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Os Lusíadas, de Luís de Camões (Livro completo), Canto Segundo de Os Lusíadas, de Luís de Camões (2 de 10)

Canto Segundo de Os Lusíadas, de Luís de Camões (2 de 10)

Canto Segundo

1 Já neste tempo o lúcido Planeta, Que as horas vai do dia distinguindo, Chegava à desejada e lenta meta, A luz celeste às gentes encobrindo, E da casa marítima secreta Lhe estava o Deus Noturno a porta abrindo, Quando as infidas gentes se chegaram As naus, que pouco havia que ancoraram.

2 Dentre eles um, que traz encomendado O mortífero engano, assim dizia: "Capitão valeroso, que cortado Tens de Neptuno o reino e salsa via, O Rei que manda esta ilha, alvoroçado Da vinda tua, tem tanta alegria, Que não deseja mais que agasalhar-te, Ver-te, e do necessário reformar-te. 3 "E porque está em extremo desejoso De te ver, como cousa nomeada, Te roga que, de nada receoso, Entres a barra, tu com toda armada: E porque do caminho trabalhoso Trarás a gente débil e cansada, Diz que na terra podes reformá-la, Que a natureza obriga a desejá-la. 4 "E se buscando vás mercadoria Que produze o aurífero Levante, Canela, cravo, ardente especiaria, Ou droga salutífera e prestante; Ou se queres luzente pedraria, O rubi fino, o rígido diamante, Daqui levarás tudo tão sobejo Com que faças o fim a teu desejo." 5 Ao mensageiro o Capitão responde As palavras do Rei agradecendo: E diz que, porque o Sol no mar se esconde, Não entra para dentro, obedecendo; Porém que, como a luz mostrar por onde Vá sem perigo a frota, não temendo, Cumprirá sem receio seu mandado, Que a mais por tal senhor está obrigado.

6 Pergunta-lhe depois, se estão na terra Cristãos, como o piloto lhe dizia; O mensageiro astuto, que não erra, Lhe diz, que a mais da gente em Cristo cria. Desta sorte do peito lhe desterra Toda a suspeita e cauta fantasia; Por onde o Capitão seguramente Se fia da infiel e falsa gente.

7 E de alguns que trazia condenados Por culpas e por feitos vergonhosos, Por que pudessem ser aventurados Em casos desta sorte duvidosos, Manda dous mais sagazes, ensaiados, Por que notem dos Mouros enganosos A cidade e poder, e por que vejam Os Cristãos, que só tanto ver desejam.

8 E por estes ao Rei presentes manda, Por que a boa vontade, que mostrava, Tenha firme, segura, limpa e branda; A qual bem ao contrário em tudo estava. Já a companhia pérfida e nefanda Das naus se despedia e o mar cortava: Foram com gestos ledos e fingidos, Os dous da frota em terra recebidos.

9 E depois que ao Rei apresentaram, Co'o recado, os presentes que traziam, A cidade correram, e notaram Muito menos daquilo que queriam; Que os Mouros cautelosos se guardaras De lhes mostrarem tudo o que pediam: Que onde reina a malícia, está o receio, Que a faz imaginar no peito alheio.

10 Mas aquele que sempre a mocidade Tem no rosto perpétua, e foi nascido De duas mães, que urdia a falsidade Por ver o navegante destruído, Estava numa casa da cidade, Com rosto humano e hábito fingido, Mostrando-se Cristão, e fabricava Um altar sumptuoso, que adorava.

11 Ali tinha em retrato afigurada Do alto e Santo Espírito a pintura: A cândida pombinha debuxada Sobre a única Fénix, Virgem pura; A companhia santa está pintada Dos doze, tão torvados na figura, Como os que, só das línguas que caíram, De fogo, várias línguas referiram.

12 Aqui os dous companheiros conduzidos Onde com este engano Baco estava, Põem em terra os giolhos, e os sentidos Naquele Deus que o mundo governava. Os cheiros excelentes, produzidos Na Pancaia odorífera, queimava O Tioneu, e assim por derradeiro O falso Deus adora o verdadeiro.

13 Aqui foram de noite agasalhados, Com todo o bom e honesto tratamento, Os dous Cristãos, não vendo que enganados Os tinha o falso e santo fingimento. Mas assim como os raios espalhados Do Sol foram no mundo, e num momento Apareceu no rúbido horizonte Da moça de Titão a roxa fronte,

14 Tornam da terra os Mouros co'o recado Do Rei, para que entrassem, e consigo Os dous que o Capitão tinha mandado, A quem se o Rei mostrou sincero amigo; E sendo o Português certificado De não haver receio de perigo, E que gente de Cristo em terra havia, Dentro no salso rio entrar queria.

15 Dizem-lhe os que mandou, que em terra Sacras aras e sacerdote sinto; viram Que ali se agasalharam o dormiram, Enquanto a luz cobriu o escuro manto; E que no Rei e gentes não sentiram Senão contentamento e gosto tanto, Que não podia certo haver suspeita Numa mostra tão clara e tão perfeita.

16 Com isto o nobre Gama recebia Alegremente os Mouros que subiam; Que levemente um ânimo se fia De mostras, que tão certas pareciam. A nau da gente pérfida se enchia, Deixando a bordo os barcos que traziam. Alegres vinham todos, porque crêm Que a presa desejada certa têm.

17 Na terra, cautamente aparelhavam Armas e munições que, como vissem Que no rio os navios ancoravam, Neles ousadamente se subissem; E, nesta treição determinavam Que os de Luso de todo destruíssem, E que incautos pagassem deste jeito O mal que em Moçambique tinham feito.

18 As âncoras tenaces vão levando Com a náutica grita costumada; Da proa as velas sós ao vento dando Inclinam para a barra abalizada. Mas a linda Ericina, que guardando Andava sempre a gente assinalada, Vendo a cilada grande, e tão secreta, Voa do Céu ao mar como uma seta.

19 Convoca as alvas filhas de Nereu, Com toda a mais cerúlea companhia, Que, porque no salgado mar nasceu, Das águas o poder lhe obedecia. E propondo-lhe a causa a que desceu, Com todas juntamente se partia, Para estorvar que a armada não chegasse Aonde para sempre se acabasse.

20 Já na água erguendo vão, com grande pressa, Com as argênteas caudas branca escuma; Cloto eo'o peito corta e atravessa Com mais furor o mar do que costuma. Salta Nise, Nerine se arremessa Por cima da água crespa, em força suma. Abrem caminho as ondas encurvadas De temor das Nereidas apressadas.

21 Nos ombros de um Tritão, com gesto aceso, Vai a linda Dione furiosa; Não sente quem a leva o doce peso, De soberbo com carga tão formosa. Já chegam perto donde o vento teso Enche as velas da frota belicosa; Repartem-se e rodeiam nesse instante As naus ligeiras, que iam por diante.

22 Põe-se a Deusa com outras em direito Da proa capitaina, e ali fechando O caminho da barra, estão de jeito, Que em vão assopra o vento, a vela inchando. Põem no madeiro duro o brando peito, Para detrás a forte nau forçando; Outras em derredor levando-a estavam, E da barra inimiga a desviavam.

23 Quais para a cova as próvidas formigas, Levando o peso grande acomodado, As forças exercitam, de inimigas Do inimigo inverno congelado; Ali são seus trabalhos e fadigas, Ali mostram vigor nunca esperado: Tais andavam as Ninfas estorvando A gente Portuguesa o fim nefando.

24 Torna para detrás a nau forçada, Apesar dos que leva, que gritando Mareiam velas; ferve a gente irada, O leme a um bordo e a outro atravessando; O mestre astuto em vão da popa brada, Vendo como diante ameaçando Os estava um marítimo penedo, Que de quebrar-lhe a nau lhe mete medo.

25 A celeuma medonha se alevanta No rudo marinheiro que trabalha; O grande estrondo a Maura gente espanta, Como se vissem hórrida batalha; Não sabem a razão de fúria tanta, Não sabem nesta pressa quem lhe valha; Cuidam que seus enganos são sabidos, E que hão de ser por isso aqui punidos.

26 Ei-los subitamente se lançavam A seus batéis velozes que traziam; Outros em cima o mar alevantavam, Saltando n'água, a nado se acolhiam; De um bordo e doutro súbito saltavam, Que o medo os compelia do que viam; Que antes querem ao mar aventurar-se Que nas mãos inimigas entregar-se.

27 Assim como em selvática alagoa As rãs, no tempo antigo Lícia gente, Se sentem por ventura vir pessoa, Estando fora da água incautamente, Daqui e dali saltando, o charco soa, Por fugir do perigo que se sente, E acolhendo-se ao couto que conhecem, Sós as cabeças na água lhe aparecem:

28 Assim fogem os Mouros; e o piloto, Que ao perigo grande as naus guiara, Crendo que seu engano estava noto, Também foge, saltando na água amara. Mas, por não darem no penedo imoto, Onde percam a vida doce e cara, A âncora solta logo a capitaina, Qualquer das outras junto dela amaina.

29 Vendo o Gama, atentado, a estranheza Dos Mouros, não cuidada, e juntamente O piloto fugir-lhe com presteza, Entende o que ordenava a bruta gente; E vendo, sem contraste e sem braveza Dos ventos, ou das águas sem corrente, Que a nau passar avante não podia, Havendo-o por milagre, assim dizia:

30 "Ó caso grande, estranho e não cuidado, Ó milagre claríssimo e evidente, Ó descoberto engano inopinado, Ó pérfida, inimiga e falsa gente! Quem poderá do mal aparelhado Livrar-se sem perigo sabiamente, Se lá de cima a Guarda soberana Não acudir à fraca força humana?

31 "Bem nos mostra a divina Providência Destes portos a pouca segurança; Bem claro temos visto na aparência, Que era enganada a nossa confiança. Mas pois saber humano nem prudência Enganos tão fingidos não alcança, Ó tu, Guarda Divina, tem cuidado De quem sem ti não pode ser guardado!

32 "E se te move tanto a piedade Desta mísera gente peregrina, Que só por tua altíssima bondade, Da gente a salvas pérfida e malina, Nalgum porto seguro de verdade Conduzir-nos já agora determina, Ou nos amostra a terra que buscamos, Pois só por teu serviço navegamos." 33 Ouviu-lhe essas palavras piedosas A formosa Dione, e comovida, Dentre as Ninfas se vai, que saudosas Ficaram desta súbita partida. Já penetra as Estrelas luminosas, Já na terceira Esfera recebida Avante passa, e lá no sexto Céu, Para onde estava o Padre, se moveu.

34 E como ia afrontada do caminho, Tão formosa no gesto se mostrava, Que as Estrelas e o Céu e o Ar vizinho, E tudo quanto a via namorava. Dos olhos, onde faz seu filho o ninho, Uns espíritos vivos inspirava, Com que os Pólos gelados acendia, E tornava do Fogo a esfera fria.

35 E por mais namorar o soberano Padre, de quem foi sempre amada e eriça, Se lhe apresenta assim como ao Troiano, Na selva Idea, já se apresentara. Se a vira o caçador, que o vulto humano Perdeu, vendo Diana na água clara, Nunca os famintos galgos o mataram, Que primeiro desejos o acabaram.

36 Os crespos fios d'ouro se esparziam Pelo colo, que a neve escurecia; Andando, as lácteas tetas lhe tremiam, Com quem Amor brincava, e não se via; Da alva petrina flamas lhe saíam, Onde o Menino as almas acendia; Pelas lisas colunas lhe trepavam Desejos, que como hera se enrolavam.

37 C'um delgado sendal as partes cobre, De quem vergonha é natural reparo, Porém nem tudo esconde, nem descobre, O véu, dos roxos lírios pouco avaro; Mas, para que o desejo acenda o dobre, Lhe põe diante aquele objeto raro. Já se sentem no Céu, por toda a parte, Ciúmes em Vulcano, amor em Marte.

38 E mostrando no angélico semblante Co'o riso uma tristeza misturada, Como dama que foi do incauto amante Em brincos amorosos mal tratada, Que se aqueixa e se ri num mesmo instante, E se torna entre alegre magoada, Desta arte a Deusa, a quem nenhuma iguala, Mais mimosa que triste ao Padre fala:

39 "Sempre eu cuidei, ó Padre poderoso, Que, para as cousas que eu do peito amasse, Te achasse brando, afábil e amoroso, Posto que a algum contrário lhe pesasse; Mas, pois que contra mim te vejo iroso, Sem que to merecesse, nem te errasse, Faça-se como Baco determina; Assentarei enfim que fui mofina. 40 "Este povo que é meu, por quem derramo As lágrimas que em vão caídas vejo, Que assaz de mal lhe quero, pois que o amo, Sendo tu tanto contra meu desejo! Por ele a ti rogando choro e bramo, E contra minha dita enfim pelejo. Ora pois, porque o amo é mal tratado, Quero-lhe querer mal, será guardado.

41 "Mas moura enfim nas mãos das brutas gentes, Que pois eu fui..." E nisto, de mimosa, O rosto banha em lágrimas ardentes, Como co'o orvalho fica a fresca rosa. Calada um pouco, como se entre os dentes Se lhe impedira a fala piedosa, Torna a segui-la; e indo por diante, Lhe atalha o poderoso e grão Tonante.

42 E destas brandas mostras comovido, Que moveram de um tigre o peito duro, Co'o vulto alegre, qual do Céu subido, Torna sereno e claro o ar escuro, As lágrimas lhe alimpa, e acendido Na face a beija, e abraça o colo puro; De modo que dali, se só se achara, Outro novo Cupido se gerara.

43 E co'o seu apertando o rosto amado, Que os soluços e lágrimas aumenta, Como menino da ama castigado, Que quem no afaga o choro lhe acrescente, Por lhe pôr em sossego o peito irado, Muitos casos futuros lhe apresenta. Dos fados as entranhas revolvendo, Desta maneira enfim lhe está dizendo:

44 "Formosa filha minha, não temais Perigo algum nos vossos Lusitanos, Nem que ninguém comigo possa mais, Que esses chorosos olhos soberanos; Que eu vos prometo, filha, que vejais Esquecerem-se Gregos e Romanos, Pelos ilustres feitos que esta gente Há-de fazer nas partes do Oriente. 45 "Que se o facundo Ulisses escapou De ser na Ogígia ilha eterno escravo, E se Antenor os seios penetrou Ilíricos e a fonte de Timavo; E se o piedoso Eneias navegou De Cila e de Caríbdis o mar bravo, Os vossos, mores cousas atentando, Novos mundos ao mundo irão mostrando. 46 "Fortalezas, cidades e altos muros, Por eles vereis, filha, edificados; Os Turcos belacíssimos e duros, Deles sempre vereis desbaratados. Os Reis da índia, livres e seguros, Vereis ao Rei potente sojugados; E por eles, de tudo enfim senhores, Serão dadas na terra leis melhores.

47 "Vereis este, que agora pressuroso Por tantos medos o Indo vai buscando, Tremer dele Neptuno, de medroso Sem vento suas águas encrespando. Ó caso nunca visto e milagroso, Que trema e ferva o mar, em calma estando! Ó gente forte e de altos pensamentos, Que também dela hão medo os Elementos!

48 "Vereis a terra, que a água lhe tolhia, Que inda há-de ser um porto mui decente, Em que vão descansar da longa via As naus que navegarem do Ocidente. Toda esta costa enfim, que agora urdia O mortífero engano, obediente Lhe pagará tributos, conhecendo Não poder resistir ao Luso horrendo.

49 "E vereis o mar Roxo, tão famoso, Tornar-se-lhe amarelo, de enfiado; Vereis de Ormuz o Reino poderoso Duas vezes tomado e sojugado. Ali vereis o Mouro furioso De suas mesmas setas traspassado: Que quem vai contra os vossos, claro veja Que, se resiste, contra si peleja.

50 "Vereis a inexpugnábil Dio forte, Que dous cercos terá, dos vossos sendo. Ali se mostrará seu preço e sorte, Feitos de armas grandíssimos fazendo. Invejoso vereis o grão Mavorte Do peito Lusitano fero e horrendo: Do Mouro ali verão que a voz extrema Do falso Mahamede ao Céu blasfema.

51 "Goa vereis aos Mouros ser tomada, A qual virá depois a ser senhora De todo o Oriente, e sublimada Co'os triunfos da gente vencedora. Ali soberba, altiva, e exalçada, Ao Gentio, que os ídolos adora, Duro freio porá, e a toda a terra Que cuidar de fazer aos vossos guerra.

52 "Vereis a fortaleza sustentar-se De Cananor, com pouca força e gente; E vereis Calecu desbaratar-se, Cidade populosa e tão potente: E vereis em Cochim assinalar-se Tanto um peito soberbo e insolente, Que cítara jamais cantou vitória, Que assim mereça eterno nome e glória. 53 "Nunca com Marte instructo e furioso, Se viu ferver Leucate, quando Augusto Nas civis Actias guerras animoso, O Capitão venceu Romano injusto, Que dos povos da Aurora, e do famoso Nilo, e do Bactra Cítico e robusto A vitória trazia, e presa rica, Preso na Egípcia linda e nego pudica. 54 Como vereis o mar fervendo aceso Colos incêndios dos vossos pelejando, Levando o Idololatra, e o Mouro preso, De nações diferentes triunfando. E sujeita a rica Áurea Quersoneso, Até ao longínquo China navegando, E as ilhas mais remotas do Oriente, Ser-lhe-á todo o Oceano obediente.

