×

We use cookies to help make LingQ better. By visiting the site, you agree to our cookie policy.

image

Podcast do projeto Querino (*Generated Transcript*), 6. A cor dos faraós - Part 1

6. A cor dos faraós - Part 1

Em 1789, mais de 30 anos antes da independência do Brasil, os escravizados de um engenho no

sul da Bahia mataram o mestre de açúcar.

Eu até falei sobre essa função no episódio passado.

Basicamente era o responsável por supervisionar a parte do beneficiamento do açúcar, da

transformação do melaço em açúcar refinado.

Depois de matar o mestre de açúcar, os escravizados foram até o dono do engenho e apresentaram

um documento.

A gente já falou disso também, mas era muito raro que qualquer pessoa soubesse ler e escrever

no Brasil naquela época.

Menos ainda pessoas escravizadas, por causa das proibições e interdições.

Mas não era impossível.

E os trabalhadores escreveram assim.

Meu senhor, nós queremos paz e não queremos guerra.

Se o meu senhor quiser paz, há de ser nessa conformidade.

Ou seja, a paz teria que ser nos termos deles.

Daí eles fizeram uma série de exigências por melhores condições de trabalho.

Queriam ter livres tanto às sextas-feiras quanto os sábados para que pudessem cultivar

as próprias roças.

E diziam que não aceitavam os feitores atuais do engenho.

Feitor era uma outra função, era o supervisor geral de toda a operação.

Os trabalhadores exigiam que fosse feita uma eleição para escolher os novos feitores.

E eles terminavam assim o documento.

Poderemos brincar, folgar e cantar em todos os tempos que quisermos, sem que nos impeçam

e nem que seja preciso pedir licença.

E se brincar e cantar tem mais significado do que parece?

E daqui a pouco a gente chega lá.

Isso tudo foi no engenho de Santana, que ficava em Ilhéus, no sul da Bahia.

E por causa disso, o documento ficou conhecido como o Tratado do Engenho de Santana.

Olha só, o terreiro Matamba Tomensineto é fundado em 1885 em uma localidade que fica

na zona rural da cidade de Ilhéus, no engenho de Santana, onde houve uma revolução escrava

que se constituiu um documento.

Dizem que é o primeiro tratado trabalhista entre patrão e empregados, onde esses escravos

eles pontuaram nessa carta algumas das suas reivindicações.

O dono do engenho acabou pedindo ajuda para o juiz do distrito, que enviou mais de 80

homens armados para conter a revolta.

Aí lá pela época da Guerra da Independência, a fazenda já estava na mão de outro senhor

e teve uma outra revolta dos escravizados do engenho de Santana.

Os trabalhadores mantiveram o controle por mais três anos.

Só em 1924 que as autoridades conseguiram retomar o engenho e os revoltosos montaram

quilombos nas matas ali por perto.

E foi a partir dos remanescentes desses quilombos que nasceu esse terreiro que a gente ouviu

há pouco, lá em Ilhéus.

Aqui também minha mãe é a sala da consulta dela, onde ela recebe os clientes dela também.

Aí aqui a camarinha onde recolhe o sujeito de santo.

Aqui o quarto dos tatas, das macotas.

Aí nós temos aqui a minha nome é Gilmário Rodrigues Santos.

Esse é um nome que eu fui batizado na igreja católica, mas eu faço parte também da religião

do candomblé.

Sou membro do terreiro Matamba Tomesineto, o qual eu recebi o nome de Tata Luanda Encosse.

Eu sou tata cambondo aqui do terreiro Matamba Tomesineto, na cidade de Ilhéus, no estado

da Bahia, no sul da Bahia.

O terreiro Matamba Tomesineto é referência na cidade por ser um dos terreiros mais velhos.

Então quando acontece algum tipo de caso desse de intolerância religiosa, de desrespeito,

essas pessoas procuram a gente naturalmente.

Nós tivemos vários casos aqui em Ilhéus, vários casos.

Um desses casos acabou sendo com parentes dele.

O meu tio, que é casado com Imbialê Neuzira, filha de santo da minha avó.

Boa parte desses meus primos, que não é daqui da comunidade, boa parte deles são

evangélicos.

E a mãe desses primos, a mãe consanguínea deles, é uma Yalorixá, é uma mãe de santo.

E aí meu tio faleceu, ele não era iniciado, mas ele ajudava a Neuzira, Imbialê, nas obrigações

e tudo.

E aí a gente foi pro funeral dele.

Chegou lá, tinha muitos evangélicos lá, pessoal da igreja, dos filhos, tudo.

Quando chegou no seu acupuntamento, o encosso, o Ogum de Neuzira, Imbialê, que era esposa

de meu tio, pegou, manifestou nela.

Na hora de arriar o cachelo na cova, o Ogum virou, pegou ela.

O Orixá da Neuzira se manifestou nela, queria se despedir do marido da Neuzira, que tinha

falecido.

E aí esses evangélicos começaram tentando pegar o Ogum.

Sai, Satanás, sai seu diabo, tira ele, tá repreendido.

Porque isso gerou aquela confusão.

E esse tipo de confusão tem acontecido cada vez mais no Brasil.

A gente volta falando de um pastor evangélico que foi autuado por intolerância religiosa

em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, depois de gravar um vídeo mostrando que destruiu

imagens sagradas.

Integrantes da rede de articulação da Caminhada dos Terreiros fizeram protesto hoje à tarde

no Recife.

A manifestação foi contra um pastor evangélico que divulgou um vídeo nas redes sociais com

agressões às religiões de matrizes africanas.

O Bahia Meio Dia Regional começa falando sobre uma denúncia de intolerância religiosa

aqui em Vitória da Conquista.

Uma mãe de santo acusa um pastor evangélico de agressão e intolerância.

O caso foi parar na polícia.

Nos últimos anos, os casos de intolerância religiosa, ou mesmo de terrorismo contra religiões

de matriz africana, tem aumentado, tem escalado.

Quando a gente vê esse tipo de caso hoje em dia, tem um grupo bem específico que costuma

estar por trás.

Um grupo de bíblia na mão.

Uma menina de 11 anos foi atingida na cabeça por uma pedra a caminho para um culto de candomblé

no Rio de Janeiro.

Segundo testemunhas, dois homens que estavam naquele ponto de ônibus do outro lado da

rua começaram então a ofender o grupo, que preferiu não reagir às provocações.

Eles estavam bem vestidos, com bíblias na mão.

Aí a primeira pergunta que eu faço para o senhor nesse sentido é, existe liberdade

religiosa no Brasil hoje?

Depende para quem.

Este é o Ivanir dos Santos, que é professor, pesquisador e ativista na luta contra a intolerância

religiosa.

Ele também é babalaú.

O processo de entender a liberdade religiosa no Brasil, temos que entender o processo histórico

do país, né?

Nele nós temos um país que, durante a colônia e o império, a igreja católica fez parte

do Estado.

E está aqui uma questão bem importante.

É inegável que boa parte dos ataques a religiões de matriz africana hoje sejam cometidos por

alguns evangélicos, principalmente os neopentecostais.

E a gente vai tratar disso em detalhes com toda a complexidade que o assunto exige.

Mas se a gente pegar a história do Brasil, todos os anos, desde a colonização, passando

pelo império e a república, na maior parte desses anos, desses séculos, teve um outro

grupo promovendo esses ataques.

Nesse período não tinha pra ninguém, a não ser a igreja católica.

Então as manifestações, naquele primeiro momento, dos escravizados e também dos indígenas,

não tinham liberdade.

O que tinha era a conversão, a catequese forçada desses grupos.

A igreja católica foi a principal sócia de Portugal na empreitada da colonização,

na empreitada da escravidão, da exploração de mentes e corpos negros por mais de três

séculos, do genocídio desse povo.

A principal sócia.

E durante todos esses anos, a igreja católica foi a principal responsável por perseguir

qualquer manifestação religiosa que não fosse a do catolicismo.

A igreja católica desenvolveu uma justificativa ideológica e política de liberdade.

A igreja católica desenvolveu uma justificativa ideológica e teológica para a barbárie

que foi a escravidão.

Algumas dessas ideias permanecem até hoje e dão base não só para a intolerância

religiosa, para o terrorismo contra a religião de matriz africana, mas dão base para o próprio

racismo.

Eu sou o Tiago Rogero e este é o podcast do Projeto Quirino, produzido pela Rádio

Novelo.

Episódio 6 – Acordos Faraós

Até onde se sabe, a primeira viagem de tráfico negreiro de escravizados foi lá por volta

de 1440, quando um português, a mando da coroa portuguesa, foi até a região do Rio

do Ouro, no continente africano, para comprar azeite e pele de leão marinho.

Daí esse português sequestrou 12 africanos e levou para Portugal.

Uns três anos depois teve o primeiro leilão de escravizados em Portugal.

E aí já eram mais de 200 pessoas, entre elas crianças.

E é sempre bom lembrar que não foi nesse momento que a escravidão começou, que ela

foi inventada.

A escravidão já existia e há muito tempo.

Tinha escravizado na Grécia Antiga, por exemplo.

A própria palavra escravo, e fica mais fácil quando a gente pensa nela em inglês, slave,

vem do latim slavos, que é uma referência aos eslavos que por muito tempo foram escravizados.

E o povo eslavo é branco.

É que havia muitos motivos para se escravizar uma pessoa.

Podia ser como resultado de uma guerra, por exemplo, ou por dívida.

Mas não se escravizava alguém só por ser de determinada raça, muito menos só por

ser negro.

Até porque essa ideia de quem é negro e quem não é, é uma ideia criada depois,

justamente para justificar essa nova forma de escravidão que surge a partir do momento

em que Portugal começa a expandir o seu império.

Uma forma mercantil, em que a pessoa escravizada se transforma em mercadoria, e na mais valiosa

e lucrativa mercadoria de todas.

Quem começa com isso é Portugal.

Portugal e a Igreja Católica.

Porque a Igreja é quem dá autorização para isso.

A Igreja deu subsídio moral e ideológico para que a coroa portuguesa escravizasse os

africanos.

Pouco depois desse primeiro leilão de escravizados, o Papa publicou uma bula que os historiadores

chamam de a Carta Régia do Imperialismo Português.

E lá ele autorizava a escravização dos africanos.

A desculpa era, a escravidão serviria para salvar a alma deles, porque quem sequestrava

estaria convertendo aquelas pessoas para o cristianismo.

Mas eu queria que a gente tentasse pensar no continente africano antes de tudo isso.

Bom, meu nome é Fernanda Tomaz, sou professora de História da África da Universidade Federal

de Juiz de Fora.

Pensar o continente africano antes do tráfico transatlântico, penso em diversidade.

Porque eram povos diferentes, não eram irmãos, sabe?

Esse papo é nosso, eram os irmãos.

A ideia de África nem existia.

Essa ideia de África era puxada pelos europeus.

Exatamente com esse contato ao longo do tráfico de escravizados, depois com o colonialismo,

e aí sim define o outro como um continente africano.

Não é essa identidade de ser africano não, o cara era bacongo, o outro era ovibundo,

sei lá, o outro era macua, maconde, alçá, entende?

Em termos culturais, a gente está falando de um continente com mais de 30 milhões de

quilômetros quadrados, um continente com dimensões gigantescas, que hoje tem cerca

de 2 mil povos.

Mesmo sabendo da complexidade que é tentar pensar em definir uma religiosidade num continente

tão diverso, com povos tão distintos, eu perguntei pra Fernanda se haveria elementos

em comum entre boa parte dessas diferentes culturas.

Primeira coisa, Tiago, é a gente ter noção de que é muito da nossa sociedade separar

sagrado e profano.

E eu não sei nem se o termo religião daria conta pra pensar nessas práticas espirituais

do continente africano, das sociedades africanas.

Mas acho que o primeiro ponto a pensar é que não há uma separação, o cotidiano está

mergulhado em espiritualidade.

Pensando na linha do deserto do Saara pra baixo, é muito comum o culto aos ancestrais

na grande maioria das sociedades africanas.

O culto aos ancestrais.

Eu estou falando de sociedades em que o pertencimento histórico, o pertencimento num território

tem a ver com as suas heranças na relação de parentes, as suas heranças na linhagem.

Ou seja, é quem na verdade cuidou de você, é quem trouxe você pro mundo, é que na

verdade um dia ele vai ser o mais velho e um dia ele vai ser o ancestral.

E era uma relação não só com quem veio antes, mas com o território também.

Tem um caso, era um jornalista conhecido, lutou pra independência de Moçambique, enfim,

e que não tem o digno pro pai, na concepção dele, e enterrou no cemitério da cidade.

Passaram-se 20 anos, ele teve AVC, vários problemas, inclusive profissionais.

Ele procurou todos os meios, desde o cuidado físico, ia ao médico, enfim, mas outras

coisas acontecendo que não tinha explicação.

E aí ele procurou um curandeiro.

E aí o curandeiro disse pra ele, olha, o seu pai quer falar com você, você precisa

jogar os oráculos pra você saber o que o seu pai quer falar com você.

