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Foro de Teresina - Podcast (*Generated Transcript*), #260: No barco com Safadão - Part 1

#260: No barco com Safadão - Part 1

Rádio Piauí.

Olá, sejam muito bem-vindos ao Foro de Terezina, podcast de política da revista Piauí.

A prática direita não pode perder a narrativa de ser favorável a uma reforma tributária,

porque senão a reforma tributária acaba sendo aprovada e quem aprovou?

A grande questão é construir um contexto.

Eu, Fernando de Barros e Silva, na minha casa em São Paulo,

tenho o prazer de conversar com meu amigo José Roberto de Toledo, aqui pertinho.

Opa, Toledo!

Opa, Fernando! Opa, Thaís!

Não, não conversei com o Tarcís ainda.

Não conversei. O Tarcís, eu me dou muito bem com ele.

Me dou bem com o Zema também.

Não, não conversei com o Tarcís hoje, não.

Estava em Minas. Talvez converse com ele, com mais gente.

Thaís Bilenk, também aqui em São Paulo, pertinho.

Salve, salve, Thaís!

Salve, salve, Fernando, Toledo!

O Atulira fez um hospital veredas e hoje o hospital veredas está paralisado,

com cinco meses de salário atrasado.

Vamos, sem mais delongas, aos assuntos da semana.

Formou-se nos últimos dias uma ampla convergência para a votação e virtual aprovação da reforma tributária,

um dos assuntos mais reiterados e mais encalhados das últimas décadas.

Governadores e prefeitos equacionaram suas demandas e até o governador de São Paulo,

Tarcísio de Freitas, que fazia restrições à proposta,

veio a público para endossar o couro a favor da reforma.

A Fiesp divulgou nesta quinta o manifesto a favor da reforma

e economistas de diferentes orientações políticas e teóricas

também já haviam feito o seu manifesto essa semana.

Parece que agora a coisa vai.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, mobilizou a casa e tenta colher para si

os louros deste mutirão que montou para destravar a pauta econômica.

A gente vai discutir os meandros deste bordado político

e dizer algumas coisas sobre a estampa que deve resultar dele.

No segundo bloco, vamos falar sobre o que está pensando e fazendo a direita ou as direitas

depois da ineligibilidade de Jair Messias por oito anos.

Tarcísio tem sido o nome mais falado nas bolsas de apostas para o futuro

e se tornou personagem nas últimas horas ou persona não grata

nos círculos bolsonaristas depois de aderir à reforma tributária.

Além dele, há muito mais gente de olho no legado ou no espólio de Bolsonaro,

entre eles o governador mineiro, Romeu Zema.

No terceiro bloco, tem mais Arthur Lira, que passa das páginas políticas para as páginas policiais.

Na semana passada, já havíamos dedicado atenção ao escândalo

vendo os tais kits de robótica comprados a preço de ouro por prefeituras de Alagoas.

No início desta semana, o repórter Breno Pires publicou no site da Piauí

uma reportagem mostrando que desde o afastamento de Dilma Rousseff em 2016,

quando o partido de Lira, o PP, assumiu o controle do Ministério da Saúde,

cerca de um bilhão de reais, um pouco menos do que isso,

em repasses federais, estaduais e municipais, foram enviados para o hospital Veredas, em Maceió.

E desde 2017, só aliados e parentes de Lira administraram a massa de dinheiro destinada ao hospital.

O Veredas recebe menos pacientes do que outros hospitais da região, como a Santa Casa de Maceió,

e como se não bastasse, a dinheiro é uma repassada.

A instituição não impediu que funcionários ficassem mais de três meses sem receber salários

e que não tenham ainda, até hoje, recebido o 13º de 2022.

Não cheira bem.

É isso.

Vem com a gente.

Música

Bom, muito bem, José Roberto de Toledo, vamos começar com você.

Na madrugada, de quarta para quinta, houve uma movimentação no Congresso,

acho que a gente pode começar falando disso.

Aconteceu o seguinte, Fernando.

O Arthur Lira fez uma mudança de última hora na ordem de matérias que iam ser votadas.

Ele tinha organizado para essa semana um mutirão dos deputados para aprovar um pacote de pautas econômicas,

que incluía um projeto sobre o CARF, que é, mal falando, o Tribunal da Receita,

que julga os recursos de contribuintes punidos pela Receita Federal,

que está em modificação e algo que é importante para o governo,

porque o Haddad tem a expectativa de aumentar significativamente a arrecadação com essa mudança.

E isso estava em primeiro lugar na pauta e saiu do primeiro lugar,

porque o Arthur Lira inventou lá uma manobra, dizendo que emenda constitucional,

que é a reforma tributária, uma emenda constitucional,

no caso de votação de emendas, não se aplica a regra do regimento da Câmara

que previa que o CARF fosse votado antes.

Com isso, o CARF ficou para trás,

também a votação do arcabouço fiscal que precisava ser referendada pela Câmara também ficou para trás

e entrou na pauta, na noite de quarta-feira, a votação da reforma tributária.

Na verdade, do relatório que o relator apresentou em substituição

à proposta de emenda constitucional que está em tramitação desde 2019.

Uma proposta cheia de acordos, acordos de última hora,

com os governadores que viabilizaram colocar em votação.

E antes que ela fosse votada, a oposição apresentou um requerimento

de retirada de pauta da proposta de emenda constitucional,

que serviu como um teste para saber quantos votos havia a favor dessa reforma.

Vamos lembrar que são necessários 308 votos na Câmara,

é um quórum ultra-qualificado porque é uma mudança à Constituição.

Havia no plenário, no momento da votação desse requerimento, 483 deputados,

mas apenas 450 registraram voto, ou seja, 33 estavam lá e fizeram questão de não votar,

sinal de que estavam esperando algum tipo de compensação pelos seus trabalhos não prestados.

E o resultado foi 302 votos contra a retirada de pauta.

Você vai dizer, é uma vitória do governo, do Arthur Lira e de todo mundo que está defendendo a reforma tributária?

Sim, mas foi uma vitória preocupante porque ficou seis votos aquém do quórum necessário para aprovar a reforma.

Isso depois de o governo ter liberado nada menos do que R$ 2.135.000.000 em emendas parlamentares na terça-feira,

o recorde total e absoluto de liberação de emendas.

Pois é, um deu outra. O governo liberou mais R$ 5.334.000.000 na quarta-feira,

depois que a gente já tinha gravado, só esses dados vieram a público.

E quem levou essa grana foram principalmente partidos de oposição,

PL de Bolsonaro, PP de Arthur Lira e PSD de Gilberto Kassab,

que é o homem forte do governo de São Paulo, do governador Torcidio de Freitas.

Foi ali que o governo foi pescar votos para tentar fazer passar a reforma tributária. É isso aí.

O governo disse que não é dele, de fato não é.

A reforma tributária é discutida há 35 anos no Congresso, desde a constituinte.

Nenhum governo conseguiu aprová-la.

