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Foro de Teresina - Podcast (*Generated Transcript*), #253: Ladrão de manchetes - Part 1

#253: Ladrão de manchetes - Part 1

Rádio Piauí.

Olá, sejam muito bem-vindos ao Foro de Terezina,

o podcast de política da revista Piauí.

O cartão corporativo do presidente da República

jamais foi utilizado para pagamento de qualquer custo.

Resposta da dona Michele pra mim há meia hora atrás.

O meu marido sempre foi muito pão duro.

Eu, Fernando de Barros e Silva, na minha casa em São Paulo,

tenho o prazer de conversar com o meu amigo José Roberto de Toledo,

aqui pertinho.

Opa, Toledo!

Opa, Fernando! Opa, Thaís!

Desculpem a minha voz, continua a mesma,

mas os meus cabelos...

José Roberto de Toledo está mal, mas passa bem.

É isso.

Está se curando.

Morreu, mas passa bem.

Está vivo.

O poder que os tribunais têm de me derrubar

é o mesmo poder que tinha o rei da Babilônia

quando colocou Daniel na cova dos leões.

É o mesmo poder que Pilatos tinha ao mandar Jesus pra morte.

Thaís Bilencki também em São Paulo.

Salve, salve, Thaís!

Salve, salve, Fernando Toledo.

Eu, de minha parte, não morri, mas não passo bem.

Ah, queria essa pra mim, queria ter falado essa.

Não vou falar nada mais inteligente do que isso hoje.

O ministro Haddad sabe, por parte da bancada do PT,

é uma sintonia fina com o governo.

Ela vai dar 100% dos votos ao arcabouço fiscal.

Muito bem, nesta semana,

o Foro de Terezinha completa cinco anos de vida.

A gente fez, nesse período, 253 episódios,

contando com este, que começa agora,

algumas ou várias edições ao vivo

e tivemos quase 23 milhões de downloads nesse período.

Começamos em maio de 2018,

quando Michel Temer ainda presidia o país.

E eu vou brincar aqui, eu perguntar-vos,

quem imaginaria que teríamos, pela frente,

quatro anos de Bolsonaro e uma pandemia desse tamanho?

A gente está aqui, graças a vocês,

tentando jogar alguma luz sobre a política brasileira.

Falo por mim, mas acredito que fale também

em nome dos meus parceiros, da equipe toda.

Muito obrigado a cada um pela audiência,

pela presença e pelo carinho.

Eu não sabia que ia gostar tanto desse negócio de podcast, Zé.

O Zé era o único que sabia, desde o começo,

que a gente ia ser feliz nessa coisa aqui.

Eu não tinha a mínima ideia.

Continuo sem ter nenhuma ideia, mas, enfim.

Foi uma surpresa grata, a maior surpresa da minha carreira.

Eu fiz uma conta rápida aqui, Fernando,

e fiz uma enquete no Twitter, por conta do nosso aniversário,

e perguntei para as pessoas, falei,

olha, se você é um ouvinte típico,

você passa 50 horas por ano, em média, ouvindo a gente.

Isso é mais ou menos do que você passa com seu cônjuge,

com sua mãe, com sua avó ou com seu analista.

E o mais votado foi o analista.

Eu chego à conclusão de que a gente tem um potencial

de fazer as pessoas economizarem dinheiro,

porque passam mais tempo conosco do que com o analista, né?

Então, talvez...

Mas a terapia é nossa, na verdade.

O que os ouvintes não sabem é que a terapia é a gente que faz.

Eles são os analistas, né, Thaís?

Exatamente.

Muito bem.

Bom, eu queria dizer o seguinte,

eu recebi algumas mensagens bem legais

por ocasião do aniversário do foro.

Por exemplo, que a gente é a melhor banda indie do país,

ou que a gente forma uma linda família

pro Porta Retratos da sala de estar da Mari Faria.

Pediram um salve pra Ceilândia, no Distrito Federal.

E também que a gente é mais gostoso que paçoca.

Então, dito isso, eu queria mandar um salve pra Ceilândia.

Esse é o maior elogio que eu já ganhei na minha vida.

Pois é, eu achei isso bem legal, eu concordo.

Mas eu digo que eu só como paçoca diet.

E...

Então, é um lixo, né?

Tem nada mais sem graça do que paçoca diet.

Eu acho um desperdício comer paçoca sem ser diet.

E o meu salve, um salve lá pra Ceilândia, no Distrito Federal.

Bom, feito esse agradecimento, na verdade, a vocês,

a gente vai, então, pros assuntos da semana.

A rachadinha na família Bolsonaro é como o bigode na família Sarney.

Todo mundo usa.

É o que se deprende da revelação

de que as contas de Michele e Bolsonaro foram pagas

pelo ex-ajudante de ordens Jair Bolsonaro, Mauro Cid.

Conversas entre Cid e assessores de Michele,

captadas pela Polícia Federal,

indicam o uso de dinheiro em espécie

para o pagamento de despesas da ex-primeira-dama.

A investigação da PF também encontrou imagens de WhatsApp

de comprovantes de depósitos feitos por Cid

e encaminhados à assessoria de Michele.

Os depósitos são fracionados em pequenos valores,

conforme os ensinamentos do pai espiritual

do tenente-coronel Cid, Fabrício Queiroz.

Além disso, a PF também identificou mensagens

no celular do ex-major do Exército, Ailton Gonçalves Barros,

aquele que morreu, mas continua vivo,

garantindo a pensão da família.

Mensagens com o coronel Élcio Franco,

para quem não lembra o número 2 do Ministério da Saúde

do general Pazuello.

Mensagens que incluem instruções

para ensuflar grupos bolsonaristas

pelo impeachment de Alexandre de Moraes, do STF,

e fazer campanha para desacreditar as urnas eletrônicas.

Mensagens que mencionam também, em dezembro de 22,

que o prazo para dar um golpe

estava se esvaindo com a proximidade da data da posse de Lula.

Esses documentos reforçam mais do que a intenção,

um roteiro golpista no coração do governo Bolsonaro.

No segundo bloco, a gente vai tratar

da cassação do mandato parlamentar de Deltan Dallagnol,

o procurador-chefe da Lava Jato.

Na terça-feira, o Tribunal Superior Eleitoral

cassou, por unanimidade, o registro da candidatura de Dallagnol,

alegando que ele pediu exoneração do Ministério Público,

enquanto enfrentava vários processos internos

que poderiam levá-lo à inelegibilidade.

O ministro Benedito Gonçalves, relator do caso,

afirmou que houve fraude e tentativa de burlar a lei da ficha limpa

com o pedido de exoneração feito meses antes das eleições.

O caso Dallagnol ainda vai para o STF

e tem implicações políticas além das legais.

Ele foi eleito com mais de 340 mil votos no Paraná

e alega estar sendo punido por ter combatido

a corrupção. A gente vai discutir tudo isso daí.

Por fim, no terceiro bloco, a gente vai falar

sobre o novo marco fiscal no Congresso.

A Câmara dos Deputados aprovou nessa semana

o requerimento de urgência do projeto,

que será colocado em votação diretamente no plenário

na próxima semana.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,

acredita que ele será aprovado com folga,

mas o relator do projeto, Cláudio Cajado,

do PP Pato Pato da Bahia,

não aceitou excluir o Bolsa Família

das travas que impedirão os novos gastos

em caso de descumprimento das metas fiscais.

Vamos discutir isso daí também.

É isso? Vem com a gente.

Muito bem, José Roberto de Toledo.

Essa semana foi a semana de Michele Bolsonaro

no capítulo das investigações da Polícia Federal

sobre as estripulias da família.

Vamos começar pela Michele,

depois a gente fala do golpe?

Sim. Esse governo Bolsonaro que não termina mais

é uma coisa incrível, né, Fernando?

A gente não consegue falar de governo Lula.

A gente continua cobrindo o Bolsonaro

e não é porque a gente queira,

é porque eles não deixam que seja diferente.

A pergunta é se isso é ruim ou bom para o Lula, né?

Não, é ótimo para o Lula,

porque o noticiário sobre o Bolsonaro

é uma desgraça atrás da outra.

Está salvando o Lula, na verdade.

Agora, essa série de reportagens mostrou um esquema

que a Polícia Federal vem investigando já há bastante tempo

para pagar as contas de Michele Bolsonaro

e que nem a Polícia Federal conseguiu entender por inteiro ainda

como funciona tão complexo é o sistema.

Porque tem de tudo.

Ela usa o cartão de crédito de uma amiga,

tem depósito de empresa fornecedora do governo,

tem saque em dinheiro vivo,

tem pagamento de boleto do irmão.

Se qualquer um de nós, seres humanos normais,

tivesse um esquema financeiro assim,

a gente precisaria ter uns três ajudantes de ordem

para pagar as nossas contas.