55 "De modo, filha minha, que de jeito Amostrarão esforço mais que humano, Que nunca se verá tão forte peito, Do Gangético mar ao Gaditano, Nem das Boreais ondas ao Estreito, Que mostrou o agravado Lusitano, Posto que em todo o mundo, de afrontados, Ressuscitassem todos os passados." 56 Como isto disse, manda o consagrado Filho de Maia à Terra, por que tenha Um pacífico porto o sossegado, Para onde sem receio a frota venha; F, para que em Mombaça, aventurado, O forte Capitão se não detenha, Lhe manda mais, que em sonhos lhe mostra A terra, onde quieto repousasse.

57 Já pelo ar o Cileneu voava; Com as asas nos pés à Terra desce; Sua vara fatal na mão levava, Com que os olhos cansados adormece: Com esta, as tristes almas revocava Do Inferno, e o vento lhe obedece. Na cabeça o galero costumado. E desta arte a Melinde foi chegado.

58 Consigo a Fama leva, por que diga Do Lusitano o preço grande e raro, Que o nome ilustre a um certo amor obriga E faz, a quem o tem, amado e caro. Desta arte vai fazendo a gente amiga, Co rumor famosíssimo, e perclaro. Já Melinde em desejos arde todo De ver da gente forte o gesto e modo.

59 Dali para Mombaça logo parte, Aonde as naus estavam temerosas, Para que à gente mande que se aparte Da barra amiga e terras suspeitosas: Porque mui pouco val esforço e arte, Contra infernais vontades enganosas; Pouco val coração, astúcia e siso, Se lá dos Céus não vem celeste aviso.

60 No feio caminho a noite tinha anelado, E, as estrelas no Céu, coa luz alhea, Tinham o largo Mundo alumiado; E só co'o sono a gente se recreia. O Capitão ilustre, já cansado De vigiar a noite que arreceia, Breve repouso então aos olhos dava, A outra gente a quartos vigiava;

61 Quando Mercúrio em sonhos lhe aparece, Dizendo: "Fuge, fuge, Lusitano, Da cilada que o Rei malvado tece, Por te trazer ao fim, e extremo dano; Fuge, que o vento, e o Céu te favorece; Sereno o tempo tens e o Oceano, E outro Rei mais amigo, noutra parte, Onde podes seguro agasalhar-te. 62 "Não tens aqui senão aparelhado O hospício que o cru Diomedes dava, Fazendo ser manjar acostumado De cavalos a gente que hospedava; As aras de Busíris infamado, Onde os hóspedes tristes imolava, Terás certas aqui, se muito esperas. Fuge das gentes pérfidas e feras.

63 "Vai-te ao longo da costa discorrendo, E outra terra acharás de mais verdade, Lá quase junto donde o Sol ardendo Iguala o dia e noite em quantidade; Ali tua frota alegre recebendo Um Rei, com muitas obras de amizade, Gasalhado seguro te daria, E, para a índia, certa e sábia guia." 64 Isto Mercúrio disse, e o sono leva Ao Capitão, que com mui grande espanto Acorda, e vê ferida a escura treva De uma súbita luz e raio santo. E vendo claro quanto lhe releva Não se deter na terra iníqua tanto, Com novo espírito ao mestre seu mandava Que as velas desse ao vento que assopravam.

65 "Dai velas, disse, dai ao largo vento, Que o Céu nos favorece e Deus o manda; Que um mensageiro vi do claro assento Que só em favor de nossos passos anda." Alevanta-se nisto o movimento Dos marinheiros, de uma e de outra banda; Levam gritando as âncoras acima, Mostrando a ruda força, que se estima.

66 Neste tempo, que as âncoras levavam, Na sombra escura os Mouros escondidos Mansamente as amarras lhe cortavam, Por serem, dando à costa, destruídos; Mas com vista de linces vigiavam Os Portugueses, sempre apercebidos. Eles, como acordados os sentiram, Voando, e não remando, lhe fugiram.

67 Mas já as agudas proas apartando Iam as vias húmidas de argento; Assopra-lhe galerno o vento, e brando, Com suave e seguro movimento. Nos perigos passados vão falando, Que mal se perderão do pensamento Os casos grandes, donde em tanto aperto A vida em salvo escapa por acerto.

68 Tinha uma volta dado o Sol ardente E noutro começava, quando viram Ao longe deus navios, brandamente Co'os ventos navegando, que respiram: Porque haviam de ser da Maura gente, Para eles arribando, as velas viram: Um, de temor do mal que arreceava, Por se salvar a gente à costa dava.

69 Não é o outro que fica tão manhoso; Mas nas mãos vai cair do Lusitano, Sem o rigor de Marte furioso, E sem a fúria horrenda de Vulcano; Que como fosse débil e medroso Da pouca gente o fraco peito humano, Não teve resistência; e se a tivera, Mais dano resistindo recebera.

70 E como o Gama muito desejasse Piloto para a Índia que buscava, Cuidou que entre estes Mouros o tomasse; Mas não lhe sucedeu como cuidava, Que nenhum deles há que lhe ensinasse A que parte dos céus a Índia estava; Porém dizem-lhe todos, que tem perto Melinde, onde achará piloto certo.

71 Louvam do Rei os Mouros a bondade, Condição liberal, sincero peito, Magnificência grande e humanidade, Com partes de grandíssimo respeito. O Capitão o assela por verdade, Porque já lhe dissera, deste jeito, Cileneu em sonhos; e partia Para onde o sonho e o Mouro lhe dizia.

72 Era no tempo alegre, quando entrava No roubador de Europa a luz Febeia, Quando um e outro corno lhe aquentava, E Flora derramava o de Amalteia: A memória do dia renovava O pressuroso Sol, que o Céu rodeia, Em que Aquele, a quem tudo está sujeito, O selo pôs a quanto tinha feito;

73 Quando chegava a frota àquela parte, Onde o Reino Melinde já se via, De toldos adornada, e leda de arte Que bem mostra estimar o santo dia. Treme a bandeira, voa o estandarte, A cor purpúrea ao longe aparecia; Soam os atambores o pandeiros, E assim entravam ledos e guerreiros.

74 Enche-se toda a praia Melindana Da gente que vem ver a leda armada, Gente mais verdadeira, e mais humana, Que toda a doutra terra atrás deixada. Surge diante a frota Lusitana, Pega no fundo a âncora pesada; Mandam fora um dos Mouros que tomaram, Por quem sua vinda ao Rei manifestaram.

75 O Rei, que já sabia da nobreza Que tanto os Portugueses engrandece, Tomarem o seu porto tanto preza, Quanto a gente fortíssima merece: E com verdadeiro ânimo e pureza, Que os peitos generosos enobrece, Lhe manda rogar muito que saíssem, Para que de seus reinos se servissem.

76 São oferecimentos verdadeiros, E palavras sinceras, não dobradas, As que o Rei manda aos nobres cavaleiros, Que tanto mar e terras tem passadas. Manda-lhe mais lanígeros carneiros, E galinhas domésticas cevadas, Com as frutas, que então na terra havia; E a vontade à dádiva excedia.

77 Recebe o Capitão alegremente O mensageiro ledo e seu recado; E logo manda ao Rei outro presente, Que de longe trazia aparelhado: Escarlata purpúrea, cor ardente, O ramoso coral, fino e prezado, Que debaixo das águas mole cresce, E como é fora delas se endurece.

78 Manda mais um, na prática elegante, Que co'o Rei nobre as pazes concertasse, E que de não sair naquele instante De suas naus em terra o desculpasse. Partido assim o embaixador prestante, Como na terra ao Rei se apresentasse, Com estilo que Palas lhe ensinava, Estas palavras tais falando orava:

79 "Sublime Rei, a quem do Olimpo puro Foi da suma Justiça concedido Refrear o soberbo povo duro, Não menos dele amado, que temido: Como porto mui forte e mui seguro, De todo o Oriente conhecido, Te vimos a buscar, para que achemos Em ti o remédio certo que queremos. 80 "Não somos roubadores, que passando Pelas fracas cidades descuidadas, A ferro e a fogo as gentes vão matando, Por roubar-lhe as fazendas cobiçadas; Mas da soberba Europa navegando, Imos buscando as terras apartadas Da Índia grande e rica, por mandado De um Rei que temos, alto e sublimado. 81 "Que geração tão dura há hi de gente, Que bárbaro costume e usança feia, Que não vedem os portos tão somente, Mas inda o hospício da deserta areia? Que má tenção, que peito em nós se sente, Que de tão pouca gente se arreceia? Que com laços armados, tão fingidos, Nos ordenassem ver-nos destruídos?

82 "Mas tu, e quem mui certo confiamos Achar-se mais verdade, ó Rei benigno, E aquela certa ajuda em ti esperamos, Que teve o perdido Ítaco em Alcino, A teu porto seguro navegamos, Conduzidos do intérprete divino; Que, pois a ti nos manda, está mui claro, Que és de peito sincero, humano e raro. 83 "E não cuides, ó Rei, que não saísse O nosso Capitão esclarecido A ver-te, ou a servir-te, porque visse Ou suspeitasse em ti peito fingido: Mas saberás que o fez, porque cumprisse O regimento, em tudo obedecido, De seu Rei, que lhe manda que não saia, Deixando a frota, em nenhum porto ou praia. 84 "E porque é, de vassalos o exercício, Que os membros tem regidos da cabeça, Não quererás, pois tens de Rei o ofício, Que ninguém a seu Rei desobedeça; Mas as mercês e o grande benefício, Que ora acha em ti, promete que conheça Em tudo aquilo que ele e os seus puderem, Enquanto os rios para o mar correrem." 85 Assim dizia; e todos juntamente, Uns com outros em prática falando, Louvavam muito o estâmago da gente, Que tantos céus e mares vai passando. E o Rei ilustre, o peito obediente Dos Portugueses na alma imaginando, Tinha por valor grande e mui subido O do Rei que é tão longe obedecido.

86 E com risonha vista e ledo aspeito, Responde ao embaixador, que tanto estima: "Toda a suspeita má tirai do peito, Nenhum frio temor em vós se imprima; Que vosso preço e obras são de jeito Para vos ter o mundo em muita estima; E quem vos fez molesto tratamento, Não pode ter subido pensamento. 87 "De não sair em terra toda a gente, Por observar a usada preminência, Ainda que me pese estranhamente, Em muito tenho a muita obediência; Mas, se lho o regimento não consente, Nem eu consentirei que a excelência De peitos tão leais em si desfaça, Só porque a meu desejo satisfaça. 88 "Porém, como a luz crástina chegada Ao mundo for, em minhas almadias Eu irei visitar a forte armada, Que ver tanto desejo, há tantos dias; E se vier do mar desbaratada, Do furioso vento e longas vias, Aqui terá, de limpos pensamentos, Piloto, munições e mantimentos." 89 Isto disse; e nas águas se escondia O filho de Latona; e o mensageiro Coa embaixada alegre se partia Para a frota, no seu batel ligeiro. Enchem-se os peitos todos de alegria. Por terem o remédio verdadeiro Para acharem a terra que buscavam; E assim ledos a noite festejavam.

90 Não faltam ali os raios de artifício, Os trêmulos cometas imitando; Fazem os bombardeiros seu ofício, O céu, a terra e as ondas atroando. Mostra-se dos Ciclopas o exercício Nas bombas que de fogo estão queimando; Outros com vozes, com que o céu feriam, Instrumentos altíssonos tangiam.

91 Respondem-lhe da terra juntamente, Co'o raio volteando, com zunido; Anda em giros no ar a roda ardente, Estoura o pó sulfúreo escondido. A grita se alevanta ao céu, da gente; O mar se via em fogos acendido, E não menos a terra; e assim festeja Um ao outro, a maneira de peleja.

92 Mas já o Céu inquieto revolvendo, As gentes incitava a seu trabalho, E já a mãe de Menon a luz trazendo, Ao sono longo punha certo atalho; Iam-se as sombras lentas desfazendo, Sobre as flores da terra em frio orvalho, Quando o Rei Melindano se embarcava A ver a frota, que no mar estava.

93 Viam-se em derredor ferver as praias Da gente, que a ver só concorre leda; Luzem da fina púrpura as cabaias, Lustram os panos da tecida seda; Em lugar das guerreiras azagaias E do arco, que os cornos arremeda Da Lua, trazem ramos de palmeira, Dos que vencem, coroa verdadeira.

94 Um batel grande e largo, que toldado Vinha de sedas de diversas cores, Traz o Rei de Melinde, acompanhado De nobres e seu Reino e de senhores: Vem de ricos vestidos adornado, Segundo seus costumes e primores; Na cabeça uma fota guarnecida De ouro, e de seda e de algodão tecida.

95 Cabaia de Damasco rico e dino, Da Tíria cor, entre eles estimada, Um colar ao pescoço, de ouro fino, Onde a matéria da obra é superada, C'um resplendor reluze adamantino; Na cinta, a rica bem lavrada; Nas alparcas dos pés, em fim de tudo, Cobrem ouro e aljôfar ao veludo.

96 Com um redondo emparo alto de seda, Numa alta e dourada hástia enxerido, Um ministro à solar quentura veda. Que não ofenda e queime o Rei subido. Música traz na proa, estranha e leda, De áspero som, horríssono ao ouvido, De trombetas arcadas em redondo, Que, sem concerto, fazem rudo estrondo.

97 Não menos guarnecido o Lusitano Nos seus batéis, da frota se partia A receber no mar o Melindano, Com lustrosa e lograda companhia. Vestido o Gama vem ao modo Hispano, Mas Francesa era a roupa que vestia, De cetim da Adriática Veneza Carmesi, cor que a gente tanto preza:

98 De botões douro as mangas vêm tomadas, Onde o Sol reluzindo a vista cega; As calças soldadescas recamadas Do metal, que Fortuna a tantos nega, E com pontas do mesmo delicadas Os golpes do gibão ajunta e achega; Ao Itálico modo a áurea espada; Pluma na gorra, um pouco declinada.

99 Nos de sua companhia se mostrava Da tinta, que dá o múrice excelente, A vária cor, que os olhos alegrava, E a maneira do trajo diferente. Tal o formoso esmalte se notava Dos vestidos, olhados juntamente, Qual aparece o arco rutilante Da bela Ninfa, filha de Taumante.

100 Sonorosas trombetas incitavam Os ânimos alegres, ressoando; Dos Mouros os batéis, o mar coalhavam, Os toldos pelas águas arrojando; As bombardas horríssonas bramavam, Com as nuvens de fumo o Sol tomando; Amiúdam-se os brados acendidos, Tapam com as mãos os Mouros os ouvidos.

101 Já no batel entrou do Capitão O Rei, que nos seus braços o levava; Ele coa cortesia, que a razão (Por ser Rei) requeria, lhe falava. C'umas mostras de espanto e admiração, O Mouro o gesto e o modo lhe notava, Como quem em mui grande estima tinha Gente que de tão longe à índia vinha.

102 E com grandes palavras lhe oferece Tudo o que de seus Reinos lhe cumprisse, E que, se mantimento lhe falece, Como se próprio fosse, lho pedisse. Diz-lhe mais, que por fama bem conhece A gente Lusitana, sem que a visse; Que já ouviu dizer, que noutra terra Com gente de sua Lei tivesse guerra.

103 E como por toda África se soa, Lhe diz, os grandes feitos que fizeram, Quando nela ganharam a coroa Do Reino, onde as Hespéridas viveram; E com muitas palavras apregoa O menos que os de Luso mereceram, E o mais que pela fama o Rei sabia. Mas desta sorte o Gama respondia:

104 "Ó tu, que só tiveste piedade, Rei benigno, da gente Lusitana, Que com tanta miséria e adversidade Dos mares experimenta a fúria insana; Aquela alta e divina Eternidade, Que o Céu revolve e rege a gente humana, Pois que de ti tais obras recebemos, Te pague o que nós outros não podemos. 105 "Tu só, de todos quantos queima Apolo, Nos recebes em paz, cio mar profundo; Em ti dos ventos hórridos de Eolo Refúgio achamos bom, fido e jocundo. Enquanto apascentar o largo Pólo As Estrelas, e o Sol der lume ao Mundo, Onde quer que eu viver, com fama e glória Viverão teus louvores em memória." 106 Isto dizendo, os barcos vão remando Para a frota, que o Mouro ver deseja; Vão as naus uma e uma rodeando, Porque de todas tudo note e veja. Mas para o céu Vulcano fuzilando, A frota coas bombardas o festeja, E as trombetas canoras lhe tangiam; Co'os anafis os Mouros respondiam.

107 Mas depois de ser tudo já notado Do generoso Mouro, que pasmava Ouvindo o instrumento inusitado, Que tamanho terror em si mostrava, Mandava estar quieto e ancorado N'água o batel ligeiro que os levava, Por falar de vagar co'o forte Gama, Nas cousas de que tem notícia e faina.

108 Em práticas o Mouro diferentes Se deleitava, perguntando agora Pelas guerras famosas e excelentes Co'o povo havidas, que a Mafoma adora; Agora lhe pergunta pelas gentes De toda a Hespéria última, onde mora; Agora pelos povos seus vizinhos, Agora pelos úmidos caminhos.

109 "Mas antes, valeroso Capitão, Nos conta, lhe dizia, diligente, Da terra tua o clima, e região Do mundo onde morais distintamente; E assim de vossa antiga geração, E o princípio do Reino tão potente, Co'os sucessos das guerras do começo, Que, sem sabê-las, sei que são de preço. 110 "E assim também nos conta dos rodeios Longos, em que te traz o mar irado, Vendo os costumes bárbaros alheios. Que a nossa África ruda tem criado. Conta: que agora vêm co'os áureos freios Os cavalos que o carro marchetado Do novo Sol, da fria Aurora trazem, O vento dorme, o mar e as ondas jazem.