Então o governo faz questão de não caracterizar como uma coisa dele, como uma iniciativa do Congresso,

mas obviamente o governo tem muito interesse em que isso seja aprovado.

A resistência, depois de todos os lobbies tentarem enfiar todos os jabutis possíveis,

como a gente discutiu na semana passada,

essa semana a resistência estava concentrada nos governadores

e o mais vocal deles era o governador de São Paulo, Torcidio de Freitas,

porque São Paulo, apesar de ser beneficiado por um lado da reforma,

que vai cobrar os impostos no local de consumo e não no local de origem,

e como São Paulo tem o maior mercado, tenderia a ter uma arrecadação grande,

por outro lado ele perde tudo aquilo que é cobrado na produção,

que São Paulo também é um grande produtor de bens e serviços,

então havia uma desconfiança que São Paulo pudesse perder a arrecadação.

Por conta disso, o Torcidio de Freitas propôs ali uma série de mudanças,

mas no final das contas, aquilo que parecia ser uma oposição ferrenha do Torcidio de Freitas,

ele virou e acabou apoiando a reforma, fez até propaganda para a reforma

e saiu com uma frase que vai entrar para a história.

E virou depois de fazer uma reunião com o Haddad, que muito espertamente está agindo em silêncio,

trabalhando sem aparecer, porque ele sabe com quem ele está lidando

e depois dessa reunião o Torcidio fez essa peça de propaganda.

Exatamente, você tem toda a razão. O Lula não entrou na negociação,

deixou o Haddad fazer isso por ele e o Haddad teve grande sucesso ao convencer

o seu ex-adversário na disputa pelo governo de São Paulo a mudar de posição.

Qual que é a frase?

A frase que vai entrar para a história é que estou 95% de acordo com a reforma tributária

e isso virou objeto de ataques como nunca ele recebeu antes por parte dos bolsonaristas.

O desentendimento entre Torcidio de Freitas e Bolsonaro e os bolsonaristas

não parou só nas redes sociais não.

Teve uma reunião nesta quinta-feira, uma reunião do PL, para a qual ele foi convidado

e o Torcidio foi defender a reforma tributária, ou que pelo menos a direita discutisse

a reforma tributária durante a reunião e foi vaiado.

Não apenas foi vaiado, como foi interrompido pelo Bolsonaro

que falou que se o PL tivesse unido não aprovaria nada.

E segundo o repórter Tales Faria Apurô, ele precisou do Torcidio sair meio que escoltado

da reunião para não correr risco na sua integridade física.

Não vai terminar bem essa relação Torcidio-Bolsonaro não.

Pois bem, e o que o governo fez? Nesses 2 bilhões e 135 milhões de emendas que ele liberou

dois terços eram emendas de bancadas estaduais.

Foi o recorde de liberação de emendas de bancadas estaduais que são emendas suprapartidárias

porque toda bancada do estado assina e em geral são emendas que favorecem os governadores

são as chamadas RP7. E foi para justamente aplacar a ira dos governadores

ou consolidar apoios que o governo fez isso.

As bancadas que foram mais atendidas em maior valor de recursos nas emendas

foram bancadas de alguns estados que já estavam consolidados como o Piauí e o Maranhão

cujas bancadas estaduais na Câmara votaram pesadamente a favor da reforma

nesse primeiro teste na quarta-feira à noite.

Mas também de estados que estavam majoritariamente contra, como Santa Catarina.

Foi um dos dois estados que mais recebeu recursos.

Não foi o suficiente, porém, para mudar o voto da bancada de Santa Catarina

cujo governador é Jorginho Melo do PL, um bolsonarista raiz, que é contra a reforma.

Para vocês terem uma ideia, apesar de terem liberado mais de 100 milhões de reais para Santa Catarina

a bancada catarinense, 69% da bancada de Santa Catarina

votou pela retirada de pauta da proposta de reforma tributária.

Ou seja, não adiantou liberar essa dinheirama toda lá para Santa Catarina

que não mudou o voto dos deputados catarinenses que é o estado mais bolsonarista do país.

Do ponto de vista do jogo de forças, você tem praticamente todos os governadores do norte e nordeste a favor

alguns governadores do sul contra, os do sudeste a maioria a favor.

O único problema de maior resistência estava no bolsonarismo, que fez uma campanha ontem

segundo o levantamento da Arquimedes, bateu recorde o tema de reforma tributária

nas redes sociais, em grande parte puxados pelo bolsonarismo que estava fazendo campanha contra

e 70% das manifestações foram contrárias e todo o argumento é a reforma do PT

vai aumentar imposto, vai aumentar o seu IPVA, coisa de comunista.

Esse foi o discurso que até o próprio Bolsonaro, que estava em silêncio

entrou na noite de ontem e começou a falar contra a reforma.

Então virou uma coisa, bolsonaristas e antibolsonaristas nas redes.

Também o levantamento da Pauvel, dos 25 mil grupos públicos de WhatsApp

mostrou a mesma coisa, uma mobilização muito grande dos bolsonaristas

para pressionar os parlamentares contra a reforma.

Então assim, de um lado, se a reforma não passa, é uma enorme vitória do Bolsonaro

e do bolsonarismo, porque eles são os únicos que estão fazendo campanha contra.

Se passar, vai ser mais uma derrota para eles, mas eles vão estar marcando posição

que vão ficar dizendo que foi a reforma do PT e até o fim dos tempos.

Agora, vamos esperar para ver o que acontece nessa quinta-feira,

essa reforma, primeiro, se ela é votada de fato e segundo, se ela passa.

Se ela passar, não deixa de ser uma vitória do governo, porque interessa ao governo,

mas é uma vitória da sociedade, porque o Brasil é um dos pouquíssimos países

do mundo que não usa o imposto sobre valor agregado.

Mais de 170 países usam, é uma reforma absolutamente necessária

que vai muito além de uma questão governamental.

Thaís, acho que podemos pegar esse gancho sobre a mudança do governador de São Paulo,

a mudança de atitude, de posição dele. Você fez apuração sobre isso, certo?

É, um pouco do ponto de vista um pouco mais técnico e a importância da mudança de posição.

Primeiro que São Paulo é a maior bancada, por ser o estado mais populoso,

é a maior bancada, então você tem 70 deputados de São Paulo que estavam alinhados

com o governador, não todos, obviamente.

Uma bancada muito maior que a de Alagoas, do Arthur Lira, que tem nove deputados.

Então tem um aspecto importante, além de ser o estado mais rico e o segundo maior orçamento da União.

Então tem um aspecto que essa resistência do Tarcísio preocupava o governo e o Arthur Lira,

porque de fato uma oposição de São Paulo para uma votação como essa pode ser comprometedora.

Eu conversei com o Eduardo Cury, que é um ex-deputado e ex-prefeito de São José dos Campos,

tucano, e ele está no gabinete da oposição do Rogério Marinho no Senado,

enfim, faz estudos técnicos sobre esse tipo de matéria,

e ele me explicou um pouco mais tecnicamente onde são os pontos que estavam pegando

e ajuda a entender porque o Tarcísio também cedeu.

