autoritários da extrema direita,
dando falsas soluções
para esses mesmos problemas,
ou lidando com esse desconforto
a partir de outras respostas.
A gente viu isso nos Estados Unidos,
a gente viu crescer a extrema direita
mundialmente, e ela também cresceu no Brasil.
Mas somente no Brasil que a gente cria
essa linha direta, como se
esse sintoma que ele rompeu
na primeira parte da década,
ele fosse não um sintoma,
mas a origem do que veio em seguida.
E cada ator político tomou
suas decisões, se moveu à sua maneira,
e os eventos foram se encadeando
até que a gente chegasse aqui.
Espera um pouquinho que eu já estou
Espera um pouquinho que eu já volto
para continuar minha conversa com o Roberto.
Já que você falou
da extrema direita, você
escreve no seu livro
uma ideia muito interessante, que
grandes ciclos de revolta
são capazes
de tornar ideias
impossíveis em ideias
aceitáveis. E eu queria
entender a que tipo de ideia você
se refere. Você, nesse momento,
está falando
das ideias da extrema direita
ou de outro ponto em particular?
Ali eu estou tratando, emprestando
esse termo do David Graeber,
que desenvolve essa ideia
no livro dele sobre o Occupy Wall Street.
O Graeber mostra, por exemplo, que
quando o Occupy Wall Street passa a
fazer nos Estados Unidos
essa série de denúncias
sobre a escandalosa captura
da política pelos mais ricos,
a escandalosa concentração de renda nos Estados Unidos,
eles não conseguem nenhuma mudança institucional
imediata. Mas no período seguinte
cresce muito nos Estados Unidos
o percentual de pessoas que consideram
esse problema um problema grave.
E no Brasil,
quando os manifestantes do MPL
lá em junho de 2013
pediam por uma cidade
sem catracas, ou tarifa zero,
eles eram acusados de
cabeça vazia,
de pessoas com propostas
irrealistas, impossíveis, etc.
Em São Paulo, o movimento Passe Livre
organizou uma nova manifestação
contra o aumento das tarifas
do transporte público.
Se difundiu muito a frase que o MPL nunca disse
e, de certa forma,
tentou segurar de que não é por 20 centavos,
é por direitos, é contra a repressão
policial. E a gente conseguiu
ali, de certa forma,
manter o discurso de que sim, é por 20 centavos,
a nossa pauta é por 20 centavos.
Tem ainda uma motivação.
O movimento Passe Livre
pede o passe zero,
a taxa zero. Eu acho bem viável,
a gente tem que mesmo lutar pelos nossos direitos.
Sofre pra pegar ônibus,
sofre pra pegar metrô, sofre no
trânsito, então tá na hora da gente
dar um basta nisso. E de lá pra cá a gente
teve um salto na agenda da tarifa zero
no Brasil. Eram 10
cidades com tarifa zero
pouco antes de 2013, pouco mais
de 10 cidades, e hoje são mais de
70 cidades. O número de população
atingida cresceu em mais de 10 vezes.
População atendida
com 3 milhões e meio de pessoas, quase.
O prefeito de São Paulo,
da direita, ele cogita, ele
coloca no seu plano a possibilidade de
trazer a tarifa zero. Então, muito
nesse sentido aconteceu esse milagre que
o Guraeber trata, que uma ideia que
parecia uma coisa nonsense,
de repente ela se torna um
senso comum da política e ela vai pro centro do
debate. Mas essa ideia não abarca
também a extrema-direita,
porque parte das
bandeiras da extrema-direita acabou vencendo
as eleições de 2018, por exemplo.
A energia antissistema,
ela não é necessariamente
extremista ou autoritária.
Agora Natuza, na minha pesquisa
eu achei muito importante pro livro
voltar a 2013, olhar para as pesquisas
de todos os institutos de
pesquisa e fiz também uma
coleção primária de mais de 6 mil
cartazes que foram expostos nas ruas.
E o que isso mostra,
tanto nessa coleção dos cartazes,
quanto nas pesquisas do período,
é que o discurso extremista não
estava ali. Não havia ou eram
muito minoritários
os pedidos de intervenção militar,
eram praticamente
inexistentes esse tipo
de solução autoritária
e eles aparecem com muita força
depois do segundo turno de 2014.
Agora Roberto,
as manifestações de 2013,
elas tiveram uma característica marcante,
apesar de terem começado
com a liderança de grupos progressistas,
acabaram virando um movimento
apartidário, inclusive
com a chamada política tradicional
e os partidos sendo
muito
repelidos. Eu me lembro
de cenas em que
na Avenida Paulista
quem chegava com bandeira de partido
era rechaçado.
