BOCA ARTESANAL
-Coé, Marquinho! -Coé, meu irmãozinho!
-Beleza, irmão? -Beleza?
Vem cá, você tem 5 gramas de pó pra mim?
Claro que tenho. É 1.200 pratas.
-O quê? -As 5 gramas de pó.
1.200 pratas?
1.200 pratas, mas sabe o que é, meu camarada?
O pó agora da boca é todo orgânico da Bolívia, entendeu?
-Não, irmão. -As plantinhas de cocaína
fica tudo ouvindo música clássica lá na fazenda do Xavier, entendeu?
Depois vai pra cristalizar lá na refinaria artesanal, meu camarada.
-Isso aqui é um outro tipo de coisa. -Tá de sacanagem?
-Porra! -Prova aqui, ó.
Tô achando muita frescura, irmão, essa...
-Aí, sentiu? Sentiu a dormência? -É diferente mesmo.
-Foda, né? Vegana, viado. -É vegana essa porra, é?
-É vegano sem glúten. -Maltratou animal, não, essa porra?
Não maltratou nada. E outra coisa: a onda que isso aqui dá
não é aquela onda que tu vai querer bater na tua mãe,
roubar teu irmão pra comprar droga,
querer comer um cu de um amigo teu, entendeu?
-Porra, quem nunca, né? -Essa onda aqui
é aquela de abrir uma produtora de cinema...
-Botar uns projeto no edital. -Aí, tu já entendeu.
Uns longa-metragem que nunca vão ser filmados.
Eu conheço bem. Depois, se filmar,
não consegue editar porque ficou uma merda.
É isso. É isso a onda da droga. O quê que tu acha?
-Eu gosto disso, hein. -Outra coisa:
esse pó aqui é dermatologicamente testado.
-Jura? -Antialergênico.
-Puta... -Não ataca a mucosa.
Pode até botar no cu à vontade que não pega nada.
-Tu garante? -Eu garanto.
-Eu tô aqui agora. -Tá mesmo?
Aqui. Wake up!
Isso que eu queria saber, Marquinho, que eu tô todo assado da última vez.
Tô passando Desitin da minha filha no cu,
-porque tô todo, todo roxo, cara. -Então, não pode.
-Essa aqui que é a tua droga, então. -É mesmo?
Mas é que o problema é o seguinte, irmão:
tô querendo aquele pó de 10 mesmo, tô até com saudade daquela merda.
Então, se tu quer comprar pó de 10,
vai lá no começo da rua com o Buiú, meu camarada.
Só que sabe que teu pó vai vir com cimento, vai vir com mijo.
Ele bota, bota vidro ralado pra ganhar volume.
-Então é por isso. -Vai passar um pó com vidro no cu
-e tu vai ficar todo fodido. -Puta, não pode, irmão.
Caralho, é por isso que eu tô todo rasgado.
-É por isso, pô. -Eu não tenho mil reais aqui, não.
Sabe o que é? Você tá pensando que você vai gastar mil reais no pó,
mas, na verdade, você tá comprando a experiência
-que você vai tá levando pra casa. -Agora tu falou.
Você vai tá levando esse produto orgânico, artesanal,
que todo mundo se envolveu nele, entendeu?
-Me dá uma grama dessa porra aí. -Tu trouxe a embalagem?
-Como é que é? -A embalagem, o pino, a ecobag
alguma coisa pra levar o pó.
Vocês não fornecem a embalagem aqui, não?
Pô, meu camarada, a boca não tá mais trabalhando com plástico, não.
Eu não tava a fim de fazer isso, não,
mas eu tenho um último aqui de plástico em pino,
tu guarda e volta pra fazer refil, entendeu?
-Brigado, irmão. -Mas tu fica sabendo
que tu tá vacilando comigo e com a porra do planeta. Entendeu?
O planeta é nosso amigo, meu camarada.
Vai, se adianta aí! Porra, vacilão do caralho.
Não usa canudo, não, hein.
Vamos lá, viciado, vou te explicar mais uma vez.
Isso aqui é heroína artesanal, entendeu?
É feita em formato de floral, não usa seringa.
Plástico tá acabando com o planeta.
Isso aqui vem na embalagem de vidro retornável, entendeu?
-Tu tem rinite? Tem rinite? -Sim.
Porra, perfeito. Tu cheira, funciona até pra melhorar tua rinite.
Quer dar uma provadinha, ó? Duas gotinhas pela casa, vai.