Então, em primeiro lugar, essa questão da tributação de destino que o Toledo mencionou,

que o Tarcísio depois cedeu, ela é a base, ela é a origem, ela é o principal motivo da guerra fiscal em curso,

que está em curso há muitas décadas já no Brasil entre os estados,

porque o ICMS que vai ser substituído é a principal fonte de receita dos estados

e a ideia era que o novo imposto deixasse de ser cobrado na origem e sim no destino.

E por que que isso acabaria, ou pelo menos limitaria a guerra fiscal?

Porque hoje o que os estados fazem, segundo o Eduardo Cury me explicou, é driblar a tributação na origem.

Então você tem um carro, você produz um carro de 100 mil reais,

e você tem uma alíquota de 18% em geral nos estados de ICMS,

só que você oferece para aquela fábrica que você vai cobrar 1% e não 18%.

Alguém judicializa, vai para o Supremo e a empresa vai ter que acabar pagando 18% em imposto.

Então os estados fazem uma gambiarra, que é passar uma lei bastante questionável,

em que ela diz que vai mudar a base de tributação, ela vai reduzir a base de tributação em 95%.

Então ela cobra sim os 18% de ICMS, mas sobre 5% do valor do produto.

E aí começa a ter uma guerra fiscal, literalmente, entre os estados

para ver quem oferece uma gambiarra maior para os fabricantes, para as fábricas, para as indústrias.

Não tem nenhuma transparência e isso favorece, inclusive, acordos eventualmente espúrios

entre governadores e industriais e empresários.

Então cria até espaço para corrupção.

Tem um monte de outras questões envolvendo a guerra fiscal que a reforma tende a sanar,

inclusive sobre cobranças abusivas de ICMS e do novo imposto,

o que viria a ser o novo imposto de produtos básicos como energia elétrica.

Tem um monte de situações que essa reforma pode melhorar na questão fiscal.

Agora tem um problema que isso cria, que é a tributação de destino,

que é aí que entra a posição do Tarcísio.

Hoje os estados dão esses benefícios fiscais.

Agora eles não vão mais ter o benefício fiscal para dar para as fábricas se instalarem nos seus estados.

Então o que a União, o projeto de reforma traz?

Fala o seguinte, vamos pagar para as fábricas que já estão e para, eventualmente,

novas fábricas que querem se instalar em estados que não sejam polos consumidores,

portanto, norte, nordeste, sobretudo.

A gente paga o que elas teriam que recolher em imposto,

assim ela fica no zero a zero e não sai daqui, porque senão se destrói a economia desses estados.

Se você tira as fábricas que estão instaladas em estados que são mais dependentes da União,

você destrói o que tem de emprego e de economia local.

E aí para isso o projeto cria um fundo de desenvolvimento regional

que repassa o dinheiro aos estados para os estados repassarem a essas indústrias e empresas

para amortizar dessa forma o imposto que a empresa passaria a pagar.

Aí essa é a briga número um, porque o critério para a divisão desse fundo de desenvolvimento regional

seria o índice de pobreza do estado.

E aí o Tarcísio I diz, eu também tenho pobres em São Paulo,

então não dá para distribuir pensando só do ponto de vista geográfico.

Foi a primeira briga que ele comprou.

E aí a segunda briga que ele comprou é esse fundo de compensação que o Toledo estava explicando.

O que acontece? Por exemplo, o exportador.

O exportador tem direito de receber todo o imposto pago na cadeia porque ele é isento de tributação.

Então ele faz todo o processo, exporta e depois ele recebe o imposto que ele pagou.

Isso acontece no Brasil e em outros muitos países, em todos os estados.

E hoje o estado onde aquele exportador está sediado faz essa compensação sozinho.

E o que o Tarcísio estava dizendo é que este Conselho Federativo,

que passaria a fazer essa conta e decidir quanto cada estado vai receber

depois de um processo de fechar as contas no final do dia,

que isso prejudicaria estados exportadores como São Paulo, como Goiás,

que também se tornou um estado exportador importante no Brasil.

Daí o envolvimento do Caiá, do governador de Goiás, nessa discussão,

que isso prejudicaria esses estados porque eles queriam manter a autonomia de decidir

quanto, como, onde, de que jeito recolher esse imposto e manejar esses impostos

que hoje, sendo o ICMS, estão no controle da fazenda estadual.

O argumento é que com a reforma Brasília teria mais poder. E por que Brasília?

Porque nesse Conselho você tem a representação de todos os estados e todos os entes da federação

que numericamente, se você somar os estados mais dependentes, menos produtores, menos exportadores,

eles vão ter sempre maioria em relação aos estados mais ricos como esses que eu citei.

Então eles acabariam perdendo na disputa de poder na hora de fazer as contas desse Conselho de Remanejamento.

Agora, segundo o Cury me diz, desde o começo o Tarcísio sabia que ele não tinha como ganhar essa guerra

com o governo por ser numericamente inferior e porque as regras do jogo são essas.

Ele estava fazendo política, ele conseguiu porque assim o apoio dele custou mais caro,

ele teve um papel relevante, ganhou a oposição da própria base bolsonarista,

mas por outro lado ele cresce nacionalmente, a gente vai falar mais disso daqui a pouco.

Então ele estava fazendo política, acabou cedendo nesses aspectos, ele falou,

olha só, esse Conselho tudo bem, vai ser assim, é só importante que eles não possam mudar a regra do jogo dali pra frente.

Que as regras sejam estipuladas desde já, desde a aprovação da PEC.

E não num projeto de regulamentação agora e mais outro no futuro.

Porque lembrando que tudo isso que se for aprovado mesmo passa a valer para os próximos governos.

Assim, como uma transição longa que começa só no final desse governo.

Contando o IVA, o Imposto de Valor Agregado Federal, mais o estadual e municipal,

a reforma só se consuma totalmente daqui a 10 anos.

A Câmara votou a reforma tributária na quinta-feira, 10 horas da noite, e aprovou com folga o texto.

382 votos a favor e 118 contra, sendo que eram necessários 308 votos.

O PL do Bolsonaro deu 20 votos pela reforma, mesmo com todo o tumulto que ele causou.

O dia foi quente em Brasília, mas a noitinha, quando o Lira abriu a votação, o ambiente no plenário já estava descontraído.

E o próprio Lira, presidente da Câmara, fez um discurso da tribuna antes mesmo do anúncio do resultado.

Ele queria capitalizar em cima da votação, mas também mandou um recado pro Bolsonaro.

Disse que o povo tá cansado, que as eleições já acabaram e que o candidato que ele apoiou perdeu,

então é hora de deixar as urnas de lado.

O desfecho é muito ruim pro Bolsonaro, claro, ele é o grande derrotado da semana.

Foi bom pro governo, foi bom pro Haddad, que soube articular,

foi bom pro Tarcisio, que saiu maior dessa votação, e foi bom pro Lira.