É tão complexo e tão suspeito

que o próprio Tenente Coronel Cid,

aquele, o Cidinho,

fala para a assessora da Michele Bolsonaro,

olha, se a imprensa pegar isso daqui vai ser um escândalo.

É um caso Flávio II.

Ele mesmo reconhece que tem cheiro de rachadinha,

gosto de rachadinha, cara de rachadinha,

só falta provar a rachadinha

porque tem pagamentos periódicos com dinheiro vivo.

Enfim, todo mundo paga as contas de Michele.

É um escândalo que tira a Michele do noticiário

como opção de poder,

essa coisa ridícula que a imprensa ventilou

alguns tempos atrás por obra e graça de Valdemar da Costa Neto,

que tentou alçá-la a uma condição que ela não tem

e voltou para a posição de alvo,

alvo merecido, porque tem um esquema aí por trás.

Qual a consequência disso?

A Michele, segundo o levantamento da Arquimedes,

nunca foi tão citada e mal citada.

Só foi tão citada quanto quando houve o escândalo das joias,

lá no começo do governo, o governo Lula.

E agora está sendo proporcionalmente mais citada ainda.

Então, como opção política,

eu acho que o futuro da Michele está bastante comprometido.

Como opção de investigação,

eu acho que vai progredir ainda mais,

porque se você vai nas buscas do Google Trends,

que o pessoal do Google levantou para mim,

quais são as buscas que mais cresceram

sobre Michele Bolsonaro no Brasil?

Michele Bolsonaro joias, Michele Bolsonaro carpas,

visitas Michele Bolsonaro,

enfim, não é exatamente assim,

mas tem buscas que vão ajudá-la em uma eventual campanha eleitoral.

E eu acho que pode ter consequências muito mais sérias.

Isso daí fica parecendo que é coisa pouca,

que não é muito dinheiro,

mas na verdade revela um jeito de tratar o dinheiro público,

porque é uma suspeita por trás de tudo isso

que você está tirando o dinheiro da presidência

para pagar o plano de saúde do irmão da Michele.

É isso que está sendo investigado.

É grave, tem prevaricação, tem crime potencial aí no meio.

E revela um jeito de operar da família Bolsonaro, desde sempre.

Desde que os caras chegaram na vida pública,

ocuparam algum cargo público

e começaram a receber o seu, o meu e o nosso

todo mês no bolso deles.

Enfim, essa história não termina aqui.

Acho que a Thaís vai se aprofundar na parte mais grave,

que é a parte do golpe que esses caras estavam tramando.

Mas tudo isso vem do Cidinho.

O Cidinho depõe hoje nessa quinta-feira,

enquanto nós estamos gravando ele ainda não depois,

mas vai depor.

O primeiro sinal que ele deu de que poderia fazer a delação

é a troca do advogado, mas como a gente já disse aqui,

isso é uma dança, ele não vai sair e vou delatar.

Não, ele deu um sinal, falou, ó, fica esperto.

Talvez ele se entregue na parte das vacinas,

que ali não tem salvação.

Mas essa parte dos pagamentos envolvendo a família Bolsonaro,

que podem complicar ainda mais quem já está muito complicado,

isso ninguém sabe o que ele vai fazer por enquanto.

Eu não acho que ele vá nesse depoimento entregar ninguém.

Mas ele é o cara que sabe onde os corpos estão enterrados.

Já disse isso e vou repetir.

Vai ser um pesadelo pra família Bolsonaro durante muito tempo,

enquanto ele estiver preso.

Perfeito.

Eu, de tudo isso que você falou,

talvez pondere que a Michelle como opção de poder não está descartada.

Eu acho que ela tem características que capturam o zeitgeist,

pra falar, o espírito do tempo, o espírito da época.

Se ela não estiver presa, tudo bem.

Sim, tem isso, mas...

Eu já achei mais.

É, talvez.

Thais Bilencki, vamos da Michelle para o resto,

ou a parte do conteúdo dessas mensagens que exprime o roteiro

que os bolsonaristas, os cálculos que eles estavam fazendo

pra golpear a democracia.

Se essa investigação fosse um ligue pontos,

essas mensagens que estão vindo a público

nas últimas duas semanas,

elas ligaram vários pontos pra dar uma forma pra esse desenho.

Tudo que a gente sabia e passou o ano passado inteiro falando,

agora tem materialidade.

As mensagens que esse major, ex-major,

que morto perante o exército, embora muito vivo,

Ailton Gonçalves Barros,

ele trocou mensagens explicitamente golpistas

com o tenente coronel Cid, com o Élcio Franco, como você mencionou,

e do que a polícia já conseguiu apreender,

ele mandou mensagens pro Bolsonaro,

o Bolsonaro não respondeu,

depois ele apagou a mensagem e disse que o Cid já estava dando encaminhamento.

Nas orientações que ele pedia,

no caso, ele pedia orientação sobre a intenção

de um grupo, os mesmos que tinham feito os atos

lá do 7 de setembro de 2021,

esse mesmo grupo queria ir pra Brasília

fazer uma manifestação antidemocrática no 31 de março,

que é a data do golpe de 64,

que deu origem à ditadura militar.

E o objetivo dele, que ele dizia explicitamente nas mensagens,

era intimidar os ministros do Supremo

pra eles saírem, abrirem mão da cadeira que ocupavam.

A polícia federal ouviu o Bolsonaro nessa semana

no inquérito que investiga a fraude no cartão de vacina,

mas perguntou sobre isso e perguntou sobre outras linhas de investigação,

e o Bolsonaro disse que qualquer coisa,

mas reconheceu que sim falava com o Ailton.

Pode dizer que não viu essa mensagem,

que não deu nenhuma orientação,

mas reconheceu que tinha contato com ele.

Ele teria dificuldade de dizer que não tinha contato, né?

O sujeito foi votar com ele, inclusive, no dia da eleição, né?

Exato.

Tava ao lado dele no dia da eleição.

Tem uma mensagem de apoio do Bolsonaro.

Hã?

Tem uma mensagem de apoio do Bolsonaro para o Ailton durante a campanha.

Que foi candidato a deputado estadual e não foi eleito, é isso?

Exato.

E agora a polícia federal tem a confirmação do Bolsonaro

oficialmente em depoimento na polícia federal,

dizendo sim, tem contato, conheço, sei quem é.

Depois da derrota, eles fizeram essas tentativas antes da eleição,

depois que o Bolsonaro perde a eleição,

eles mantiveram os planos de manter o Bolsonaro no poder

às custas de um golpe de Estado.

Em 15 de dezembro, um militar aciona o Ailton,

esse militar não foi identificado ainda,

pelo menos a polícia federal não revelou a identidade dele,

e diz que o prazo tá acabando, tinha que ser agora ou nunca,

e diz até o Braga Neto veio aqui conversar com eles,

que nem eu falei, tirei o foto.

O Braga Neto, que foi candidato a vice do Bolsonaro,

tinha sido ministro da defesa dele,

tinha sido ministro da Casa Civil também.

Em novembro, o próprio Braga Neto foi conversar com o Bolsonaro,

depois da derrota, só pra lembrar esse episódio que foi enigmático na época,

foi conversar com o Bolsonaro na época que o Bolsonaro

tava enclausurado no Palácio da Alvorada,

saiu de lá e foi até o cercadinho e disse pros manifestantes,

golpistas, vocês não percam a fé, é só o que eu posso dizer a vocês.

E deixou no ar o que ele tava querendo dizer.

Esse mesmo Braga Neto é citado nessas mensagens agora

que estão vindo a público com teor golpista.

A PF concluiu com essas mensagens,

que são as primeiras que eles estão investigando,

que foi uma tentativa de golpe para as Forças Armadas

tomarem o poder lideradas por Bolsonaro.

E o Ailton, nessas mensagens, também deixa claro

que esse grupo queria convencer o chefe da Brigada de Operações Especiais de Goiânia

a prender o Alexandre de Moraes e praticar a abolição violenta

do Estado Democrático de Direito.

Prender um ministro que tá impondo algum limite

a essas intenções golpistas e dar um golpe de Estado do século passado.

Era isso que eles tentaram fazer.

Essa brigada é uma brigada de forças especiais,

é uma brigada de elite do exército que fica perto de Brasília

e que são os 1.500 homens que o Ailton queria treinar e armar pra prender.

É o mesmo destacamento que o Tenente Coronel Cidinho

viria a comandar se ele não tivesse preso.

Agora, pra quem não tinha entendido, ficou claro

por que que o Bolsonaro e os bolsonaristas queriam tanto

que o Cid ocupasse esse cargo, né?