Aí ele não acreditou, né?

Eu sou homem da ciência, vou pensar nisso?

Daí que ele descobriu, o pai dele tinha sido enterrado no cemitério da cidade e ele queria

ser enterrado na terra onde estavam os avós, os antepassados, os ancestrais dele.

E aí ele faz uma ação das ossadas, transporta tudo para Iambane, lá pra terra onde estavam

os ancestrais.

E aí teve todo um ritual, enfim, né?

Após o ritual, a vida dele voltou à normalidade, entende?

Tudo voltou à normalidade.

Tem uma palavra de origem banto, kalunga, e ela quer dizer um monte de coisa.

Um significado bem comum é o de morte, além.

Daí eu já tinha lido que pra muitos povos africanos que foram escravizados, a travessia

pelo mar, aqueles dias todos no porão de um navio negreiro, aquilo era encarado como

uma morte mesmo.

Porque o mar era chamado de Kalunga Grande.

Mas eu entendi errado.

A morte, em muitas sociedades africanas, ela simboliza uma outra coisa.

A morte não é um problema, sabe?

A morte não é obscura.

A morte é simplesmente uma passagem nessa existência.

O mundo vivo depende do mundo dos mortos e vice-versa, sabe?

Porque o mundo dos mortos é o que me dá sentido, sabe?

Dá sentido pra minha existência.

A morte, ela só simboliza uma passagem, que é pra ir pra esse outro mundo.

A travessia no navio negreiro não era a morte.

A travessia era algo pior.

Porque, na verdade, corta seu eixo com seu território.

O mar simboliza esse tempo de ida que não tem volta.

E esse mar é o que corta a sua relação com a sua linhagem, com o seu território

de onde você veio.

E corta a sua relação com a sua história.

Porque ainda que você leve seus ancestrais contigo, a relação não é mesmo do lugar

em que você vive, porque você largou seu eixo, sabe?

Esse indivíduo que tem toda uma relação de curatividade, ele passa a ser individualizado.

E eu acho que essa individualização é quando esses jundidos são comprados na Costa e eles

atravessam.

Quando eles atravessam, eles estão imergindo em uma outra cultura e numa outra posição

social.

Ele passa a ser mercadoria, ele passa a ser escravo.

A morte se dá num processo e é num processo de travessia.

Mas é uma morte que é feita a partir do desenraizamento.

Essa morte da travessia é muito maior do que a morte física.

E sabe quem também participava do tráfico negreiro?

A igreja.

Em 1558, tinham mais de 10 mil pessoas escravizadas trabalhando em sítios e fazendas dos jesuítas

em Angola.

Daí começaram umas críticas dentro da própria igreja, não à escravidão, mas à participação

deles no tráfico.

E o padre responsável pela missão respondeu que seria impossível sustentar a operação

sem o tráfico negreiro.

Pensando aqui no Brasil agora, a igreja ganhava por cada escravizado que fosse batizado.

E era lei, todo escravizado deveria ser batizado.

E a igreja já tinha tentado justificar a escravidão com aquela desculpa de salvar

almas.

Pra manter de pé o regime escravocrata, a coisa foi ficando ainda mais complexa.

A igreja criou toda uma justificativa ideológica e teológica.

Ela tinha, por exemplo, a ideia de que os africanos deveriam ser escravizados porque

eles teriam sido amaldiçoados.

E havia toda uma pedagogia da escravidão.

A igreja pregava que os senhores tinham nascido para serem senhores e os escravizados para

serem escravizados.

Um dos principais nomes dessa pedagogia era o padre Antônio Vieira, que até hoje dá

nome a uma porção de coisa no Brasil.

Eu já morei numa rua Antônio Vieira, por exemplo.

Ele dizia que o trabalho no engenho era a cruz e que não há trabalho nem gênero de

vida no mundo mais parecido com a paixão de Cristo do que o trabalho escravo nos engenhos.

A religião católica não era só a oficial, era a única permitida.

As manifestações religiosas que não fossem católicas eram classificadas como heresia,

feitiçaria, coisa do demônio.

Aí veio a independência, o Brasil se separou da coroa portuguesa, mas estava lá na Constituição

de 24 que durou até o fim do império.

A religião católica apostólica romana continuará a ser a religião do império.

E tinha mais esse trecho.

Todas as outras religiões serão permitidas, e eu chamo atenção para isso, com seu culto

doméstico ou particular em casa para isso destinada.

Mas essa casa não poderia parecer um templo do lado de fora.

E a Constituição também dizia que ninguém pode ser perseguido por religião, uma vez

que respeite a do Estado e não ofenda a moral pública.

E você sabe o que sempre foi uma ofensa a moral pública no Brasil, né?

Qualquer traço de africanidade, como as religiões de matriz africana.

Embora carreguem elementos seculares e até milenares, as religiões de matriz africana

que nós conhecemos hoje são relativamente recentes, a partir da segunda metade do século

19.

E são várias, né?

Tem as mais conhecidas, candomblé e umbanda, mas também tem o tambor de mina e o terecô

no Maranhão, o xangô e o xambá em Pernambuco e Alagoas, a cabula no Espírito Santo, o

batuque no Rio Grande do Sul, o babassué no Pará, a quimbanda no Rio e em São Paulo,

o omolocô em Minas, no Rio e em São Paulo.

São religiões que nasceram aqui no Brasil, com elementos de diferentes sociedades e culturas

africanas, mas que nasceram no Brasil, são afro-brasileiras.

E não é que não havia essa religiosidade aqui antes do século 19.

Apesar da religião oficial imposta pelo Estado, pessoas negras nunca deixaram de professar

a própria fé.

E tinha muito senhor que, no interior das fazendas, permitia isso para não provocar

uma revolta.

Lembra do tratado do Engenho de Santana, quando os escravizados exigiram poder brincar, folgar

e cantar sem pedir licença?

Isso podia tanto significar o puro e simples lazer quanto religiosidade também.

Chamar de brincadeira era uma forma de proteger esses ritos religiosos.

Era uma forma de resistência.

Com o passar dos anos, até por causa do número cada vez maior de pessoas negras que estavam

conquistando a própria liberdade, foram surgindo mais casas, mais terreiros.

Daí olha esse caso de 1849, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Uma mulher negra fez um requerimento para o chefe de polícia.

Ela fez um pedido.

E quem vai contar aqui é o historiador e professor Paulo Moreira.

Ela se apresenta para o delegado de uma determinada maneira, se apresentando como Maria José

Preta Forra, Rainha Ginga.

Rainha Ginga.

De nação angola, com predomínio sobre as outras nações da costa da África.

E ela reclama de que ela tinha uma licença para brincar com as pessoas da sua nação

E ela pedia então que essa licença fosse renovada.

E aí é interessante a forma como ela se apresenta e como ela tenta disfarçar aquela

manifestação coletiva, aquela manifestação comunitária, como brincadeiras.

E aí a polícia fica toda ressabiada, porque evidentemente, mesmo ela sendo Forra, a presença

dessa mulher e a liderança que ela tinha nessa comunitária, atemorizava aquela sociedade

branca de uma forma que essa sociedade, durante muito tempo, ficou pensando se renovaria

a sua licença.

A licença tinha sido caçada.

E aí então, num determinado momento, a licença dela é renovada, desde que as manifestações,

as festas, os brinquedos fossem feitas extra-muros da cidade.

Ou naquilo que se chamava na época da Varsia de Porto Alegre.

Lembra do nome que ela usou quando fez o requerimento para o chefe de polícia?

A maneira como ela se apresenta como Rainha Ginga não é uma coisa fortuita, não é

uma coisa por acaso.

Ela certamente escolheu aquilo ali.

Talvez ali nesse momento ela estivesse dando uma intimada até no delegado, como se ela

estivesse dizendo, olha, veja bem com quem você está falando, eu sou Rainha Ginga,

eu sou uma mulher que representa várias nações da costa da África.

A Rainha Ginga, como a gente sabe, é uma mulher que realmente existiu, se trata de

Nzinga Mbund, uma mulher que viveu ali de 1582 a 1663, nunca pisou no Brasil, foi uma

rainha no reino do Dongo e reino de Matamba, uma pessoa extremamente importante.

Nos anos em que ela esteve no poder, a Rainha Nzinga conseguiu barrar o avanço de Portugal

sobre o reino dela.

E essa presença da rainha nessa região congo-angola marcou tanto a memória dessas pessoas que

foram trazidas compulsoriamente para o Brasil, que Rainha Nzinga se tornou uma distinção,

se tornou um elemento de prestígio.

Quando a Maria José diz que ela é Rainha Nzinga, ela estava chamando para si uma certa

realeza, mas também uma representatividade ligada à sua ancestralidade.

ANCESTRALIDADE

No Rio Grande do Sul, assim como no Brasil, de uma forma geral, a gente tem uma série

de territórios negros.

E nesses territórios, existem uma série de festividades que dialogam com essa memória

da África.

E aí, nessas manifestações atualmente, nesses territórios negros, a gente ainda

tem a presença da Rainha Nzinga e do Rei Congo.

Tu tem Rainha Nzinga e Rei Congo dentro das Irmandades, isso que a gente chama de afro-catolicismo.

AS IRMANDADES NEGRAS DENTRO DA IGREJA CATÓLICA

As Irmandades Negras é considerada a primeira forma de associativismo negro que surge no Brasil.

Este é o historiador e professor Petrônio Domingues.

O associativismo negro foram as formas encontradas pela população negra de adaptação a esse

novo continente, as Américas.

Essa população desenvolveu várias formas, várias estratégias de resistência.

AS IRMANDADES NEGRAS REMONTAM AO PERÍODO COLONIAL

As Irmandades Negras remontam ao período colonial criadas inicialmente pela iniciativa

dessa população escravizada que buscou seu espaço na Igreja Católica.

Um lugar em que essa população escravizada pudesse professar sua fé.

A Igreja tolerava e até fomentava o surgimento dessas Irmandades Negras que precisavam de

autorização para funcionar.

Do ponto de vista da Igreja, não deixava de ser uma forma de controle e de catequização.

Isso é pelo olhar da Igreja Católica, porque do ponto de vista dos escravizados, as Irmandades

Negras eram um espaço de resistência.

Era um espaço em que eles se sentiam fortalecidos, se sentiam unidos e fortes em função dessa

união coletiva.

Porque era um espaço em que você iria não só ter um espaço de culto, um espaço em

que você professasse sua fé, um espaço para você poder fazer sua prece, você cultuar

o seu santo, mas também era um espaço em que você encontrasse a sua própria esposa

e também era um espaço em que você encontrava os seus, seus irmãos, seus irmãos de cor.

Era um espaço em que essa população de cor se unia, se fortalecia do ponto de vista

da sua identidade e era um espaço em que também se articulava a luta pela conquista

da liberdade.

Então as Irmandades Negras foram responsáveis por comprar muitas alforrias.

As Irmandades também construíram igrejas, porque os negros, mesmo que eram livres,

não eram bem aceitos nas igrejas dos brancos.

Os africanos e seus descendentes acabaram criando um catolicismo popular, muito permeado

pelo sincretismo, pela mistura de elementos com as religiões de matrizes indígena e

africana.

E houve muitos casos de seguidores de religiões de matriz africana que também faziam parte

de Irmandades católicas e não só de seguidores, mas também de líderes dessas religiões.

A mãe Aninha, uma das mais importantes mães de santo da nossa história, que nasceu em

1869 em Salvador, fez parte de duas Irmandades católicas.

E além da compra de alforrias, as Irmandades garantiam também uma boa morte, um enterro

digno, com direito a funeral, missa.

Quando João Cândido, o almirante negro, foi julgado pela Marinha do Brasil por se

revoltar contra os castigos corporais, na Revolta da Chibata, ele e os outros marinheiros

que sobreviveram, os que não foram assassinados pela Marinha, foram defendidos por advogados

contratados pela Irmandade do Rio.

Isso tudo foi já na República, porque depois da Abolição e da República, as Irmandades

continuaram a existir.

Assim como continuou a perseguição às religiões de matriz africana.

Quando é proclamada a República, é interessante observar que a Abolição se dá em 88, a

República vem em 89 e em 90 nasce primeiro o código criminal.

Aqui de novo o Babalaô Ivanir dos Santos.

O que ele está contando é que em 1890, depois do golpe que derrubou o Império e instituiu

a República, o governo provisório publicou um decreto que tornou o Brasil, pela primeira

vez, um Estado laico.

Ao menos na teoria.

Mas ainda naquele ano, veio o que?