Embora o momento pra ele seja mais sensível do que isso, e a gente vai continuar falando desse assunto no terceiro bloco,

mas, inegavelmente, o desfecho é bom pro Arthur Lira.

Tá certo, a atuação do Arthur Lira evidentemente foi decisiva e ele tá tentando faturar esse processo todo.

Tá sendo tratado como estadista ao longo da semana, por toda a imprensa.

Na segunda-feira, a Globo News acompanhou ele andando pelos gabinetes,

cumprimentando as pessoas, indo pelo cafezinho, a super semana, etc, destravar a pauta econômica.

O Lira, que está enrolado com investigações da Polícia Federal,

tá tentando, digamos assim, criar uma agenda e criar um clima, um ambiente que seja favorável a ele,

dê a ele uma certa colchão de credibilidade, né, que ele tá perdendo.

Então a gente encerra o primeiro bloco do programa,

vamos falar no segundo bloco sobre as consequências dessa mudança de posição do Tarciso,

em relação ao bolsonarismo, e falar do espólio, ou do legado de Bolsonaro,

que está sendo disputado por várias pessoas para 26.

A gente já volta depois do intervalo.

Na revista Piauí de Julho, Silvia Colombo conta a história de Javier Millet,

o deputado de ultradireita que quer ser presidente da Argentina.

Angélica Santa Cruz descreve a teia de egos, intrigas, denúncias e falta de visão pública

que estrangula o Teatro Municipal de São Paulo.

As astúcias da misteriosa companheira de Gal Costa

e o impacto na carreira da cantora na reportagem de Tales Braga.

E Bernardo Esteves revela os bastidores da devolução de um fóssil brasileiro de dinossauro

contrabandeado para um museu da Alemanha.

No papel, no celular ou no computador, assinante Piauí lê esses e outros textos com exclusividade.

Saiba mais em revistapiaui.com.br.

Muito bem, Zé. A gente falou da posição do governador de São Paulo na reforma tributária.

Isso tem consequências, ou teve, já está tendo consequências políticas.

Já é um capítulo que vai se montando aí pro longo xadrez até 2026.

Como é que você está vendo isso?

Eu pedi pro Google Trends fazer um ranking pra mim, pra gente, na verdade,

dos governadores nesse primeiro semestre.

Google Trends, vamos lembrar, ele é uma medida de tudo que as pessoas foram buscar no Google.

E eu considero o Google o confessionário da internet, onde você coloca ali todas as suas dúvidas,

tenta matar as suas curiosidades e revela, inclusive, aquilo que você não revela nem para o padre ou para o rabino.

O que que a gente viu?

Sobretudo para o padre e para o rabino, né?

Sobretudo para o confessionário, exatamente.

Bom, o Tarcísio de Freitas apareceu disparado em primeiro lugar como o governador que mais recebeu buscas,

que mais provocou curiosidade nas pessoas.

34% de todas as buscas feitas na internet sobre governadores ao longo desse primeiro semestre

foram sobre o Tarcísio de Freitas, uma em cada três.

O segundo colocado, ficou empatado ali o Ibanez Rocha com 13% e o Romeu Zema com 12%.

E o Ibanez Rocha, obviamente, pelos motivos errados, já que ele só foi lembrado porque foi afastado por conta do 8 de janeiro.

E o Zema, que é um dos candidatos a ser um dos herdeiros do bolsonarismo, é governador de Minas Gerais,

um dos estados mais populosos do país, o segundo mais populoso, então era meio esperado.

Aí eu pedi para o Google Trends fazer um outro ranking de como está a projeção desses governadores fora dos seus estados.

Porque, obviamente, esse ranking está refletindo a população e a quantidade de pessoas que moram em cada um dos seus estados.

E os dois estados que têm as populações mais numerosas acabaram liderando o ranking.

Então, pedi para eles fazerem um ranking do número de buscas feitas por todos os governadores fora dos seus estados,

pela população dos outros 26 unidades da federação.

E esse ranking revelou a mesma coisa.

O governador com a maior projeção fora do seu estado é também o Tarcísio de Freitas.

Ele marcou 29 nesse índice contra 10 do Zema, ou seja, 3 vezes mais do que o Zema.

Então, a conclusão a que eu chego aqui, num primeiro momento, o Tarcísio sai de um patamar muito superior ao do Zema

para se tornar eventual presidenciável em 2026.

Claro que nós estamos falando de um cenário que está há 3 anos e meio de acontecer.

Então, muita água vai rolar.

Mas, a largada do Tarcísio foi muito mais forte, foi 3 vezes mais forte do que a largada do Zema.

E isso atrai gente.

E, obviamente, vai atrair um monte de pessoas, empresários, financiadores, políticos, que veem nele uma opção de poder.

Qual que é o problema do Tarcísio?

Tem dois problemas graves.

Primeiro, que ele está indo muito mal na área de segurança, que é a área que deveria ser a sua grande vitrine.

A criminalidade em São Paulo aumentou durante o governo dele, em vez de diminuir.

E, segundo, ele foi eleito graças ao bolsonarismo.

O bolsonarismo, nessa madrugada, se voltou contra o Tarcísio.

Todos os expoentes do bolsonarismo, no mínimo...

Madrugada de quarta pra quinta, né?

Exatamente, de quarta pra quinta, bem lembrado.

Do Fábio Weingarten ao Ricardo Salles, todos ficaram falando assim...

Eu amo 95% o São Paulo, eu sou 95% contra a Agenda Verde.

A Agenda Verde, ou seja, a frase do Tarcísio que era 95% favorável à reforma tributária,

foi usada contra ele pelos bolsonaristas, porque ele, entre o bolsonarismo e o caçabismo...

Vamos lembrar que o homem forte do governo de São Paulo é o caçabe, ex-prefeito, dono do PSD,

e eminência parda do governo paulista.

Ele ficou com o caçabismo, fechou um acordo com o governo federal para apoiar a reforma,

e se voltou contra os bolsonaristas.

Qual o impacto que isso vai ter ao longo do tempo, é difícil saber.

Essa foi uma reação imediata, porque ele foi de encontro à orientação do Bolsonaro,

que foi para a rede pessoalmente advogar contra a reforma tributária.

O apoio dele causou o maior confronto entre os dois,

desde que ele virou ministro do Bolsonaro, e depois candidato do Bolsonaro em São Paulo,

e opção ao bolsonarismo para 2026.

Então, o resumo da ópera para mim é, o Tarcísio é de longe o governador mais bem colocado para 2026,

porém tem um cisma dentro do bolsonarismo provocado pela reforma tributária,

que claramente é um problema que vai se repetir ao longo do tempo, daqui até a eleição,

mas ele pode ser a única opção que os bolsonaristas têm para votar.

Você não vota no candidato ideal, você vota no candidato que está na urna,

e pode ser que não tenha nenhum candidato melhor aos olhos dos bolsonaristas em 2026, além do Tarcísio.

Bom, o Bolsonaro dizia na campanha Tarcísio é 10, agora ele é Tarcísio é 9,5.