E o Élcio Franco, que é o número 2 do Pazuello no Ministério da Saúde,

como você disse, e depois foi trabalhar na Copa do Palácio do Planalto

como assessor da Casa Civil de um outro general, o General Ramos,

aparece com mensagens que foram encaminhadas por um outro militar,

falando da necessidade de convencer o então comandante da Brigada de Goiânia

a fazer esse recrutamento de 1.500 homens.

E o Élcio Franco, a menção a ele, esse áudio que ele mandou,

é importante porque é mais uma associação nesse ligue pontos

da trama do golpe ao Palácio do Planalto, aos generais que eram ministros do Bolsonaro.

Então aproxima ainda mais da cúpula do poder durante o governo Bolsonaro.

Então essas investigações colocam o Bolsonaro no centro de um inquérito,

quer dizer, ele é investigado por incitação aos atos antidemocráticos,

que é um inquérito que já está aberto e instalado no Supremo Tribunal Federal.

E o Alexandre de Moraes, que é o relator, tornou réus alguns dos chamados

autores intelectuais dentro desse inquérito, não estou falando do Bolsonaro,

estou falando das pessoas que praticaram ou, como ele diz, planejaram os atos.

Porque ele considerou inconstitucionais, abro aspas, as condutas e manifestações

que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico

e aquelas condutas que pretendam destruí-lo, o Estado democrático e o pensamento crítico.

Pregando, diz respeito, a separação de poderes.

Tolendo esse voto dele para tornar réus alguns dos envolvidos, alguns dos investigados,

porque a investigação está chegando no Palácio do Planalto do governo Bolsonaro.

Então, se para desconhecidos o Alexandre de Moraes já deu esse voto,

podemos ter uma pista do que vem pela frente.

Eu queria acrescentar uma coisa, repetindo uma coisa que eu falei semana passada,

que acho que a gente está num momento importante de cisão das Forças Armadas

para se livrar desse resquício golpista, bolsonarista.

Porque a Taís já deu a pista agora, tem generais envolvidos nessa tentativa de golpe,

generais que ocuparam posições muito importantes na cúpula militar durante o governo Bolsonaro.

E não me surpreenderia se um ou dois deles acabassem chamados a depô pela Polícia Federal,

porque o envolvimento deles está cada vez mais comprovado pela essa troca de mensagens.

E você fazendo o cruzamento dos dados telemáticos que foram quebrados,

você pode até saber quem estava com quem, quando.

E discutindo o que, você vai intuir pelas mensagens.

Então, isso vai complicar.

Me parece que a cúpula do Exército se deu conta de que essa posição ambivalente

que eles assumiram durante todo o final do ano, entre a eleição e a posse,

se viam para um lado ou iam para o outro, acabaram indo para o lado da legalidade,

custou muito caro para a imagem do Exército.

E isso está custando um preço maior agora ainda.

Então, acho que já estão dando sinais disso, mas vão ter que romper eventualmente com esses golpistas.

E um segundo aspecto que eu acho que é relevante, ainda não é definitivo,

mas a gente começa a ver sinais, a gente está vendo acontecer com frequência

derrotas dos bolsonaristas na Batalha Digital.

Perderam a Batalha da Michelle, perderam a Batalha das Joias, perderam a Batalha da Vacinação,

que é uma coisa que não acontecia.

Pode ou ter relação ou não com a prisão da Turma do Fundão, como a Thaís chama,

que é essa caquerada de militares que mandavam lá no Palácio do Planalto.

Pode ser que seja isso ou não, mas eu acho que está faltando duas coisas, dinheiro e articulação.

E isso é um enfraquecimento que pode ser fatal para o bolsonarismo.

Perfeito esse comentário. E esse episódio, cada vez mais é ficando clara a fusão entre a milícia, na verdade,

porque esse povo que está em volta do Bolsonaro, esse ex-major Ailton, é um militar,

mas é uma espécie de quase um miliciano, um bolsonarista raiz, ele quase se confunde com os bolsonaristas.

A fusão desses caras com oficiais de alta patente, como esse Elcio Franco,

que era o número dois do Ministério da Saúde, não é pouca coisa.

Foi envolvido lá em confusão da Covaxin e era, pelo jeito, um sujeito atuante nessas operações golpistas.

Então a fusão desse baixo clero militar que se confunde com milícia, com pessoal de alta patente, é bem grave.

É um rebaixamento de tudo, uma bolsonarização das forças armadas.

A gente vem falando isso, mas não é trivial, não é trivial mesmo.

Bom, a gente encerra o primeiro bloco do programa por aqui.

Temos um rápido intervalo e no segundo bloco vamos falar da cassação de Deltan Dallagnol.

A gente já volta.

A CASSAÇÃO DE DELTAN DALLAGNOL

Na revista Piauí de Maio, você vai saber quem é Altino Masson,

um catarinense de 76 anos que está à procura de um sócio para explorar uma fazenda do tamanho da cidade de São Paulo.

Mas o terreno de mais de 180 mil hectares não fica no sul do Brasil onde ele mora.

Fica no estado do Amazonas, o lugar que ele batizou de fazenda portal da Amazônia

e de onde quer retirar mogno, cedro e andiroba, tem mata nativa intacta, uma fauna variada,

fica entre duas áreas de preservação ambiental e não pertence a ele.

É uma terra grilada, mais uma da carteira de Altino Masson, o homem considerado o maior grileiro da Amazônia.

Na reportagem de Alain de Abril, no papel, no computador, no celular, você lê essa e outras reportagens exclusivas.

Saiba mais em revistapiaui.com.br

Muito bem, Thais Bilencki, vamos começar com você.

Talvez a gente deva começar pelas tecnicalidades do caso, porque o Deltan Dallagnol sustenta que não tinha,

quando pediu a exoneração do Ministério Público, nenhum PAD, que é o processo administrativo disciplinar em curso.

Ele tinha investigações que poderiam resultar nesses processos e que, portanto, haveria um abuso,

uma inadequação nessa decisão do Tribunal Superior Eleitoral.

Esse vai ser o argumento, um dos argumentos que ele vai levar ao Supremo, certo?

Possivelmente. A decisão gerou reações apaixonadas, digamos assim, de todos os lados,

com gente muito respeitada dizendo que tinha sido uma arbitrariedade, de Miguel Reale Jr. a Rafael Maféi,

que eu li falando que o entendimento do TSE era contestável, e gente do outro lado dizendo que era perfeitamente técnico,

justamente porque o que a lei da ficha limpa diz é que se você é um membro do judiciário ou um membro do Ministério Público,

tem processos administrativos em curso, pede demissão antes deles serem concluídos,

pra se candidatar depois, justamente pra evitar a condenação, o que te enquadraria como ficha suja,

você pode ser enquadrado ainda assim da mesma forma.

E que o TSE já deu esse entendimento diversas vezes, eu vou citar um daqui a pouco.

Agora, eu conversei com o advogado eleitoral Ricardo Penteado, que defendeu a campanha do Tarcisio na última eleição,

mas tem décadas de atuação no TSE, então eu gosto de conversar com ele porque ele tem memória de diversos julgamentos no tribunal.

Ele é um crítico convicto da lei da ficha limpa, que ele considera monstruosa por N motivos,

mas apesar da avaliação que ele faz do mérito da lei, ele considera que o julgamento do TSE foi bem fundamentado,

conforme o que prevê a lei da ficha limpa, e inclusive tem precedentes,

e ele citou o caso do senador Jader Barbalho, do MDB do Pará, que teve o registro de candidatura rejeitado,

assim como o Deltan, com base na lei da ficha limpa em 2010,

porque o Jader Barbalho tinha renunciado ao mandato de senador em 2001,

antes que o conselho de ética do senado iniciasse um processo disciplinar por quebra de decoro.

Isso poderia levar à cassação do mandato dele e ele ficaria inelegível,

então ele renunciou antes de acabar o processo para não ser ficha suja.

O TSE falou, não, veja bem, você é ficha suja sim.

Ele é um político, então é outra linha, não é a Q, é a K, mas é o mesmo procedimento,

é a mesma tentativa, no entendimento do TSE, de burlar a lei, driblar a lei da ficha limpa.

Nessa ocasião do Jader Barbalho, o TSE votou 5 a 2 contra o Jader,

ele recorreu ao Supremo e o Supremo devolveu o mandato dele,

porque entendeu que a lei, que tinha sido aprovada no mesmo ano de 2010,

só poderia valer a partir de 2012, foi só por essa brecha que ele conseguiu.

E o Jader foi à luta, as matérias da época contam que ele mandava carta na casa dos ministros do Supremo

para advogar pela causa dele, junto com o Jornal do Dia,

na época a gente ainda recebia jornal na porta de casa,

não uma, nem duas, nem três vezes ele mandava cartas, até chegou a incomodar os ministros,

é bem polêmica essa técnica dele, mas ele acabou conseguindo.