Learn languages from TV shows, movies, news, articles and more! Try LingQ for FREE

6. A cor dos faraós - Part 1 la|color|de los|faraones|Parte 6. Die Farbe der Pharaonen - Teil 1 6. The color of the pharaohs - Part 1 6. La couleur des pharaons - Partie 1 6.ファラオの色 - その1 6. Faraonernas färg - Del 1 6. Firavunların rengi - Bölüm 1 6. Колір фараонів - Частина 1 6. El color de los faraones - Parte 1

Em 1789, mais de 30 anos antes da independência do Brasil, os escravizados de um engenho no en|más|de|años|antes|de la|independencia|de|Brasil|los|esclavizados|de|un|ingenio|en el En 1789, más de 30 años antes de la independencia de Brasil, los esclavizados de un ingenio en

sul da Bahia mataram o mestre de açúcar. el sur de Bahía mataron al maestro de azúcar.

Eu até falei sobre essa função no episódio passado. yo|incluso|hablé|sobre|esa|función|en el|episodio|pasado Incluso hablé sobre esta función en el episodio pasado.

Basicamente era o responsável por supervisionar a parte do beneficiamento do açúcar, da básicamente|era|el|responsable|por|supervisar|la|parte|del|beneficio|del|azúcar| Básicamente era el responsable de supervisar la parte del beneficiado del azúcar, de

transformação do melaço em açúcar refinado. transformación|del|melaza|en|azúcar|refinado la transformación de la melaza en azúcar refinado.

Depois de matar o mestre de açúcar, os escravizados foram até o dono do engenho e apresentaram después|de|matar|al|maestro|de|azúcar|los|esclavizados|fueron|hasta|el|dueño|del|ingenio|y|presentaron Después de matar al maestro de azúcar, los esclavizados fueron hasta el dueño del ingenio y presentaron

um documento. un|documento un documento.

A gente já falou disso também, mas era muito raro que qualquer pessoa soubesse ler e escrever la|gente|ya|habló|de eso|también|pero|era|muy|raro|que|cualquier|persona|supiera|leer|y|escribir Ya hemos hablado de esto también, pero era muy raro que cualquier persona supiera leer y escribir.

no Brasil naquela época. en|Brasil|en esa|época En Brasil en esa época.

Menos ainda pessoas escravizadas, por causa das proibições e interdições. menos|aún|personas|esclavizadas|por|causa|de las|prohibiciones|y|interdiciones Aún menos personas esclavizadas, debido a las prohibiciones y restricciones.

Mas não era impossível. pero|no|era|imposible Pero no era imposible.

E os trabalhadores escreveram assim. y|los|trabajadores|escribieron|así Y los trabajadores escribieron así.

Meu senhor, nós queremos paz e não queremos guerra. mi|señor|nosotros|queremos|paz|y|no|queremos|guerra Mi señor, queremos paz y no queremos guerra.

Se o meu senhor quiser paz, há de ser nessa conformidade. si|el|mi|señor|quiere|paz|habrá|de|ser|en esa|conformidad Si mi señor quiere paz, ha de ser en esta conformidad.

Ou seja, a paz teria que ser nos termos deles. o|sea|la|paz|tendría|que|ser|en los|términos|de ellos Es decir, la paz tendría que ser en sus términos.

Daí eles fizeram uma série de exigências por melhores condições de trabalho. entonces|ellos|hicieron|una|serie|de|exigencias|por|mejores|condiciones|de|trabajo Entonces hicieron una serie de exigencias por mejores condiciones de trabajo.

Queriam ter livres tanto às sextas-feiras quanto os sábados para que pudessem cultivar querían|tener|libres|tanto|los|||como|los|sábados|para|que|pudieran|cultivar Querían tener libres tanto los viernes como los sábados para que pudieran cultivar

as próprias roças. las|propias|parcelas sus propias tierras.

E diziam que não aceitavam os feitores atuais do engenho. y|decían|que|no|aceptaban|los|capataces|actuales|del|ingenio Y decían que no aceptaban a los actuales capataces del ingenio.

Feitor era uma outra função, era o supervisor geral de toda a operação. feitor|era|una|otra|función|era|el|supervisor|general|de|toda|la|operación El feitor era otra función, era el supervisor general de toda la operación.

Os trabalhadores exigiam que fosse feita uma eleição para escolher os novos feitores. los|trabajadores|exigían|que|fuera|hecha|una|elección|para|elegir|los|nuevos|feitores Los trabajadores exigían que se hiciera una elección para elegir a los nuevos feitores.

E eles terminavam assim o documento. y|ellos|terminaban|así|el|documento Y así terminaban el documento.

Poderemos brincar, folgar e cantar em todos os tempos que quisermos, sem que nos impeçam podremos|jugar|descansar|y|cantar|en|todos|los|tiempos|que|queramos|sin|que|nos|impidan Podremos jugar, descansar y cantar en todos los tiempos que queramos, sin que nos lo impidan.

e nem que seja preciso pedir licença. y|ni|que|sea|necesario|pedir|permiso y ni siquiera que sea necesario pedir permiso.

E se brincar e cantar tem mais significado do que parece? y|si|jugar|y|cantar|tiene|más|significado|que|que|parece ¿Y si jugar y cantar tiene más significado de lo que parece?

E daqui a pouco a gente chega lá. y|aquí|a|poco|la|gente|llega|allí Y en un momento llegaremos allí.

Isso tudo foi no engenho de Santana, que ficava em Ilhéus, no sul da Bahia. eso|todo|fue|en|ingenio|de|Santana|que|quedaba|en|Ilhéus|en|sur|de|Bahía Todo esto fue en el ingenio de Santana, que estaba en Ilhéus, en el sur de Bahía.

E por causa disso, o documento ficou conhecido como o Tratado do Engenho de Santana. y|por|causa|de esto|el|documento|se volvió|conocido|como|el|Tratado|de|Ingenio|de|Santana Y por eso, el documento se conoció como el Tratado del Ingenio de Santana.

Olha só, o terreiro Matamba Tomensineto é fundado em 1885 em uma localidade que fica mira|solo|el|terreiro|Matamba|Tomensineto|es|fundado|en|en|una|localidad|que|queda Mira, el terreiro Matamba Tomensineto fue fundado en 1885 en una localidad que se encuentra

na zona rural da cidade de Ilhéus, no engenho de Santana, onde houve uma revolução escrava en la|zona|rural|de la|ciudad|de|Ilhéus|en el|ingenio|de|Santana|donde|hubo|una|revolución|esclava en la zona rural de la ciudad de Ilhéus, en el ingenio de Santana, donde hubo una revolución esclava

que se constituiu um documento. que|se|constituyó|un|documento que se constituyó en un documento.

Dizem que é o primeiro tratado trabalhista entre patrão e empregados, onde esses escravos dicen|que|es|el|primero|tratado|laboral|entre|patrón|y|empleados|donde|esos|esclavos Dicen que es el primer tratado laboral entre patrón y empleados, donde esos esclavos

eles pontuaram nessa carta algumas das suas reivindicações. ellos|señalaron|en esta|carta|algunas|de las|sus|reivindicaciones puntualizaron en esta carta algunas de sus reivindicaciones.

O dono do engenho acabou pedindo ajuda para o juiz do distrito, que enviou mais de 80 El|dueño|de|ingenio|terminó|pidiendo|ayuda|para|el|juez|de|distrito|que|envió|más|de El dueño del ingenio terminó pidiendo ayuda al juez del distrito, que envió a más de 80

homens armados para conter a revolta. hombres|armados|para|contener|la|revuelta hombres armados para contener la revuelta.

Aí lá pela época da Guerra da Independência, a fazenda já estava na mão de outro senhor Ahí por la época de la Guerra de Independencia, la hacienda ya estaba en manos de otro señor

e teve uma outra revolta dos escravizados do engenho de Santana. y hubo otra revuelta de los esclavizados del ingenio de Santana.

Os trabalhadores mantiveram o controle por mais três anos. Los trabajadores mantuvieron el control durante tres años más.

Só em 1924 que as autoridades conseguiram retomar o engenho e os revoltosos montaram Solo en 1924 las autoridades lograron retomar el ingenio y los rebeldes se organizaron.

quilombos nas matas ali por perto. quilombos|en|selvas|allí|por|cerca quilombos en los bosques allí cerca.

E foi a partir dos remanescentes desses quilombos que nasceu esse terreiro que a gente ouviu y|fue|a|partir|de los|remanentes|de esos|quilombos|que|nació|ese|terreiro|que|a|gente|escuchó Y fue a partir de los remanentes de esos quilombos que nació este terreiro que escuchamos

há pouco, lá em Ilhéus. hace|poco|allí|en|Ilhéus hace poco, allí en Ilhéus.

Aqui também minha mãe é a sala da consulta dela, onde ela recebe os clientes dela também. aquí|también|mi|madre|es|la|sala|de la|consulta|su|donde|ella|recibe|a los|clientes|su| Aquí también mi madre es la sala de su consulta, donde ella recibe a sus clientes también.

Aí aqui a camarinha onde recolhe o sujeito de santo. ahí|aquí|la|camarita|donde|recoge|el|sujeto|de|santo Aquí está la camarita donde recoge el sujeto de santo.

Aqui o quarto dos tatas, das macotas. aquí|el|cuarto|de los|tatas|de las|macotas Aquí está el cuarto de los tatas, de las macotas.

Aí nós temos aqui a minha nome é Gilmário Rodrigues Santos. ahí|nosotros|tenemos|aquí|la|mi|nombre|es|Gilmário|Rodrigues|Santos Aquí tenemos que mi nombre es Gilmário Rodrigues Santos.

Esse é um nome que eu fui batizado na igreja católica, mas eu faço parte também da religião ese|es|un|nombre|que|yo|fui|bautizado|en la|iglesia|católica|pero|yo|hago|parte|también|de la|religión Ese es un nombre con el que fui bautizado en la iglesia católica, pero también formo parte de la religión.

do candomblé. del|candomblé del candomblé.

Sou membro do terreiro Matamba Tomesineto, o qual eu recebi o nome de Tata Luanda Encosse. soy|miembro|del|templo|Matamba|Tomesineto|el|cual|yo|recibí|el|nombre|de|Tata|Luanda|Encosse Soy miembro del terreiro Matamba Tomesineto, al cual recibí el nombre de Tata Luanda Encosse.

Eu sou tata cambondo aqui do terreiro Matamba Tomesineto, na cidade de Ilhéus, no estado yo|soy|tata|cambondo|aquí|del|templo|Matamba|Tomesineto|en la|ciudad|de|Ilhéus|en el|estado Soy tata cambondo aquí del terreiro Matamba Tomesineto, en la ciudad de Ilhéus, en el estado

da Bahia, no sul da Bahia. de la|Bahía|en el|sur|de la|Bahía de Bahía, en el sur de Bahía.

O terreiro Matamba Tomesineto é referência na cidade por ser um dos terreiros mais velhos. el|terreiro|Matamba|Tomesineto|es|referencia|en|ciudad|por|ser|uno|de los|terreiros|más|viejos

Então quando acontece algum tipo de caso desse de intolerância religiosa, de desrespeito, entonces|cuando|sucede|algún|tipo|de|caso|de este|de|intolerancia|religiosa|de|desprecio

essas pessoas procuram a gente naturalmente. esas|personas|buscan|a|gente|naturalmente

Nós tivemos vários casos aqui em Ilhéus, vários casos. nosotros|tuvimos|varios|casos|aquí|en|Ilhéus|varios|casos

Um desses casos acabou sendo com parentes dele. uno|de esos|casos|terminó|siendo|con|parientes|de él Uno de esos casos terminó siendo con parientes de él.

O meu tio, que é casado com Imbialê Neuzira, filha de santo da minha avó. el|mi|tío|que|es|casado|con|Imbialê|Neuzira|hija|de|santo|de la|mi|abuela Mi tío, que está casado con Imbialê Neuzira, hija de santo de mi abuela.

Boa parte desses meus primos, que não é daqui da comunidade, boa parte deles são buena|parte|de esos|mis|primos|que|no|es|de aquí|de la|comunidad|buena|parte|de ellos|son Buena parte de mis primos, que no son de aquí de la comunidad, buena parte de ellos son

evangélicos. evangélicos evangélicos.

E a mãe desses primos, a mãe consanguínea deles, é uma Yalorixá, é uma mãe de santo. y|la|madre|de esos|primos|la|madre|consanguínea|de ellos|es|una|Yalorixá|es|una|madre|de|santo Y la madre de estos primos, la madre consanguínea de ellos, es una Yalorixá, es una madre de santo.

E aí meu tio faleceu, ele não era iniciado, mas ele ajudava a Neuzira, Imbialê, nas obrigações y|entonces|mi|tío|falleció|él|no|era|iniciado|pero|él|ayudaba|a|Neuzira|Imbialê|en las|obligaciones Y entonces mi tío falleció, él no estaba iniciado, pero ayudaba a Neuzira, Imbialê, en las obligaciones

e tudo. y|todo y todo.

E aí a gente foi pro funeral dele. y|entonces|la|gente|fue|para el|funeral|de él Y entonces fuimos a su funeral.

Chegou lá, tinha muitos evangélicos lá, pessoal da igreja, dos filhos, tudo. llegó|allí|había|muchos|evangélicos|allí|gente|de la|iglesia|de los|hijos|todo Llegó allí, había muchos evangélicos, gente de la iglesia, de los hijos, todo.