No mínimo, ou no máximo.

Tá isso.


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Rádio Piauí. Radio Piauí.

Olá, sejam muito bem-vindos ao Foro de Terezina, podcast de política da revista Piauí.

A prática direita não pode perder a narrativa de ser favorável a uma reforma tributária,

porque senão a reforma tributária acaba sendo aprovada e quem aprovou?

A grande questão é construir um contexto.

Eu, Fernando de Barros e Silva, na minha casa em São Paulo,

tenho o prazer de conversar com meu amigo José Roberto de Toledo, aqui pertinho.

Opa, Toledo!

Opa, Fernando! Opa, Thaís!

Não, não conversei com o Tarcís ainda.

Não conversei. O Tarcís, eu me dou muito bem com ele.

Me dou bem com o Zema também.

Não, não conversei com o Tarcís hoje, não.

Estava em Minas. Talvez converse com ele, com mais gente.

Thaís Bilenk, também aqui em São Paulo, pertinho.

Salve, salve, Thaís!

Salve, salve, Fernando, Toledo!

O Atulira fez um hospital veredas e hoje o hospital veredas está paralisado,

com cinco meses de salário atrasado.

Vamos, sem mais delongas, aos assuntos da semana.

Formou-se nos últimos dias uma ampla convergência para a votação e virtual aprovação da reforma tributária,

um dos assuntos mais reiterados e mais encalhados das últimas décadas.

Governadores e prefeitos equacionaram suas demandas e até o governador de São Paulo,

Tarcísio de Freitas, que fazia restrições à proposta,

veio a público para endossar o couro a favor da reforma.

A Fiesp divulgou nesta quinta o manifesto a favor da reforma

e economistas de diferentes orientações políticas e teóricas

também já haviam feito o seu manifesto essa semana.

Parece que agora a coisa vai.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, mobilizou a casa e tenta colher para si

os louros deste mutirão que montou para destravar a pauta econômica.

A gente vai discutir os meandros deste bordado político

e dizer algumas coisas sobre a estampa que deve resultar dele.

No segundo bloco, vamos falar sobre o que está pensando e fazendo a direita ou as direitas

depois da ineligibilidade de Jair Messias por oito anos.

Tarcísio tem sido o nome mais falado nas bolsas de apostas para o futuro

e se tornou personagem nas últimas horas ou persona não grata

nos círculos bolsonaristas depois de aderir à reforma tributária.

Além dele, há muito mais gente de olho no legado ou no espólio de Bolsonaro,

entre eles o governador mineiro, Romeu Zema.

No terceiro bloco, tem mais Arthur Lira, que passa das páginas políticas para as páginas policiais.

Na semana passada, já havíamos dedicado atenção ao escândalo

vendo os tais kits de robótica comprados a preço de ouro por prefeituras de Alagoas.

No início desta semana, o repórter Breno Pires publicou no site da Piauí

uma reportagem mostrando que desde o afastamento de Dilma Rousseff em 2016,

quando o partido de Lira, o PP, assumiu o controle do Ministério da Saúde,

cerca de um bilhão de reais, um pouco menos do que isso,

em repasses federais, estaduais e municipais, foram enviados para o hospital Veredas, em Maceió.

E desde 2017, só aliados e parentes de Lira administraram a massa de dinheiro destinada ao hospital.

O Veredas recebe menos pacientes do que outros hospitais da região, como a Santa Casa de Maceió,

e como se não bastasse, a dinheiro é uma repassada.

A instituição não impediu que funcionários ficassem mais de três meses sem receber salários

e que não tenham ainda, até hoje, recebido o 13º de 2022.

Não cheira bem.

É isso.

Vem com a gente.

Música

Bom, muito bem, José Roberto de Toledo, vamos começar com você.

Na madrugada, de quarta para quinta, houve uma movimentação no Congresso,

acho que a gente pode começar falando disso.

Aconteceu o seguinte, Fernando.

O Arthur Lira fez uma mudança de última hora na ordem de matérias que iam ser votadas.

Ele tinha organizado para essa semana um mutirão dos deputados para aprovar um pacote de pautas econômicas,

que incluía um projeto sobre o CARF, que é, mal falando, o Tribunal da Receita,

que julga os recursos de contribuintes punidos pela Receita Federal,

que está em modificação e algo que é importante para o governo,

porque o Haddad tem a expectativa de aumentar significativamente a arrecadação com essa mudança.

E isso estava em primeiro lugar na pauta e saiu do primeiro lugar,

porque o Arthur Lira inventou lá uma manobra, dizendo que emenda constitucional,

que é a reforma tributária, uma emenda constitucional,

no caso de votação de emendas, não se aplica a regra do regimento da Câmara

que previa que o CARF fosse votado antes.

Com isso, o CARF ficou para trás,

também a votação do arcabouço fiscal que precisava ser referendada pela Câmara também ficou para trás

e entrou na pauta, na noite de quarta-feira, a votação da reforma tributária.

Na verdade, do relatório que o relator apresentou em substituição

à proposta de emenda constitucional que está em tramitação desde 2019.

Uma proposta cheia de acordos, acordos de última hora,

com os governadores que viabilizaram colocar em votação.

E antes que ela fosse votada, a oposição apresentou um requerimento

de retirada de pauta da proposta de emenda constitucional,

que serviu como um teste para saber quantos votos havia a favor dessa reforma.

Vamos lembrar que são necessários 308 votos na Câmara,

é um quórum ultra-qualificado porque é uma mudança à Constituição.

Havia no plenário, no momento da votação desse requerimento, 483 deputados,

mas apenas 450 registraram voto, ou seja, 33 estavam lá e fizeram questão de não votar,

sinal de que estavam esperando algum tipo de compensação pelos seus trabalhos não prestados.

E o resultado foi 302 votos contra a retirada de pauta.

Você vai dizer, é uma vitória do governo, do Arthur Lira e de todo mundo que está defendendo a reforma tributária?

Sim, mas foi uma vitória preocupante porque ficou seis votos aquém do quórum necessário para aprovar a reforma.

Isso depois de o governo ter liberado nada menos do que R$ 2.135.000.000 em emendas parlamentares na terça-feira,

o recorde total e absoluto de liberação de emendas.

Pois é, um deu outra. O governo liberou mais R$ 5.334.000.000 na quarta-feira,

depois que a gente já tinha gravado, só esses dados vieram a público.

E quem levou essa grana foram principalmente partidos de oposição,

PL de Bolsonaro, PP de Arthur Lira e PSD de Gilberto Kassab,

que é o homem forte do governo de São Paulo, do governador Torcidio de Freitas.

Foi ali que o governo foi pescar votos para tentar fazer passar a reforma tributária. É isso aí.

O governo disse que não é dele, de fato não é.

A reforma tributária é discutida há 35 anos no Congresso, desde a constituinte.

Nenhum governo conseguiu aprová-la.