111 "E não menos co'o tempo se parece O desejo de ouvir-te o que contares; Que quem há, que por fama não conhece As obras Portuguesas singulares? Não tanto desviado resplandece De nós o claro Sol, para julgares Que os Melindanos têm tão rudo peito, Que não estimem muito um grande feito.

112 "Cometeram soberbos os Gigantes, Com guerra vã, o Olimpo claro e puro; Tentou Pirítoo e Teseu, de ignorantes, O Reino de Plutão horrendo e escuro. Se houve feitos no mundo tão possantes, Não menos é trabalho ilustre e duro, Quanto foi cometer Inferno o Céu, Que outrem cometa a fúria de Nereu.

113 "Queimou o sagrado templo de Diana, Do subtil Tesifónio fabricado, Heróstrato, por ser da gente humana Conhecido no mundo e nomeado: Se também com tais obras nos engana O desejo de um nome avantajado, Mais razão há que queira eterna glória Quem faz obras tão dignas de memória."

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Canto Segundo de Os Lusíadas, de Luís de Camões (2 de 10) Song|Second|of|The|Lusiads|by|Luís|of|Camões|of Zweiter Gesang der Lusiaden von Luís de Camões (2 von 10) Segundo Canto de Las Lusiadas, de Luís de Camões (2 de 10) Deuxième chant des Lusiades, par Luís de Camões (2 sur 10) Canto Segundo de Os Lusíadas, di Luís de Camões (2 di 10) ルイス・デ・カモンイス「ルシアーダのカント・セグンド」（10曲中2曲） Second Canto of The Lusiads, by Luís de Camões (2 of 10)

Canto Segundo Song|Second Second Canto

1 Já neste tempo o lúcido Planeta, Que as horas vai do dia distinguindo, Chegava à desejada e lenta meta, A luz celeste às gentes encobrindo, E da casa marítima secreta Lhe estava o Deus Noturno a porta abrindo, Quando as infidas gentes se chegaram As naus, que pouco havia que ancoraram. ||||||||||||unterscheidet||||||Ziel||||||verbarg||||||||||||||||||||||||||ancoraram Already|in this|time|the|lucid|Planet|Who|the|hours|goes|of|day|distinguishing|Arrived|at the|desired|and|slow|goal|The|light|celestial|to the|people|covering|And|of the|house|maritime|secret|To him|was|the|God|Night|the|door|opening|When|the|treacherous|people|themselves|arrived|The|ships|that|little|had|to|anchor 1 At this time the bright Planet, Which distinguishes the hours of the day, Was reaching the desired and slow goal, The celestial light covering the people, And from the secret maritime house The God of Night was opening the door for him, When the treacherous people approached The ships, which had just anchored.

2 Dentre eles um, que traz encomendado O mortífero engano, assim dizia: "Capitão valeroso, que cortado Tens de Neptuno o reino e salsa via, O Rei que manda esta ilha, alvoroçado Da vinda tua, tem tanta alegria, Que não deseja mais que agasalhar-te, Ver-te, e do necessário reformar-te. ||||||||||||||||||||||||||||Insel|aufgeregt||Kommen||||||||||agasalhar|||||||| Among|them|one|who|brings|ordered|The|deadly|deception|thus|said|Captain|valiant|who|cut|You have|of|Neptune|the|kingdom|and|salt|road|The|King|who|rules|this|island|agitated|Of|coming|your|has|so much|joy|That|not|desires|more|than|||||and|of|necessary|| 2 Among them one, who brings the deadly deceit, thus said: "Valiant captain, who has cut off Neptune's realm and sails the way, The King who rules this island, excited By your coming, has so much joy, That he desires nothing more than to shelter you, To see you, and to provide for your needs. 3 "E porque está em extremo desejoso De te ver, como cousa nomeada, Te roga que, de nada receoso, Entres a barra, tu com toda armada: E porque do caminho trabalhoso Trarás a gente débil e cansada, Diz que na terra podes reformá-la, Que a natureza obriga a desejá-la. |||||||||||||||||ängstlich|||||||||||||bringen||||||||||||||||||| And|because|is|in|extreme|eager|of|you|to see|as|thing|named|He|begs|that|of|anything|fearful|You enter|the|bar|you|with|all|armed|And|because|of|road|laborious|You will bring|the|people|weak|and|tired|He says|that|in the|land|you can|||That|the|nature|forces|to|| 3 "And because he is extremely eager To see you, as something named, He begs you, without any fear, To enter the bar, you with all your armed crew: And because from the laborious path You will bring the weak and tired people, He says that in the land you can reform it, For nature compels one to desire it. 4 "E se buscando vás mercadoria Que produze o aurífero Levante, Canela, cravo, ardente especiaria, Ou droga salutífera e prestante; Ou se queres luzente pedraria, O rubi fino, o rígido diamante, Daqui levarás tudo tão sobejo Com que faças o fim a teu desejo." ||||||||Goldgrube||||||||||nützlich|||||Edelsteine|||||||||||sobejo|||||||| And|if|you seek|you go|merchandise|That|produces|the|gold-producing|Levant|Cinnamon|Clove|burning|spice|Or|drug|health-giving|and|beneficial|Or|if|you want|shining|gemstones|The|ruby|fine|the|hard|diamond|From here|you will take|everything|so|abundant|With|which|you make|the|end|to|your|desire 4 "And if you go seeking merchandise That produces the golden Levante, Cinnamon, clove, burning spice, Or a healthful and useful drug; Or if you want shining gemstones, The fine ruby, the hard diamond, From here you will take everything so abundant That you can fulfill your desire." 5 Ao mensageiro o Capitão responde As palavras do Rei agradecendo: E diz que, porque o Sol no mar se esconde, Não entra para dentro, obedecendo; Porém que, como a luz mostrar por onde Vá sem perigo a frota, não temendo, Cumprirá sem receio seu mandado, Que a mais por tal senhor está obrigado. To|messenger|the|Captain|replies|The|words|of|King|thanking|And|says|that|because|the|Sun|in the|sea|itself|hides|Not|enters|inside|inside|obeying|However|that|as|the|light|to show|through|where|it goes|without|danger|the|fleet|not|fearing|He will fulfill|without|fear|his|command|That|the|more|by|such|lord|is|obliged 5 The Captain replies to the messenger Thanking for the words of the King: And says that, because the Sun hides in the sea, He does not enter inside, obeying; However, as the light shows the way Where the fleet can go without danger, He will fulfill his command without fear, For he is more obliged to such a lord.

6 Pergunta-lhe depois, se estão na terra Cristãos, como o piloto lhe dizia; O mensageiro astuto, que não erra, Lhe diz, que a mais da gente em Cristo cria. |to him||||||||The||to him|||||that||||||more|more|of|people|in|Christ|believes 6 He then asks him if there are Christians in the land, as the pilot told him; The cunning messenger, who does not err, Tells him that most of the people believe in Christ. Desta sorte do peito lhe desterra Toda a suspeita e cauta fantasia; Por onde o Capitão seguramente Se fia da infiel e falsa gente. |||||verbannt|||||cauta||||||||||untreu||| Of this|luck|of|heart|to him|banishes|All|the|suspicion|and|cautious|fantasy|By|where|the|Captain|surely|He|trusts|of the|unfaithful|and|false|people Thus, from his heart he banishes All suspicion and cautious fantasy; Whereby the Captain surely Trusts the unfaithful and false people.

7 E de alguns que trazia condenados Por culpas e por feitos vergonhosos, Por que pudessem ser aventurados Em casos desta sorte duvidosos, Manda dous mais sagazes, ensaiados, Por que notem dos Mouros enganosos A cidade e poder, e por que vejam Os Cristãos, que só tanto ver desejam. |||||||||||||||||||||||||sagaz|erfahren||||||verräterisch||||||||||||||| And|of|some|who|brought|condemned|For|faults|and|for|deeds|shameful|For|that|could|be|ventured|In|cases|this|sort|doubtful|Send|two|more|cunning|experienced|For|that|they notice|of the|Moors|deceitful|The|city|and|power||for|that|they see|The|Christians|that|only|so much|seeing|desire And of some that he brought condemned For crimes and shameful deeds, So that they could be ventured In such dubious cases, He sends two more shrewd, experienced men, So that they may note the deceitful Moors, The city and power, and so that they may see The Christians, who only desire to see so much.

8 E por estes ao Rei presentes manda, Por que a boa vontade, que mostrava, Tenha firme, segura, limpa e branda; A qual bem ao contrário em tudo estava. And|by|these|to the|King|gifts|sends|For|that|the|good|will|that|he showed|may have|firm|secure|clear|and|gentle|The|which|well|to the|contrary|in|everything|was And through these he sends to the King, So that the goodwill he showed May be firm, secure, clean, and gentle; Which was, on the contrary, in everything. Já a companhia pérfida e nefanda Das naus se despedia e o mar cortava: Foram com gestos ledos e fingidos, Os dous da frota em terra recebidos. |||||verflucht||||||||||||||||zwei||||| Already|the|company|treacherous|and|wicked|Of the|ships|themselves|was saying goodbye|and|the|sea|was cutting|They went|with|gestures|joyful|and|feigned|The|two|of the|fleet|on|land|received Already the treacherous and wicked company Of the ships was bidding farewell and cutting through the sea: They were received on land with cheerful and feigned gestures, The two from the fleet.

9 E depois que ao Rei apresentaram, Co’o recado, os presentes que traziam, A cidade correram, e notaram Muito menos daquilo que queriam; Que os Mouros cautelosos se guardaras De lhes mostrarem tudo o que pediam: Que onde reina a malícia, está o receio, Que a faz imaginar no peito alheio. |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||alheio And|after|that|to the|King|they presented|with the|message|the|gifts|that|they brought|The|city|they ran|and|they noticed|Much|less|of what|that|they wanted|That|the|Moors|cautious|themselves||from|them|showing|everything|the|that|they asked|That|where|reigns|the|malice|is|the|fear|That|it|makes|imagine|in the|heart|others' 9 And after they presented to the King, with the message, the gifts they brought, They ran through the city, and noticed Much less than what they wanted; That the cautious Moors kept themselves From showing them everything they asked for: For where malice reigns, there is fear, That makes one imagine in another's heart.

10 Mas aquele que sempre a mocidade Tem no rosto perpétua, e foi nascido De duas mães, que urdia a falsidade Por ver o navegante destruído, Estava numa casa da cidade, Com rosto humano e hábito fingido, Mostrando-se Cristão, e fabricava Um altar sumptuoso, que adorava. |||||Jugend||||ewig||||||||webte||||||Seefahrer||||||||||||||||||||sumptuös|| But|he|who|always|the|youth|Has|in the|face|perpetual|and|was|born|Of|two|mothers|who|wove|the|falsehood|By|seeing|the|navigator|destroyed|Was|in a|house|of the|city|With|face|human|and|habit|feigned|||Christian|and|fabricated|An|altar|sumptuous|that|worshipped 10 But he who always has youth Perpetual on his face, and was born Of two mothers, who wove deceit By seeing the navigator destroyed, Was in a house in the city, With a human face and a feigned habit, Showing himself as a Christian, and fabricating A sumptuous altar, which he worshipped.

11 Ali tinha em retrato afigurada Do alto e Santo Espírito a pintura: A cândida pombinha debuxada Sobre a única Fénix, Virgem pura; A companhia santa está pintada Dos doze, tão torvados na figura, Como os que, só das línguas que caíram, De fogo, várias línguas referiram. |||Porträt|abgebildet||||||||||Taube|gezeichnet|||||||||||||||verwirrt|||||||||||||||referierten There|had|in|portrait|depicted|Of|high|and|Holy|Spirit|the|painting|The|pure|dove|drawn|On|the|only|Phoenix|Virgin|pure|The|company|holy|is|painted|Of the|twelve|so|troubled|in|figure|As|the|who|only|of the|tongues|that|fell|Of|fire|various|tongues|referred 11 There he had depicted the image Of the high and Holy Spirit: The white dove sketched Over the unique Phoenix, Pure Virgin; The holy company is painted Of the twelve, so distorted in figure, Like those who, only from the tongues that fell, Of fire, referred various tongues.

12 Aqui os dous companheiros conduzidos Onde com este engano Baco estava, Põem em terra os giolhos, e os sentidos Naquele Deus que o mundo governava. |||||||||||||||Jochen||||||||| Here|the|two|companions|led|Where|with|this|deception|Bacchus|was|They put|in|earth|the|knees|and|the|senses|In that|God|who|the|world|governed 12 Here the two companions led Where with this deception Bacchus was, They put their knees on the ground, and their senses To that God who governed the world. Os cheiros excelentes, produzidos Na Pancaia odorífera, queimava O Tioneu, e assim por derradeiro O falso Deus adora o verdadeiro. |Gerüche||||Pancaia|||||||||||||| The|smells|excellent|produced|In|Pancaia|fragrant|burned|The|Tioneu|and|thus|by|last|The|false|God|worships|the|true The excellent scents, produced in the fragrant Pancaia, burned the Tioneu, and thus in the end the false god worships the true one.

13 Aqui foram de noite agasalhados, Com todo o bom e honesto tratamento, Os dous Cristãos, não vendo que enganados Os tinha o falso e santo fingimento. Here|were|in|night|sheltered|With|all|the|good|and|honest|treatment|The|two|Christians|not|seeing|that|deceived|They|had|the|false|and|holy|pretense Here, at night, the two Christians were sheltered, with all good and honest treatment, not seeing that they were deceived by the false and holy pretense. Mas assim como os raios espalhados Do Sol foram no mundo, e num momento Apareceu no rúbido horizonte Da moça de Titão a roxa fronte, |||||||||||||||||||||Titão||| But|just|like|the|rays|scattered|Of|Sun|were|in the|world|and|in a|moment|Appeared|in the|rough|horizon|Of|girl|of|Titão|the|purple|forehead But just as the rays scattered from the Sun were in the world, and in a moment appeared on the rugged horizon the purple forehead of Titão's maiden,

14 Tornam da terra os Mouros co’o recado Do Rei, para que entrassem, e consigo Os dous que o Capitão tinha mandado, A quem se o Rei mostrou sincero amigo; E sendo o Português certificado De não haver receio de perigo, E que gente de Cristo em terra havia, Dentro no salso rio entrar queria. They return|from|land|the|Moors|with the|message|of the|King|so that|they|could enter|and|with him|The|two|that|him|Captain|had|sent|To|whom|himself|the|King|showed|sincere|friend|And|being|the|Portuguese|assured|of|no|having|fear|of|danger|And|that|people|of|Christ|in|land|there was|Inside|in the|muddy|river|to enter|wanted The Moors return from the land with the message from the King, so that they could enter, along with the two that the Captain had sent, to whom the King showed himself a sincere friend; and being assured by the Portuguese that there was no fear of danger, and that there were people of Christ in the land, he wanted to enter the salty river.

15 Dizem-lhe os que mandou, que em terra Sacras aras e sacerdote sinto; viram Que ali se agasalharam o dormiram, Enquanto a luz cobriu o escuro manto; E que no Rei e gentes não sentiram Senão contentamento e gosto tanto, Que não podia certo haver suspeita Numa mostra tão clara e tão perfeita. |||||||||||||||||untergebracht|||||||||Mantel|||||||||||||||||||||||||| ||the|that|he sent|that|in|land|Sacred|altars|and|priest|I feel|they saw|That|there|themselves|sheltered|the|slept|While|the|light|covered|the|dark|mantle|And|that|in the|King|and|people|not|felt|Except|contentment|and|pleasure|so much|That|not|could|certainly|be|suspicion|In a|display|so|clear|and|so|perfect 15 They tell him those he sent, that in sacred lands I feel altars and priests; they saw that there they sheltered and slept, while the light covered the dark mantle; and that in the King and people they felt nothing but contentment and such pleasure, that there could certainly be no suspicion in such a clear and perfect display.

16 Com isto o nobre Gama recebia Alegremente os Mouros que subiam; Que levemente um ânimo se fia De mostras, que tão certas pareciam. ||||||||||hochkamen|||||||||||| With|this|the|noble|Gama|received|Joyfully|the|Moors|who|ascended|How|lightly|a|spirit|itself|trusts|Of|signs|that|so|certain|seemed 16 With this, the noble Gama happily received the Moors who were coming; for lightly a spirit relies on displays that seemed so certain. A nau da gente pérfida se enchia, Deixando a bordo os barcos que traziam. ||||||füllte sich||||||| The|ship|of|people|treacherous|reflexive pronoun|filled|Leaving|the|board|the|boats|that|brought The ship of the treacherous people was filling, leaving the boats they brought on board. Alegres vinham todos, porque crêm Que a presa desejada certa têm. Happy|came|all|because|believe|that|the|prey|desired|certain|have All came joyfully, because they believe they certainly have the desired prey.

17 Na terra, cautamente aparelhavam Armas e munições que, como vissem Que no rio os navios ancoravam, Neles ousadamente se subissem; E, nesta treição determinavam Que os de Luso de todo destruíssem, E que incautos pagassem deste jeito O mal que em Moçambique tinham feito. In|land|cautiously|equipped|Arms|and|ammunition|that|as|they saw|That|in|river|the|ships|anchored|In them|boldly|themselves|boarded|And|in this|treachery|determined|That|the|of|Portuguese|from|entirely|destroyed|And|that|unsuspecting|would pay|of this|way|The|harm|that|in|Mozambique|had|done 17 On land, they cautiously prepared Weapons and ammunition that, as they saw That the ships were anchoring in the river, They boldly boarded them; And, in this betrayal, they determined That the Portuguese would be completely destroyed, And that the unsuspecting would pay in this way For the harm they had done in Mozambique.