Quando chegou no seu acupuntamento, o encosso, o Ogum de Neuzira, Imbialê, que era esposa cuando|llegó|a|su|acoplamiento|el|encosso|el|Ogum|de|Neuzira|Imbialê|que|era|esposa Cuando llegó a su acupuntura, el encosso, el Ogum de Neuzira, Imbialê, que era esposa

de meu tio, pegou, manifestou nela. de|mi|tío|tomó|manifestó|en ella de mi tío, se manifestó en ella.

Na hora de arriar o cachelo na cova, o Ogum virou, pegou ela. en la|hora|de|bajar|el|cachelo|en la|tumba|el|Ogum|giró|tomó|ella En el momento de bajar el cachelo en la cueva, el Ogum se volvió, la tomó.

O Orixá da Neuzira se manifestou nela, queria se despedir do marido da Neuzira, que tinha el|orixá|de la|Neuzira|se|manifestó|en ella|quería|se|despedirse|del|marido|de la|Neuzira|que|tenía El Orixá de Neuzira se manifestó en ella, quería despedirse del marido de Neuzira, que había

falecido. fallecido fallecido.

E aí esses evangélicos começaram tentando pegar o Ogum. y|entonces|esos|evangélicos|comenzaron|intentando|agarrar|al|Ogum Y entonces estos evangélicos comenzaron a intentar atrapar a Ogum.

Sai, Satanás, sai seu diabo, tira ele, tá repreendido. sal|Satanás|sal|tu|diablo|quítalo|él|está|reprendido Sal, Satanás, sal, diablo, quítalo, está reprendido.

Porque isso gerou aquela confusão. porque|eso|generó|aquella|confusión Porque eso generó esa confusión.

E esse tipo de confusão tem acontecido cada vez mais no Brasil. y|este|tipo|de|confusión|ha|sucedido|cada|vez|más|en|Brasil Y este tipo de confusión ha estado sucediendo cada vez más en Brasil.

A gente volta falando de um pastor evangélico que foi autuado por intolerância religiosa la|gente|vuelve|hablando|de|un|pastor|evangélico|que|fue|multado|por|intolerancia|religiosa Volvemos a hablar de un pastor evangélico que fue multado por intolerancia religiosa.

em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, depois de gravar um vídeo mostrando que destruiu en|Nova|Iguaçu|en la|Baixada|Fluminense|después|de|grabar|un|video|mostrando|que|destruyó en Nova Iguaçu, en la Baixada Fluminense, después de grabar un video mostrando que destruyó.

imagens sagradas. imágenes|sagradas imágenes sagradas.

Integrantes da rede de articulação da Caminhada dos Terreiros fizeram protesto hoje à tarde integrantes|de la|red|de|articulación|de la|Caminata|de los|Templos|hicieron|protesta|hoy|por la|tarde Integrantes de la red de articulación de la Caminata de los Terreiros hicieron una protesta esta tarde

no Recife. en|Recife en Recife.

A manifestação foi contra um pastor evangélico que divulgou um vídeo nas redes sociais com la|manifestación|fue|contra|un|pastor|evangélico|que|divulgó|un|video|en las|redes|sociales| La manifestación fue contra un pastor evangélico que divulgó un video en las redes sociales con

agressões às religiões de matrizes africanas. agresiones|a las|religiones|de|matrices|africanas agresiones a las religiones de matrices africanas.

O Bahia Meio Dia Regional começa falando sobre uma denúncia de intolerância religiosa El|Bahia|Medio|Día|Regional|comienza|hablando|sobre|una|denuncia|de|intolerancia|religiosa El Bahia Meio Dia Regional comienza hablando sobre una denuncia de intolerancia religiosa

aqui em Vitória da Conquista. aquí|en|Vitória|de la|Conquista aquí en Vitória da Conquista.

Uma mãe de santo acusa um pastor evangélico de agressão e intolerância. Una|madre|de|santo|acusa|a un|pastor|evangélico|de|agresión|y|intolerancia Una madre de santo acusa a un pastor evangélico de agresión e intolerancia.

O caso foi parar na polícia. el|caso|fue|parar|en la|policía El caso fue a parar a la policía.

Nos últimos anos, os casos de intolerância religiosa, ou mesmo de terrorismo contra religiões en los|últimos|años|los|casos|de|intolerancia|religiosa|o|incluso|de|terrorismo|contra|religiones En los últimos años, los casos de intolerancia religiosa, o incluso de terrorismo contra religiones

de matriz africana, tem aumentado, tem escalado. de|matriz|africana|ha|aumentado|ha|escalado de matriz africana, han aumentado, han escalado.

Quando a gente vê esse tipo de caso hoje em dia, tem um grupo bem específico que costuma cuando|la|gente|ve|este|tipo|de|caso|hoy|en|día|hay|un|grupo|bastante|específico|que|suele Cuando vemos este tipo de caso hoy en día, hay un grupo muy específico que suele

estar por trás. estar|por|detrás

Um grupo de bíblia na mão. un|grupo|de|biblia|en la|mano

Uma menina de 11 anos foi atingida na cabeça por uma pedra a caminho para um culto de candomblé una|niña|de|años|fue|alcanzada|en la|cabeza|por|una|piedra|camino||a|un|culto|de|candomblé

no Rio de Janeiro. en|Río|de|Janeiro

Segundo testemunhas, dois homens que estavam naquele ponto de ônibus do outro lado da según|testigos|dos|hombres|que|estaban|en ese|punto|de|autobús|del|otro|lado|de la Según testigos, dos hombres que estaban en ese punto de autobús al otro lado de la

rua começaram então a ofender o grupo, que preferiu não reagir às provocações. calle comenzaron entonces a ofender al grupo, que prefirió no reaccionar a las provocaciones.

Eles estavam bem vestidos, com bíblias na mão. Estaban bien vestidos, con biblias en la mano.

Aí a primeira pergunta que eu faço para o senhor nesse sentido é, existe liberdade Entonces, la primera pregunta que le hago a usted en ese sentido es, ¿existe libertad

religiosa no Brasil hoje? religiosa|en|Brasil|hoy ¿religiosa en Brasil hoy?

Depende para quem. depende|para|quién Depende para quién.

Este é o Ivanir dos Santos, que é professor, pesquisador e ativista na luta contra a intolerância este|es|el|Ivanir|de los|Santos|que|es|profesor|investigador|y|activista|en la|lucha|contra|la|intolerancia Este es Ivanir dos Santos, que es profesor, investigador y activista en la lucha contra la intolerancia

religiosa. religiosa religiosa.

Ele também é babalaú. él|también|es|babalaú Él también es babalaú.

O processo de entender a liberdade religiosa no Brasil, temos que entender o processo histórico el|proceso|de|entender|la|libertad|religiosa|en|Brasil|tenemos|que|entender|el|proceso|histórico El proceso de entender la libertad religiosa en Brasil, tenemos que entender el proceso histórico

do país, né? del|país|¿no del país, ¿no?

Nele nós temos um país que, durante a colônia e o império, a igreja católica fez parte en él|nosotros|tenemos|un|país|que|durante|la|colonia|y|el|imperio|la|iglesia|católica|hizo|parte En él tenemos un país que, durante la colonia y el imperio, la iglesia católica fue parte

do Estado. del|Estado del Estado.

E está aqui uma questão bem importante. Y|está|aquí|una|cuestión|muy|importante Y aquí hay una cuestión muy importante.

É inegável que boa parte dos ataques a religiões de matriz africana hoje sejam cometidos por Es|innegable|que|buena|parte|de los|ataques|a|religiones|de|matriz|africana|hoy|sean|cometidos|por Es innegable que buena parte de los ataques a religiones de matriz africana hoy son cometidos por

alguns evangélicos, principalmente os neopentecostais. algunos|evangélicos|principalmente|los|neopentecostales algunos evangélicos, principalmente los neopentecostales.

E a gente vai tratar disso em detalhes com toda a complexidade que o assunto exige. y|la|gente|va|tratar|de eso|en|detalles|con|toda|la|complejidad|que|el|asunto|exige Y vamos tratar de esto en detalle con toda la complejidad que el tema exige.

Mas se a gente pegar a história do Brasil, todos os anos, desde a colonização, passando pero|si|la|gente|agarrar|la|historia|de|Brasil|todos|los|años|desde|la|colonización|pasando Pero si tomamos la historia de Brasil, todos los años, desde la colonización, pasando

pelo império e a república, na maior parte desses anos, desses séculos, teve um outro por el|imperio|y|la|república|en la|mayor|parte|de esos|años|de esos|siglos|tuvo|un|otro por el imperio y la república, en la mayor parte de esos años, de esos siglos, hubo otro

grupo promovendo esses ataques. grupo|promoviendo|esos|ataques grupo promoviendo esos ataques.

Nesse período não tinha pra ninguém, a não ser a igreja católica. en ese|período|no|tenía|para|nadie|a|no|ser|la|iglesia|católica En ese período no había para nadie, a no ser la iglesia católica.

Então as manifestações, naquele primeiro momento, dos escravizados e também dos indígenas, entonces|las|manifestaciones|en ese|primer|momento|de los|esclavizados|y|también|de los|indígenas Entonces las manifestaciones, en ese primer momento, de los esclavizados y también de los indígenas,

não tinham liberdade. no|tenían|libertad no tenían libertad.

O que tinha era a conversão, a catequese forçada desses grupos. lo|que|tenía|era|la|conversión|a|catequesis|forzada|de esos|grupos Lo que había era la conversión, la catequesis forzada de estos grupos.

A igreja católica foi a principal sócia de Portugal na empreitada da colonização, la|iglesia|católica|fue|la|principal|socia|de|Portugal|en la|empresa|de la|colonización La iglesia católica fue la principal socia de Portugal en la empresa de la colonización,

na empreitada da escravidão, da exploração de mentes e corpos negros por mais de três en la|empresa|de la|esclavitud|de la|explotación|de|mentes|y|cuerpos|negros|por|más|de|tres en la empresa de la esclavitud, de la explotación de mentes y cuerpos negros durante más de tres

séculos, do genocídio desse povo. |del|genocidio|de ese|pueblo siglos, del genocidio de este pueblo.

A principal sócia. la|principal|socia La principal socia.

E durante todos esses anos, a igreja católica foi a principal responsável por perseguir y|durante|todos|esos|años|la|iglesia|católica|fue|la|principal|responsable|por|perseguir Y durante todos esos años, la iglesia católica fue la principal responsable de perseguir

qualquer manifestação religiosa que não fosse a do catolicismo. cualquier|manifestación|religiosa|que|no|fuera|la|del|catolicismo cualquier manifestación religiosa que no fuera la del catolicismo.

A igreja católica desenvolveu uma justificativa ideológica e política de liberdade. la|iglesia|católica|desarrolló|una|justificación|ideológica|y|política|de|libertad La iglesia católica desarrolló una justificación ideológica y política de libertad.

A igreja católica desenvolveu uma justificativa ideológica e teológica para a barbárie la|iglesia|católica|desarrolló|una|justificación|ideológica|y|teológica|para|la|barbarie La iglesia católica desarrolló una justificación ideológica y teológica para la barbarie.

que foi a escravidão. que|fue|la|esclavitud que fue la esclavitud.

Algumas dessas ideias permanecem até hoje e dão base não só para a intolerância algunas|de esas|ideas|permanecen|hasta|hoy|y|dan|base|no|solo|para|la|intolerancia Algunas de estas ideas permanecen hasta hoy y dan base no solo para la intolerancia

religiosa, para o terrorismo contra a religião de matriz africana, mas dão base para o próprio religiosa|para|el|terrorismo|contra|la|religión|de|matriz|africana|pero|dan|base|para|el|propio religiosa, para el terrorismo contra la religión de matriz africana, sino que dan base para el propio

racismo. racismo racismo.

Eu sou o Tiago Rogero e este é o podcast do Projeto Quirino, produzido pela Rádio yo|soy|el|Tiago|Rogero|y|este|es|el|podcast|del|Proyecto|Quirino|producido|por la|Radio Soy Tiago Rogero y este es el podcast del Proyecto Quirino, producido por la Radio

Novelo. Novelo Novelo.

Episódio 6 – Acordos Faraós Episodio|Acuerdos|Faraones Episodio 6 – Acuerdos Faraónicos

Até onde se sabe, a primeira viagem de tráfico negreiro de escravizados foi lá por volta hasta|donde|se|sabe|la|primera|viaje|de|tráfico|negrero|de|esclavizados|fue|allá|por|vuelta Hasta donde se sabe, el primer viaje de tráfico de esclavos fue alrededor de

de 1440, quando um português, a mando da coroa portuguesa, foi até a região do Rio de|cuando|un|portugués|a|mando|de la|corona|portuguesa|fue|hasta|a|región|de|Río de 1440, cuando un portugués, por orden de la corona portuguesa, fue hasta la región del Río

do Ouro, no continente africano, para comprar azeite e pele de leão marinho. de|Oro|en|continente|africano|para|comprar|aceite|y|piel|de|león|marino de Oro, en el continente africano, para comprar aceite y piel de león marino.