Então o governo faz questão de não caracterizar como uma coisa dele, como uma iniciativa do Congresso,

mas obviamente o governo tem muito interesse em que isso seja aprovado.

A resistência, depois de todos os lobbies tentarem enfiar todos os jabutis possíveis,

como a gente discutiu na semana passada,

essa semana a resistência estava concentrada nos governadores

e o mais vocal deles era o governador de São Paulo, Torcidio de Freitas,

porque São Paulo, apesar de ser beneficiado por um lado da reforma,

que vai cobrar os impostos no local de consumo e não no local de origem,

e como São Paulo tem o maior mercado, tenderia a ter uma arrecadação grande,

por outro lado ele perde tudo aquilo que é cobrado na produção,

que São Paulo também é um grande produtor de bens e serviços,

então havia uma desconfiança que São Paulo pudesse perder a arrecadação.

Por conta disso, o Torcidio de Freitas propôs ali uma série de mudanças,

mas no final das contas, aquilo que parecia ser uma oposição ferrenha do Torcidio de Freitas,

ele virou e acabou apoiando a reforma, fez até propaganda para a reforma

e saiu com uma frase que vai entrar para a história.

E virou depois de fazer uma reunião com o Haddad, que muito espertamente está agindo em silêncio,

trabalhando sem aparecer, porque ele sabe com quem ele está lidando

e depois dessa reunião o Torcidio fez essa peça de propaganda.

Exatamente, você tem toda a razão. O Lula não entrou na negociação,

deixou o Haddad fazer isso por ele e o Haddad teve grande sucesso ao convencer

o seu ex-adversário na disputa pelo governo de São Paulo a mudar de posição.

Qual que é a frase?

A frase que vai entrar para a história é que estou 95% de acordo com a reforma tributária

e isso virou objeto de ataques como nunca ele recebeu antes por parte dos bolsonaristas.

O desentendimento entre Torcidio de Freitas e Bolsonaro e os bolsonaristas

não parou só nas redes sociais não.

Teve uma reunião nesta quinta-feira, uma reunião do PL, para a qual ele foi convidado

e o Torcidio foi defender a reforma tributária, ou que pelo menos a direita discutisse

a reforma tributária durante a reunião e foi vaiado.

Não apenas foi vaiado, como foi interrompido pelo Bolsonaro

que falou que se o PL tivesse unido não aprovaria nada.

E segundo o repórter Tales Faria Apurô, ele precisou do Torcidio sair meio que escoltado

da reunião para não correr risco na sua integridade física.

Não vai terminar bem essa relação Torcidio-Bolsonaro não.

Pois bem, e o que o governo fez? Nesses 2 bilhões e 135 milhões de emendas que ele liberou

dois terços eram emendas de bancadas estaduais.

Foi o recorde de liberação de emendas de bancadas estaduais que são emendas suprapartidárias

porque toda bancada do estado assina e em geral são emendas que favorecem os governadores

são as chamadas RP7. E foi para justamente aplacar a ira dos governadores

ou consolidar apoios que o governo fez isso.

As bancadas que foram mais atendidas em maior valor de recursos nas emendas

foram bancadas de alguns estados que já estavam consolidados como o Piauí e o Maranhão

cujas bancadas estaduais na Câmara votaram pesadamente a favor da reforma

nesse primeiro teste na quarta-feira à noite.

Mas também de estados que estavam majoritariamente contra, como Santa Catarina.

Foi um dos dois estados que mais recebeu recursos.

Não foi o suficiente, porém, para mudar o voto da bancada de Santa Catarina

cujo governador é Jorginho Melo do PL, um bolsonarista raiz, que é contra a reforma.

Para vocês terem uma ideia, apesar de terem liberado mais de 100 milhões de reais para Santa Catarina

a bancada catarinense, 69% da bancada de Santa Catarina

votou pela retirada de pauta da proposta de reforma tributária.

Ou seja, não adiantou liberar essa dinheirama toda lá para Santa Catarina

que não mudou o voto dos deputados catarinenses que é o estado mais bolsonarista do país.

Do ponto de vista do jogo de forças, você tem praticamente todos os governadores do norte e nordeste a favor

alguns governadores do sul contra, os do sudeste a maioria a favor.

O único problema de maior resistência estava no bolsonarismo, que fez uma campanha ontem

segundo o levantamento da Arquimedes, bateu recorde o tema de reforma tributária

nas redes sociais, em grande parte puxados pelo bolsonarismo que estava fazendo campanha contra

e 70% das manifestações foram contrárias e todo o argumento é a reforma do PT

vai aumentar imposto, vai aumentar o seu IPVA, coisa de comunista.

Esse foi o discurso que até o próprio Bolsonaro, que estava em silêncio

entrou na noite de ontem e começou a falar contra a reforma.

Então virou uma coisa, bolsonaristas e antibolsonaristas nas redes.

Também o levantamento da Pauvel, dos 25 mil grupos públicos de WhatsApp

mostrou a mesma coisa, uma mobilização muito grande dos bolsonaristas

para pressionar os parlamentares contra a reforma.

Então assim, de um lado, se a reforma não passa, é uma enorme vitória do Bolsonaro

e do bolsonarismo, porque eles são os únicos que estão fazendo campanha contra.

Se passar, vai ser mais uma derrota para eles, mas eles vão estar marcando posição

que vão ficar dizendo que foi a reforma do PT e até o fim dos tempos.

Agora, vamos esperar para ver o que acontece nessa quinta-feira,

essa reforma, primeiro, se ela é votada de fato e segundo, se ela passa.

Se ela passar, não deixa de ser uma vitória do governo, porque interessa ao governo,

mas é uma vitória da sociedade, porque o Brasil é um dos pouquíssimos países

do mundo que não usa o imposto sobre valor agregado.

Mais de 170 países usam, é uma reforma absolutamente necessária

que vai muito além de uma questão governamental.

Thaís, acho que podemos pegar esse gancho sobre a mudança do governador de São Paulo,

a mudança de atitude, de posição dele. Você fez apuração sobre isso, certo?

É, um pouco do ponto de vista um pouco mais técnico e a importância da mudança de posição.

Primeiro que São Paulo é a maior bancada, por ser o estado mais populoso,

é a maior bancada, então você tem 70 deputados de São Paulo que estavam alinhados

com o governador, não todos, obviamente.

Uma bancada muito maior que a de Alagoas, do Arthur Lira, que tem nove deputados.

Então tem um aspecto importante, além de ser o estado mais rico e o segundo maior orçamento da União.

Então tem um aspecto que essa resistência do Tarcísio preocupava o governo e o Arthur Lira,

porque de fato uma oposição de São Paulo para uma votação como essa pode ser comprometedora.

Eu conversei com o Eduardo Cury, que é um ex-deputado e ex-prefeito de São José dos Campos,

tucano, e ele está no gabinete da oposição do Rogério Marinho no Senado,

enfim, faz estudos técnicos sobre esse tipo de matéria,

e ele me explicou um pouco mais tecnicamente onde são os pontos que estavam pegando

e ajuda a entender porque o Tarcísio também cedeu.