No caso do Deltan, é mais difícil ele convencer qualquer ministro.

Como que acontece? Se ele recorre ao Supremo, primeiro ele precisa de um relator que vote a favor

da manutenção do mandato dele e depois vai ser submetido ao plenário.

O que ele teve até agora é uma indicação de que isso é uma tarefa quase impossível,

porque os 7 ministros do TSE votaram pela perda do mandato.

Daí você tem o Alexandre de Moraes, a Carmen Lúcia, o Benedito Gonçalves e o Sérgio Banhos

que não surpreenderam nessa posição, mas o Cássio Nunes Marques, o Raul Araújo e o Carlos Horbach

surpreenderam porque foram indicados pelo Bolsonaro, tem interlocução com Bolsonaro,

já deram vários votos favoráveis ao Bolsonaro ou a bolsonaristas.

Isso mostra, primeiro, que o Bolsonaro possivelmente não mexeu em nenhuma palha em favor do Dallagnol

e o Deltan teria dificuldade também, porque o Gilmar Mendes, que sempre liderou no Supremo

a ala anti-lavajatista do Supremo, é o maior articulador entre os ministros

e ele e Deltan Dallagnol já trocaram inúmeras ofensas.

Na semana passada tivemos somente a última troca, somente o último capítulo dessas trocas.

E o Deltan teria a única chance, digamos, de ter qualquer simpatia no Supremo

e ainda assim de um ministro só, que é o único que sobra, porque ele se tornou, para além de um lavajatista,

um bolsonarista, declarou voto no Bolsonaro no segundo turno de 2022, relativizou, ele, ex-procurador da República,

relativizou a gravidade do escândalo das joias nas Arábias e na Câmara virou um soldadinho do bolsonarismo,

fez campanha com fake news contra o PL da fake news, votou contra a equiparação salarial de homem e mulher.

Então o Eduardo pousar na foto junto com o Deltan depois da cassação é só um prêmio de consolação,

porque ele prestou bastante serviços ao bolsonarismo nesses últimos tempos.

E quando o Moro diz que tem certeza que vai ser o próximo, ele diz isso porque o Moro tem um processo no TRE,

no Tribunal Regional do Paraná, movido por um adversário dele chamado Paulo Martins,

que era deputado federal, se filiou ao PL e foi candidato ao Senado pelo Paraná,

a pedido do Bolsonaro com apoio público do Bolsonaro e depois o PL do Paraná entra com pedido de cassação do Moro.

Então é mais um jeito do lavajatismo e do bolsonarismo não estarem na mesma página definitivamente.

Então se o Moro cair vai ter sido indiretamente pelas mãos do Bolsonaro e a queda do Dallagnol

deu vaga para um deputado do PL e não do partido do Dallagnol.

Onde eu vou chegar? Eu vou chegar que o lavajatismo, que foi uma força dominante nas eleições de 2018,

foi devorada pelo bolsonarismo e acabou se perdendo dentro do bolsonarismo.

Então essa perda de mandato do Dallagnol é mais uma manifestação de como o lavajatismo perdeu o lugar e foi devorado pelo bolsonarismo.

Perfeito. Não obstante isso, eles continuam lambendo a sola do sapato do Bolsonaro,

como você disse, nas votações, nas orientações, no apoio político no segundo turno da eleição.

O pessoal que é pela moralidade da política, da coisa pública contra a corrupção, está lambendo o sapato de Jair Bolsonaro.

O moralista de Araque, né? Porque o cara comete uma fraude para evitar ser enquadrado numa lei que ele apoiou.

É uma lei ruim, a lei da ficha limpa, porque ela acaba com a presunção de inocência em alguns itens dela.

O Deltan Dallagnol foi um dos caras que mais defendeu a aprovação dessa lei, fez depois uma campanha contra a reforma dessa lei

e ia ser enquadrado pela lei. Para não ser enquadrado, ele fez uma manobra, uma chicana jurídica, tão óbvia que 7x0 no TSE.

É unânime. Ah, mas tem a rebimbocada para a fuzeta. Sempre tem a rebimbocada para a fuzeta, porque a lei depende de interpretação.

E sempre vai se levar em conta o aspecto político. É óbvio, eu não preciso ficar repetindo o que é óbvio aqui.

Então, todo julgamento é técnico e político, você só precisa achar desculpa para chegar no meio que você quer.

Mas enfim, para mim essa cassação é ao mesmo tempo uma vingança, óbvia, porque quem propõe a ação é o PT, é justa,

porque o Dallagnol está sendo pego numa fraude que ele cometeu contra a própria lei que ele fez campanha a favor,

acaba com esse moralismo de araque que ele e seus amigos tentaram fazer valer crer que existe,

e mostra para mim o mais importante de tudo, que esses serviçais da extrema direita, que ajudaram a levar a extrema direita ao poder,

não passam de serviçais. Assim que eles acabam de prestar o seu serviço, eles são dispensados.

Ele, o Moro e vários outros. São os garçons do poder. Estão na festa para trabalhar, não para se divertir.

E ficaram com a bandeja na mão. Justiça poética.

Eu não quero deixar passar que achei lamentável a atitude do governo Lula de fazer o powerpoint lá, tirando sarro do negócio.

Eu acho que isso não é função do governo, né? Escolhamba também a institucionalidade, tudo, não é?

O governo não tem que fazer powerpoint fazendo menção à grande obra do Deltan Dallagnol,

o que resume as intenções dele, o método de proceder dele, é aquele powerpoint absurdo, né?

Colocando o Lula no centro de tudo. Por que o governo vai fazer um negócio...

Governo, não é? Se o filho do Lula pusesse na internet o negócio powerpoint tirando sarro, tudo bem.

É um detalhe simbólico que me incomoda porque joga a disputa política, a energia política,

para um lugar que é o lugar do bolsonarismo, né? Um lugar onde o bolsonarismo gosta de brigar, na sarjeta.

Eu entendo o seu ponto, acho que você tem até razão, mas...

Mas você deu umas risadas com o powerpoint.

Não é o Lid, né? Eu dei a Lid.

Não é o Lid.

Não tenho como negar que eu não tenho a rir, entendeu?

Sim, todos rimos e tal.

Eu acho que é por essas e outras que o governo continua sendo o terceiro bloco do programa e não o primeiro.

Realmente tem uma dificuldade de identidade, assim, de pautar, de avançar.

Na verdade ele tá sempre salvo pelo Dallagnol, salvo pelo Bolsonaro, né?

Porque eles conseguem produzir o noticiário mais atraente do que o governo consegue fazer de boa notícia, né?

É, o governo tá perdendo muita oportunidade de mudar um pouco o ambiente político do país.

O governo não tá fazendo nada disso e é bastante impressionante,

porque são pessoas que já estiveram lá no Palácio do Tanalto antes, então é um pouco impressionante.

Agora, tem um aspecto político aí, o anti-lavajatismo, ou, dizendo de outra forma,

esse sujeito Dallagnol, sobre quem a gente tem, né?

Acho que a gente pensa mais ou menos parecido o que ele representa, o que ele é.

Ele teve quase 350 mil votos no Paraná, foi o deputado mais votado.

Ou seja, ele representa um segmento social numeroso na sociedade brasileira, né?

E esse negócio vai ter desdobramentos ainda.

Nem sei onde eu vou terminar com esse comentário aqui, mas vamos.

Não, ele teve votos que ele não poderia ter tido porque não poderia ter sido candidato.

Tá certo, tá certo.

E não poderia ter sido por uma campanha que ele mesmo fez pra aprovação de uma lei,

que foi aprovada, enfim, por um entendimento que veio da popularidade da Lava Jato na meada da década passada.

Não, porque o que me incomoda nesse caso são esses caras que usam o poder público,

um cargo público, pra fazer uma campanha de lançamento político eleitoral.

É a vida do Bolsonaro, é a vida do Sérgio Moro, é a vida do Deltan Dallagnol.

E essas leis foram criadas justamente pra coibir o uso da máquina pública

em função do interesse privado de se lançar política eleitoralmente.

E óbvio que ele burlou essa lei, esse espírito da lei.

O autor, o dono, o pai da lei, o Marlon, que é um ex-juiz que também se lançou na política,

ironia das ironias, falou não, tá, exatamente, a decisão do TSE é incontestável, é perfeita.

Esse é o espírito da lei.

É o espírito ruim.

É isso, eles pagaram, estão sendo comidos pelo próprio prato que fizeram, entendeu?

Eles armaram a situação pra si mesmos.

Realmente, ele foi o deputado federal mais votado e tem uma soberania que em geral...

No Paraná, né?

No Paraná, desculpa.

Tem uma soberania que em geral...