Daí esse português sequestrou 12 africanos e levou para Portugal. entonces|ese|portugués|secuestró|africanos|y|llevó|a|Portugal De ahí, este portugués secuestró a 12 africanos y los llevó a Portugal.

Uns três anos depois teve o primeiro leilão de escravizados em Portugal. unos|tres|años|después|tuvo|el|primer|subasta|de|esclavizados|en|Portugal Unos tres años después tuvo la primera subasta de esclavizados en Portugal.

E aí já eram mais de 200 pessoas, entre elas crianças. y|allí|ya|eran|más|de|personas|entre|ellas|niños Y ya eran más de 200 personas, entre ellas niños.

E é sempre bom lembrar que não foi nesse momento que a escravidão começou, que ela y|es|siempre|bueno|recordar|que|no|fue|en ese|momento|que|la|esclavitud|comenzó|que|ella Y siempre es bueno recordar que no fue en ese momento que comenzó la esclavitud, que ella

foi inventada. fue|inventada fue inventada.

A escravidão já existia e há muito tempo. la|esclavitud|ya|existía|y|hace|mucho|tiempo La esclavitud ya existía y desde hace mucho tiempo.

Tinha escravizado na Grécia Antiga, por exemplo. yo había|esclavizado|en la|Grecia|Antigua|por|ejemplo Había esclavizado en la Antigua Grecia, por ejemplo.

A própria palavra escravo, e fica mais fácil quando a gente pensa nela em inglês, slave, la|propia|palabra|esclavo|y|se hace|más|fácil|cuando|la|gente|piensa|en ella|en|inglés|esclavo La propia palabra esclavo, y se hace más fácil cuando pensamos en ella en inglés, slave,

vem do latim slavos, que é uma referência aos eslavos que por muito tempo foram escravizados. viene|del|latín|eslavos|que|es|una|referencia|a los|eslavos|que|por|mucho|tiempo|fueron|esclavizados viene del latín slavos, que es una referencia a los eslavos que durante mucho tiempo fueron esclavizados.

E o povo eslavo é branco. y|el|pueblo|eslavo|es|blanco Y el pueblo eslavo es blanco.

É que havia muitos motivos para se escravizar uma pessoa. es|que|había|muchos|motivos|para|se|esclavizar|una|persona Es que había muchos motivos para esclavizar a una persona.

Podia ser como resultado de uma guerra, por exemplo, ou por dívida. podía|ser|como|resultado|de|una|guerra|por|ejemplo|o|por|deuda Podía ser como resultado de una guerra, por ejemplo, o por deudas.

Mas não se escravizava alguém só por ser de determinada raça, muito menos só por pero|no|se|esclavizaba|a alguien|solo|por|ser|de|determinada|raza|mucho|menos|solo| Pero no se esclavizaba a alguien solo por ser de determinada raza, mucho menos solo por

ser negro. ser|negro ser negro.

Até porque essa ideia de quem é negro e quem não é, é uma ideia criada depois, hasta|porque|esa|idea|de|quién|es|negro|y|quién|no|es||una|idea|creada|después Hasta porque esta idea de quién es negro y quién no lo es, es una idea creada después,

justamente para justificar essa nova forma de escravidão que surge a partir do momento justamente|para|justificar|esta|nueva|forma|de|esclavitud|que|surge|a|partir|del|momento justamente para justificar esta nueva forma de esclavitud que surge a partir del momento

em que Portugal começa a expandir o seu império. en|que|Portugal|comienza|a|expandir|su||imperio en que Portugal comienza a expandir su imperio.

Uma forma mercantil, em que a pessoa escravizada se transforma em mercadoria, e na mais valiosa una|forma|mercantil|en|que|la|persona|esclavizada|se|transforma|en|mercancía|y|en la|más|valiosa Una forma mercantil, en la que la persona esclavizada se transforma en mercancía, y en la más valiosa

e lucrativa mercadoria de todas. y|lucrativa|mercancía|de|todas y lucrativa mercancía de todas.

Quem começa com isso é Portugal. quien|comienza|con|eso|es|Portugal Quien comienza con esto es Portugal.

Portugal e a Igreja Católica. Portugal|y|la|Iglesia|Católica Portugal y la Iglesia Católica.

Porque a Igreja é quem dá autorização para isso. porque|la|Iglesia|es|quien|da|autorización|para|eso Porque la Iglesia es quien da autorización para esto.

A Igreja deu subsídio moral e ideológico para que a coroa portuguesa escravizasse os la|iglesia|dio|subsidio|moral|e|ideológico|para|que|la|corona|portuguesa|esclavizara|a los La Iglesia dio subsidio moral e ideológico para que la corona portuguesa esclavizara a los

africanos. africanos africanos.

Pouco depois desse primeiro leilão de escravizados, o Papa publicou uma bula que os historiadores poco|después|de ese|primer|subasta|de|esclavizados|el|Papa|publicó|una|bula|que|los|historiadores Poco después de esa primera subasta de esclavizados, el Papa publicó una bula que los historiadores

chamam de a Carta Régia do Imperialismo Português. llaman|de|la|carta|real|del|imperialismo|portugués llaman la Carta Real del Imperialismo Portugués.

E lá ele autorizava a escravização dos africanos. y|allí|él|autorizaba|la|esclavización|de los|africanos Y allí él autorizaba la esclavización de los africanos.

A desculpa era, a escravidão serviria para salvar a alma deles, porque quem sequestrava la|excusa|era|la|esclavitud|serviría|para|salvar|el|alma|de ellos|porque|quien|secuestraba La excusa era que la esclavitud serviría para salvar su alma, porque quien secuestraba

estaria convertendo aquelas pessoas para o cristianismo. estaría|convirtiendo|a esas|personas|al||cristianismo estaría convirtiendo a esas personas al cristianismo.

Mas eu queria que a gente tentasse pensar no continente africano antes de tudo isso. pero|yo|quería|que|la|gente|intentara|pensar|en el|continente|africano|antes|de|todo|esto Pero quería que intentáramos pensar en el continente africano antes de todo esto.

Bom, meu nome é Fernanda Tomaz, sou professora de História da África da Universidade Federal Bueno, mi nombre es Fernanda Tomaz, soy profesora de Historia de África de la Universidad Federal

de Juiz de Fora. de Juiz de Fora.

Pensar o continente africano antes do tráfico transatlântico, penso em diversidade. Pensar en el continente africano antes del tráfico transatlántico, pienso en diversidad.

Porque eram povos diferentes, não eram irmãos, sabe? Porque eran pueblos diferentes, no eran hermanos, ¿sabes?

Esse papo é nosso, eram os irmãos. esa|charla|es|nuestra|eran|los|hermanos Esta charla es nuestra, eran los hermanos.

A ideia de África nem existia. la|idea|de|África|ni|existía La idea de África ni existía.

Essa ideia de África era puxada pelos europeus. esa|idea|de|África|era|arrastrada|por los|europeos Esa idea de África era impulsada por los europeos.

Exatamente com esse contato ao longo do tráfico de escravizados, depois com o colonialismo, exactamente|con|ese|contacto|a lo largo de|largo|del|tráfico|de|esclavizados|después|con|el|colonialismo Exactamente con este contacto a lo largo del tráfico de esclavizados, luego con el colonialismo,

e aí sim define o outro como um continente africano. y|ahí|sí|defines|el|otro|como|un|continente|africano y ahí sí define al otro como un continente africano.

Não é essa identidade de ser africano não, o cara era bacongo, o outro era ovibundo, no|es|esa|identidad|de|ser|africano|no|el|tipo|era|bacongo|el|otro|era|ovibundo No es esa identidad de ser africano, no, el tipo era bacongo, el otro era ovibundo,

sei lá, o outro era macua, maconde, alçá, entende? sé|allá|el|otro|era|macua|maconde|alçá|entiendes no sé, el otro era macua, maconde, alçá, ¿entiendes?

Em termos culturais, a gente está falando de um continente com mais de 30 milhões de en|términos|culturales|la|gente|está|hablando|de|un|continente|con|más|de|millones|de En términos culturales, estamos hablando de un continente con más de 30 millones de

quilômetros quadrados, um continente com dimensões gigantescas, que hoje tem cerca kilómetros|cuadrados|un|continente|con|dimensiones|gigantescas|que|hoy|tiene|cerca kilómetros cuadrados, un continente con dimensiones gigantescas, que hoy tiene alrededor

de 2 mil povos. de|mil|pueblos de 2 mil pueblos.

Mesmo sabendo da complexidade que é tentar pensar em definir uma religiosidade num continente incluso|sabiendo|de la|complejidad|que|es|intentar|pensar|en|definir|una|religiosidad|en un|continente A pesar de saber de la complejidad que implica intentar pensar en definir una religiosidad en un continente

tão diverso, com povos tão distintos, eu perguntei pra Fernanda se haveria elementos tan|diverso|con|pueblos|tan|distintos|yo|pregunté|a|Fernanda|si|habría|elementos tan diverso, con pueblos tan distintos, le pregunté a Fernanda si habría elementos

em comum entre boa parte dessas diferentes culturas. en|común|entre|buena|parte|de esas|diferentes|culturas en común entre buena parte de estas diferentes culturas.

Primeira coisa, Tiago, é a gente ter noção de que é muito da nossa sociedade separar primera|cosa|Tiago|es|la|gente|tener|noción|de|que|es|muy|de|nuestra|sociedad|separar Primera cosa, Tiago, es que debemos tener en cuenta que es muy de nuestra sociedad separar

sagrado e profano. sagrado|y|profano sagrado y profano.

E eu não sei nem se o termo religião daria conta pra pensar nessas práticas espirituais y|yo|no|sé|ni|si|el|término|religión|daría|cuenta|para|pensar|en esas|prácticas|espirituales Y ni siquiera sé si el término religión sería suficiente para pensar en estas prácticas espirituales.

do continente africano, das sociedades africanas. del|continente|africano|de las|sociedades|africanas del continente africano, de las sociedades africanas.

Mas acho que o primeiro ponto a pensar é que não há uma separação, o cotidiano está pero|pienso|que|el|primer|punto|a|pensar|es|que|no|hay|una|separación|lo|cotidiano|está Pero creo que el primer punto a considerar es que no hay una separación, lo cotidiano está

mergulhado em espiritualidade. sumergido|en|espiritualidad sumergido en espiritualidad.

Pensando na linha do deserto do Saara pra baixo, é muito comum o culto aos ancestrais pensando|en la|línea|del|desierto|de|Sáhara|para|abajo|es|muy|común|el|culto|a los|ancestros Pensando en la línea del desierto del Sahara hacia abajo, es muy común el culto a los ancestros.

na grande maioria das sociedades africanas. en|gran|mayoría|de las|sociedades|africanas en la gran mayoría de las sociedades africanas.

O culto aos ancestrais. el|culto|a los|ancestros El culto a los ancestros.

Eu estou falando de sociedades em que o pertencimento histórico, o pertencimento num território yo|estoy|hablando|de|sociedades|en|que|el|pertenencia|histórico|el|pertenencia|en|territorio Estoy hablando de sociedades en las que la pertenencia histórica, la pertenencia a un territorio

tem a ver com as suas heranças na relação de parentes, as suas heranças na linhagem. tiene|que|ver|con|las|sus|herencias|en|relación|de|parientes|las|sus|herencias|en|linaje tiene que ver con sus herencias en la relación de parentesco, sus herencias en la línea de sangre.

Ou seja, é quem na verdade cuidou de você, é quem trouxe você pro mundo, é que na o|sea|es|quien|en|verdad|cuidó|de|ti|||trajo||para el|mundo||| Es decir, es quien en verdad cuidó de ti, es quien te trajo al mundo, es quien en

verdade um dia ele vai ser o mais velho e um dia ele vai ser o ancestral. verdad|un|día|él|va|ser|el|más|viejo||||||||ancestro verdad un día será el más viejo y un día será el ancestro.

E era uma relação não só com quem veio antes, mas com o território também. y|era|una|relación|no|solo|con|quien|vino|antes|sino|||territorio|también Y era una relación no solo con quienes vinieron antes, sino también con el territorio.

Tem um caso, era um jornalista conhecido, lutou pra independência de Moçambique, enfim, hay|un|caso|era|un|periodista|conocido|luchó|para la|independencia|de|Mozambique|en fin Hay un caso, era un periodista conocido, luchó por la independencia de Mozambique, en fin,

e que não tem o digno pro pai, na concepção dele, e enterrou no cemitério da cidade. y|que|no|tiene|el|digno|para el|padre|en la|concepción|de él|y|enterró|en el|cementerio|de la|ciudad y que no tiene el digno para el padre, en su concepción, y lo enterró en el cementerio de la ciudad.