18 As âncoras tenaces vão levando Com a náutica grita costumada; Da proa as velas sós ao vento dando Inclinam para a barra abalizada. ||tenaz||||||Gekreische|||Bug|||||||||||abgestimmt The|anchors|tenacious|go|carrying|With|the|nautical|shout|accustomed|From|bow|the|sails|only|to the|wind|giving|They incline|towards|the|bar|marked 18 The tenacious anchors are being taken With the usual nautical shout; The sails at the bow alone to the wind giving Lean towards the marked bar. Mas a linda Ericina, que guardando Andava sempre a gente assinalada, Vendo a cilada grande, e tão secreta, Voa do Céu ao mar como uma seta. ||||||||||markiert||||||||||||||| But|the|beautiful|Ericina|who|guarding|walked|always|the|people|marked|Seeing|the|trap|big|and|so|secret|Flies|from|Heaven|to|sea|like|an|arrow But the beautiful Ericina, who was always guarding The marked people, Seeing the great and secret trap, Flies from Heaven to the sea like an arrow.

19 Convoca as alvas filhas de Nereu, Com toda a mais cerúlea companhia, Que, porque no salgado mar nasceu, Das águas o poder lhe obedecia. ||weißen||||||||himmlischen|||||||||||||gehorchte Call|the|white|daughters|of|Nereus|With|all|the|most|azure|company|Who|because|in the|salty|sea|was born|Of the|waters|the|power|to him|obeyed 19 She summons the white daughters of Nereus, With all the other cerulean company, That, because she was born in the salty sea, The power of the waters obeyed her. E propondo-lhe a causa a que desceu, Com todas juntamente se partia, Para estorvar que a armada não chegasse Aonde para sempre se acabasse. ||||||||||||||verhindern|||||||||| And|||the|cause|to|that|descended|With|all|together|themselves|departed|To|hinder|that|the|fleet|not|arrived|Where|for|forever|it|ended And proposing to him the cause to which he descended, With all together they departed, To hinder the fleet from reaching Where it would end forever.

20 Já na água erguendo vão, com grande pressa, Com as argênteas caudas branca escuma; Cloto eo’o peito corta e atravessa Com mais furor o mar do que costuma. |||erhoben|||||||||||||||||||||||| Already|in|water|raising|sail|with|great|haste|With|the|silvery|tails|white|foam|Cloto|and his|chest|cuts|and|crosses|With|more|fury|the|sea|than|what|usual Already in the water they rise, with great haste, With the silvery tails white foam; Cloto cuts and crosses the chest With more fury the sea than usual. Salta Nise, Nerine se arremessa Por cima da água crespa, em força suma. ||||wirft sich|||||||| Jumps|Nise|Nerine|herself|throws|Over|above|of the|water|curly|in|strength|total Nise jumps, Nerine throws herself Over the curly water, with utmost strength. Abrem caminho as ondas encurvadas De temor das Nereidas apressadas. Open|path|the|waves|curved|Of|fear|of the|Nereids|hurried The curved waves open a path Out of fear of the hurried Nereids.

21 Nos ombros de um Tritão, com gesto aceso, Vai a linda Dione furiosa; Não sente quem a leva o doce peso, De soberbo com carga tão formosa. ||||||||||||||||||||||||Lasten|| On|shoulders|of|a|Triton|with|gesture|fiery|Goes|the|beautiful|Dione|furious|Not|feels|who|her|carries|the|sweet|weight|Of|proud|with|burden|so|beautiful 21 On the shoulders of a Triton, with a fiery gesture, Goes the beautiful Dione in fury; She does not feel who carries her sweet weight, Proud with such a beautiful burden. Já chegam perto donde o vento teso Enche as velas da frota belicosa; Repartem-se e rodeiam nesse instante As naus ligeiras, que iam por diante. |||||||||||||teilen|||umgeben||||||||| Already|arrive|near|where|the|wind|strong|Fills|the|sails|of the|fleet|warlike|||and|surround|in that|moment|The|ships|light|that|were going|by|ahead They are already close to where the strong wind Fills the sails of the warlike fleet; They divide and surround at that moment The swift ships that were ahead.

22 Põe-se a Deusa com outras em direito Da proa capitaina, e ali fechando O caminho da barra, estão de jeito, Que em vão assopra o vento, a vela inchando. ||with|goddess|with|others|in|right|of the|bow|captain|and|there|closing|The|path|of the|bar|are|in|position|That|in|vain|blows|the|wind|the|sail|swelling 22 The Goddess positions herself with others at the bow of the flagship, and there, blocking The way of the bar, they are arranged, So that the wind blows in vain, the sail swelling. Põem no madeiro duro o brando peito, Para detrás a forte nau forçando; Outras em derredor levando-a estavam, E da barra inimiga a desviavam. ||Madeiro|||brando|||||||||||||||||||ablenkten They place|on the|timber|hard|the|soft|hull|To|behind|the|strong|ship|forcing|Others|in|around||it|||||||were diverting They place the soft breast on the hard timber, Forcing the strong ship backwards; Others were surrounding and carrying it, And they were diverting it from the enemy bar.

23 Quais para a cova as próvidas formigas, Levando o peso grande acomodado, As forças exercitam, de inimigas Do inimigo inverno congelado; Ali são seus trabalhos e fadigas, Ali mostram vigor nunca esperado: Tais andavam as Ninfas estorvando A gente Portuguesa o fim nefando. Which|for|the|grave|the|foresighted|ants|Carrying|the|weight|great|accommodated|The|forces|exercise|of|enemies|Of|enemy|winter|frozen|There|are|their|labors|and|fatigues|There|show|vigor|never|expected|Such|were walking|the|Nymphs|hindering|The|people|Portuguese|the|end|nefarious 23 What for the grave the provident ants, Carrying the great weight accommodated, Exercise their strength, against the enemies Of the frozen enemy winter; There are their works and labors, There they show unexpected vigor: Thus the Nymphs were hindering The Portuguese people the nefarious end.

24 Torna para detrás a nau forçada, Apesar dos que leva, que gritando Mareiam velas; ferve a gente irada, O leme a um bordo e a outro atravessando; O mestre astuto em vão da popa brada, Vendo como diante ameaçando Os estava um marítimo penedo, Que de quebrar-lhe a nau lhe mete medo. Turns|back|behind|the|ship|forced|Despite|of those|who|carries|who|shouting|Soak|sails|boils|the|people|angry|The|rudder|to|one|side|and|to|the other|crossing|The|master|cunning|in|vain|from the|stern|shouts|Seeing|how|ahead|threatening|The|were|a|maritime|rock|That|of||to him||||puts|fear 24 The ship forced turns back, Despite those it carries, who are shouting The sails are drenched; the angry people boil, The helm crossing from one side to the other; The cunning master shouts in vain from the stern, Seeing how before him threatening Was a maritime rock, That frightens him with breaking the ship.

25 A celeuma medonha se alevanta No rudo marinheiro que trabalha; O grande estrondo a Maura gente espanta, Como se vissem hórrida batalha; Não sabem a razão de fúria tanta, Não sabem nesta pressa quem lhe valha; Cuidam que seus enganos são sabidos, E que hão de ser por isso aqui punidos. The|uproar|dreadful|itself|arises|In the|rough|sailor|who|works|The|great|roar|the|Maura|people|frightens|As if|they|saw|horrid|battle|Not|know|the|reason|of|fury|so much|Not|know|in this|hurry|who|them|helps|They think|that|their|mistakes|are|known|And|that|will|to|be|for|that|here|punished 25 The dreadful uproar rises In the rough sailor who works; The great noise frightens the Moorish people, As if they saw a horrid battle; They do not know the reason for such fury, They do not know in this haste who will help them; They think that their deceptions are known, And that they will be punished here for that.

26 Ei-los subitamente se lançavam A seus batéis velozes que traziam; Outros em cima o mar alevantavam, Saltando n’água, a nado se acolhiam; De um bordo e doutro súbito saltavam, Que o medo os compelia do que viam; Que antes querem ao mar aventurar-se Que nas mãos inimigas entregar-se. ||suddenly|themselves|threw|To|their|boats|swift|that|carried|Others|in|on top|the|sea|lifted|Jumping|in the water|to|swimming|themselves|welcomed|From|one|side|and|another|suddenly|jumped|That|the|fear|them|compelled|from|what|they saw|That|rather|they want|to the|sea|||than|in the|hands|enemy|| 26 Suddenly they threw themselves To their swift boats that they brought; Others above raised the sea, Jumping in the water, they took refuge swimming; From one side and the other they suddenly jumped, For fear compelled them of what they saw; For they prefer to venture into the sea Than to surrender into enemy hands.

27 Assim como em selvática alagoa As rãs, no tempo antigo Lícia gente, Se sentem por ventura vir pessoa, Estando fora da água incautamente, Daqui e dali saltando, o charco soa, Por fugir do perigo que se sente, E acolhendo-se ao couto que conhecem, Sós as cabeças na água lhe aparecem: As|as|in|wild|lagoon|The|frogs|in|time|ancient|Lícia|people|If|feel|by|chance|coming|person|Being|out|of|water|carelessly|From here|and|there|jumping|the|swamp|sounds|To|escape|from|danger|that|they|feel|And|||in the|safe place|that|they know|Only|the|heads|in the|water|to it|appear 27 Just as in the wild Alagoa The frogs, in ancient times Lícia people, Seem to feel a person coming, Being out of the water carelessly, Jumping here and there, the marsh sounds, To escape the danger they feel, And taking refuge in the shelter they know, Only their heads appear in the water:

28 Assim fogem os Mouros; e o piloto, Que ao perigo grande as naus guiara, Crendo que seu engano estava noto, Também foge, saltando na água amara. Thus|flee|the|Moors|and|the|pilot|Who|to the|danger|great|the|ships|had guided|Believing|that|his|deception|was|known|Also|flees|jumping|in the|water|bitter 28 Thus the Moors flee; and the pilot, Who had guided the ships to great danger, Believing that his mistake was known, Also flees, jumping into the bitter water. Mas, por não darem no penedo imoto, Onde percam a vida doce e cara, A âncora solta logo a capitaina, Qualquer das outras junto dela amaina. But|for|not|to give|in the|rock|imoto (a type of boat)|Where|they lose|the|life|sweet|and|dear|The|anchor|releases|soon|the|captain|Any|of the|others|together|with her|lowers But, not wanting to hit the unmoving rock, Where they would lose their sweet and dear life, The anchor quickly releases the flagship, Any of the others lowers their sails next to it.

29 Vendo o Gama, atentado, a estranheza Dos Mouros, não cuidada, e juntamente O piloto fugir-lhe com presteza, Entende o que ordenava a bruta gente; E vendo, sem contraste e sem braveza Dos ventos, ou das águas sem corrente, Que a nau passar avante não podia, Havendo-o por milagre, assim dizia: Seeing|the|Gama|attacked|the|strangeness|Of the|Moors|not|cared for|and|together|The|pilot|||with|swiftness|Understands|what|that|ordered|the|brutish|people|And|seeing|without|contrast|and|without|anger|Of the|winds|or|of the|waters|without|current|That|the|ship|pass|forward|not|could|||by|miracle|thus|said 29 Seeing Gama, astonished, the strangeness Of the Moors, unheeded, and at the same time The pilot fleeing from him with haste, He understands what the brutish people were ordering; And seeing, without contrast and without fury Of the winds, or the waters without current, That the ship could not move forward, Having it as a miracle, he said this:

30 "Ó caso grande, estranho e não cuidado, Ó milagre claríssimo e evidente, Ó descoberto engano inopinado, Ó pérfida, inimiga e falsa gente! Oh|case|great|strange|and|not|cared for|Oh|miracle|very clear|and|evident|Oh|uncovered||unexpected|Oh|treacherous|enemy|and|false|people 30 "O great, strange, and neglected case, O most clear and evident miracle, O unexpected discovered deception, O treacherous, enemy, and false people! Quem poderá do mal aparelhado Livrar-se sem perigo sabiamente, Se lá de cima a Guarda soberana Não acudir à fraca força humana? Who|will be able|from|evil|well-equipped||If|||||there|from|above|the|Guard|sovereign|Not|to assist|to the|weak|strength|human Who can wisely free themselves from the well-prepared evil, If from above the sovereign Guard Does not assist the weak human strength?

31 "Bem nos mostra a divina Providência Destes portos a pouca segurança; Bem claro temos visto na aparência, Que era enganada a nossa confiança. Well|to us|shows|the|divine|Providence|of these|ports|the|little|security|Well|clear|we have|seen|in the|appearance|That|was|deceived|our||trust 31 "Divine Providence clearly shows us The little security of these ports; We have clearly seen in appearance, That our trust was deceived. Mas pois saber humano nem prudência Enganos tão fingidos não alcança, Ó tu, Guarda Divina, tem cuidado De quem sem ti não pode ser guardado! But|for|knowledge|human|nor|prudence|Errors|so|feigned|not|reaches|O|you|Guard|Divine|have|care|Of|who|without|you|not|can|be|guarded But since human knowledge or prudence Cannot reach such feigned deceptions, O you, Divine Guard, take care Of those who cannot be guarded without you!

32 "E se te move tanto a piedade Desta mísera gente peregrina, Que só por tua altíssima bondade, Da gente a salvas pérfida e malina, Nalgum porto seguro de verdade Conduzir-nos já agora determina, Ou nos amostra a terra que buscamos, Pois só por teu serviço navegamos." And|if|you|moves|so much|the|pity|of this|miserable|people|wandering|That|only|by|your|highest|goodness|Of the|people|the|saved|treacherous|and|evil|In some|port|safe|of|truth||us||||||shows|the|land|that|we seek|For|only|by|your|service|we sail 32 "And if your compassion moves you so much For this miserable wandering people, That only by your highest goodness, You determine to lead us, the treacherous and wicked people, To some truly safe harbor now, Or show us the land we seek, For we sail only for your service." 33 Ouviu-lhe essas palavras piedosas A formosa Dione, e comovida, Dentre as Ninfas se vai, que saudosas Ficaram desta súbita partida. ||those|words|pious|The|beautiful|Dione|and|moved|Among|the|Nymphs|herself|goes|who|longing|remained|of this|sudden|departure 33 These pious words were heard by beautiful Dione, and moved, She leaves among the Nymphs, who sadly Remained from this sudden departure. Já penetra as Estrelas luminosas, Já na terceira Esfera recebida Avante passa, e lá no sexto Céu, Para onde estava o Padre, se moveu. Already|penetrates|the|Stars|luminous|Already|in|third|Sphere|received|Forward|passes|and|there|in|sixth|Heaven|To|where|was|the|Father|himself|moved She already penetrates the luminous Stars, Already received in the third Sphere, She moves forward, and there in the sixth Heaven, Where the Father was, she moved.

34 E como ia afrontada do caminho, Tão formosa no gesto se mostrava, Que as Estrelas e o Céu e o Ar vizinho, E tudo quanto a via namorava. And|as|was|confronted|from|path|So|beautiful|in|gesture|herself|showed|That|the|Stars|and|the|Sky|and|the|Air|neighboring|And|everything|as much as|her|saw|admired 34 And as she was affronted by the path, So beautiful in gesture she appeared, That the Stars and the Sky and the neighboring Air, And everything that saw her fell in love. Dos olhos, onde faz seu filho o ninho, Uns espíritos vivos inspirava, Com que os Pólos gelados acendia, E tornava do Fogo a esfera fria. From|eyes|where|makes|his|child|the|nest|Some|spirits|living|inspired|With|which|the|Poles|frozen|ignited|And|turned|of|Fire|the|sphere|cold From the eyes, where your son makes his nest, Some living spirits inspired, With which the frozen Poles were ignited, And turned the cold sphere of Fire.

35 E por mais namorar o soberano Padre, de quem foi sempre amada e eriça, Se lhe apresenta assim como ao Troiano, Na selva Idea, já se apresentara. And|for|more|to court|the|sovereign|Father|of|whom|was|always|loved|and|cherished|If|to him|presents|thus|as|to the|Trojan|In the|forest|Idea|already|himself|had presented And to further court the sovereign Father, of whom she was always loved and cherished, She presents herself just like the Trojan, In the Idea forest, she had already presented herself. Se a vira o caçador, que o vulto humano Perdeu, vendo Diana na água clara, Nunca os famintos galgos o mataram, Que primeiro desejos o acabaram. If|the|turns|the|hunter|who|the|figure|human|Lost|seeing|Diana|in the|water|clear|Never|the|hungry|hounds|him|killed|That|first|desires|him|finished If the hunter had seen her, who lost the human figure, Seeing Diana in the clear water, The hungry hounds never killed her, For first desires finished her.

36 Os crespos fios d’ouro se esparziam Pelo colo, que a neve escurecia; Andando, as lácteas tetas lhe tremiam, Com quem Amor brincava, e não se via; Da alva petrina flamas lhe saíam, Onde o Menino as almas acendia; Pelas lisas colunas lhe trepavam Desejos, que como hera se enrolavam. The|curly|strands|of gold|themselves|spread|By|neck|which|the|snow|darkened|Walking|the|milky|breasts|to her|trembled|With|whom|Love|played|and|not|herself|seen|From the|white|pearly|flames|to her|came out|Where|the|Child|the|souls|ignited|Through the||columns|to her|climbed|Desires|that|like|ivy|themselves|wrapped The curly golden threads spread Across the neck, which the snow darkened; As she walked, her milky breasts trembled, With whom Love played, and was not seen; From the white petrine flames came out, Where the Boy ignited the souls; Desires climbed her smooth columns, That wrapped around like ivy.