#253: Ladrão de manchetes - Part 1 #Nr. 253: Schlagzeilen-Dieb - Teil 1 #253: Headline Thief - Part 1 #253: Titulares - Parte 1 #253 : Attraction des titres - Partie 1 #253: Ruba-titoli - Parte 1 #253号:ヘッドライン・グラバー その1

Rádio Piauí.

Olá, sejam muito bem-vindos ao Foro de Terezina,

o podcast de política da revista Piauí.

O cartão corporativo do presidente da República

jamais foi utilizado para pagamento de qualquer custo.

Resposta da dona Michele pra mim há meia hora atrás.

O meu marido sempre foi muito pão duro.

Eu, Fernando de Barros e Silva, na minha casa em São Paulo,

tenho o prazer de conversar com o meu amigo José Roberto de Toledo,

aqui pertinho.

Opa, Toledo!

Opa, Fernando! Opa, Thaís!

Desculpem a minha voz, continua a mesma,

mas os meus cabelos...

José Roberto de Toledo está mal, mas passa bem.

É isso.

Está se curando.

Morreu, mas passa bem.

Está vivo.

O poder que os tribunais têm de me derrubar

é o mesmo poder que tinha o rei da Babilônia

quando colocou Daniel na cova dos leões.

É o mesmo poder que Pilatos tinha ao mandar Jesus pra morte.

Thaís Bilencki também em São Paulo.

Salve, salve, Thaís!

Salve, salve, Fernando Toledo.

Eu, de minha parte, não morri, mas não passo bem.

Ah, queria essa pra mim, queria ter falado essa.

Não vou falar nada mais inteligente do que isso hoje.

O ministro Haddad sabe, por parte da bancada do PT,

é uma sintonia fina com o governo.

Ela vai dar 100% dos votos ao arcabouço fiscal.

Muito bem, nesta semana,

o Foro de Terezinha completa cinco anos de vida.

A gente fez, nesse período, 253 episódios,

contando com este, que começa agora,

algumas ou várias edições ao vivo

e tivemos quase 23 milhões de downloads nesse período.

Começamos em maio de 2018,

quando Michel Temer ainda presidia o país.

E eu vou brincar aqui, eu perguntar-vos,

quem imaginaria que teríamos, pela frente,

quatro anos de Bolsonaro e uma pandemia desse tamanho?

A gente está aqui, graças a vocês,

tentando jogar alguma luz sobre a política brasileira.

Falo por mim, mas acredito que fale também

em nome dos meus parceiros, da equipe toda.

Muito obrigado a cada um pela audiência,

pela presença e pelo carinho.

Eu não sabia que ia gostar tanto desse negócio de podcast, Zé.

O Zé era o único que sabia, desde o começo,

que a gente ia ser feliz nessa coisa aqui.

Eu não tinha a mínima ideia.

Continuo sem ter nenhuma ideia, mas, enfim.

Foi uma surpresa grata, a maior surpresa da minha carreira.

Eu fiz uma conta rápida aqui, Fernando,

e fiz uma enquete no Twitter, por conta do nosso aniversário,

e perguntei para as pessoas, falei,

olha, se você é um ouvinte típico,

você passa 50 horas por ano, em média, ouvindo a gente.

Isso é mais ou menos do que você passa com seu cônjuge,

com sua mãe, com sua avó ou com seu analista.

E o mais votado foi o analista.

Eu chego à conclusão de que a gente tem um potencial

de fazer as pessoas economizarem dinheiro,

porque passam mais tempo conosco do que com o analista, né?

Então, talvez...

Mas a terapia é nossa, na verdade.

O que os ouvintes não sabem é que a terapia é a gente que faz.

Eles são os analistas, né, Thaís?

Exatamente.

Muito bem.

Bom, eu queria dizer o seguinte,

eu recebi algumas mensagens bem legais

por ocasião do aniversário do foro.

Por exemplo, que a gente é a melhor banda indie do país,

ou que a gente forma uma linda família

pro Porta Retratos da sala de estar da Mari Faria.

Pediram um salve pra Ceilândia, no Distrito Federal.

E também que a gente é mais gostoso que paçoca.

Então, dito isso, eu queria mandar um salve pra Ceilândia.

Esse é o maior elogio que eu já ganhei na minha vida.

Pois é, eu achei isso bem legal, eu concordo.

Mas eu digo que eu só como paçoca diet.

E...

Então, é um lixo, né?

Tem nada mais sem graça do que paçoca diet.

Eu acho um desperdício comer paçoca sem ser diet.

E o meu salve, um salve lá pra Ceilândia, no Distrito Federal.

Bom, feito esse agradecimento, na verdade, a vocês,

a gente vai, então, pros assuntos da semana.

A rachadinha na família Bolsonaro é como o bigode na família Sarney.

Todo mundo usa.

É o que se deprende da revelação

de que as contas de Michele e Bolsonaro foram pagas

pelo ex-ajudante de ordens Jair Bolsonaro, Mauro Cid.

Conversas entre Cid e assessores de Michele,

captadas pela Polícia Federal,

indicam o uso de dinheiro em espécie

para o pagamento de despesas da ex-primeira-dama.

A investigação da PF também encontrou imagens de WhatsApp

de comprovantes de depósitos feitos por Cid

e encaminhados à assessoria de Michele.

Os depósitos são fracionados em pequenos valores,

conforme os ensinamentos do pai espiritual

do tenente-coronel Cid, Fabrício Queiroz.

Além disso, a PF também identificou mensagens

no celular do ex-major do Exército, Ailton Gonçalves Barros,

aquele que morreu, mas continua vivo,

garantindo a pensão da família.

Mensagens com o coronel Élcio Franco,

para quem não lembra o número 2 do Ministério da Saúde

do general Pazuello.

Mensagens que incluem instruções

para ensuflar grupos bolsonaristas

pelo impeachment de Alexandre de Moraes, do STF,

e fazer campanha para desacreditar as urnas eletrônicas.

Mensagens que mencionam também, em dezembro de 22,

que o prazo para dar um golpe

estava se esvaindo com a proximidade da data da posse de Lula.

Esses documentos reforçam mais do que a intenção,

um roteiro golpista no coração do governo Bolsonaro.

No segundo bloco, a gente vai tratar

da cassação do mandato parlamentar de Deltan Dallagnol,

o procurador-chefe da Lava Jato.

Na terça-feira, o Tribunal Superior Eleitoral

cassou, por unanimidade, o registro da candidatura de Dallagnol,

alegando que ele pediu exoneração do Ministério Público,

enquanto enfrentava vários processos internos

que poderiam levá-lo à inelegibilidade.

O ministro Benedito Gonçalves, relator do caso,

afirmou que houve fraude e tentativa de burlar a lei da ficha limpa

com o pedido de exoneração feito meses antes das eleições.

O caso Dallagnol ainda vai para o STF

e tem implicações políticas além das legais.

Ele foi eleito com mais de 340 mil votos no Paraná

e alega estar sendo punido por ter combatido

a corrupção. A gente vai discutir tudo isso daí.

Por fim, no terceiro bloco, a gente vai falar

sobre o novo marco fiscal no Congresso.

A Câmara dos Deputados aprovou nessa semana

o requerimento de urgência do projeto,

que será colocado em votação diretamente no plenário

na próxima semana.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,

acredita que ele será aprovado com folga,

mas o relator do projeto, Cláudio Cajado,

do PP Pato Pato da Bahia,

não aceitou excluir o Bolsa Família

das travas que impedirão os novos gastos

em caso de descumprimento das metas fiscais.

Vamos discutir isso daí também.

É isso? Vem com a gente.

Muito bem, José Roberto de Toledo.

Essa semana foi a semana de Michele Bolsonaro

no capítulo das investigações da Polícia Federal

sobre as estripulias da família.

Vamos começar pela Michele,

depois a gente fala do golpe?

Sim. Esse governo Bolsonaro que não termina mais

é uma coisa incrível, né, Fernando?

A gente não consegue falar de governo Lula.

A gente continua cobrindo o Bolsonaro

e não é porque a gente queira,

é porque eles não deixam que seja diferente.

A pergunta é se isso é ruim ou bom para o Lula, né?

Não, é ótimo para o Lula,

porque o noticiário sobre o Bolsonaro

é uma desgraça atrás da outra.

Está salvando o Lula, na verdade.

Agora, essa série de reportagens mostrou um esquema

que a Polícia Federal vem investigando já há bastante tempo

para pagar as contas de Michele Bolsonaro

e que nem a Polícia Federal conseguiu entender por inteiro ainda

como funciona tão complexo é o sistema.

Porque tem de tudo.

Ela usa o cartão de crédito de uma amiga,

tem depósito de empresa fornecedora do governo,

tem saque em dinheiro vivo,

tem pagamento de boleto do irmão.