Passaram-se 20 anos, ele teve AVC, vários problemas, inclusive profissionais. ||años|él|tuvo|ACV|varios|problemas|incluso|profesionales Pasaron 20 años, tuvo un ACV, varios problemas, incluidos profesionales.

Ele procurou todos os meios, desde o cuidado físico, ia ao médico, enfim, mas outras él|buscó|todos|los|medios|desde|el|cuidado|físico|iba|al|médico|en fin|pero|otras Buscó todos los medios, desde el cuidado físico, iba al médico, en fin, pero otras

coisas acontecendo que não tinha explicação. cosas|sucediendo|que|no|tenía|explicación cosas sucediendo que no tenían explicación.

E aí ele procurou um curandeiro. y|entonces|él|buscó|un|curandero Y entonces él buscó a un curandero.

E aí o curandeiro disse pra ele, olha, o seu pai quer falar com você, você precisa y|entonces|el|curandero|dijo|para|él|mira|el|tu|padre|quiere|hablar|con|contigo|tú|necesitas Y entonces el curandero le dijo, mira, tu padre quiere hablar contigo, necesitas

jogar os oráculos pra você saber o que o seu pai quer falar com você. lanzar|los|oráculos|para|tú|saber|lo|que|el|tu|padre|quiere|hablar|con|contigo tirar los oráculos para saber lo que tu padre quiere decirte.

Aí ele não acreditou, né? entonces|él|no|creyó|¿verdad Entonces él no lo creyó, ¿verdad?

Eu sou homem da ciência, vou pensar nisso? yo|soy|hombre|de la|ciencia|voy|pensar|en eso Soy un hombre de ciencia, ¿voy a pensar en eso?

Daí que ele descobriu, o pai dele tinha sido enterrado no cemitério da cidade e ele queria entonces|que|él|descubrió|el|padre|de él|había|sido|enterrado|en el|cementerio|de la|ciudad|y|él|quería Entonces descubrió que su padre había sido enterrado en el cementerio de la ciudad y quería

ser enterrado na terra onde estavam os avós, os antepassados, os ancestrais dele. ser|enterrado|en la|tierra|donde|estaban|los|abuelos|los|antepasados|los|ancestrales|de él ser enterrado en la tierra donde estaban los abuelos, los antepasados, sus ancestros.

E aí ele faz uma ação das ossadas, transporta tudo para Iambane, lá pra terra onde estavam y|entonces|él|hace|una|acción|de las|osamentas|transporta|todo|a|Iambane|allí|para|tierra|donde|estaban Y entonces realiza una acción de los restos, transporta todo a Iambane, allí a la tierra donde estaban.

os ancestrais. los|ancestros los ancestrales.

E aí teve todo um ritual, enfim, né? y|entonces|tuvo|todo|un|ritual|en fin|¿no Y ahí hubo todo un ritual, en fin, ¿no?

Após o ritual, a vida dele voltou à normalidade, entende? después de|el|ritual|la|vida|de él|volvió|a|normalidad|entiendes Después del ritual, su vida volvió a la normalidad, ¿entiendes?

Tudo voltou à normalidade. todo|volvió|a|normalidad Todo volvió a la normalidad.

Tem uma palavra de origem banto, kalunga, e ela quer dizer um monte de coisa. tiene|una|palabra|de|origen|banto|kalunga|y|ella|quiere|decir|un|montón|de|cosas Hay una palabra de origen bantú, kalunga, y quiere decir un montón de cosas.

Um significado bem comum é o de morte, além. un|significado|muy|común|es|el|de|muerte|además Un significado bastante común es el de muerte, además.

Daí eu já tinha lido que pra muitos povos africanos que foram escravizados, a travessia entonces|yo|ya|había|leído|que|para|muchos|pueblos|africanos|que|fueron|esclavizados|la|travesía De ahí que ya había leído que para muchos pueblos africanos que fueron esclavizados, la travesía

pelo mar, aqueles dias todos no porão de um navio negreiro, aquilo era encarado como por|mar|aquellos|días|todos|en|sótano|de|un|barco|negrero|eso|era|visto|como por el mar, esos días en el sótano de un barco negrero, eso se veía como

uma morte mesmo. una|muerte|en realidad una muerte de verdad.

Porque o mar era chamado de Kalunga Grande. porque|el|mar|era|llamado|de|Kalunga|Grande Porque el mar era llamado Kalunga Grande.

Mas eu entendi errado. pero|yo|entendí|mal Pero entendí mal.

A morte, em muitas sociedades africanas, ela simboliza uma outra coisa. la|muerte|en|muchas|sociedades|africanas|ella|simboliza|una|otra|cosa La muerte, en muchas sociedades africanas, simboliza otra cosa.

A morte não é um problema, sabe? la|muerte|no|es|un|problema|sabes La muerte no es un problema, ¿sabes?

A morte não é obscura. la|muerte|no|es|oscura La muerte no es oscura.

A morte é simplesmente uma passagem nessa existência. la|muerte|es|simplemente|una|paso|en esta|existencia La muerte es simplemente un paso en esta existencia.

O mundo vivo depende do mundo dos mortos e vice-versa, sabe? el|mundo|vivo|depende|del|mundo|de los|muertos|y|||sabes El mundo vivo depende del mundo de los muertos y viceversa, ¿sabes?

Porque o mundo dos mortos é o que me dá sentido, sabe? porque|el|mundo|de los|muertos|es|lo|que|me|da|sentido|sabes Porque el mundo de los muertos es lo que me da sentido, ¿sabes?

Dá sentido pra minha existência. da|sentido|para|mi|existencia Da sentido a mi existencia.

A morte, ela só simboliza uma passagem, que é pra ir pra esse outro mundo. la|muerte|ella|solo|simboliza|un|paso|que|es|para|ir|para|ese|otro|mundo La muerte, solo simboliza un paso, que es para ir a este otro mundo.

A travessia no navio negreiro não era a morte. la|travesía|en|barco|negrero|no|era|la|muerte La travesía en el barco negrero no era la muerte.

A travessia era algo pior. la|travesía|era|algo|peor La travesía era algo peor.

Porque, na verdade, corta seu eixo com seu território. porque|en la|verdad|corta|su|eje|con|su|territorio Porque, en realidad, corta su eje con su territorio.

O mar simboliza esse tempo de ida que não tem volta. el|mar|simboliza|ese|tiempo|de|ida|que|no|tiene|regreso El mar simboliza ese tiempo de ida que no tiene vuelta.

E esse mar é o que corta a sua relação com a sua linhagem, com o seu território y|ese|mar|es|lo|que|corta|la|su|relación|con|la|su|linaje|con|el|su|territorio Y ese mar es lo que corta su relación con su linaje, con su territorio.

de onde você veio. de|dónde|tú|viniste de dónde viniste.

E corta a sua relação com a sua história. Y|corta|tu|tu|relación|con|tu|tu|historia Y corta tu relación con tu historia.

Porque ainda que você leve seus ancestrais contigo, a relação não é mesmo do lugar Porque|aún|que|tú|lleves|tus|ancestros|contigo|la|relación|no|es|misma|del|lugar Porque aunque lleves a tus ancestros contigo, la relación no es la misma del lugar

em que você vive, porque você largou seu eixo, sabe? en|que|tú|vives|porque|tú|dejaste|tu|eje|sabes en el que vives, porque has dejado tu eje, ¿sabes?

Esse indivíduo que tem toda uma relação de curatividade, ele passa a ser individualizado. ese|individuo|que|tiene|toda|una|relación|de|curatividad|él|pasa|a|ser|individualizado Este individuo que tiene toda una relación de curatividad, pasa a ser individualizado.

E eu acho que essa individualização é quando esses jundidos são comprados na Costa e eles y|yo|pienso|que|esa|individualización|es|cuando|esos|jundidos|son|comprados|en la|Costa|y|ellos Y creo que esta individualización es cuando estos jundidos son comprados en la Costa y ellos

atravessam. atraviesan atraviesan.

Quando eles atravessam, eles estão imergindo em uma outra cultura e numa outra posição cuando|ellos|atraviesan|ellos|están|sumergiéndose|en|una|otra|cultura|y|en una|otra|posición Cuando atraviesan, están inmersos en otra cultura y en otra posición.

social. social social.

Ele passa a ser mercadoria, ele passa a ser escravo. él|pasa|a|ser|mercancía|||||esclavo Él pasa a ser mercancía, él pasa a ser esclavo.

A morte se dá num processo e é num processo de travessia. la|muerte|se|da|en un|proceso|y|es|en un|proceso|de|travesía La muerte se da en un proceso y es en un proceso de travesía.

Mas é uma morte que é feita a partir do desenraizamento. pero|es|una|muerte|que|es|hecha|a|partir|de|desarraigo Pero es una muerte que se hace a partir del desarraigo.

Essa morte da travessia é muito maior do que a morte física. esta|muerte|de la|travesía|es|muy|mayor|que la|que|la|muerte|física Esta muerte de la travesía es mucho mayor que la muerte física.

E sabe quem também participava do tráfico negreiro? y|sabe|quién|también|participaba|en el|tráfico|negrero ¿Y sabes quién más participaba en el tráfico de esclavos?

A igreja. la|iglesia La iglesia.

Em 1558, tinham mais de 10 mil pessoas escravizadas trabalhando em sítios e fazendas dos jesuítas en|tenían|más|de|mil|personas|esclavizadas|trabajando|en|sitios|y|granjas|de los|jesuitas En 1558, había más de 10 mil personas esclavizadas trabajando en sitios y fincas de los jesuitas.

em Angola. en|Angola

Daí começaram umas críticas dentro da própria igreja, não à escravidão, mas à participação Entonces|comenzaron|unas|críticas|dentro|de la|propia|iglesia|no|a la|esclavitud|sino|a la|participación

deles no tráfico. de ellos|en|tráfico

E o padre responsável pela missão respondeu que seria impossível sustentar a operação Y|el|padre|responsable|por la|misión|respondió|que|sería|imposible|sostener|la|operación

sem o tráfico negreiro. sin|el|tráfico|negrero sin el tráfico de esclavos.

Pensando aqui no Brasil agora, a igreja ganhava por cada escravizado que fosse batizado. pensando|aquí|en|Brasil|ahora|la|iglesia|ganaba|por|cada|esclavizado|que|fuera|bautizado Pensando aquí en Brasil ahora, la iglesia ganaba por cada esclavizado que fuera bautizado.

E era lei, todo escravizado deveria ser batizado. y|era|ley|todo|esclavizado|debía|ser|bautizado Y era ley, todo esclavizado debía ser bautizado.

E a igreja já tinha tentado justificar a escravidão com aquela desculpa de salvar y|la|iglesia|ya|había|intentado|justificar|la|esclavitud|con|esa|excusa|de|salvar Y la iglesia ya había intentado justificar la esclavitud con esa excusa de salvar.

almas. almas almas.

Pra manter de pé o regime escravocrata, a coisa foi ficando ainda mais complexa. Para|mantener|de|pie|el|régimen|esclavista|la|cosa|fue|quedando|aún|más|compleja Para mantener en pie el régimen esclavista, la cosa se fue volviendo aún más compleja.

A igreja criou toda uma justificativa ideológica e teológica. La|iglesia|creó|toda|una|justificación|ideológica|y|teológica La iglesia creó toda una justificación ideológica y teológica.

Ela tinha, por exemplo, a ideia de que os africanos deveriam ser escravizados porque Ella|tenía|por|ejemplo|la|idea|de|que|los|africanos|debían|ser|esclavizados|porque Tenía, por ejemplo, la idea de que los africanos debían ser esclavizados porque

eles teriam sido amaldiçoados. ellos|habrían|sido|maldecidos habrían sido maldecidos.

E havia toda uma pedagogia da escravidão. Y|había|toda|una|pedagogía|de la|esclavitud Y había toda una pedagogía de la esclavitud.

A igreja pregava que os senhores tinham nascido para serem senhores e os escravizados para La|iglesia|predicaba|que|los|señores|tenían|nacido|para|ser|señores|y|los|esclavizados|para La iglesia predicaba que los señores habían nacido para ser señores y los esclavizados para

serem escravizados. ser|esclavizados ser esclavizados.

Um dos principais nomes dessa pedagogia era o padre Antônio Vieira, que até hoje dá uno|de los|principales|nombres|de esta|pedagogía|era|el|padre|Antonio|Vieira|que|hasta|hoy|da Uno de los principales nombres de esta pedagogía era el padre Antônio Vieira, que hasta hoy da

nome a uma porção de coisa no Brasil. nombre|a|una|porción|de|cosas|en|Brasil nombre a una porción de cosas en Brasil.

Eu já morei numa rua Antônio Vieira, por exemplo. yo|ya|he vivido|en una|calle|Antonio|Vieira|por|ejemplo Yo ya he vivido en una calle Antônio Vieira, por ejemplo.