37 C’um delgado sendal as partes cobre, De quem vergonha é natural reparo, Porém nem tudo esconde, nem descobre, O véu, dos roxos lírios pouco avaro; Mas, para que o desejo acenda o dobre, Lhe põe diante aquele objeto raro. with|thin|sandal|the|parts|covers|Of|whom|shame|is|natural|repair|However|neither|everything|hides|nor|uncovers|The|veil|of the|purple|lilies|little|stingy|But|for|that|the|desire|ignites|the|double|To him|puts|before|that|object|rare 37 With a slender veil covering the parts, Of whom shame is a natural reproach, Yet it neither hides everything, nor reveals, The veil, of the purple lilies not very stingy; But, so that desire may ignite the double, It places before it that rare object. Já se sentem no Céu, por toda a parte, Ciúmes em Vulcano, amor em Marte. Already|reflexive pronoun|feel|in the|Heaven|everywhere|all|the|part|Jealousy|in|Vulcan|love|in|Mars Already in Heaven, everywhere, Jealousy in Vulcan, love in Mars.

38 E mostrando no angélico semblante Co’o riso uma tristeza misturada, Como dama que foi do incauto amante Em brincos amorosos mal tratada, Que se aqueixa e se ri num mesmo instante, E se torna entre alegre magoada, Desta arte a Deusa, a quem nenhuma iguala, Mais mimosa que triste ao Padre fala: And|showing|in the|angelic|countenance|With the|smile|a|sadness|mixed|Like|lady|who|was|of the|unwary|lover|In|playful|amorous|badly|treated|Who|herself|complains|and|herself|laughs|in a|same|moment|And|she|becomes|among|happy|hurt|This|art|the|Goddess|to|whom|no one|equals|More|charming|than|sad|to the|Priest|speaks 38 And showing in the angelic face With a smile a mixed sadness, Like a lady who was mistreated by the unsuspecting lover In love's playful earrings, Who complains and laughs at the same moment, And becomes between joyful and hurt, Thus the Goddess, whom none equals, More charming than sad speaks to the Father:

39 "Sempre eu cuidei, ó Padre poderoso, Que, para as cousas que eu do peito amasse, Te achasse brando, afábil e amoroso, Posto que a algum contrário lhe pesasse; Mas, pois que contra mim te vejo iroso, Sem que to merecesse, nem te errasse, Faça-se como Baco determina; Assentarei enfim que fui mofina. Always|I|cared|oh|Father|powerful|That|for|the|things|that|I|of|heart|loved|You|found|gentle|affable|and|loving|Although|that|to|some|adversary|to him|weighed|But|since|that|against|me|you|see|angry|Without|that|it|deserved|nor|you|erred|||as|Bacchus|determines|I will settle|finally|that|I was|foolish 39 "I always thought, oh powerful Father, That, for the things I loved from the heart, I would find you gentle, affable, and loving, Even if something contrary weighed upon it; But, since I see you angry against me, Without deserving it, nor erring, Let it be as Bacchus determines; I will finally agree that I was foolish. 40 "Este povo que é meu, por quem derramo As lágrimas que em vão caídas vejo, Que assaz de mal lhe quero, pois que o amo, Sendo tu tanto contra meu desejo! This|people|who|is|mine|for|whom|I shed|The|tears|that|in|vain|fallen|I see|That|enough|of|harm|to him|I want|since|that|him|I love|Being|you|so much|against|my|desire 40 "This people that is mine, for whom I shed The tears that I see falling in vain, That I wish harm to, for I love him, Since you are so much against my desire!" Por ele a ti rogando choro e bramo, E contra minha dita enfim pelejo. For|him|to|you|praying|I cry|and|I roar|And|against|my|fate|finally|I struggle For him I plead, I cry and I roar, And against my fate, I finally struggle. Ora pois, porque o amo é mal tratado, Quero-lhe querer mal, será guardado. well|then|why|the|I love|is|badly|treated|||to love|badly|will be|guarded Now then, because I love him, he is mistreated, I want to wish him harm, it will be kept.

41 "Mas moura enfim nas mãos das brutas gentes, Que pois eu fui..." E nisto, de mimosa, O rosto banha em lágrimas ardentes, Como co’o orvalho fica a fresca rosa. But|dark-skinned woman|finally|in the|hands|of the|brutal|people|For|since|I|was|And|in this|of|delicate|The|face|bathes|in|tears|burning|As|with the|dew|remains|the|fresh|rose 41 "But I die at last in the hands of brutish people, For I was..." And in this, from my beloved, She bathes her face in burning tears, Like the fresh rose remains with dew. Calada um pouco, como se entre os dentes Se lhe impedira a fala piedosa, Torna a segui-la; e indo por diante, Lhe atalha o poderoso e grão Tonante. Silent|a|little|as if|if|||||to him|would impede|the|speech|pious|He returns|to|||and|going|by|ahead|to him|cuts off|the|powerful|and|great|Thunderer Quiet for a moment, as if a pious speech were held back between her teeth, she continues to follow her; and going ahead, the powerful and great Thunder cuts her off.

42 E destas brandas mostras comovido, Que moveram de um tigre o peito duro, Co’o vulto alegre, qual do Céu subido, Torna sereno e claro o ar escuro, As lágrimas lhe alimpa, e acendido Na face a beija, e abraça o colo puro; De modo que dali, se só se achara, Outro novo Cupido se gerara. And|of these|gentle|signs|moved|That|moved|from|a|tiger|the||||||||||||and||the||||||||||||||||lap|pure|In|such a way|that|from there|himself|only|if|found|Another|new|Cupid|himself|would be born 42 And from these gentle signs moved, that stirred the hard heart of a tiger, with a joyful face, as if descended from Heaven, he makes the dark air serene and clear, wipes away the tears, and kisses her glowing face, embracing her pure neck; in such a way that from there, if he were alone, another new Cupid would be born.

43 E co’o seu apertando o rosto amado, Que os soluços e lágrimas aumenta, Como menino da ama castigado, Que quem no afaga o choro lhe acrescente, Por lhe pôr em sossego o peito irado, Muitos casos futuros lhe apresenta. And|with the|his|squeezing|the|face|beloved|That|the|sobs|and|tears|increases|Like|child|of the|nurse|punished|That|whoever|in|comforts|the|crying|to him|adds|For|to him|putting|in|peace|the|heart|angry|Many|situations|future|to him|presents 43 And with his beloved face pressed against his, which increases the sobs and tears, like a child punished by his nurse, who, when comforted, adds to his crying, to calm the angry heart, he presents many future cases to her. Dos fados as entranhas revolvendo, Desta maneira enfim lhe está dizendo: Of|fados|the|entrails|stirring|This|manner|finally|to him|is|saying Revolving the entrails of fate, in this manner he is finally saying to her:

44 "Formosa filha minha, não temais Perigo algum nos vossos Lusitanos, Nem que ninguém comigo possa mais, Que esses chorosos olhos soberanos; Que eu vos prometo, filha, que vejais Esquecerem-se Gregos e Romanos, Pelos ilustres feitos que esta gente Há-de fazer nas partes do Oriente. Beautiful|daughter|my|not|fear|Danger|any|in your|your|Lusitanians|Nor|that|nobody|with me|can|more|Than|those|tearful|eyes|sovereign|That|I|you|promise|daughter|that|you will see|||Greeks|and|Romans|By the|illustrious|deeds|that|this|people|||do|in the|parts|of|East 44 "Formosa my daughter, do not fear Any danger from your Lusitanians, Nor that no one can be with me anymore, Than these tearful sovereign eyes; For I promise you, daughter, that you will see The Greeks and Romans forget, For the illustrious deeds that this people Will do in the parts of the East. 45 "Que se o facundo Ulisses escapou De ser na Ogígia ilha eterno escravo, E se Antenor os seios penetrou Ilíricos e a fonte de Timavo; E se o piedoso Eneias navegou De Cila e de Caríbdis o mar bravo, Os vossos, mores cousas atentando, Novos mundos ao mundo irão mostrando. What|if|the|brave|Ulysses|escaped|from|being|on the|Ogygia|island|eternal|slave|And|if|Antenor|the|breasts|penetrated|Illyrian|and|the|source|of|Timavus|And|if|the|pious|Aeneas|sailed|from|Scylla|and|of|Charybdis|the|sea|fierce|Your|your|customs|things|attending to|New|worlds|to the|world|will|showing 45 "For if the eloquent Ulysses escaped From being an eternal slave on the island of Ogygia, And if Antenor penetrated the Illyrian shores And the source of Timavo; And if the pious Aeneas sailed Through the fierce sea of Scylla and Charybdis, Your people, by attempting new things, Will show new worlds to the world. 46 "Fortalezas, cidades e altos muros, Por eles vereis, filha, edificados; Os Turcos belacíssimos e duros, Deles sempre vereis desbaratados. Fortresses|cities|and|high|walls|By|them||daughter|built|The|Turks|very beautiful|and|harsh|From them|always||defeated 46 "Fortresses, cities, and high walls, You will see, daughter, built by them; The very beautiful and harsh Turks, You will always see defeated by them. Os Reis da índia, livres e seguros, Vereis ao Rei potente sojugados; E por eles, de tudo enfim senhores, Serão dadas na terra leis melhores. The|Kings|of|India|free|and|safe|You will see|to the|King|powerful|subdued|And|by|them|of|everything|finally|lords|They will be|given|in the|land|laws|better The kings of India, free and secure, You will see the powerful king subdued; And through them, ultimately lords of everything, Better laws will be given on the land.

47 "Vereis este, que agora pressuroso Por tantos medos o Indo vai buscando, Tremer dele Neptuno, de medroso Sem vento suas águas encrespando. You will see|this|who|now|hurried|By|so many|fears|the|Indian|goes|seeking|To tremble|of him|Neptune|of|fearful|Without|wind|his|waters|foaming 47 "You will see this one, who now hurriedly is seeking through so many fears, Neptune trembles at him, fearful, churning his waters without wind. Ó caso nunca visto e milagroso, Que trema e ferva o mar, em calma estando! O|case|never|seen|and|miraculous|That|trembles|and|boils|the|sea|in|calm|being Oh, an unprecedented and miraculous case, that the sea trembles and boils while being calm! Ó gente forte e de altos pensamentos, Que também dela hão medo os Elementos! Oh|people|strong|and|of|high|thoughts|Who|also|her|have|fear|the|Elements Oh, strong people with lofty thoughts, that even the Elements fear her!

48 "Vereis a terra, que a água lhe tolhia, Que inda há-de ser um porto mui decente, Em que vão descansar da longa via As naus que navegarem do Ocidente. You will see|the|land|that|the|water|to||Which|still|||be|a|port|very|decent|In|which|they will|rest|from the|long|journey|The|ships|that|sail|from|the West 48 "You will see the land, which the water hindered, that will still be a very decent port, where the ships that sail from the West will rest from the long journey. Toda esta costa enfim, que agora urdia O mortífero engano, obediente Lhe pagará tributos, conhecendo Não poder resistir ao Luso horrendo. All|this|coast|finally|that|now|wove|The|deadly|deception|obedient|to him|will pay|tributes|knowing|Not|able|to resist|to the|Portuguese|horrendous All this coast finally, which now weaves The deadly deception, obedient Will pay tributes, knowing It cannot resist the horrendous Luso.

49 "E vereis o mar Roxo, tão famoso, Tornar-se-lhe amarelo, de enfiado; Vereis de Ormuz o Reino poderoso Duas vezes tomado e sojugado. And|you will see|the|sea|Red|so|famous||||yellow|of|pierced|You will see|of|Ormuz|the|Kingdom|powerful|Two|times|taken|and|subdued 49 "And you will see the Red Sea, so famous, Turn yellow for him, lined up; You will see the powerful Kingdom of Ormuz Twice taken and subdued. Ali vereis o Mouro furioso De suas mesmas setas traspassado: Que quem vai contra os vossos, claro veja Que, se resiste, contra si peleja. There|you will see|the|Moor|furious|By|his|same|arrows|pierced|For|whoever|goes|against|the|yours|clearly|sees|That|if|resists|against|himself|fights There you will see the furious Moor Pierced by his own arrows: For whoever goes against yours, clearly sees That if he resists, he fights against himself.

50 "Vereis a inexpugnábil Dio forte, Que dous cercos terá, dos vossos sendo. You will see|the|impregnable|God|strong|Who|two|sieges|will have|of|your|being 50 "You will see the impregnable strong Dio, Which will have two sieges, being yours. Ali se mostrará seu preço e sorte, Feitos de armas grandíssimos fazendo. There|reflexive pronoun|will show|your|price|and|luck|Made|of|weapons|very great|doing There will be shown its price and fate, Made of very great weapons. Invejoso vereis o grão Mavorte Do peito Lusitano fero e horrendo: Do Mouro ali verão que a voz extrema Do falso Mahamede ao Céu blasfema. Envious|you will see|the|great|Mavorte|Of|heart|Lusitanian|fierce|and|horrendous|Of|Moor|there|they will see|that|the|voice|extreme|Of|false|Mahomet|to the|Heaven|blasphemes You will see the envious great Mavorte From the fierce and horrendous Lusitanian heart: There the Moor will see that the extreme voice Of the false Mahomet blasphemes to Heaven.

51 "Goa vereis aos Mouros ser tomada, A qual virá depois a ser senhora De todo o Oriente, e sublimada Co’os triunfos da gente vencedora. Goa|you will see|by the|Moors|to be|taken|The|which|will come|later|to|be|mistress|Of|all|the|East|and|exalted|with the|triumphs|of the|people|victorious 51 "You will see Goa taken by the Moors, Which will later become the mistress Of all the East, and exalted With the triumphs of the victorious people. Ali soberba, altiva, e exalçada, Ao Gentio, que os ídolos adora, Duro freio porá, e a toda a terra Que cuidar de fazer aos vossos guerra. There|proud|haughty|and|exalted|To|Gentiles|who|the|idols|worships|Harsh|bridle|will put|and|to|all|the|land|That|care|to|make|to the|your|war There, proud, lofty, and exalted, A harsh restraint will be placed on the Gentile, who adores idols, And on all the land That cares to wage war against you.

52 "Vereis a fortaleza sustentar-se De Cananor, com pouca força e gente; E vereis Calecu desbaratar-se, Cidade populosa e tão potente: E vereis em Cochim assinalar-se Tanto um peito soberbo e insolente, Que cítara jamais cantou vitória, Que assim mereça eterno nome e glória. You will see|the|fortress|||of|Cananor|with|little|strength|and|people|And|you will see|Calicut|||City|populous|and|so|powerful|And|you will see|in|Cochin|||So much|a|heart|proud|and|insolent|That|lyre|ever|sang|victory|That|thus|deserves|eternal|name|and|glory 52 "You will see the fortress sustain itself From Cananor, with little strength and people; And you will see Calicut crumble, A populous and so powerful city: And you will see in Cochin a proud and insolent heart marked, That no lyre ever sang victory, That thus deserves eternal name and glory. 53 "Nunca com Marte instructo e furioso, Se viu ferver Leucate, quando Augusto Nas civis Actias guerras animoso, O Capitão venceu Romano injusto, Que dos povos da Aurora, e do famoso Nilo, e do Bactra Cítico e robusto A vitória trazia, e presa rica, Preso na Egípcia linda e nego pudica. Never|with|Mars|instructed|and|furious|If|saw|boil|Leucas|when|Augustus|In the|civil|Actian|wars|spirited|The|Captain|defeated|Roman|unjust|Who|of the|peoples|of the|Dawn|and|of the|famous|Nile|and|of the|Bactria|Scythian|and|strong|The|victory|brought|and|spoils|rich|Captured|in the|Egyptian|beautiful|and|black|modest 53 "Never with Mars instructed and furious, Did Leucas boil, when Augustus In the civil Actian wars bravely, The Captain defeated the unjust Roman, Who brought victory from the peoples of the Dawn, and from the famous Nile, and from the robust Bactra Cittico, And rich spoils, Captured in beautiful Egypt and modest black. 54 Como vereis o mar fervendo aceso Colos incêndios dos vossos pelejando, Levando o Idololatra, e o Mouro preso, De nações diferentes triunfando. As|you will see|the|sea|boiling|lit|Colossus|fires|of|your|fighting|Taking|the|Idolater|and|the|Moor|captured|Of|nations|different|triumphing 54 As you will see the sea boiling with flames, The fires of your battling, Carrying the Idolater, and the Moor captured, Triumphing over different nations. E sujeita a rica Áurea Quersoneso, Até ao longínquo China navegando, E as ilhas mais remotas do Oriente, Ser-lhe-á todo o Oceano obediente. And|subject|to|rich|Golden|Chersonesus|Up|to the|distant|China|sailing|And|the|islands|most|remote|of|East||||all|the|Ocean|obedient And subject to the rich Golden Chersonese, Even to distant China sailing, And the most remote islands of the East, The entire Ocean will be obedient to it.

