×

We use cookies to help make LingQ better. By visiting the site, you agree to our cookie policy.


image

Os Escravos, por Antonio Frederico de Castro Alves, 4º Poema: A criança, de Os Escravos, de Castro Alves

4º Poema: A criança, de Os Escravos, de Castro Alves

A cruz da estrada

Invideo quia quiescunt.

LUTHERO (Worms)

Tu que passas, descobre-te! Ali dorme

O forte que morreu.

A. HERCULANO (Trad.)

Caminheiro que passas pela estrada,

Seguindo pelo rumo do sertão,

Quando vires a cruz abandonada,

Deixa-a em paz dormir na solidão.

Que vale o ramo do alecrim cheiroso

Que lhe atiras nos braços ao passar?

Vais espantar o bando buliçoso

Das borboletas, que lá vão pousar.

É de um escravo humilde sepultura,

Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.

Deixa-o dormir no leito de verdura,

Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.

Não precisa de ti. O gaturamo

Geme, por ele, à tarde, no sertão.

E a juriti, do taquaral no ramo,

Povoa, soluçando, a solidão.

Dentre os braços da cruz, a parasita,

Num abraço de flores, se prendeu.

Chora orvalhos a grama, que palpita;

Lhe acende o vaga-lume o facho seu.

Quando, à noite, o silêncio habita as matas,

A sepultura fala a sós com Deus.

Prende-se a voz na boca das cascatas,

E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

Caminheiro! do escravo desgraçado

O sono agora mesmo começou!

Não lhe toques no leito de noivado,

Há pouco a liberdade o desposou.


4º Poema: A criança, de Os Escravos, de Castro Alves 4th Poem: The Child, from Os Escravos, by Castro Alves

A cruz da estrada the cross of the road

Invideo quia quiescunt. Invideo quia quiescunt.

LUTHERO (Worms) LUTHERO (Worms)

Tu que passas, descobre-te! You who pass, discover yourself! Ali dorme There sleeps

O forte que morreu. The strong that died.

A. HERCULANO (Trad.) A. HERCULANO (Trans.)

Caminheiro que passas pela estrada, Walker passing along the road,

Seguindo pelo rumo do sertão, Following the direction of the hinterland,

Quando vires a cruz abandonada, When you see the abandoned cross,

Deixa-a em paz dormir na solidão. Leave her alone to sleep in solitude.

Que vale o ramo do alecrim cheiroso What is the fragrant rosemary branch worth?

Que lhe atiras nos braços ao passar? What do you throw in your arms as you pass?

Vais espantar o bando buliçoso You will scare away the boisterous bunch

Das borboletas, que lá vão pousar. Of the butterflies, which will land there.

É de um escravo humilde sepultura, It's from a humble grave slave,

Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz. It was his life to wake up to atrocious insomnia.

Deixa-o dormir no leito de verdura, Let him sleep on the bed of greenery,

Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs. Which the Lord from among the jungles composed for you.

Não precisa de ti. It doesn't need you. O gaturamo the gaturamo

Geme, por ele, à tarde, no sertão. He groans for him in the afternoon in the backlands.

E a juriti, do taquaral no ramo, And the juriti, from the bamboo grove in the branch,

Povoa, soluçando, a solidão. Sobbing, solitude populates.

Dentre os braços da cruz, a parasita, Among the arms of the cross, the parasite,

Num abraço de flores, se prendeu. In an embrace of flowers, she held herself.

Chora orvalhos a grama, que palpita; The grass that throbs weeps dews;

Lhe acende o vaga-lume o facho seu. His firefly lights his torch.

Quando, à noite, o silêncio habita as matas, When, at night, silence inhabits the woods,

A sepultura fala a sós com Deus. The grave speaks alone with God.

Prende-se a voz na boca das cascatas, The voice is trapped in the mouth of the waterfalls,

E as asas de ouro aos astros lá nos céus. And golden wings to the stars in the heavens.

Caminheiro! Trucker! do escravo desgraçado of the wretched slave

O sono agora mesmo começou! Sleep has just begun!

Não lhe toques no leito de noivado, Don't touch her on her engagement bed,

Há pouco a liberdade o desposou. Freedom has just married him.