Então, em primeiro lugar, essa questão da tributação de destino que o Toledo mencionou,

que o Tarcísio depois cedeu, ela é a base, ela é a origem, ela é o principal motivo da guerra fiscal em curso,

que está em curso há muitas décadas já no Brasil entre os estados,

porque o ICMS que vai ser substituído é a principal fonte de receita dos estados

e a ideia era que o novo imposto deixasse de ser cobrado na origem e sim no destino.

E por que que isso acabaria, ou pelo menos limitaria a guerra fiscal?

Porque hoje o que os estados fazem, segundo o Eduardo Cury me explicou, é driblar a tributação na origem.

Então você tem um carro, você produz um carro de 100 mil reais,

e você tem uma alíquota de 18% em geral nos estados de ICMS,

só que você oferece para aquela fábrica que você vai cobrar 1% e não 18%.

Alguém judicializa, vai para o Supremo e a empresa vai ter que acabar pagando 18% em imposto.

Então os estados fazem uma gambiarra, que é passar uma lei bastante questionável,

em que ela diz que vai mudar a base de tributação, ela vai reduzir a base de tributação em 95%.

Então ela cobra sim os 18% de ICMS, mas sobre 5% do valor do produto.

E aí começa a ter uma guerra fiscal, literalmente, entre os estados

para ver quem oferece uma gambiarra maior para os fabricantes, para as fábricas, para as indústrias.

Não tem nenhuma transparência e isso favorece, inclusive, acordos eventualmente espúrios

entre governadores e industriais e empresários.

Então cria até espaço para corrupção.

Tem um monte de outras questões envolvendo a guerra fiscal que a reforma tende a sanar,

inclusive sobre cobranças abusivas de ICMS e do novo imposto,

o que viria a ser o novo imposto de produtos básicos como energia elétrica.

Tem um monte de situações que essa reforma pode melhorar na questão fiscal.

Agora tem um problema que isso cria, que é a tributação de destino,

que é aí que entra a posição do Tarcísio.

Hoje os estados dão esses benefícios fiscais.

Agora eles não vão mais ter o benefício fiscal para dar para as fábricas se instalarem nos seus estados.

Então o que a União, o projeto de reforma traz?

Fala o seguinte, vamos pagar para as fábricas que já estão e para, eventualmente,

novas fábricas que querem se instalar em estados que não sejam polos consumidores,

portanto, norte, nordeste, sobretudo.

A gente paga o que elas teriam que recolher em imposto,

assim ela fica no zero a zero e não sai daqui, porque senão se destrói a economia desses estados.

Se você tira as fábricas que estão instaladas em estados que são mais dependentes da União,

você destrói o que tem de emprego e de economia local.

E aí para isso o projeto cria um fundo de desenvolvimento regional

que repassa o dinheiro aos estados para os estados repassarem a essas indústrias e empresas

para amortizar dessa forma o imposto que a empresa passaria a pagar.

Aí essa é a briga número um, porque o critério para a divisão desse fundo de desenvolvimento regional

seria o índice de pobreza do estado.

E aí o Tarcísio I diz, eu também tenho pobres em São Paulo,

então não dá para distribuir pensando só do ponto de vista geográfico.

Foi a primeira briga que ele comprou.

E aí a segunda briga que ele comprou é esse fundo de compensação que o Toledo estava explicando.

O que acontece? Por exemplo, o exportador.

O exportador tem direito de receber todo o imposto pago na cadeia porque ele é isento de tributação.

Então ele faz todo o processo, exporta e depois ele recebe o imposto que ele pagou.

Isso acontece no Brasil e em outros muitos países, em todos os estados.

E hoje o estado onde aquele exportador está sediado faz essa compensação sozinho.

E o que o Tarcísio estava dizendo é que este Conselho Federativo,

que passaria a fazer essa conta e decidir quanto cada estado vai receber

depois de um processo de fechar as contas no final do dia,

que isso prejudicaria estados exportadores como São Paulo, como Goiás,

que também se tornou um estado exportador importante no Brasil.

Daí o envolvimento do Caiá, do governador de Goiás, nessa discussão,

que isso prejudicaria esses estados porque eles queriam manter a autonomia de decidir

quanto, como, onde, de que jeito recolher esse imposto e manejar esses impostos

que hoje, sendo o ICMS, estão no controle da fazenda estadual.

O argumento é que com a reforma Brasília teria mais poder. E por que Brasília?

Porque nesse Conselho você tem a representação de todos os estados e todos os entes da federação

que numericamente, se você somar os estados mais dependentes, menos produtores, menos exportadores,

eles vão ter sempre maioria em relação aos estados mais ricos como esses que eu citei.

Então eles acabariam perdendo na disputa de poder na hora de fazer as contas desse Conselho de Remanejamento.

Agora, segundo o Cury me diz, desde o começo o Tarcísio sabia que ele não tinha como ganhar essa guerra

com o governo por ser numericamente inferior e porque as regras do jogo são essas.

Ele estava fazendo política, ele conseguiu porque assim o apoio dele custou mais caro,

ele teve um papel relevante, ganhou a oposição da própria base bolsonarista,

mas por outro lado ele cresce nacionalmente, a gente vai falar mais disso daqui a pouco.

Então ele estava fazendo política, acabou cedendo nesses aspectos, ele falou,

olha só, esse Conselho tudo bem, vai ser assim, é só importante que eles não possam mudar a regra do jogo dali pra frente.

Que as regras sejam estipuladas desde já, desde a aprovação da PEC.

E não num projeto de regulamentação agora e mais outro no futuro.

Porque lembrando que tudo isso que se for aprovado mesmo passa a valer para os próximos governos.

Assim, como uma transição longa que começa só no final desse governo.

Contando o IVA, o Imposto de Valor Agregado Federal, mais o estadual e municipal,

a reforma só se consuma totalmente daqui a 10 anos.

A Câmara votou a reforma tributária na quinta-feira, 10 horas da noite, e aprovou com folga o texto.

382 votos a favor e 118 contra, sendo que eram necessários 308 votos.

O PL do Bolsonaro deu 20 votos pela reforma, mesmo com todo o tumulto que ele causou.

O dia foi quente em Brasília, mas a noitinha, quando o Lira abriu a votação, o ambiente no plenário já estava descontraído.

E o próprio Lira, presidente da Câmara, fez um discurso da tribuna antes mesmo do anúncio do resultado.

Ele queria capitalizar em cima da votação, mas também mandou um recado pro Bolsonaro.

Disse que o povo tá cansado, que as eleições já acabaram e que o candidato que ele apoiou perdeu,

então é hora de deixar as urnas de lado.

O desfecho é muito ruim pro Bolsonaro, claro, ele é o grande derrotado da semana.

Foi bom pro governo, foi bom pro Haddad, que soube articular,

foi bom pro Tarcisio, que saiu maior dessa votação, e foi bom pro Lira.