55 "De modo, filha minha, que de jeito Amostrarão esforço mais que humano, Que nunca se verá tão forte peito, Do Gangético mar ao Gaditano, Nem das Boreais ondas ao Estreito, Que mostrou o agravado Lusitano, Posto que em todo o mundo, de afrontados, Ressuscitassem todos os passados." In|manner|daughter|my|that|of|way|will show|effort|more|than|human|That|never|reflexive pronoun|will be seen|so|strong|heart|From|Ganges|sea|to|Gaditan|Nor|from the|Northern|waves|to|Strait|That|showed|the|aggrieved|Lusitanian|Although|that|in|all|the|world|of|affronted|resurrected|all|the|past ones 55 "Thus, my daughter, they will show more than human effort, That such a strong heart will never be seen, From the Gangetic sea to the Gaditan, Nor from the Boreal waves to the Strait, That the aggravated Lusitanian showed, Even if all the affronted from the past were resurrected in the whole world." 56 Como isto disse, manda o consagrado Filho de Maia à Terra, por que tenha Um pacífico porto o sossegado, Para onde sem receio a frota venha; F, para que em Mombaça, aventurado, O forte Capitão se não detenha, Lhe manda mais, que em sonhos lhe mostra A terra, onde quieto repousasse. As|this|said|sends|the|consecrated|Son|of|Maia|to|Earth|for|that|he may have|a|peaceful|port|the|quiet|For|where|without|fear|the|fleet|may come|F|for|that|in|Mombasa|adventurous|The|strong|Captain|himself|not|may be detained|To him|sends|more|that|in|dreams|to him|shows|The|land|where|quietly|may rest 56 As he said this, the consecrated Son of Maia sends to Earth, so that it may have A peaceful port for the calm, Where the fleet may come without fear; F, so that in Mombasa, adventurous, The strong Captain does not delay, He also commands that in dreams he shows him The land where he would rest quietly.

57 Já pelo ar o Cileneu voava; Com as asas nos pés à Terra desce; Sua vara fatal na mão levava, Com que os olhos cansados adormece: Com esta, as tristes almas revocava Do Inferno, e o vento lhe obedece. Already|through the|air|the|Cilenus|flew|With|the|wings|on his|feet|to the|Earth|descends|His|rod|fatal|in the|hand|carried|With|which|the|eyes|tired|puts to sleep|With|this|the|sad|souls|summoned back|From the|Hell|and|the|wind|to him|obeys 57 Already through the air the Cilenean was flying; With wings on his feet he descends to Earth; He carried his fatal staff in hand, With which he puts the tired eyes to sleep: With this, he called back the sad souls From Hell, and the wind obeys him. Na cabeça o galero costumado. In|head|the|hat|accustomed On his head the usual galero. E desta arte a Melinde foi chegado. And|of this|art|the|Melinde|was|arrived And by this art, Melinde was reached.

58 Consigo a Fama leva, por que diga Do Lusitano o preço grande e raro, Que o nome ilustre a um certo amor obriga E faz, a quem o tem, amado e caro. with me|the|Fame|carries|for|that|says|Of|Lusitanian|the|price|great|and|rare|That|the|name|illustrious|to|a|certain|love|obliges|And|makes|to|whom|the|has|beloved|and|dear 58 With it, Fame carries, for it speaks of the great and rare price of the Lusitanian, That the illustrious name obliges a certain love And makes, to whom it has, beloved and dear. Desta arte vai fazendo a gente amiga, Co rumor famosíssimo, e perclaro. From this|art|will|making|the|people|friendly|With|rumor|very famous|and|of course By this art, it is making friends, With the most famous and clear rumor. Já Melinde em desejos arde todo De ver da gente forte o gesto e modo. Already|hesitation|in|desires|burns|all|Of|seeing|of the|people|strong||gesture|and|manner Already Melinde burns entirely with desires To see the strong gesture and manner of the people.

59 Dali para Mombaça logo parte, Aonde as naus estavam temerosas, Para que à gente mande que se aparte Da barra amiga e terras suspeitosas: Porque mui pouco val esforço e arte, Contra infernais vontades enganosas; Pouco val coração, astúcia e siso, Se lá dos Céus não vem celeste aviso. From there|to|Mombasa|soon|departs|Where|the|ships|were|fearful|In order|to|to the|people|command|that|themselves|separate|From the|bar|friendly|and|lands|suspicious|Because|very|little|worth|effort|and|skill|Against|infernal|wills|deceitful|Little|worth|heart|cunning|and|wisdom|If|there|from the|Heavens|not|comes|heavenly|warning 59 From there to Mombasa soon departs, Where the ships were fearful, For they command us to part From the friendly bar and suspicious lands: Because little value has effort and art, Against infernal deceptive wills; Little value has heart, cunning, and wisdom, If from Heaven does not come celestial warning.

60 No feio caminho a noite tinha anelado, E, as estrelas no Céu, coa luz alhea, Tinham o largo Mundo alumiado; E só co’o sono a gente se recreia. In|ugly|road|the|night|had|ringed|And|the|stars|in|Heaven|with the|light|foreign|Had|the|wide|World|illuminated|And|only|with sleep|sleep|the|people|themselves|rejoices 60 On the ugly path the night had darkened, And, the stars in the sky, with foreign light, Had illuminated the wide World; And only with sleep do people find joy. O Capitão ilustre, já cansado De vigiar a noite que arreceia, Breve repouso então aos olhos dava, A outra gente a quartos vigiava; The|Captain|illustrious|already|tired|of|watching|the|night|that|frightens|Brief|rest|then||||the|other|people|the|rooms|watched The illustrious Captain, already tired Of watching the night that terrifies, Briefly gave rest to his eyes, While the other people kept watch in quarters;

61 Quando Mercúrio em sonhos lhe aparece, Dizendo: "Fuge, fuge, Lusitano, Da cilada que o Rei malvado tece, Por te trazer ao fim, e extremo dano; Fuge, que o vento, e o Céu te favorece; Sereno o tempo tens e o Oceano, E outro Rei mais amigo, noutra parte, Onde podes seguro agasalhar-te. When|Mercury|in|dreams|to you|appears|Saying|Flee|flee|Lusitanian|From|trap|that|the|King|wicked|weaves|To|you|bring|to the|end|and|extreme|harm|Flee|that|the|wind|and|the|Heaven|you|favors|Serene|the|time|you have|and|the|Ocean|And|another|King|more|friendly|in another|part|Where|you can|safely|| 61 When Mercury appears to him in dreams, Saying: "Flee, flee, Lusitanian, From the trap that the wicked King weaves, To bring you to an end, and extreme harm; Flee, for the wind and Heaven favor you; The weather is calm and the Ocean is yours, And another friendlier King, elsewhere, Where you can safely take shelter. 62 "Não tens aqui senão aparelhado O hospício que o cru Diomedes dava, Fazendo ser manjar acostumado De cavalos a gente que hospedava; As aras de Busíris infamado, Onde os hóspedes tristes imolava, Terás certas aqui, se muito esperas. Not|have|here|except|equipped|The|inn|that|the|cruel|Diomedes|gave|Making|be|food|accustomed|To|horses|to|people|that|hosted|The|altars|of|Busiris|infamous|Where|the|guests|sad|sacrificed|You will have|certain|here|if|much|wait 62 "You have here nothing but the equipped The asylum that the cruel Diomedes provided, Making it a customary feast For the horses of the people he hosted; The altars of infamous Busiris, Where he sacrificed the sad guests, You will have certain ones here, if you wait long enough. Fuge das gentes pérfidas e feras. Flee|from|wicked people|treacherous|and|beasts Flee from the treacherous and wild people.

63 "Vai-te ao longo da costa discorrendo, E outra terra acharás de mais verdade, Lá quase junto donde o Sol ardendo Iguala o dia e noite em quantidade; Ali tua frota alegre recebendo Um Rei, com muitas obras de amizade, Gasalhado seguro te daria, E, para a índia, certa e sábia guia." |to you||||||And|||||||||||||||||and||||||||||||||||||||||||||wise|guide 63 "Go along the coast wandering, And you will find another land of more truth, There almost where the burning Sun Equalizes day and night in quantity; There your joyful fleet receiving A King, with many works of friendship, Safely outfitted would give you, And, for India, a certain and wise guide." 64 Isto Mercúrio disse, e o sono leva Ao Capitão, que com mui grande espanto Acorda, e vê ferida a escura treva De uma súbita luz e raio santo. This|Mercury|said|and|the|sleep|takes|To the|Captain|who|with|very|great|astonishment|Awakens|and|sees|wounded|the|dark|darkness|Of|a|sudden|light|and|ray|holy 64 This Mercury said, and sleep takes The Captain, who with great astonishment Awakens, and sees the dark night wounded By a sudden light and holy ray. E vendo claro quanto lhe releva Não se deter na terra iníqua tanto, Com novo espírito ao mestre seu mandava Que as velas desse ao vento que assopravam. And|seeing|clearly|how much|to him|matters|Not|himself|to stop|in the|land|wicked|so much|With|new|spirit|to the|master|his|commanded|That|the|sails|gave|to the|wind|that|blew And seeing clearly how much it matters not to linger in the wicked land so much, with a new spirit he commanded his master to set the sails to the winds that were blowing.

65 "Dai velas, disse, dai ao largo vento, Que o Céu nos favorece e Deus o manda; Que um mensageiro vi do claro assento Que só em favor de nossos passos anda." Give|sails|said|give|to|broad|wind|That|the|Heaven|us|favors|and|God|it|sends|That|a|messenger|I saw|from|clear|seat|That|only|in|favor|of|our|steps|walks "Set the sails, he said, set them to the open wind, for Heaven favors us and God commands it; for I saw a messenger from the clear seat who walks only in favor of our steps." Alevanta-se nisto o movimento Dos marinheiros, de uma e de outra banda; Levam gritando as âncoras acima, Mostrando a ruda força, que se estima. |themselves|||||||||||||||||||||||values At this moment, the movement of the sailors rises, from one side and the other; they are shouting as they raise the anchors, showing the rough strength that is valued.

66 Neste tempo, que as âncoras levavam, Na sombra escura os Mouros escondidos Mansamente as amarras lhe cortavam, Por serem, dando à costa, destruídos; Mas com vista de linces vigiavam Os Portugueses, sempre apercebidos. At this|time|when|the|anchors|were lifted|In the|shadow|dark|the|Moors|hidden|Gently|the|ropes|to him|cut|For|being|giving|to the|coast|destroyed|But|with|sight|of|lynxes|watched|The|Portuguese|always|alert At this time, as they were raising the anchors, in the dark shadow the hidden Moors were quietly cutting the ropes, for they were to be destroyed when reaching the shore; but with the sight of lynxes, the Portuguese were always alert. Eles, como acordados os sentiram, Voando, e não remando, lhe fugiram. They|as|agreed|them|felt|Flying|and|not|rowing|to him|fled They, as agreed, felt them, flying, and not rowing, they escaped.

67 Mas já as agudas proas apartando Iam as vias húmidas de argento; Assopra-lhe galerno o vento, e brando, Com suave e seguro movimento. But|already|the|sharp|bows|separating|They were|the|paths|humid|of|silver|||gale|the|wind|and|gentle|With|smooth|and|safe|movement 67 But already the sharp prows were parting the humid paths of silver; The wind blows a gale to it, and gently, With a smooth and secure movement. Nos perigos passados vão falando, Que mal se perderão do pensamento Os casos grandes, donde em tanto aperto A vida em salvo escapa por acerto. In the|past dangers|past|they go|speaking|That|evil|themselves|will lose|from|thought|The|cases|great|from where|in|so much|distress|The|life|in|safe|escapes|by|chance In the past dangers, they go talking, That they will hardly lose from thought The great cases, from where in such a tight spot Life escapes safely by chance.

68 Tinha uma volta dado o Sol ardente E noutro começava, quando viram Ao longe deus navios, brandamente Co’os ventos navegando, que respiram: Porque haviam de ser da Maura gente, Para eles arribando, as velas viram: Um, de temor do mal que arreceava, Por se salvar a gente à costa dava. Had|a|turn|given|the|Sun|burning|And|another|began|when|they saw|To the|distance|god|ships|gently|With the|winds|sailing|that|breathe|Because|they had|to|be|of the|Moorish|people|For|them|arriving|the|sails|they saw|One|of|fear|of the|evil|that|terrified|For|themselves|to save|the|people|to the|coast|gave 68 The burning Sun had made one turn And was beginning another, when they saw From afar god ships, gently With the winds sailing, that breathe: Because they had to be of the Moorish people, For them arriving, they saw the sails: One, out of fear of the evil that terrified, To save the people was heading to the coast.

69 Não é o outro que fica tão manhoso; Mas nas mãos vai cair do Lusitano, Sem o rigor de Marte furioso, E sem a fúria horrenda de Vulcano; Que como fosse débil e medroso Da pouca gente o fraco peito humano, Não teve resistência; e se a tivera, Mais dano resistindo recebera. No|is|the|other|who|becomes|so|cunning|But|in the|hands|will|fall|of|Lusitanian|Without|the|rigor|of|Mars|furious|And|without|the|fury|horrendous|of|Vulcan|That|as|were||and|fearful|Of the|little|people|the|weak|heart|human|Not|had|resistance|and|if|it|had|More|harm|resisting|would have received 69 It is not the other that becomes so cunning; But it will fall into the hands of the Lusitanian, Without the rigor of furious Mars, And without the horrendous fury of Vulcan; For as if it were weak and fearful Of the few people, the weak human heart, It had no resistance; and if it had, It would have received more harm resisting.

70 E como o Gama muito desejasse Piloto para a Índia que buscava, Cuidou que entre estes Mouros o tomasse; Mas não lhe sucedeu como cuidava, Que nenhum deles há que lhe ensinasse A que parte dos céus a Índia estava; Porém dizem-lhe todos, que tem perto Melinde, onde achará piloto certo. And|as|the|Gama|very|desired|Pilot|for|the|India|that|he was seeking|He thought|that|among|these|Moors|him|would take|But|not|to him|succeeded|as|he thought|That|none|of them|there is|that|to him|would teach|To|which|part|of|heavens|the|India|was|However|||all|that|has|near|Melinde|where||pilot|certain 70 And as Gama greatly desired A pilot for the India he was seeking, He thought he would take one among these Moors; But it did not happen as he thought, For none of them could teach him To which part of the heavens India was; But they all tell him that there is near Melinde, where he will find a certain pilot.

71 Louvam do Rei os Mouros a bondade, Condição liberal, sincero peito, Magnificência grande e humanidade, Com partes de grandíssimo respeito. They praise|of|King|the|Moors|the|kindness|Condition|liberal|sincere|heart|Magnificence|great|and|humanity|With|parts|of|very great|respect 71 The Moors praise the King's goodness, Liberal condition, sincere heart, Great magnificence and humanity, With parts of great respect. O Capitão o assela por verdade, Porque já lhe dissera, deste jeito, Cileneu em sonhos; e partia Para onde o sonho e o Mouro lhe dizia. The|Captain|him|assails|by|truth|Because|already|to him|had told|this|way|Cileneus|in|dreams|and|departed|To|where|the|dream|and|the|Moor|to him|said The Captain confirms it as truth, Because Cileneu had already told him, in this way, In dreams; and he departed To where the dream and the Moor told him.

72 Era no tempo alegre, quando entrava No roubador de Europa a luz Febeia, Quando um e outro corno lhe aquentava, E Flora derramava o de Amalteia: A memória do dia renovava O pressuroso Sol, que o Céu rodeia, Em que Aquele, a quem tudo está sujeito, O selo pôs a quanto tinha feito; It was|in the|time|joyful|when|entered|In the|thief|of|Europe|the|light|Phoebe|When|one|and|another|horn|to him|warmed|And|Flora|poured|the|of|Amalthea|The|memory|of|day|renewed|The|hasty|Sun|that|the|Sky|surrounds|In|which|He|the|whom|everything|is|subject|The|seal|put|to|as much as|had|done 72 It was in the joyful time, when the light of Phoebe entered the thief of Europe, When one and the other horn warmed him, And Flora poured out the one of Amalthea: The memory of the day renewed The hasty Sun, which surrounds the Sky, In which He, to whom everything is subject, Placed the seal on all that He had done;

73 Quando chegava a frota àquela parte, Onde o Reino Melinde já se via, De toldos adornada, e leda de arte Que bem mostra estimar o santo dia. When|arrived|the|fleet|to that|part|Where|the|Kingdom|Melinde|already|itself|seen|Of|awnings|adorned|and|joyful|of|art|Which|well|shows||the|holy|day 73 When the fleet arrived at that part, Where the Kingdom of Melinde was already seen, Adorned with awnings, and joyful with art That well shows the esteem for the holy day. Treme a bandeira, voa o estandarte, A cor purpúrea ao longe aparecia; Soam os atambores o pandeiros, E assim entravam ledos e guerreiros. Waves|the|flag|flies|the|standard|The|color|purple|in the|distance|appeared|Sound|the|drums|the|tambourines|And|thus|entered|joyful|and|warriors The flag trembles, the standard flies, The purplish color appeared from afar; The drums sound the tambourines, And thus the joyful warriors entered.

74 Enche-se toda a praia Melindana Da gente que vem ver a leda armada, Gente mais verdadeira, e mais humana, Que toda a doutra terra atrás deixada. ||all|the|beach|Melindana|Of|people|who|comes|to see|the|joyful|armed|People|more|true|and|more|humane|than|all|the|other|land|behind|left 74 The entire Melindana beach is filled With people who come to see the joyful armed ones, People more genuine, and more human, Than all the others left behind. Surge diante a frota Lusitana, Pega no fundo a âncora pesada; Mandam fora um dos Mouros que tomaram, Por quem sua vinda ao Rei manifestaram. Arises|before|the|fleet|Lusitanian|Takes|in the|bottom|the|anchor|heavy|They order|away|one|of the|Moors|who|captured|For|whom|their|coming|to the|King|manifested It appears before the Lusitanian fleet, Grabs the heavy anchor from the bottom; They send away one of the Moors they captured, For whom their arrival to the King was revealed.

