Uma história de amor ou de (s) encontros 12
Ela, ao tear, tecendo, tecendo (melhor que Penélope)
Ela tornou pública, às chefias, a decisão de ficar a sexta‑feira no estrangeiro e não vir trabalhar, nem se importando que isso lhe fosse descontado nos dias de férias. É que, fazendo assim, beneficiava do fim-de-semana e, para a empresa, a vantagem ainda seria maior porque o bilhete do avião custava muito menos se ela só regressasse no domingo em vez da sexta.
Os responsáveis pela gestão só podiam achar muito judiciosa a decisão, e ela nem pensasse nisso de descontar o dia nas férias.
Por acaso, só por acaso, claro..., com a agência de viagens arranjou um voo para Bruxelas, partindo na quarta à tarde, chegada a Bruxelas a tempo de jantar, ida e volta de comboio a Roterdão na quinta-feira, regresso a Lisboa no domingo à noite.
Tudo a correr como projectado. Como entretecido, como quem faz malha.
Ele, viajando, conspirando, conspirando (melhor que aquele das intentonas)
Chegou o fim-de-semana antes do "dia D" ( bis ). No habitual regresso de Bruxelas, lá veio ele com uma lembrança embrulhada “en cadeau” , para mostrar que estava sempre a lembrar‑se. E foi o encontro e as conversas a correrem como se nada de especial estivesse para acontecer ou a preparar‑se.
Um fim-de-semana igual a muitos outros. Acordar e levantar tarde – o que nem sempre coincidia –, cinema no sábado, às vezes teatro na matinée de domingo.
Um jantar agradável, calmo, pelo meio. Alguma televisão. Deitar só quando lhes chegava a vontade. Para o encontro dos corpos, para o amor que, ao fazer-se, os rejuvenescia, os reencontrava a cada um e aos dois, lhes lembrava como se amavam.
Contando‑se, depois, aquela graça, que ele insistia em repetir, de que um casal é jovem enquanto não tem alternativa: adormece sempre tarde! Ou porque se deita tarde, ou porque, deitando‑se cedo, acaba por adormecer tarde.
Sérgio Ribeiro
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