Embora o momento pra ele seja mais sensível do que isso, e a gente vai continuar falando desse assunto no terceiro bloco,

mas, inegavelmente, o desfecho é bom pro Arthur Lira.

Tá certo, a atuação do Arthur Lira evidentemente foi decisiva e ele tá tentando faturar esse processo todo.

Tá sendo tratado como estadista ao longo da semana, por toda a imprensa.

Na segunda-feira, a Globo News acompanhou ele andando pelos gabinetes,

cumprimentando as pessoas, indo pelo cafezinho, a super semana, etc, destravar a pauta econômica.

O Lira, que está enrolado com investigações da Polícia Federal,

tá tentando, digamos assim, criar uma agenda e criar um clima, um ambiente que seja favorável a ele,

dê a ele uma certa colchão de credibilidade, né, que ele tá perdendo.

Então a gente encerra o primeiro bloco do programa,

vamos falar no segundo bloco sobre as consequências dessa mudança de posição do Tarciso,

em relação ao bolsonarismo, e falar do espólio, ou do legado de Bolsonaro,

que está sendo disputado por várias pessoas para 26.

A gente já volta depois do intervalo.

Na revista Piauí de Julho, Silvia Colombo conta a história de Javier Millet,

o deputado de ultradireita que quer ser presidente da Argentina.

Angélica Santa Cruz descreve a teia de egos, intrigas, denúncias e falta de visão pública

que estrangula o Teatro Municipal de São Paulo.

As astúcias da misteriosa companheira de Gal Costa

e o impacto na carreira da cantora na reportagem de Tales Braga.

E Bernardo Esteves revela os bastidores da devolução de um fóssil brasileiro de dinossauro

contrabandeado para um museu da Alemanha.

No papel, no celular ou no computador, assinante Piauí lê esses e outros textos com exclusividade.

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Muito bem, Zé. A gente falou da posição do governador de São Paulo na reforma tributária.

Isso tem consequências, ou teve, já está tendo consequências políticas.

Já é um capítulo que vai se montando aí pro longo xadrez até 2026.

Como é que você está vendo isso?

Eu pedi pro Google Trends fazer um ranking pra mim, pra gente, na verdade,

dos governadores nesse primeiro semestre.

Google Trends, vamos lembrar, ele é uma medida de tudo que as pessoas foram buscar no Google.

E eu considero o Google o confessionário da internet, onde você coloca ali todas as suas dúvidas,

tenta matar as suas curiosidades e revela, inclusive, aquilo que você não revela nem para o padre ou para o rabino.

O que que a gente viu?

Sobretudo para o padre e para o rabino, né?

Sobretudo para o confessionário, exatamente.

Bom, o Tarcísio de Freitas apareceu disparado em primeiro lugar como o governador que mais recebeu buscas,

que mais provocou curiosidade nas pessoas.

34% de todas as buscas feitas na internet sobre governadores ao longo desse primeiro semestre

foram sobre o Tarcísio de Freitas, uma em cada três.

O segundo colocado, ficou empatado ali o Ibanez Rocha com 13% e o Romeu Zema com 12%.

E o Ibanez Rocha, obviamente, pelos motivos errados, já que ele só foi lembrado porque foi afastado por conta do 8 de janeiro.

E o Zema, que é um dos candidatos a ser um dos herdeiros do bolsonarismo, é governador de Minas Gerais,

um dos estados mais populosos do país, o segundo mais populoso, então era meio esperado.

Aí eu pedi para o Google Trends fazer um outro ranking de como está a projeção desses governadores fora dos seus estados.

Porque, obviamente, esse ranking está refletindo a população e a quantidade de pessoas que moram em cada um dos seus estados.

E os dois estados que têm as populações mais numerosas acabaram liderando o ranking.

Então, pedi para eles fazerem um ranking do número de buscas feitas por todos os governadores fora dos seus estados,

pela população dos outros 26 unidades da federação.

E esse ranking revelou a mesma coisa.

O governador com a maior projeção fora do seu estado é também o Tarcísio de Freitas.

Ele marcou 29 nesse índice contra 10 do Zema, ou seja, 3 vezes mais do que o Zema.

Então, a conclusão a que eu chego aqui, num primeiro momento, o Tarcísio sai de um patamar muito superior ao do Zema

para se tornar eventual presidenciável em 2026.

Claro que nós estamos falando de um cenário que está há 3 anos e meio de acontecer.

Então, muita água vai rolar.

Mas, a largada do Tarcísio foi muito mais forte, foi 3 vezes mais forte do que a largada do Zema.

E isso atrai gente.

E, obviamente, vai atrair um monte de pessoas, empresários, financiadores, políticos, que veem nele uma opção de poder.

Qual que é o problema do Tarcísio?

Tem dois problemas graves.

Primeiro, que ele está indo muito mal na área de segurança, que é a área que deveria ser a sua grande vitrine.

A criminalidade em São Paulo aumentou durante o governo dele, em vez de diminuir.

E, segundo, ele foi eleito graças ao bolsonarismo.

O bolsonarismo, nessa madrugada, se voltou contra o Tarcísio.

Todos os expoentes do bolsonarismo, no mínimo...

Madrugada de quarta pra quinta, né?

Exatamente, de quarta pra quinta, bem lembrado.

Do Fábio Weingarten ao Ricardo Salles, todos ficaram falando assim...

Eu amo 95% o São Paulo, eu sou 95% contra a Agenda Verde.

A Agenda Verde, ou seja, a frase do Tarcísio que era 95% favorável à reforma tributária,

foi usada contra ele pelos bolsonaristas, porque ele, entre o bolsonarismo e o caçabismo...

Vamos lembrar que o homem forte do governo de São Paulo é o caçabe, ex-prefeito, dono do PSD,

e eminência parda do governo paulista.

Ele ficou com o caçabismo, fechou um acordo com o governo federal para apoiar a reforma,

e se voltou contra os bolsonaristas.

Qual o impacto que isso vai ter ao longo do tempo, é difícil saber.

Essa foi uma reação imediata, porque ele foi de encontro à orientação do Bolsonaro,

que foi para a rede pessoalmente advogar contra a reforma tributária.

O apoio dele causou o maior confronto entre os dois,

desde que ele virou ministro do Bolsonaro, e depois candidato do Bolsonaro em São Paulo,

e opção ao bolsonarismo para 2026.

Então, o resumo da ópera para mim é, o Tarcísio é de longe o governador mais bem colocado para 2026,

porém tem um cisma dentro do bolsonarismo provocado pela reforma tributária,

que claramente é um problema que vai se repetir ao longo do tempo, daqui até a eleição,

mas ele pode ser a única opção que os bolsonaristas têm para votar.

Você não vota no candidato ideal, você vota no candidato que está na urna,

e pode ser que não tenha nenhum candidato melhor aos olhos dos bolsonaristas em 2026, além do Tarcísio.

Bom, o Bolsonaro dizia na campanha Tarcísio é 10, agora ele é Tarcísio é 9,5.

No mínimo, ou no máximo.

Tá isso.