75 O Rei, que já sabia da nobreza Que tanto os Portugueses engrandece, Tomarem o seu porto tanto preza, Quanto a gente fortíssima merece: E com verdadeiro ânimo e pureza, Que os peitos generosos enobrece, Lhe manda rogar muito que saíssem, Para que de seus reinos se servissem. The|King|who|already|knew|of the|nobility|That|so much|the|Portuguese|ennobles|Taking|the|their|port|so much|values|As much as|the|people|very strong|deserves|And|with|true|spirit|and|purity|That|the|hearts|generous|ennobles|To him|orders|to pray|very much|to|leave|So that|that|from|their|kingdoms|themselves|served The King, who already knew of the nobility That so much elevates the Portuguese, Values their taking of the port as much As the very strong people deserve: And with true spirit and purity, That ennobles generous hearts, He sends to request them to leave, So that they could serve his kingdoms.

76 São oferecimentos verdadeiros, E palavras sinceras, não dobradas, As que o Rei manda aos nobres cavaleiros, Que tanto mar e terras tem passadas. They are|offerings|true|And|words|sincere|not|bent|Those|that|the|King|sends|to the|noble|knights|Who|so much|sea|and|lands|have|passed They are true offers, And sincere words, not bent, That the King sends to the noble knights, Who have crossed so much sea and land. Manda-lhe mais lanígeros carneiros, E galinhas domésticas cevadas, Com as frutas, que então na terra havia; E a vontade à dádiva excedia. ||more|woolly|rams|And|hens|domestic|fed|With|the|fruits|that|then|in|land|there were|And|the|desire|to the|gift|exceeded He also sends them woolly sheep, And fattened domestic chickens, With the fruits that were then in the land; And the desire exceeded the gift.

77 Recebe o Capitão alegremente O mensageiro ledo e seu recado; E logo manda ao Rei outro presente, Que de longe trazia aparelhado: Escarlata purpúrea, cor ardente, O ramoso coral, fino e prezado, Que debaixo das águas mole cresce, E como é fora delas se endurece. Receives|the|Captain|happily|The|messenger|joyful|and|his|message|And|soon|sends|to the|King|another|gift|That|from|afar|brought|equipped|Scarlet|purplish|color|burning|The|branching|coral|fine|and|precious|That||the|waters|soft|grows|And|as|is|out|of them|it|hardens 77 The Captain receives joyfully The cheerful messenger and his message; And soon sends another gift to the King, Which he had brought prepared from afar: Scarlet purple, a burning color, The branched coral, fine and precious, That grows soft under the waters, And as it is out of them, it hardens.

78 Manda mais um, na prática elegante, Que co’o Rei nobre as pazes concertasse, E que de não sair naquele instante De suas naus em terra o desculpasse. Send|another|one|in|practical|elegant|That|with the|King|noble|the|peace|reconciled|And|that|from|not|leaving|that|moment|Of|his|ships|on|land|him|excused 78 He sends another, in elegant practice, That he might reconcile with the noble King, And that he should not be blamed for not leaving At that moment from his ships to land. Partido assim o embaixador prestante, Como na terra ao Rei se apresentasse, Com estilo que Palas lhe ensinava, Estas palavras tais falando orava: Departed|thus|the|ambassador|present|As|in|land|to the|King|himself|presented|With|style|that|Pallas|to him|taught|These|words|such|speaking|prayed Thus departed the distinguished ambassador, As he presented himself to the King on land, With a style that Pallas taught him, Speaking these words he prayed:

79 "Sublime Rei, a quem do Olimpo puro Foi da suma Justiça concedido Refrear o soberbo povo duro, Não menos dele amado, que temido: Como porto mui forte e mui seguro, De todo o Oriente conhecido, Te vimos a buscar, para que achemos Em ti o remédio certo que queremos. Sublime|King|to|whom|from|Olympus|pure|Was|of|supreme|Justice|granted|To restrain|the|proud|people|harsh|Not|less|of him|loved|than|feared|As|port|very|strong|and|very|safe|From|all|the|East|known|You|we saw|to|seek|so that|that|we find|In|you|the|remedy|certain|that|we want 79 "Sublime King, to whom from pure Olympus Was granted by supreme Justice To restrain the proud, hard people, No less loved than feared: Like a very strong and very secure port, Known throughout all the East, We came to seek you, so that we may find In you the certain remedy that we want. 80 "Não somos roubadores, que passando Pelas fracas cidades descuidadas, A ferro e a fogo as gentes vão matando, Por roubar-lhe as fazendas cobiçadas; Mas da soberba Europa navegando, Imos buscando as terras apartadas Da Índia grande e rica, por mandado De um Rei que temos, alto e sublimado. We are not|robbers|robbers|who|passing|through the|weak|cities|careless|With|iron|and|fire|fire|the|people|go|killing|For|||the|farms|coveted|But|from the|proud|Europe|sailing|We are|searching|the|lands|distant|from the|India|great|and|rich|by|command|of|a|King|who|we have|high|and|sublime 80 "We are not robbers, who passing through the weak, careless cities, kill the people with iron and fire, to steal their coveted lands; But from the proud Europe sailing, we seek the distant lands of the great and rich India, by the command of a King we have, high and sublime. 81 "Que geração tão dura há hi de gente, Que bárbaro costume e usança feia, Que não vedem os portos tão somente, Mas inda o hospício da deserta areia? What|generation|so|harsh|there is|here|of|people|What|barbaric|custom|and|usage|ugly|That|not|see|the|ports|so|only|But|still|the|asylum|of|deserted|sand 81 "What a harsh generation there is here of people, What a barbaric custom and ugly practice, That they do not see the ports only, But also the hospice of the deserted sand? Que má tenção, que peito em nós se sente, Que de tão pouca gente se arreceia? What|bad|intention|that|heart|in|us|reflexive pronoun|feels|What|of|so|little|people|reflexive pronoun|fears What bad intention, what heart do we feel, That fears so few people? Que com laços armados, tão fingidos, Nos ordenassem ver-nos destruídos? That|with|ties|armed|so|feigned|Us|ordered|||destroyed That with armed, so feigned, traps, They would order us to see ourselves destroyed?

82 "Mas tu, e quem mui certo confiamos Achar-se mais verdade, ó Rei benigno, E aquela certa ajuda em ti esperamos, Que teve o perdido Ítaco em Alcino, A teu porto seguro navegamos, Conduzidos do intérprete divino; Que, pois a ti nos manda, está mui claro, Que és de peito sincero, humano e raro. But|you|and|whom|very|certain|we trust|||more|truth|oh|King|benevolent|And|that|certain|help|in|you|we hope|That|had|the|lost|Ithaca|in|Alcinous|To|your|port|safe|we sail|Led|by the|interpreter|divine|That|since|to|you|us|sends|is|very|clear|That|you are|of|heart|sincere|humane|and|rare 82 "But you, and whom we surely trust To find more truth, oh benevolent King, And that certain help in you we await, That the lost Ithaca had in Alcinous, To your safe harbor we sail, Guided by the divine interpreter; For, since it sends us to you, it is very clear, That you are of sincere, human, and rare heart. 83 "E não cuides, ó Rei, que não saísse O nosso Capitão esclarecido A ver-te, ou a servir-te, porque visse Ou suspeitasse em ti peito fingido: Mas saberás que o fez, porque cumprisse O regimento, em tudo obedecido, De seu Rei, que lhe manda que não saia, Deixando a frota, em nenhum porto ou praia. And|not|think|oh|King|that|not|would leave|Our||Captain|enlightened|To|||or|to|||because|saw|Or|suspected|in|you|heart|deceitful|But|you will know|that|it|did|because|he fulfilled|The|order|in|everything|obeyed|By|his|King|who|to him|commands|that|not|leave|Leaving|the|fleet|in|no|port|or|beach 83 "And do not think, oh King, that our Captain did not leave To see you, or to serve you, because he saw Or suspected in you a feigned heart: But you will know that he did it, because he fulfilled The command, in everything obeyed, Of his King, who orders him not to leave, Leaving the fleet, in no port or shore. 84 "E porque é, de vassalos o exercício, Que os membros tem regidos da cabeça, Não quererás, pois tens de Rei o ofício, Que ninguém a seu Rei desobedeça; Mas as mercês e o grande benefício, Que ora acha em ti, promete que conheça Em tudo aquilo que ele e os seus puderem, Enquanto os rios para o mar correrem." And|because|is|of|vassals|the|exercise|That|the|members|have|ruled|by the|head|Not|you will want|since|you have|of|King|the|duty|That|no one|to|his|King|disobeys|But|the|mercies|and|the|great|benefit|That|now|finds|in|you|promises|that|he recognizes|In|everything|that|that|he|and|the|his|can|As long as|the|rivers|to|the|sea|run 84 "And because it is the exercise of vassals, That the members are governed by the head, You will not want, since you have the office of King, That anyone disobeys their King; But the favors and the great benefit, That he now finds in you, promises to recognize In everything that he and his can, As long as the rivers run to the sea." 85 Assim dizia; e todos juntamente, Uns com outros em prática falando, Louvavam muito o estâmago da gente, Que tantos céus e mares vai passando. Thus|said|and|all|together|Some|with|others|in|practice|speaking|They praised|much|the|stomach|of|people|That|so many|heavens|and|seas|goes|passing 85 Thus he spoke; and all together, One with another in practice speaking, Praised much the stomach of the people, That passes through so many skies and seas. E o Rei ilustre, o peito obediente Dos Portugueses na alma imaginando, Tinha por valor grande e mui subido O do Rei que é tão longe obedecido. And|the|King|illustrious|the|heart|obedient|Of the|Portuguese|in the|soul|imagining|Had|for|valor|great|and|very|elevated|The|of|King|who|is|so|far|obeyed And the illustrious King, the obedient heart Of the Portuguese imagining in his soul, Considered the value great and very high Of the King who is so far obeyed.

86 E com risonha vista e ledo aspeito, Responde ao embaixador, que tanto estima: "Toda a suspeita má tirai do peito, Nenhum frio temor em vós se imprima; Que vosso preço e obras são de jeito Para vos ter o mundo em muita estima; E quem vos fez molesto tratamento, Não pode ter subido pensamento. And|with|smiling|sight|and|joyful|demeanor|Responds|to the|ambassador|who|so much|esteems|All|the|suspicion|bad|take|from|heart|No|cold|fear|in|you|reflexive pronoun|imprint|That|your|worth|and|deeds|are|of|manner|For|you|to have|the|world|in|much|esteem|And|who|you|made|troublesome|treatment|Not|can|to have|elevated|thought And with a cheerful gaze and joyful appearance, He responds to the ambassador, whom he holds in high regard: "Remove all bad suspicion from your heart, Let no cold fear imprint itself on you; For your worth and deeds are of such quality That the world holds you in great esteem; And whoever treated you poorly, Cannot have a lofty thought. 87 "De não sair em terra toda a gente, Por observar a usada preminência, Ainda que me pese estranhamente, Em muito tenho a muita obediência; Mas, se lho o regimento não consente, Nem eu consentirei que a excelência De peitos tão leais em si desfaça, Só porque a meu desejo satisfaça. Of|not|to leave|on|land|all|the|people|For|observing|the|usual|preeminence|Even|though|me|weighs|strangely|In|much|I have|the|much|obedience|But|if|it to him|the|regulation|not|consents|Nor|I|will consent|that|the|excellence|Of|chests|so|loyal|in|themselves|undoes|Only|because|my||desire|satisfies "For not everyone to leave the land, To observe the usual preeminence, Even though it weighs on me strangely, I have much obedience; But if the regulation does not allow it, I will not consent that the excellence Of such loyal hearts be undone, Just to satisfy my desire. 88 "Porém, como a luz crástina chegada Ao mundo for, em minhas almadias Eu irei visitar a forte armada, Que ver tanto desejo, há tantos dias; E se vier do mar desbaratada, Do furioso vento e longas vias, Aqui terá, de limpos pensamentos, Piloto, munições e mantimentos." However|as|the|light|coming|arrival|to the|world|was|in|my|small boats|I|will go|to visit|the|strong|fleet|Which|to see|so much|desire|for|so many|days|And|if|comes|from|sea|defeated|by the|furious|wind|and|long|journeys|Here|will have|of|clear|thoughts|Pilot|ammunition|and|provisions "However, when the light of tomorrow arrives In the world, I will go visit the strong fleet, Which I have long desired to see; And if it comes from the sea battered, By the furious wind and long ways, Here it will have, with clear thoughts, A pilot, supplies, and provisions." 89 Isto disse; e nas águas se escondia O filho de Latona; e o mensageiro Coa embaixada alegre se partia Para a frota, no seu batel ligeiro. This|said|and|in the|waters|himself|hid|The|son|of|Latona|and|the|messenger|With|embassy|joyful|himself|departed|For|the|fleet|in the|his|boat|swift 89 This was said; and in the waters hid The son of Latona; and the messenger With a joyful embassy departed To the fleet, in his swift boat. Enchem-se os peitos todos de alegria. ||the|chests|all|with|joy All hearts are filled with joy. Por terem o remédio verdadeiro Para acharem a terra que buscavam; E assim ledos a noite festejavam. For|having|the|remedy|true|To|find|the|land|that|they sought|And|thus|joyful|the|night|they celebrated For having the true remedy To find the land they were seeking; And thus happily they celebrated the night.

90 Não faltam ali os raios de artifício, Os trêmulos cometas imitando; Fazem os bombardeiros seu ofício, O céu, a terra e as ondas atroando. Not|are lacking|there|the|rays|of|fireworks|The|trembling|comets|imitating|They do|the|bombers|their|duty|The|sky|the|earth|and|the|waves|thundering 90 There are no lack of rays of artifice, Imitating the trembling comets; The bombardiers do their duty, The sky, the earth, and the waves resounding. Mostra-se dos Ciclopas o exercício Nas bombas que de fogo estão queimando; Outros com vozes, com que o céu feriam, Instrumentos altíssonos tangiam. ||of|Cyclopes|the|exercise|In the|bombs|that|of|fire|are|burning|Others|with|voices|with|which|the|sky|wounded|Instruments|high-sounding|played The exercise of the Cyclopes is shown In the bombs that are burning with fire; Others with voices, with which they struck the sky, Played high-sounding instruments.

91 Respondem-lhe da terra juntamente, Co’o raio volteando, com zunido; Anda em giros no ar a roda ardente, Estoura o pó sulfúreo escondido. ||from the|land|together|With the|lightning|turning|with|buzzing|It moves|in|circles|in the|air|the|wheel|burning|Bursts|the|dust|sulfurous|hidden They respond to him from the earth together, With the lightning swirling, with a buzzing; The burning wheel spins in the air, Bursting the hidden sulfur dust. A grita se alevanta ao céu, da gente; O mar se via em fogos acendido, E não menos a terra; e assim festeja Um ao outro, a maneira de peleja. The|shout|itself|rises|to the|sky|of|people|The|sea|itself|seen|in|fires|lit|And|not|less|the|earth|and|thus|celebrates|One|to each|other|in the|manner|of|struggle The shout rises to the sky, from the people; The sea was seen ignited in flames, And no less the land; and thus they celebrate One another, in the manner of a battle.

92 Mas já o Céu inquieto revolvendo, As gentes incitava a seu trabalho, E já a mãe de Menon a luz trazendo, Ao sono longo punha certo atalho; Iam-se as sombras lentas desfazendo, Sobre as flores da terra em frio orvalho, Quando o Rei Melindano se embarcava A ver a frota, que no mar estava. But|already|the|Sky|restless|revolving|The|people|incited|to|their|work|And|already|the|mother|of|Menon|the|light|bringing|To the|sleep|long|put|certain|shortcut||himself|||||||||||||||||||To|see|the|fleet|that|in|sea|was But now the restless Heaven, turning, Incited the people to their work, And already the mother of Menon bringing light, Set a certain shortcut to long sleep; The slow shadows were dissolving, Over the flowers of the earth in cold dew, When King Melindano was embarking To see the fleet that was at sea.

93 Viam-se em derredor ferver as praias Da gente, que a ver só concorre leda; Luzem da fina púrpura as cabaias, Lustram os panos da tecida seda; Em lugar das guerreiras azagaias E do arco, que os cornos arremeda Da Lua, trazem ramos de palmeira, Dos que vencem, coroa verdadeira. ||in|around|boiling|the|beaches|Of the|people|that|to|see|only|competes|joyful|Shine|of the|fine|purple|the|capes|Polish|the|cloths|of the|woven|silk|In|place|of the|warrior|javelins|And|of the|bow|that|the|horns|mimics|Of the|Moon|bring|branches|of|palm|Of the|that|conquer|crown|true 93 Around them, the beaches are boiling, which only competes to see joyfully; The fine purple shines on the capes, The fabrics of the woven silk shine; Instead of the warriors' spears And the bow, which mocks the horns of the Moon, they bring palm branches, Of those who conquer, a true crown.

94 Um batel grande e largo, que toldado Vinha de sedas de diversas cores, Traz o Rei de Melinde, acompanhado De nobres e seu Reino e de senhores: Vem de ricos vestidos adornado, Segundo seus costumes e primores; Na cabeça uma fota guarnecida De ouro, e de seda e de algodão tecida. A|boat|large|and|wide|that|covered|came|with|silks|of|various|colors|Brings|the|King|of|Melinde|accompanied|by|nobles|and|his|Kingdom|and|of|lords|Comes|in|rich|garments|adorned|According to|their|customs|and|fineries|On the|head|a|turban|adorned|with|gold|and|of|silk|and|of|cotton|woven 94 A large and wide boat, covered With silks of various colors, Brings the King of Melinde, accompanied By nobles and his Kingdom and lords: He comes adorned in rich clothing, According to his customs and fineries; On his head a headdress adorned With gold, and woven with silk and cotton.

