Com licença, a senhora já escolheu o seu prato, senhorita?
-Peixe com aspargos! -Peixe com aspargos.
Eu acho que eu vou querer essa carbonara, sabia?
-Ele vai de carbonara. -Carbonara!
E pra beber?
-Um vinho rosé. -Vinho rosé!
Eu acho que vou de uísque.
Tá, então pede pra ele, né, Carlos?
-Pra ele quem? -Pro garçom.
Que garçom? O que é garçom?
Esse homem que está aqui do nosso lado, né, Carlos.
Não tem ninguém do nosso lado, Cláudia. Está maluca?
Carlos, à sua esquerda tem um homem que trabalha aqui.
Ô, Cláudia, não tem ninguém do nosso...
Nossa! É isso que é o garçom? Olha só!
-É, ele é o garçom. -Garçom, né...
-Eu vou ver o peixe da senhora. -Isso é garçom?
-O que é garçom? -É, ele é garçom.
Eu vou buscar os pedidos aqui.
-Que isso? O que ele faz? -Ele anota o nosso pedido, Carlos.
Ele traz a comida, ele traz o que a gente pede.
-É diferente esse restaurante, né? -Não é diferente.
Todo restaurante tem garçom.
Como é que você acha que chega a sua comida?
Sei lá, que nem lá em casa, que eu chego e a comida está lá.
Lá em casa a gente tem a Neide.
-Neide? -É.
Ela trabalha lá há dez anos,
ela cuida do Pedrinho mais do que a gente.
Tem uma mulher morando na nossa casa?
-Tem, e ela cuida do Pedrinho. -Pedrinho é superindependente,
vai pra escola sozinho! Do que você está falando?
Não, Carlos! A Neide acorda o Pedrinho.
Ela leva ele pra escola junto com o Dênis,
que é nosso motorista.
Meu Deus do céu, como é que eu nunca soube disso?
Carlos, eu preciso te dizer uma coisa.
Você não vê...
pobre.
Claro que eu vejo pobre! Vejo pobre o tempo todo!
Você não dá bom dia para os nossos porteiros.
Você quase atropelou um gari vindo pra cá.
Você nem cumprimenta os caras do Uber.
Uber é um carro, Cláudia. Você também está...
-Não, Carlos! -Que exagero!
-Cláudia? -Amiga!
Quanto tempo! Tudo bom?
Tudo ótimo! Vocês estão sumidos...
Ai, pois é.
Eu e o Fernando estamos evitando um pouco de sair na rua, sabe?
Teve essa coisa da Lava Jato, bloquearam os bens dele,
estão chamando ele de ladrão na rua, menina.
-Ai, que horror! -Horrível, né?
-Nossa... -Constrangimento mesmo, né.
-É. -Mas o Fernando não veio, não?
-Por quê? -Como assim?
-Carlos! -Não quis sair de casa, né?
-É complicado mesmo... -O Fernando?
Carlos, ele está do seu lado.
-Carlos! Carlos! -Tá certo...
-Mas você vai se separar dele? -Não! Carlos!
Carlos! Ué, Carlos? Avisa ele aí! Carlos!
Carlos!
-Amor? -Oi, amor! Já estou indo.
Tá, por que você não atende? Amor?
Só um segundo!
Estou ficando preocupado. Toda vez...
Só um segundinho! Já estou indo.
Ô, amor, toda vez que a gente vem nesse restaurante você faz isso,
você fica pelada e fica quarenta minutos nesse banheiro.