Se qualquer um de nós, seres humanos normais,

tivesse um esquema financeiro assim,

a gente precisaria ter uns três ajudantes de ordem

para pagar as nossas contas.

É tão complexo e tão suspeito

que o próprio Tenente Coronel Cid,

aquele, o Cidinho,

fala para a assessora da Michele Bolsonaro,

olha, se a imprensa pegar isso daqui vai ser um escândalo.

É um caso Flávio II.

Ele mesmo reconhece que tem cheiro de rachadinha,

gosto de rachadinha, cara de rachadinha,

só falta provar a rachadinha

porque tem pagamentos periódicos com dinheiro vivo.

Enfim, todo mundo paga as contas de Michele.

É um escândalo que tira a Michele do noticiário

como opção de poder,

essa coisa ridícula que a imprensa ventilou

alguns tempos atrás por obra e graça de Valdemar da Costa Neto,

que tentou alçá-la a uma condição que ela não tem

e voltou para a posição de alvo,

alvo merecido, porque tem um esquema aí por trás.

Qual a consequência disso?

A Michele, segundo o levantamento da Arquimedes,

nunca foi tão citada e mal citada.

Só foi tão citada quanto quando houve o escândalo das joias,

lá no começo do governo, o governo Lula.

E agora está sendo proporcionalmente mais citada ainda.

Então, como opção política,

eu acho que o futuro da Michele está bastante comprometido.

Como opção de investigação,

eu acho que vai progredir ainda mais,

porque se você vai nas buscas do Google Trends,

que o pessoal do Google levantou para mim,

quais são as buscas que mais cresceram

sobre Michele Bolsonaro no Brasil?

Michele Bolsonaro joias, Michele Bolsonaro carpas,

visitas Michele Bolsonaro,

enfim, não é exatamente assim,

mas tem buscas que vão ajudá-la em uma eventual campanha eleitoral.

E eu acho que pode ter consequências muito mais sérias.

Isso daí fica parecendo que é coisa pouca,

que não é muito dinheiro,

mas na verdade revela um jeito de tratar o dinheiro público,

porque é uma suspeita por trás de tudo isso

que você está tirando o dinheiro da presidência

para pagar o plano de saúde do irmão da Michele.

É isso que está sendo investigado.

É grave, tem prevaricação, tem crime potencial aí no meio.

E revela um jeito de operar da família Bolsonaro, desde sempre.

Desde que os caras chegaram na vida pública,

ocuparam algum cargo público

e começaram a receber o seu, o meu e o nosso

todo mês no bolso deles.

Enfim, essa história não termina aqui.

Acho que a Thaís vai se aprofundar na parte mais grave,

que é a parte do golpe que esses caras estavam tramando.

Mas tudo isso vem do Cidinho.

O Cidinho depõe hoje nessa quinta-feira,

enquanto nós estamos gravando ele ainda não depois,

mas vai depor.

O primeiro sinal que ele deu de que poderia fazer a delação

é a troca do advogado, mas como a gente já disse aqui,

isso é uma dança, ele não vai sair e vou delatar.

Não, ele deu um sinal, falou, ó, fica esperto.

Talvez ele se entregue na parte das vacinas,

que ali não tem salvação.

Mas essa parte dos pagamentos envolvendo a família Bolsonaro,

que podem complicar ainda mais quem já está muito complicado,

isso ninguém sabe o que ele vai fazer por enquanto.

Eu não acho que ele vá nesse depoimento entregar ninguém.

Mas ele é o cara que sabe onde os corpos estão enterrados.

Já disse isso e vou repetir.

Vai ser um pesadelo pra família Bolsonaro durante muito tempo,

enquanto ele estiver preso.

Perfeito.

Eu, de tudo isso que você falou,

talvez pondere que a Michelle como opção de poder não está descartada.

Eu acho que ela tem características que capturam o zeitgeist,

pra falar, o espírito do tempo, o espírito da época.

Se ela não estiver presa, tudo bem.

Sim, tem isso, mas...

Eu já achei mais.

É, talvez.

Thais Bilencki, vamos da Michelle para o resto,

ou a parte do conteúdo dessas mensagens que exprime o roteiro

que os bolsonaristas, os cálculos que eles estavam fazendo

pra golpear a democracia.

Se essa investigação fosse um ligue pontos,

essas mensagens que estão vindo a público

nas últimas duas semanas,

elas ligaram vários pontos pra dar uma forma pra esse desenho.

Tudo que a gente sabia e passou o ano passado inteiro falando,

agora tem materialidade.

As mensagens que esse major, ex-major,

que morto perante o exército, embora muito vivo,

Ailton Gonçalves Barros,

ele trocou mensagens explicitamente golpistas

com o tenente coronel Cid, com o Élcio Franco, como você mencionou,

e do que a polícia já conseguiu apreender,

ele mandou mensagens pro Bolsonaro,

o Bolsonaro não respondeu,

depois ele apagou a mensagem e disse que o Cid já estava dando encaminhamento.

Nas orientações que ele pedia,

no caso, ele pedia orientação sobre a intenção

de um grupo, os mesmos que tinham feito os atos

lá do 7 de setembro de 2021,

esse mesmo grupo queria ir pra Brasília

fazer uma manifestação antidemocrática no 31 de março,

que é a data do golpe de 64,

que deu origem à ditadura militar.

E o objetivo dele, que ele dizia explicitamente nas mensagens,

era intimidar os ministros do Supremo

pra eles saírem, abrirem mão da cadeira que ocupavam.

A polícia federal ouviu o Bolsonaro nessa semana

no inquérito que investiga a fraude no cartão de vacina,

mas perguntou sobre isso e perguntou sobre outras linhas de investigação,

e o Bolsonaro disse que qualquer coisa,

mas reconheceu que sim falava com o Ailton.

Pode dizer que não viu essa mensagem,

que não deu nenhuma orientação,

mas reconheceu que tinha contato com ele.

Ele teria dificuldade de dizer que não tinha contato, né?

O sujeito foi votar com ele, inclusive, no dia da eleição, né?

Exato.

Tava ao lado dele no dia da eleição.

Tem uma mensagem de apoio do Bolsonaro.

Hã?

Tem uma mensagem de apoio do Bolsonaro para o Ailton durante a campanha.

Que foi candidato a deputado estadual e não foi eleito, é isso?

Exato.

E agora a polícia federal tem a confirmação do Bolsonaro

oficialmente em depoimento na polícia federal,

dizendo sim, tem contato, conheço, sei quem é.

Depois da derrota, eles fizeram essas tentativas antes da eleição,

depois que o Bolsonaro perde a eleição,

eles mantiveram os planos de manter o Bolsonaro no poder

às custas de um golpe de Estado.

Em 15 de dezembro, um militar aciona o Ailton,

esse militar não foi identificado ainda,

pelo menos a polícia federal não revelou a identidade dele,

e diz que o prazo tá acabando, tinha que ser agora ou nunca,

e diz até o Braga Neto veio aqui conversar com eles,

que nem eu falei, tirei o foto.

O Braga Neto, que foi candidato a vice do Bolsonaro,

tinha sido ministro da defesa dele,

tinha sido ministro da Casa Civil também.

Em novembro, o próprio Braga Neto foi conversar com o Bolsonaro,

depois da derrota, só pra lembrar esse episódio que foi enigmático na época,

foi conversar com o Bolsonaro na época que o Bolsonaro

tava enclausurado no Palácio da Alvorada,

saiu de lá e foi até o cercadinho e disse pros manifestantes,

golpistas, vocês não percam a fé, é só o que eu posso dizer a vocês.

E deixou no ar o que ele tava querendo dizer.

Esse mesmo Braga Neto é citado nessas mensagens agora

que estão vindo a público com teor golpista.

A PF concluiu com essas mensagens,

que são as primeiras que eles estão investigando,

que foi uma tentativa de golpe para as Forças Armadas

tomarem o poder lideradas por Bolsonaro.

E o Ailton, nessas mensagens, também deixa claro

que esse grupo queria convencer o chefe da Brigada de Operações Especiais de Goiânia

a prender o Alexandre de Moraes e praticar a abolição violenta

do Estado Democrático de Direito.

Prender um ministro que tá impondo algum limite

a essas intenções golpistas e dar um golpe de Estado do século passado.

Era isso que eles tentaram fazer.

Essa brigada é uma brigada de forças especiais,

é uma brigada de elite do exército que fica perto de Brasília

e que são os 1.500 homens que o Ailton queria treinar e armar pra prender.

É o mesmo destacamento que o Tenente Coronel Cidinho

viria a comandar se ele não tivesse preso.

Agora, pra quem não tinha entendido, ficou claro

por que que o Bolsonaro e os bolsonaristas queriam tanto

que o Cid ocupasse esse cargo, né?