Ele dizia que o trabalho no engenho era a cruz e que não há trabalho nem gênero de él|decía|que|el|trabajo|en|ingenio|era|la|cruz|y|que|no|hay|trabajo|ni|género|de Él decía que el trabajo en el ingenio era la cruz y que no hay trabajo ni género de

vida no mundo mais parecido com a paixão de Cristo do que o trabalho escravo nos engenhos. vida|en|mundo|más|parecido|con|la|pasión|de|Cristo|que|que|el|trabajo|esclavo|en|ingenios vida en el mundo más parecida a la pasión de Cristo que el trabajo esclavo en los ingenios.

A religião católica não era só a oficial, era a única permitida. la|religión|católica|no|era|solo|la|oficial|era|la|única|permitida La religión católica no era solo la oficial, era la única permitida.

As manifestações religiosas que não fossem católicas eram classificadas como heresia, las|manifestaciones|religiosas|que|no|fueran|católicas|eran|clasificadas|como|herejía Las manifestaciones religiosas que no fueran católicas eran clasificadas como herejía,

feitiçaria, coisa do demônio. hechicería|cosa|del|demonio hechicería, cosa del demonio.

Aí veio a independência, o Brasil se separou da coroa portuguesa, mas estava lá na Constituição ahí|vino|la|independencia|el|Brasil|se|separó|de la|corona|portuguesa|pero|estaba|allí|en la|Constitución Entonces vino la independencia, Brasil se separó de la corona portuguesa, pero estaba allí en la Constitución

de 24 que durou até o fim do império. de|que|duró|hasta|el|fin|del|imperio de 24 que duró hasta el final del imperio.

A religião católica apostólica romana continuará a ser a religião do império. la|religión|católica|apostólica|romana|continuará|a|ser|la|religión|del|imperio La religión católica apostólica romana seguirá siendo la religión del imperio.

E tinha mais esse trecho. y|tenía|más|este|fragmento Y había más este fragmento.

Todas as outras religiões serão permitidas, e eu chamo atenção para isso, com seu culto todas|las|otras|religiones|serán|permitidas|y|yo|llamo|atención|para|eso|con|su|culto Todas las otras religiones serán permitidas, y llamo la atención sobre esto, con su culto

doméstico ou particular em casa para isso destinada. doméstico|o|particular|en|casa|para|eso|destinada doméstico o particular en casa destinada a ello.

Mas essa casa não poderia parecer um templo do lado de fora. pero|esa|casa|no|podría|parecer|un|templo|del|lado|de|fuera Pero esa casa no podría parecer un templo por fuera.

E a Constituição também dizia que ninguém pode ser perseguido por religião, uma vez y|la|Constitución|también|decía|que|nadie|puede|ser|perseguido|por|religión|una|vez Y la Constitución también decía que nadie puede ser perseguido por religión, una vez

que respeite a do Estado e não ofenda a moral pública. que|respete|la|del|Estado|y|no|ofenda|la|moral|pública que respete la del Estado y no ofenda la moral pública.

E você sabe o que sempre foi uma ofensa a moral pública no Brasil, né? Y|tú|sabes|lo|que|siempre|ha sido|una|ofensa|a|moral|pública|en|Brasil|¿verdad Y sabes lo que siempre ha sido una ofensa a la moral pública en Brasil, ¿verdad?

Qualquer traço de africanidade, como as religiões de matriz africana. Cualquier|rasgo|de|africanidad|como|las|religiones|de|matriz|africana Cualquier rasgo de africanidad, como las religiones de matriz africana.

Embora carreguem elementos seculares e até milenares, as religiões de matriz africana Aunque|carguen|elementos|seculares|y|hasta|milenarios|las|religiones|de|matriz|africana Aunque carguen elementos seculares e incluso milenarios, las religiones de matriz africana

que nós conhecemos hoje são relativamente recentes, a partir da segunda metade do século que|nosotros|conocemos|hoy|son|relativamente|recientes|a|partir|de la|segunda|mitad|del|siglo que conocemos hoy son relativamente recientes, a partir de la segunda mitad del siglo

19. 19.

E são várias, né? y|son|varias|¿no Y son varias, ¿no?

Tem as mais conhecidas, candomblé e umbanda, mas também tem o tambor de mina e o terecô hay|las|más|conocidas|candomblé|y|umbanda|pero|también|hay|el|tambor|de|mina|y|el|terecô Están las más conocidas, candomblé y umbanda, pero también están el tambor de mina y el terecô

no Maranhão, o xangô e o xambá em Pernambuco e Alagoas, a cabula no Espírito Santo, o en|Maranhão|el|xangô|y|el|xambá|en|Pernambuco|y|Alagoas|la|cabula|en|Espíritu|Santo|el en Maranhão, el xangô y el xambá en Pernambuco y Alagoas, la cabula en Espírito Santo, el

batuque no Rio Grande do Sul, o babassué no Pará, a quimbanda no Rio e em São Paulo, batuque|en|Río|Grande|del|Sur|el|babassué|en|Pará|la|quimbanda|en|Río|y|en|São|Paulo batuque en Rio Grande do Sul, el babassué en Pará, la quimbanda en Río y en São Paulo,

o omolocô em Minas, no Rio e em São Paulo. el|omolocô|en|Minas|en|Río|y|en|São|Paulo el omolocô en Minas, en Río y en São Paulo.

São religiões que nasceram aqui no Brasil, com elementos de diferentes sociedades e culturas son|religiones|que|nacieron|aquí|en|Brasil|con|elementos|de|diferentes|sociedades|y|culturas Son religiones que nacieron aquí en Brasil, con elementos de diferentes sociedades y culturas.

africanas, mas que nasceram no Brasil, são afro-brasileiras. africanas|pero|que|nacieron|en|Brasil|son|| africanas, pero que nacieron en Brasil, son afro-brasileñas.

E não é que não havia essa religiosidade aqui antes do século 19. Y|no|es|que|no|había|esta|religiosidad|aquí|antes|del|siglo Y no es que no había esta religiosidad aquí antes del siglo 19.

Apesar da religião oficial imposta pelo Estado, pessoas negras nunca deixaram de professar A pesar de|de la|religión|oficial|impuesta|por el|Estado|personas|negras|nunca|dejaron|de|profesar A pesar de la religión oficial impuesta por el Estado, las personas negras nunca dejaron de profesar

a própria fé. la|propia|fe su propia fe.

E tinha muito senhor que, no interior das fazendas, permitia isso para não provocar y|tenía|mucho|señor|que|en|interior|de las|haciendas|permitía|eso|para|no|provocar Y había muchos señores que, en el interior de las haciendas, permitían eso para no provocar

uma revolta. una|revuelta una revuelta.

Lembra do tratado do Engenho de Santana, quando os escravizados exigiram poder brincar, folgar recuerdas|del|tratado|de|Ingenio|de|Santana|cuando|los|esclavizados|exigieron|poder|jugar|descansar ¿Recuerdas el tratado del Ingenio de Santana, cuando los esclavizados exigieron poder jugar, descansar

e cantar sem pedir licença? y cantar sin pedir permiso?

Isso podia tanto significar o puro e simples lazer quanto religiosidade também. eso|podía|tanto|significar|el|puro|y|simple|ocio|como|religiosidad|también Esto podía significar tanto el puro y simple ocio como la religiosidad también.

Chamar de brincadeira era uma forma de proteger esses ritos religiosos. llamar|de|broma|era|una|forma|de|proteger|esos|ritos|religiosos Llamarlo un juego era una forma de proteger esos ritos religiosos.

Era uma forma de resistência. era|una|forma|de|resistencia Era una forma de resistencia.

Com o passar dos anos, até por causa do número cada vez maior de pessoas negras que estavam con|el|pasar|de los|años|hasta|por|causa|del|número|cada|vez|mayor|de|personas|negras|que|estaban Con el paso de los años, incluso por causa del número cada vez mayor de personas negras que estaban

conquistando a própria liberdade, foram surgindo mais casas, mais terreiros. conquistando|la|propia|libertad|fueron|surgiendo|más|casas||terreiros conquistando su propia libertad, fueron surgiendo más casas, más terreiros.

Daí olha esse caso de 1849, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. entonces|mira|este|caso|de|en|Porto|Alegre|en el|Río|Grande|del|Sur De ahí mira este caso de 1849, en Porto Alegre, en Rio Grande do Sul.

Uma mulher negra fez um requerimento para o chefe de polícia. una|mujer|negra|hizo|un|requerimiento|para|el|jefe|de|policía Una mujer negra hizo un requerimiento al jefe de policía.

Ela fez um pedido. ella|hizo|un|pedido Ella hizo una solicitud.

E quem vai contar aqui é o historiador e professor Paulo Moreira. y|quién|va|contar|aquí|es|el|historiador|y|profesor|Paulo|Moreira Y quien va a contar aquí es el historiador y profesor Paulo Moreira.

Ela se apresenta para o delegado de uma determinada maneira, se apresentando como Maria José ella|se|presenta|para|el|delegado|de|una|determinada|manera|se|presentando|como|María|José Ella se presenta al delegado de una determinada manera, presentándose como María José.

Preta Forra, Rainha Ginga. Preta|Forra|Reina|Ginga Preta Forra, Reina Ginga.

Rainha Ginga. Reina|Ginga Reina Ginga.

De nação angola, com predomínio sobre as outras nações da costa da África. de|nación|angoleña|con|predominio|sobre|las|otras|naciones|de la|costa|de|África De nación angoleña, con predominio sobre las otras naciones de la costa de África.

E ela reclama de que ela tinha uma licença para brincar com as pessoas da sua nação y|ella|reclama|de|que|ella|tenía|un|licencia|para|jugar|con|las|personas|de la|su|nación Y ella reclama que tenía una licencia para jugar con las personas de su nación.

E ela pedia então que essa licença fosse renovada. y|ella|pedía|entonces|que|esa|licencia|fuera|renovada Y entonces pedía que esa licencia fuera renovada.

E aí é interessante a forma como ela se apresenta e como ela tenta disfarçar aquela y|ahí|es|interesante|la|forma|como|ella|se|presenta|y|como|ella|intenta|disfrazar|aquella Y ahí es interesante la forma en que se presenta y cómo intenta disfrazar eso.

manifestação coletiva, aquela manifestação comunitária, como brincadeiras. manifestación|colectiva|esa|manifestación|comunitaria|como|juegos manifestación colectiva, esa manifestación comunitaria, como juegos.

E aí a polícia fica toda ressabiada, porque evidentemente, mesmo ela sendo Forra, a presença y|entonces|la|policía|queda|toda|recelosa|porque|evidentemente|incluso|ella|siendo|Forra|la|presencia Y ahí la policía se pone toda recelosa, porque evidentemente, incluso siendo ella Forra, la presencia

dessa mulher e a liderança que ela tinha nessa comunitária, atemorizava aquela sociedade de esa|mujer|y|el|liderazgo|que|ella|tenía|en esa|comunitaria|atemorizaba|esa|sociedad de esa mujer y el liderazgo que tenía en esa comunidad, atemorizaba a esa sociedad

branca de uma forma que essa sociedade, durante muito tempo, ficou pensando se renovaria blanca|de|una|manera|que|esa|sociedad|durante|mucho|tiempo|quedó|pensando|si|renovaría blanca de una manera que esa sociedad, durante mucho tiempo, estuvo pensando si se renovaría.

a sua licença. su|licencia| su licencia.

A licença tinha sido caçada. la|licencia|había|sido|revocada La licencia había sido revocada.

E aí então, num determinado momento, a licença dela é renovada, desde que as manifestações, y|entonces|entonces|en un|determinado|momento|la|licencia|de ella|es|renovada|desde|que|las|manifestaciones Y entonces, en un momento determinado, su licencia es renovada, siempre que las manifestaciones,

as festas, os brinquedos fossem feitas extra-muros da cidade. las|fiestas|los|juguetes|fueran|hechas|||de|ciudad las fiestas, los juegos se realicen fuera de los muros de la ciudad.

Ou naquilo que se chamava na época da Varsia de Porto Alegre. o|en aquello|que|se|llamaba|en la|época|de la|Varsia|de|Porto|Alegre O en lo que se llamaba en la época de la Varsia de Porto Alegre.

Lembra do nome que ela usou quando fez o requerimento para o chefe de polícia? recuerda|del|nombre|que|ella|usó|cuando|hizo|el|requerimiento|para|el|jefe|de|policía ¿Recuerdas el nombre que usó cuando hizo la solicitud al jefe de policía?

A maneira como ela se apresenta como Rainha Ginga não é uma coisa fortuita, não é la|manera|como|ella|se|presenta|como|Reina|Ginga|no|es|una|cosa|fortuita|no|es La manera en que se presenta como Reina Ginga no es algo fortuito, no es

uma coisa por acaso. una|cosa|por|casualidad algo por casualidad.

Ela certamente escolheu aquilo ali. ella|ciertamente|eligió|eso|allí Ella ciertamente eligió eso allí.