95 Cabaia de Damasco rico e dino, Da Tíria cor, entre eles estimada, Um colar ao pescoço, de ouro fino, Onde a matéria da obra é superada, C’um resplendor reluze adamantino; Na cinta, a rica bem lavrada; Nas alparcas dos pés, em fim de tudo, Cobrem ouro e aljôfar ao veludo. turban|of|Damascus|rich|and|noble|From|Tyre|color|among|them|valued|A|necklace|around|neck|of|gold|fine|Where|the|material|of the|work|is|surpassed|With a|brilliance|shines|adamantine|In the|belt|the|rich|well|crafted|In the|sandals|of|feet|in|end|of|everything|Cover|gold|and|pearls|to the|velvet 95 A rich and noble Damascene cape, Of Tyrian color, esteemed among them, A necklace around his neck, of fine gold, Where the material of the work is surpassed, With a diamond-like brilliance; At the waist, the richly crafted piece; On the slippers of his feet, in the end, They cover velvet with gold and pearls.

96 Com um redondo emparo alto de seda, Numa alta e dourada hástia enxerido, Um ministro à solar quentura veda. With|a|round|support|high|of|silk|In a|high|and|golden|spear|sharp|A|minister|to the|solar|warmth|forbids 96 With a round high silk canopy, On a high and gilded pole, A minister prevents the warmth of the sun. Que não ofenda e queime o Rei subido. May|not|offend|and|burn|the|King|ascended That does not offend and burn the risen King. Música traz na proa, estranha e leda, De áspero som, horríssono ao ouvido, De trombetas arcadas em redondo, Que, sem concerto, fazem rudo estrondo. Music|brings|in the|prow|strange|and|joyful|Of|harsh|sound|horrendous|to the|ear|Of|trumpets|arched|in|round|Which|without|concert|make|loud|noise Music brings in the prow, strange and joyful, Of harsh sound, horrendous to the ear, Of trumpets arched in a round, That, without concert, make a loud noise.

97 Não menos guarnecido o Lusitano Nos seus batéis, da frota se partia A receber no mar o Melindano, Com lustrosa e lograda companhia. Not|less|well-armed|the|Lusitanian|In|his|boats|of the|fleet|it|departed|To|receive|in the|sea|the|Melindanian|With|lustrous|and|victorious|company No less guarded the Lusitanian In his boats, the fleet departed To receive in the sea the Melindano, With lustrous and successful company. Vestido o Gama vem ao modo Hispano, Mas Francesa era a roupa que vestia, De cetim da Adriática Veneza Carmesi, cor que a gente tanto preza: Dressed|the|Gama|comes|in the|manner|Hispanic|But|French|was|the|clothing|that|wore|Of|satin|from the|Adriatic|Venice|Carmine|color|that|the|people|so much|values Dressed, Gama comes in the Hispanic manner, But French was the clothing he wore, Of satin from Adriatic Venice, Carmine, a color that people so cherish:

98 De botões douro as mangas vêm tomadas, Onde o Sol reluzindo a vista cega; As calças soldadescas recamadas Do metal, que Fortuna a tantos nega, E com pontas do mesmo delicadas Os golpes do gibão ajunta e achega; Ao Itálico modo a áurea espada; Pluma na gorra, um pouco declinada. Of|buttons|golden|the|sleeves|come|taken|Where|the|Sun|shining|the|sight|blinds|The|pants|soldierly|embroidered|Of|metal|that|Fortune|to|so many|denies|And|with|points|of|same|delicate|The|blows|of|jacket|gathers|and|brings closer|In the|Italic|style|the|golden|sword|Feather|in the|cap|a|little|tilted 98 From buttons of gold the sleeves come taken, Where the Sun shining blinds the sight; The soldierly trousers embroidered With the metal that Fortune denies to so many, And with delicate points of the same The blows of the jerkin gather and approach; In the Italic manner the golden sword; Feather in the cap, slightly inclined.

99 Nos de sua companhia se mostrava Da tinta, que dá o múrice excelente, A vária cor, que os olhos alegrava, E a maneira do trajo diferente. In us|of|your|company|reflexive pronoun|showed|Of the|ink|that|gives|the|excellent murice|excellent|The|various|color|that|the|eyes|delighted|And|the|way|of|dress|different 99 In his company was shown The dye that gives the excellent purple, The varied color that delighted the eyes, And the manner of the different attire. Tal o formoso esmalte se notava Dos vestidos, olhados juntamente, Qual aparece o arco rutilante Da bela Ninfa, filha de Taumante. Such|the|beautiful|enamel|himself|was noticed|Of|dresses|looked|together|As|appears|the|rainbow|shining|Of|beautiful|Nymph|daughter|of|Thaumas Such was the beautiful enamel that was noticed Of the dresses, looked at together, As the shining rainbow appears Of the beautiful Nymph, daughter of Thaumas.

100 Sonorosas trombetas incitavam Os ânimos alegres, ressoando; Dos Mouros os batéis, o mar coalhavam, Os toldos pelas águas arrojando; As bombardas horríssonas bramavam, Com as nuvens de fumo o Sol tomando; Amiúdam-se os brados acendidos, Tapam com as mãos os Mouros os ouvidos. Sonorous|trumpets|incited|The|spirits|joyful|resounding|Of the|Moors|the|boats|the|||the|||||the||||||||||||||the|||||||the|||ears 100 Sonorous trumpets incited The joyful spirits, resounding; The Moors' boats filled the sea, Throwing the awnings across the waters; The horrendous bombards roared, Taking the Sun with clouds of smoke; The heated shouts increase, The Moors cover their ears with their hands.

101 Já no batel entrou do Capitão O Rei, que nos seus braços o levava; Ele coa cortesia, que a razão (Por ser Rei) requeria, lhe falava. Already|in the|boat|entered|of|Captain|The|King|who|us|his|arms|him|carried|He|with the|courtesy|that|the|reason|(For|being|King)|required|to him|spoke 101 Already on the boat entered Captain The King, who carried him in his arms; He spoke to him with the courtesy that reason (For being King) required. C’umas mostras de espanto e admiração, O Mouro o gesto e o modo lhe notava, Como quem em mui grande estima tinha Gente que de tão longe à índia vinha. With some|signs|of|astonishment|and|admiration|The|Moor|the|gesture|and|the|manner|to him|noticed|As|one who|in|very|great|esteem|had|People|who|from|so|far|to|India|came With some signs of astonishment and admiration, The Moor noted his gesture and manner, As one who held in very high esteem People who came from so far to India.

102 E com grandes palavras lhe oferece Tudo o que de seus Reinos lhe cumprisse, E que, se mantimento lhe falece, Como se próprio fosse, lho pedisse. And|with|great|words|to him|offers|Everything|what|that|of|his|Kingdoms|to him|would fulfill|And|that|if|sustenance|to him|fails|As|if|own|were|to him it|would ask 102 And with grand words he offers him Everything that would be fitting from his Kingdoms, And that, if sustenance were lacking, He would ask for it as if it were his own. Diz-lhe mais, que por fama bem conhece A gente Lusitana, sem que a visse; Que já ouviu dizer, que noutra terra Com gente de sua Lei tivesse guerra. ||more|that|by|reputation|well|knows|The|people|Lusitanian|without|that|her|saw|That|already|heard|to say|that|in another|land|With|people|of|his|Law|would have|war He tells him more, that by reputation he well knows The Lusitanian people, without having seen them; That he has already heard it said, that in another land He had war with people of his Law.

103 E como por toda África se soa, Lhe diz, os grandes feitos que fizeram, Quando nela ganharam a coroa Do Reino, onde as Hespéridas viveram; E com muitas palavras apregoa O menos que os de Luso mereceram, E o mais que pela fama o Rei sabia. And|as|throughout|all|Africa|it|sounds|to Him|says|the|great|deeds|that|they did|When|in it|they won|the|crown|of the|Kingdom|where|the|Hesperides|lived|And|with|many|words|proclaims|The|less|than|the|of|Luso|deserved|And|the|more|than|by the|fame|the|King|knew 103 And as it is heard throughout Africa, It tells you, the great deeds they accomplished, When they won the crown Of the Kingdom, where the Hesperides lived; And with many words it proclaims The least that the Lusitanians deserved, And the most that the King knew by fame. Mas desta sorte o Gama respondia: But|in this|way|the|Gama|would respond But in this manner Gama responded:

104 "Ó tu, que só tiveste piedade, Rei benigno, da gente Lusitana, Que com tanta miséria e adversidade Dos mares experimenta a fúria insana; Aquela alta e divina Eternidade, Que o Céu revolve e rege a gente humana, Pois que de ti tais obras recebemos, Te pague o que nós outros não podemos. O|you|who|only|had|mercy|King|benevolent|of the|people|Lusitanian|Who|with|so much|misery|and|adversity|Of the|seas||the|fury|insane|That|high|and|divine|Eternity|That|the|Heaven|revolves|and|governs|the|people|human|Since|that|of|you|such|works|we receive|You|repay|what|that|we|others|not|can 104 "O you, who alone had pity, Benign King, for the Lusitanian people, Who with so much misery and adversity Experience the insane fury of the seas; That high and divine Eternity, That the Heaven revolves and governs the human race, Since we receive such works from you, May it repay you what we others cannot. 105 "Tu só, de todos quantos queima Apolo, Nos recebes em paz, cio mar profundo; Em ti dos ventos hórridos de Eolo Refúgio achamos bom, fido e jocundo. You|only|of|all|how many|burns|Apollo|Us|receive|in|peace|from|sea|deep|In|you|of the|winds|horrid|of|Aeolus|refuge|we find|good|faithful|and|joyful 105 "You alone, of all whom Apollo burns, Receive us in peace, in the deep sea; In you we find a good, faithful, and joyful refuge from the horrid winds of Aeolus. Enquanto apascentar o largo Pólo As Estrelas, e o Sol der lume ao Mundo, Onde quer que eu viver, com fama e glória Viverão teus louvores em memória." While|pastures|the|wide|Pole|The|Stars|and|the|Sun|gives|light|to the|World|Wherever|wants|that|I|live|with|fame|and|glory|Will live|your|praises|in|memory While shepherding the wide Pole The Stars, and the Sun gives light to the World, Wherever I live, with fame and glory Your praises will live on in memory. 106 Isto dizendo, os barcos vão remando Para a frota, que o Mouro ver deseja; Vão as naus uma e uma rodeando, Porque de todas tudo note e veja. This|saying|the|boats|go|rowing|Towards|the|fleet|that|the|Moor|to see|desires|They go|the|ships|one|and|one|surrounding|Because|of|all|everything|notice|and|see 106 Saying this, the boats row Towards the fleet, which the Moor wishes to see; The ships go one by one surrounding, So that he notes and sees everything. Mas para o céu Vulcano fuzilando, A frota coas bombardas o festeja, E as trombetas canoras lhe tangiam; Co’os anafis os Mouros respondiam. But|to|the|sky|Vulcan|firing|The|fleet|with the|bombards|it|celebrates|And|the|trumpets|singing|to him|sounded|With the|anafes|the|Moors|responded But to the sky Vulcan striking, The fleet celebrates him with the bombards, And the singing trumpets sounded; With the anafes the Moors responded.

107 Mas depois de ser tudo já notado Do generoso Mouro, que pasmava Ouvindo o instrumento inusitado, Que tamanho terror em si mostrava, Mandava estar quieto e ancorado N’água o batel ligeiro que os levava, Por falar de vagar co’o forte Gama, Nas cousas de que tem notícia e faina. But|after|of|being|everything|already|noticed|Of the|generous|Moor|who|was astonished|Hearing|the|instrument|unusual|That|such|terror|in|himself|showed|He commanded|to be|still|and|anchored|in the water|the|boat|swift|that|them|carried|For|speaking|of|slowly|with the|strong|Gama|In the|things|of|that|has|news|and|toil 107 But after everything was already noted By the generous Moor, who was astonished Listening to the unusual instrument, Which showed such terror within itself, He ordered the light boat that carried them to stay still and anchored In the water, to speak slowly with the strong Gama, About the things he has news of and work.

108 Em práticas o Mouro diferentes Se deleitava, perguntando agora Pelas guerras famosas e excelentes Co’o povo havidas, que a Mafoma adora; Agora lhe pergunta pelas gentes De toda a Hespéria última, onde mora; Agora pelos povos seus vizinhos, Agora pelos úmidos caminhos. In|practices|the|Moor|different|He|delighted|asking|now|About the|wars|famous|and|excellent|with the|people|had|that|the|Muhammad|adores|Now|to him|asks|about the|people|Of|all|the|Hesperia|westernmost|where|lives|Now|about the|peoples|their|neighbors|Now|about the|wet|paths 108 In different practices, the Moor delighted, now asking about the famous and excellent wars that the people had, which Muhammad adores; Now he asks about the people of all the last Hesperia, where they dwell; Now about his neighboring peoples, Now about the humid paths.

109 "Mas antes, valeroso Capitão, Nos conta, lhe dizia, diligente, Da terra tua o clima, e região Do mundo onde morais distintamente; E assim de vossa antiga geração, E o princípio do Reino tão potente, Co’os sucessos das guerras do começo, Que, sem sabê-las, sei que são de preço. But|before|valiant|Captain|To us|tell|to him|I was saying|diligent|Of the|land|your|the||||of the|||||||of|||||||||||||||||||||||||worth 109 "But first, valiant Captain, tell us, he said diligently, about the climate of your land, and the region of the world where you distinctly dwell; And thus about your ancient generation, And the beginning of the so powerful Kingdom, With the outcomes of the wars from the beginning, That, without knowing them, I know are of value. 110 "E assim também nos conta dos rodeios Longos, em que te traz o mar irado, Vendo os costumes bárbaros alheios. And|thus|also|to us|tells|of the|detours|Long|in|which|you|brings|the|sea|angry|Seeing|the|customs|barbaric|foreign 110 "And also tell us about the long detours, In which the angry sea brings you, Seeing the foreign barbaric customs. Que a nossa África ruda tem criado. May|the|our|Africa|harsh|has|created That our rough Africa has created. Conta: que agora vêm co’os áureos freios Os cavalos que o carro marchetado Do novo Sol, da fria Aurora trazem, O vento dorme, o mar e as ondas jazem. Tell|that|now|come|with the|golden|reins|The|horses|that|the|chariot|marked|Of|new|Sun|of the|cold|Dawn|bring|The|wind|sleeps|the|sea|and|the|waves|lie Account: that now come with the golden reins The horses that the decorated chariot Of the new Sun, of the cold Aurora bring, The wind sleeps, the sea and the waves lie.

111 "E não menos co’o tempo se parece O desejo de ouvir-te o que contares; Que quem há, que por fama não conhece As obras Portuguesas singulares? And|not|less|with the|time|itself|seems|The|desire|to|||what|For||that||||by|fame|not|knows|The|works|Portuguese|singular And no less with time it seems The desire to hear you tell what you will; For who is there, who by fame does not know The singular Portuguese works? Não tanto desviado resplandece De nós o claro Sol, para julgares Que os Melindanos têm tão rudo peito, Que não estimem muito um grande feito. Not|so much|diverted|shines|Of|us|the|clear|Sun|for|you to judge|That|the|Melindans|have|so|rough|heart|That|not|value|highly|a|great|deed Not so far removed shines From us the clear Sun, for you to judge That the Melindans have such a rough heart, That they do not greatly value a great deed.

112 "Cometeram soberbos os Gigantes, Com guerra vã, o Olimpo claro e puro; Tentou Pirítoo e Teseu, de ignorantes, O Reino de Plutão horrendo e escuro. They committed|arrogant|the|Giants|With|war|vain|the|Olympus|clear|and|pure|Tried|Pirithous|and|Theseus|by|ignorant|The|Kingdom|of|Pluto|horrendous|and|dark The proud Giants committed, With vain war, the clear and pure Olympus; Pirithous and Theseus, in their ignorance, Attempted the horrendous and dark Kingdom of Pluto. Se houve feitos no mundo tão possantes, Não menos é trabalho ilustre e duro, Quanto foi cometer Inferno o Céu, Que outrem cometa a fúria de Nereu. If|there were|deeds|in the|world|so|powerful|Not|less|is|work|illustrious|and|hard|As much as|was|to commit|Hell|the|Heaven|That|another|to unleash|the|fury|of|Nereus If there were deeds in the world so powerful, No less is it an illustrious and hard work, As it was to commit Hell to Heaven, That another may unleash the fury of Nereus.

113 "Queimou o sagrado templo de Diana, Do subtil Tesifónio fabricado, Heróstrato, por ser da gente humana Conhecido no mundo e nomeado: Se também com tais obras nos engana O desejo de um nome avantajado, Mais razão há que queira eterna glória Quem faz obras tão dignas de memória." Burned|the|sacred|temple|of|Diana|Of the|subtle|Tesiphon|fabricated|Herostratus|for|being|of the|people|human|Known|in the|world|and|named|If|also|with|such|deeds|us|deceives|The|desire|of|a|name||More|reason|there is|to|want|eternal|glory|Who|does|deeds|so|worthy|of|memory 113 "He burned the sacred temple of Diana, Crafted by the subtle Tesiphon, Herostratus, for being known in the human race In the world and named: If such works deceive us With the desire for a prominent name, There is more reason for one who performs such worthy deeds of memory To seek eternal glory."

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