E o Élcio Franco, que é o número 2 do Pazuello no Ministério da Saúde,

como você disse, e depois foi trabalhar na Copa do Palácio do Planalto

como assessor da Casa Civil de um outro general, o General Ramos,

aparece com mensagens que foram encaminhadas por um outro militar,

falando da necessidade de convencer o então comandante da Brigada de Goiânia

a fazer esse recrutamento de 1.500 homens.

E o Élcio Franco, a menção a ele, esse áudio que ele mandou,

é importante porque é mais uma associação nesse ligue pontos

da trama do golpe ao Palácio do Planalto, aos generais que eram ministros do Bolsonaro.

Então aproxima ainda mais da cúpula do poder durante o governo Bolsonaro.

Então essas investigações colocam o Bolsonaro no centro de um inquérito,

quer dizer, ele é investigado por incitação aos atos antidemocráticos,

que é um inquérito que já está aberto e instalado no Supremo Tribunal Federal.

E o Alexandre de Moraes, que é o relator, tornou réus alguns dos chamados

autores intelectuais dentro desse inquérito, não estou falando do Bolsonaro,

estou falando das pessoas que praticaram ou, como ele diz, planejaram os atos.

Porque ele considerou inconstitucionais, abro aspas, as condutas e manifestações

que tenham a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico

e aquelas condutas que pretendam destruí-lo, o Estado democrático e o pensamento crítico.

Pregando, diz respeito, a separação de poderes.

Tolendo esse voto dele para tornar réus alguns dos envolvidos, alguns dos investigados,

porque a investigação está chegando no Palácio do Planalto do governo Bolsonaro.

Então, se para desconhecidos o Alexandre de Moraes já deu esse voto,

podemos ter uma pista do que vem pela frente.

Eu queria acrescentar uma coisa, repetindo uma coisa que eu falei semana passada,

que acho que a gente está num momento importante de cisão das Forças Armadas

para se livrar desse resquício golpista, bolsonarista.

Porque a Taís já deu a pista agora, tem generais envolvidos nessa tentativa de golpe,

generais que ocuparam posições muito importantes na cúpula militar durante o governo Bolsonaro.

E não me surpreenderia se um ou dois deles acabassem chamados a depô pela Polícia Federal,

porque o envolvimento deles está cada vez mais comprovado pela essa troca de mensagens.

E você fazendo o cruzamento dos dados telemáticos que foram quebrados,

você pode até saber quem estava com quem, quando.

E discutindo o que, você vai intuir pelas mensagens.

Então, isso vai complicar.

Me parece que a cúpula do Exército se deu conta de que essa posição ambivalente

que eles assumiram durante todo o final do ano, entre a eleição e a posse,

se viam para um lado ou iam para o outro, acabaram indo para o lado da legalidade,

custou muito caro para a imagem do Exército.

E isso está custando um preço maior agora ainda.

Então, acho que já estão dando sinais disso, mas vão ter que romper eventualmente com esses golpistas.

E um segundo aspecto que eu acho que é relevante, ainda não é definitivo,

mas a gente começa a ver sinais, a gente está vendo acontecer com frequência

derrotas dos bolsonaristas na Batalha Digital.

Perderam a Batalha da Michelle, perderam a Batalha das Joias, perderam a Batalha da Vacinação,

que é uma coisa que não acontecia.

Pode ou ter relação ou não com a prisão da Turma do Fundão, como a Thaís chama,

que é essa caquerada de militares que mandavam lá no Palácio do Planalto.

Pode ser que seja isso ou não, mas eu acho que está faltando duas coisas, dinheiro e articulação.

E isso é um enfraquecimento que pode ser fatal para o bolsonarismo.

Perfeito esse comentário. E esse episódio, cada vez mais é ficando clara a fusão entre a milícia, na verdade,

porque esse povo que está em volta do Bolsonaro, esse ex-major Ailton, é um militar,

mas é uma espécie de quase um miliciano, um bolsonarista raiz, ele quase se confunde com os bolsonaristas.

A fusão desses caras com oficiais de alta patente, como esse Elcio Franco,

que era o número dois do Ministério da Saúde, não é pouca coisa.

Foi envolvido lá em confusão da Covaxin e era, pelo jeito, um sujeito atuante nessas operações golpistas.

Então a fusão desse baixo clero militar que se confunde com milícia, com pessoal de alta patente, é bem grave.

É um rebaixamento de tudo, uma bolsonarização das forças armadas.

A gente vem falando isso, mas não é trivial, não é trivial mesmo.

Bom, a gente encerra o primeiro bloco do programa por aqui.

Temos um rápido intervalo e no segundo bloco vamos falar da cassação de Deltan Dallagnol.

A gente já volta.

A CASSAÇÃO DE DELTAN DALLAGNOL

Na revista Piauí de Maio, você vai saber quem é Altino Masson,

um catarinense de 76 anos que está à procura de um sócio para explorar uma fazenda do tamanho da cidade de São Paulo.

Mas o terreno de mais de 180 mil hectares não fica no sul do Brasil onde ele mora.

Fica no estado do Amazonas, o lugar que ele batizou de fazenda portal da Amazônia

e de onde quer retirar mogno, cedro e andiroba, tem mata nativa intacta, uma fauna variada,

fica entre duas áreas de preservação ambiental e não pertence a ele.

É uma terra grilada, mais uma da carteira de Altino Masson, o homem considerado o maior grileiro da Amazônia.

Na reportagem de Alain de Abril, no papel, no computador, no celular, você lê essa e outras reportagens exclusivas.

Saiba mais em revistapiaui.com.br

Muito bem, Thais Bilencki, vamos começar com você.

Talvez a gente deva começar pelas tecnicalidades do caso, porque o Deltan Dallagnol sustenta que não tinha,

quando pediu a exoneração do Ministério Público, nenhum PAD, que é o processo administrativo disciplinar em curso.

Ele tinha investigações que poderiam resultar nesses processos e que, portanto, haveria um abuso,

uma inadequação nessa decisão do Tribunal Superior Eleitoral.

Esse vai ser o argumento, um dos argumentos que ele vai levar ao Supremo, certo?

Possivelmente. A decisão gerou reações apaixonadas, digamos assim, de todos os lados,

com gente muito respeitada dizendo que tinha sido uma arbitrariedade, de Miguel Reale Jr. a Rafael Maféi,

que eu li falando que o entendimento do TSE era contestável, e gente do outro lado dizendo que era perfeitamente técnico,

justamente porque o que a lei da ficha limpa diz é que se você é um membro do judiciário ou um membro do Ministério Público,

tem processos administrativos em curso, pede demissão antes deles serem concluídos,

pra se candidatar depois, justamente pra evitar a condenação, o que te enquadraria como ficha suja,

você pode ser enquadrado ainda assim da mesma forma.

E que o TSE já deu esse entendimento diversas vezes, eu vou citar um daqui a pouco.

Agora, eu conversei com o advogado eleitoral Ricardo Penteado, que defendeu a campanha do Tarcisio na última eleição,

mas tem décadas de atuação no TSE, então eu gosto de conversar com ele porque ele tem memória de diversos julgamentos no tribunal.

Ele é um crítico convicto da lei da ficha limpa, que ele considera monstruosa por N motivos,

mas apesar da avaliação que ele faz do mérito da lei, ele considera que o julgamento do TSE foi bem fundamentado,

conforme o que prevê a lei da ficha limpa, e inclusive tem precedentes,

e ele citou o caso do senador Jader Barbalho, do MDB do Pará, que teve o registro de candidatura rejeitado,

assim como o Deltan, com base na lei da ficha limpa em 2010,

porque o Jader Barbalho tinha renunciado ao mandato de senador em 2001,

antes que o conselho de ética do senado iniciasse um processo disciplinar por quebra de decoro.

Isso poderia levar à cassação do mandato dele e ele ficaria inelegível,

então ele renunciou antes de acabar o processo para não ser ficha suja.

O TSE falou, não, veja bem, você é ficha suja sim.

Ele é um político, então é outra linha, não é a Q, é a K, mas é o mesmo procedimento,

é a mesma tentativa, no entendimento do TSE, de burlar a lei, driblar a lei da ficha limpa.

Nessa ocasião do Jader Barbalho, o TSE votou 5 a 2 contra o Jader,

ele recorreu ao Supremo e o Supremo devolveu o mandato dele,

porque entendeu que a lei, que tinha sido aprovada no mesmo ano de 2010,

só poderia valer a partir de 2012, foi só por essa brecha que ele conseguiu.

E o Jader foi à luta, as matérias da época contam que ele mandava carta na casa dos ministros do Supremo

para advogar pela causa dele, junto com o Jornal do Dia,

na época a gente ainda recebia jornal na porta de casa,

não uma, nem duas, nem três vezes ele mandava cartas, até chegou a incomodar os ministros,

é bem polêmica essa técnica dele, mas ele acabou conseguindo.