Como é que isso explica
os fatos políticos vividos depois
das manifestações e com a esquerda
em especial o PT
sofrendo os reflexos desse movimento?
De fato, essa
coisa antipartido foi muito forte
ali. Inclusive tem um
caso curioso, porque a gente sempre lembra
dos movimentos antipartido
contra os partidos de esquerda que eram mais
prevalentes. Mas o pessoal do
LIBER, isso vem numa entrevista
também, que veio para o LIBER. O LIBER era
um partido em criação, um partido
que seria parecido com o que virou o LIVREZ,
aquele movimento liberal.
Eles foram para a Avenida Paulista,
reuniram lá uma centena de pessoas com
cartazes, com bandeiras, e sofreram também
a hostilização dessa
ala antipartido. De fato,
nas pesquisas do período, você vê que
a grande maioria não se sentia representada
por nenhum partido político. Agora, isso
também era um sintoma do Brasil no
período. Esses manifestantes não inventaram
a aversão ao partido.
Eles respondiam
a como eles enxergavam
o sistema político. E de fato,
nós não tivemos uma
capacidade institucional de absorver
essa energia
antissistema com
proposições dentro do sistema
político, proposições democráticas ou progressistas
em sua maioria.
E essa energia antissistema foi
sim capturada
pelos equívocos da Operação Lava Jato
e depois pela extrema-direita,
sem dúvida. Agora, para terminar,
não dá para olhar
para trás sem olhar o presente
ou pelo menos tentar
explicar o presente olhando
para os últimos 10 anos.
10 anos depois
dos atos de 2013,
com o PT de volta
à presidência e tendo
substituído Bolsonaro,
quem parece ter levado
a melhor na
contestação do sistema político?
Foi Bolsonaro? Foi o
PT? Foi os dois?
Como é que a gente explica o
presente? E o presente pode incluir as eleições
também, tá? O presente do ponto de vista
histórico, assim, os últimos acontecimentos,
grandes acontecimentos políticos
desde a eleição para cá.
É, de fato,
o Celso Roger de Barros,
na coluna dele, está muito correto, quem
está melhor posicionado no Brasil hoje
é o centrão, né? E isso é muito
curioso porque o centrão era
esse, o que o Marcos Nobre
chama de PMDBismo, né?
Que era esse arranjo brasileiro
que os partidos fisiológicos tinham
um poder ali de controle muito grande, tem?
Em Brasília, multidões
pediam a saída dos presidentes
da Câmara Eduardo Cunha, do Senado
Renan Calheiros e da
Presidente da República.
Esse que era talvez um dos principais alvos
das ruas de junho, né? O Renan Calheiros
naquela época era um grande vilão.
Hoje, esse centrão
se repaginou, né? Ele conseguiu se
metamorfosear para que tudo permanecesse
como está. E durante o governo
Jair Bolsonaro, esse centrão então
cresceu, o parlamento cresceu muito
a sua capacidade de
interferir, de agir
sobre o executivo.
Eu sou do centrão, eu nasci de lá.
Com a eleição do Lula, eu acho que tem um fator
interessante, um fator importante de ser colocado,
né? Para terminar aqui,
é que havia uma
série de demandas
progressistas que aparecem,
né? Naquela geração de 2013
quando as pessoas pediam a educação
a padrão FIFA, pediam
melhorias de transporte,
né? Contra a corrupção, contra
o que estava sendo feito pela Copa do Mundo,
a percepção de algo que vinha de cima para baixo,
quer dizer, uma democratização
das decisões. E uma parte
dessas agendas não foram, não foi
ainda absorvida pela
esquerda. Acho que a gente
continua talvez repetindo alguns
modelos, como por exemplo o incentivo
ao automóvel particular,
que gerou uma grande crise do transporte
público naquele momento.
E outras investidas
da esquerda nesse
momento no governo, a questão
ambiental, elas mostram que
talvez algumas daquelas questões
que estavam ali colocadas ainda não foram absorvidas
pelo campo da esquerda. Então acho que isso é uma
tarefa ainda por se fazer.
Roberto, muito obrigada pela
participação. Está bem, Natuza, muito
obrigado, uma alegria estar aqui.
Alguns dos
áudios que você ouviu neste episódio
são do documentário Ecos de Junho.
Este foi o assunto
podcast diário disponível no G1,
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estão Mônica Mariotti, Amanda
Polato, Tiago Aguiar, Luiz Felipe
Silva, Tiago Kazurowski, Gabriel
de Campos, Nayara Fernandes
e Guilherme Romero. Eu sou
Natuzaneri e fico por aqui.
Até o próximo assunto.
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