No caso do Deltan, é mais difícil ele convencer qualquer ministro.

Como que acontece? Se ele recorre ao Supremo, primeiro ele precisa de um relator que vote a favor

da manutenção do mandato dele e depois vai ser submetido ao plenário.

O que ele teve até agora é uma indicação de que isso é uma tarefa quase impossível,

porque os 7 ministros do TSE votaram pela perda do mandato.

Daí você tem o Alexandre de Moraes, a Carmen Lúcia, o Benedito Gonçalves e o Sérgio Banhos

que não surpreenderam nessa posição, mas o Cássio Nunes Marques, o Raul Araújo e o Carlos Horbach

surpreenderam porque foram indicados pelo Bolsonaro, tem interlocução com Bolsonaro,

já deram vários votos favoráveis ao Bolsonaro ou a bolsonaristas.

Isso mostra, primeiro, que o Bolsonaro possivelmente não mexeu em nenhuma palha em favor do Dallagnol

e o Deltan teria dificuldade também, porque o Gilmar Mendes, que sempre liderou no Supremo

a ala anti-lavajatista do Supremo, é o maior articulador entre os ministros

e ele e Deltan Dallagnol já trocaram inúmeras ofensas.

Na semana passada tivemos somente a última troca, somente o último capítulo dessas trocas.

E o Deltan teria a única chance, digamos, de ter qualquer simpatia no Supremo

e ainda assim de um ministro só, que é o único que sobra, porque ele se tornou, para além de um lavajatista,

um bolsonarista, declarou voto no Bolsonaro no segundo turno de 2022, relativizou, ele, ex-procurador da República,

relativizou a gravidade do escândalo das joias nas Arábias e na Câmara virou um soldadinho do bolsonarismo,

fez campanha com fake news contra o PL da fake news, votou contra a equiparação salarial de homem e mulher.

Então o Eduardo pousar na foto junto com o Deltan depois da cassação é só um prêmio de consolação,

porque ele prestou bastante serviços ao bolsonarismo nesses últimos tempos.

E quando o Moro diz que tem certeza que vai ser o próximo, ele diz isso porque o Moro tem um processo no TRE,

no Tribunal Regional do Paraná, movido por um adversário dele chamado Paulo Martins,

que era deputado federal, se filiou ao PL e foi candidato ao Senado pelo Paraná,

a pedido do Bolsonaro com apoio público do Bolsonaro e depois o PL do Paraná entra com pedido de cassação do Moro.

Então é mais um jeito do lavajatismo e do bolsonarismo não estarem na mesma página definitivamente.

Então se o Moro cair vai ter sido indiretamente pelas mãos do Bolsonaro e a queda do Dallagnol

deu vaga para um deputado do PL e não do partido do Dallagnol.

Onde eu vou chegar? Eu vou chegar que o lavajatismo, que foi uma força dominante nas eleições de 2018,

foi devorada pelo bolsonarismo e acabou se perdendo dentro do bolsonarismo.

Então essa perda de mandato do Dallagnol é mais uma manifestação de como o lavajatismo perdeu o lugar e foi devorado pelo bolsonarismo.

Perfeito. Não obstante isso, eles continuam lambendo a sola do sapato do Bolsonaro,

como você disse, nas votações, nas orientações, no apoio político no segundo turno da eleição.

O pessoal que é pela moralidade da política, da coisa pública contra a corrupção, está lambendo o sapato de Jair Bolsonaro.

O moralista de Araque, né? Porque o cara comete uma fraude para evitar ser enquadrado numa lei que ele apoiou.

É uma lei ruim, a lei da ficha limpa, porque ela acaba com a presunção de inocência em alguns itens dela.

O Deltan Dallagnol foi um dos caras que mais defendeu a aprovação dessa lei, fez depois uma campanha contra a reforma dessa lei

e ia ser enquadrado pela lei. Para não ser enquadrado, ele fez uma manobra, uma chicana jurídica, tão óbvia que 7x0 no TSE.

É unânime. Ah, mas tem a rebimbocada para a fuzeta. Sempre tem a rebimbocada para a fuzeta, porque a lei depende de interpretação.

E sempre vai se levar em conta o aspecto político. É óbvio, eu não preciso ficar repetindo o que é óbvio aqui.

Então, todo julgamento é técnico e político, você só precisa achar desculpa para chegar no meio que você quer.

Mas enfim, para mim essa cassação é ao mesmo tempo uma vingança, óbvia, porque quem propõe a ação é o PT, é justa,

porque o Dallagnol está sendo pego numa fraude que ele cometeu contra a própria lei que ele fez campanha a favor,

acaba com esse moralismo de araque que ele e seus amigos tentaram fazer valer crer que existe,

e mostra para mim o mais importante de tudo, que esses serviçais da extrema direita, que ajudaram a levar a extrema direita ao poder,

não passam de serviçais. Assim que eles acabam de prestar o seu serviço, eles são dispensados.

Ele, o Moro e vários outros. São os garçons do poder. Estão na festa para trabalhar, não para se divertir.

E ficaram com a bandeja na mão. Justiça poética.

Eu não quero deixar passar que achei lamentável a atitude do governo Lula de fazer o powerpoint lá, tirando sarro do negócio.

Eu acho que isso não é função do governo, né? Escolhamba também a institucionalidade, tudo, não é?

O governo não tem que fazer powerpoint fazendo menção à grande obra do Deltan Dallagnol,

o que resume as intenções dele, o método de proceder dele, é aquele powerpoint absurdo, né?

Colocando o Lula no centro de tudo. Por que o governo vai fazer um negócio...

Governo, não é? Se o filho do Lula pusesse na internet o negócio powerpoint tirando sarro, tudo bem.

É um detalhe simbólico que me incomoda porque joga a disputa política, a energia política,

para um lugar que é o lugar do bolsonarismo, né? Um lugar onde o bolsonarismo gosta de brigar, na sarjeta.

Eu entendo o seu ponto, acho que você tem até razão, mas...

Mas você deu umas risadas com o powerpoint.

Não é o Lid, né? Eu dei a Lid.

Não é o Lid.

Não tenho como negar que eu não tenho a rir, entendeu?

Sim, todos rimos e tal.

Eu acho que é por essas e outras que o governo continua sendo o terceiro bloco do programa e não o primeiro.

Realmente tem uma dificuldade de identidade, assim, de pautar, de avançar.

Na verdade ele tá sempre salvo pelo Dallagnol, salvo pelo Bolsonaro, né?

Porque eles conseguem produzir o noticiário mais atraente do que o governo consegue fazer de boa notícia, né?

É, o governo tá perdendo muita oportunidade de mudar um pouco o ambiente político do país.

O governo não tá fazendo nada disso e é bastante impressionante,

porque são pessoas que já estiveram lá no Palácio do Tanalto antes, então é um pouco impressionante.

Agora, tem um aspecto político aí, o anti-lavajatismo, ou, dizendo de outra forma,

esse sujeito Dallagnol, sobre quem a gente tem, né?

Acho que a gente pensa mais ou menos parecido o que ele representa, o que ele é.

Ele teve quase 350 mil votos no Paraná, foi o deputado mais votado.

Ou seja, ele representa um segmento social numeroso na sociedade brasileira, né?

E esse negócio vai ter desdobramentos ainda.

Nem sei onde eu vou terminar com esse comentário aqui, mas vamos.

Não, ele teve votos que ele não poderia ter tido porque não poderia ter sido candidato.

Tá certo, tá certo.

E não poderia ter sido por uma campanha que ele mesmo fez pra aprovação de uma lei,

que foi aprovada, enfim, por um entendimento que veio da popularidade da Lava Jato na meada da década passada.

Não, porque o que me incomoda nesse caso são esses caras que usam o poder público,

um cargo público, pra fazer uma campanha de lançamento político eleitoral.

É a vida do Bolsonaro, é a vida do Sérgio Moro, é a vida do Deltan Dallagnol.

E essas leis foram criadas justamente pra coibir o uso da máquina pública

em função do interesse privado de se lançar política eleitoralmente.

E óbvio que ele burlou essa lei, esse espírito da lei.

O autor, o dono, o pai da lei, o Marlon, que é um ex-juiz que também se lançou na política,

ironia das ironias, falou não, tá, exatamente, a decisão do TSE é incontestável, é perfeita.

Esse é o espírito da lei.

É o espírito ruim.

É isso, eles pagaram, estão sendo comidos pelo próprio prato que fizeram, entendeu?

Eles armaram a situação pra si mesmos.

Realmente, ele foi o deputado federal mais votado e tem uma soberania que em geral...

No Paraná, né?

No Paraná, desculpa.

Tem uma soberania que em geral...