Talvez ali nesse momento ela estivesse dando uma intimada até no delegado, como se ela quizás|allí|en ese|momento|ella|estuviera|dando|una|advertencia|incluso|al|delegado|como|si|ella Quizás en ese momento ella estaba incluso desafiando al delegado, como si ella

estivesse dizendo, olha, veja bem com quem você está falando, eu sou Rainha Ginga, ||mira|ve|bien|con|quién|tú|estás|hablando|yo|soy|reina|Ginga estuviera diciendo, mira, ten cuidado con quién estás hablando, yo soy la Reina Ginga,

eu sou uma mulher que representa várias nações da costa da África. yo|soy|una|mujer|que|representa|varias|naciones|de la|costa|de la|África soy una mujer que representa a varias naciones de la costa de África.

A Rainha Ginga, como a gente sabe, é uma mulher que realmente existiu, se trata de la|reina|Ginga|como|la|gente|sabe|es|una|mujer|que|realmente|existió|se|trata|de La Reina Ginga, como sabemos, es una mujer que realmente existió, se trata de

Nzinga Mbund, uma mulher que viveu ali de 1582 a 1663, nunca pisou no Brasil, foi uma Nzinga|Mbund|una|mujer|que|vivió|allí|de|a|nunca|pisó|en|Brasil|fue|una Nzinga Mbund, una mujer que vivió allí de 1582 a 1663, nunca pisó en Brasil, fue una

rainha no reino do Dongo e reino de Matamba, uma pessoa extremamente importante. reina|||||||de||||| reina en el reino de Dongo y reino de Matamba, una persona extremadamente importante.

Nos anos em que ela esteve no poder, a Rainha Nzinga conseguiu barrar o avanço de Portugal en los|años|en|que|ella|estuvo|en|poder|la|reina|Nzinga|logró|detener|el|avance|de|Portugal En los años en que estuvo en el poder, la Reina Nzinga logró frenar el avance de Portugal.

sobre o reino dela. sobre|el|reino|de ella sobre el reino de ella.

E essa presença da rainha nessa região congo-angola marcou tanto a memória dessas pessoas que Y|esa|presencia|de la|reina|en esa|región|||marcó|tanto|la|memoria|de esas|personas|que Y esta presencia de la reina en esta región congo-angola marcó tanto la memoria de estas personas que

foram trazidas compulsoriamente para o Brasil, que Rainha Nzinga se tornou uma distinção, fueron|traídas|compulsivamente|para|el|Brasil|que|reina|Nzinga|se|convirtió|una|distinción fueron traídas a la fuerza a Brasil, que la Reina Nzinga se convirtió en una distinción,

se tornou um elemento de prestígio. se|convirtió|un|elemento|de|prestigio se convirtió en un elemento de prestigio.

Quando a Maria José diz que ela é Rainha Nzinga, ela estava chamando para si uma certa cuando|la|María|José|dice|que|ella|es|reina|Nzinga|ella|estaba|llamando|para|sí|una|cierta Cuando María José dice que ella es la Reina Nzinga, estaba reclamando para sí una cierta

realeza, mas também uma representatividade ligada à sua ancestralidade. realeza|pero|también|una|representatividad|ligada|a|su|ancestralidad realeza, pero también una representatividad ligada a su ancestralidad.

ANCESTRALIDADE ANCESTRALIDAD ANCESTRALIDAD

No Rio Grande do Sul, assim como no Brasil, de uma forma geral, a gente tem uma série no|río|grande|del|Sur|así|como|en|Brasil|de|una|forma|general|la|gente|tiene|una|serie En Rio Grande do Sul, así como en Brasil, de una forma general, tenemos una serie

de territórios negros. de|territorios|negros de territorios negros.

E nesses territórios, existem uma série de festividades que dialogam com essa memória y|en esos|territorios|existen|una|serie|de|festividades|que|dialogan|con|esa|memoria Y en esos territorios, existen una serie de festividades que dialogan con esa memoria

da África. de la|África de África.

E aí, nessas manifestações atualmente, nesses territórios negros, a gente ainda y|ahí|en esas|manifestaciones|actualmente|en esos|territorios|negros|a|gente|aún Y ahí, en estas manifestaciones actualmente, en esos territorios negros, todavía

tem a presença da Rainha Nzinga e do Rei Congo. tiene|la|presencia|de la|Reina|Nzinga|y|del|Rey|Congo tiene la presencia de la Reina Nzinga y del Rey Congo.

Tu tem Rainha Nzinga e Rei Congo dentro das Irmandades, isso que a gente chama de afro-catolicismo. tú|tienes|Reina|Nzinga|y|Rey|Congo|dentro|de las|Hermandades|eso|que|la|gente|llama|de|| Tú tienes Reina Nzinga y Rey Congo dentro de las Hermandades, eso que llamamos afrocatolicismo.

AS IRMANDADES NEGRAS DENTRO DA IGREJA CATÓLICA LAS|HERMANDADES|NEGRAS|DENTRO|DE LA|IGLESIA|CATÓLICA LAS HERMANDADES NEGRAS DENTRO DE LA IGLESIA CATÓLICA

As Irmandades Negras é considerada a primeira forma de associativismo negro que surge no Brasil. Las|Hermandades|Negras|es|considerada|la|primera|forma|de|asociativismo|negro|que|surge|en|Brasil Las Hermandades Negras son consideradas la primera forma de asociativismo negro que surge en Brasil.

Este é o historiador e professor Petrônio Domingues. este|es|el|historiador|y|profesor|Petrônio|Domingues Este es el historiador y profesor Petrônio Domingues.

O associativismo negro foram as formas encontradas pela população negra de adaptação a esse el|asociativismo|negro|fueron|las|formas|encontradas|por la|población|negra|de|adaptación|a|este El asociativismo negro fueron las formas encontradas por la población negra para adaptarse a este

novo continente, as Américas. nuevo continente, las Américas.

Essa população desenvolveu várias formas, várias estratégias de resistência. esa|población|desarrolló|varias|formas|varias|estrategias|de|resistencia Esta población desarrolló varias formas, varias estrategias de resistencia.

AS IRMANDADES NEGRAS REMONTAM AO PERÍODO COLONIAL las|hermandades|negras|remontan|a|período|colonial LAS HERMANDADES NEGRAS SE REMONTAN AL PERÍODO COLONIAL

As Irmandades Negras remontam ao período colonial criadas inicialmente pela iniciativa las|hermandades|negras|remontan|al|período|colonial|creadas|inicialmente|por la|iniciativa Las Hermandades Negras se remontan al período colonial creadas inicialmente por la iniciativa

dessa população escravizada que buscou seu espaço na Igreja Católica. de esa|población|esclavizada|que|buscó|su|espacio|en la|iglesia|católica de esta población esclavizada que buscó su espacio en la Iglesia Católica.

Um lugar em que essa população escravizada pudesse professar sua fé. un|lugar|en|que|esa|población|esclavizada|pudiera|profesar|su|fe Un lugar en el que esta población esclavizada pudiera profesar su fe.

A Igreja tolerava e até fomentava o surgimento dessas Irmandades Negras que precisavam de la|iglesia|toleraba|y|incluso|fomentaba|el|surgimiento|de esas|hermandades|negras|que|necesitaban|de La Iglesia toleraba e incluso fomentaba el surgimiento de estas Hermandades Negras que necesitaban de

autorização para funcionar. autorización|para|funcionar autorización para funcionar.

Do ponto de vista da Igreja, não deixava de ser uma forma de controle e de catequização. desde|punto|de|vista|de la|iglesia|no|dejaba|de|ser|una|forma|de|control|y|de|catequización Desde el punto de vista de la Iglesia, no dejaba de ser una forma de control y de catequización.

Isso é pelo olhar da Igreja Católica, porque do ponto de vista dos escravizados, as Irmandades eso|es|por|mirada|de la|iglesia|católica|porque|desde|punto|de|vista|de los|esclavizados|las|hermandades Esto es desde la perspectiva de la Iglesia Católica, porque desde el punto de vista de los esclavizados, las Hermandades

Negras eram um espaço de resistência. Negras|eran|un|espacio|de|resistencia Negras eran un espacio de resistencia.

Era um espaço em que eles se sentiam fortalecidos, se sentiam unidos e fortes em função dessa Era|un|espacio|en|que|ellos|se|sentían|fortalecidos|se||unidos|y|fuertes|en|función|de esa Era un espacio en el que se sentían fortalecidos, se sentían unidos y fuertes en función de esa

união coletiva. unión|colectiva unión colectiva.

Porque era um espaço em que você iria não só ter um espaço de culto, um espaço em porque|era|un|espacio|en|que|usted|iría|no|solo|tener|un|espacio|de|culto|un|| Porque era un espacio en el que no solo tendrías un espacio de culto, un espacio en

que você professasse sua fé, um espaço para você poder fazer sua prece, você cultuar que|tú|profesaras|tu|fe|un|espacio|para|tú|poder|hacer|tu|oración|tú|adorar que tú profesaras tu fe, un espacio para que pudieras hacer tu oración, tú adorar

o seu santo, mas também era um espaço em que você encontrasse a sua própria esposa el|tu|santo|pero|también|era|un|espacio|en|que|tú|encontraras|a|tu|propia|esposa a tu santo, pero también era un espacio en el que encontrabas a tu propia esposa

e também era um espaço em que você encontrava os seus, seus irmãos, seus irmãos de cor. y|también|era|un|espacio|en|que|tú|encontrabas|a|tus|tus|hermanos|tus|hermanos|de|color y también era un espacio en el que encontrabas a tus, tus hermanos, tus hermanos de color.

Era um espaço em que essa população de cor se unia, se fortalecia do ponto de vista era|un|espacio|en|que|esa|población|de|color|se|unía|se||desde|punto|de|vista Era un espacio en el que esa población de color se unía, se fortalecía desde el punto de vista

da sua identidade e era um espaço em que também se articulava a luta pela conquista de|su|identidad|y|era|un|espacio|en|que|también|se|articulaba|la|lucha|por|conquista de su identidad y era un espacio en el que también se articulaba la lucha por la conquista

da liberdade. de|libertad de la libertad.

Então as Irmandades Negras foram responsáveis por comprar muitas alforrias. entonces|las|hermandades|negras|fueron|responsables|por|comprar|muchas|cartas de libertad Entonces las Hermandades Negras fueron responsables de comprar muchas libertades.

As Irmandades também construíram igrejas, porque os negros, mesmo que eram livres, las|hermandades|también|construyeron|iglesias|porque|los|negros|aunque|que|eran|libres Las Hermandades también construyeron iglesias, porque los negros, aunque eran libres,

não eram bem aceitos nas igrejas dos brancos. no|eran|bien|aceptados|en las|iglesias|de los|blancos no eran bien aceptados en las iglesias de los blancos.

Os africanos e seus descendentes acabaram criando um catolicismo popular, muito permeado los|africanos|y|sus|descendientes|acabaron|creando|un|catolicismo|popular|muy|permeado Los africanos y sus descendientes terminaron creando un catolicismo popular, muy permeado

pelo sincretismo, pela mistura de elementos com as religiões de matrizes indígena e por el|sincretismo|por la|mezcla|de|elementos|con|las|religiones|de|matrices|indígena|y por el sincretismo, por la mezcla de elementos con las religiones de matrices indígena y

africana. africana africana.

E houve muitos casos de seguidores de religiões de matriz africana que também faziam parte y|hubo|muchos|casos|de|seguidores|de|religiones|de|matriz|africana|que|también|hacían|parte Y hubo muchos casos de seguidores de religiones de matriz africana que también formaban parte

de Irmandades católicas e não só de seguidores, mas também de líderes dessas religiões. de|cofradías|católicas|y|no|solo|de|seguidores|sino|también|de|líderes|de esas|religiones de Hermandades católicas y no solo de seguidores, sino también de líderes de estas religiones.

A mãe Aninha, uma das mais importantes mães de santo da nossa história, que nasceu em la|madre|Aninha|una|de las|más|importantes|madres|de|santo|de la|nuestra|historia|que|nació|en La madre Aninha, una de las más importantes madres de santo de nuestra historia, que nació en

1869 em Salvador, fez parte de duas Irmandades católicas. ||||de|dos|cofradías|católicas 1869 en Salvador, formó parte de dos Hermandades católicas.

E além da compra de alforrias, as Irmandades garantiam também uma boa morte, um enterro y|además|de la|compra|de|libertades|las|Hermandades|garantizaban|también|una|buena|muerte|un|entierro Y además de la compra de libertades, las Hermandades también garantizaban una buena muerte, un entierro

digno, com direito a funeral, missa. digno|con|derecho|a|funeral|misa digno, con derecho a funeral, misa.

Quando João Cândido, o almirante negro, foi julgado pela Marinha do Brasil por se cuando|João|Cândido|el|almirante|negro|fue|juzgado|por la|Marina|de la|Brasil|por|se Cuando João Cândido, el almirante negro, fue juzgado por la Marina de Brasil por

revoltar contra os castigos corporais, na Revolta da Chibata, ele e os outros marinheiros ||los||||||||||otros|marineros rebelarse contra los castigos corporales, en la Revuelta de la Chibata, él y los otros marineros

que sobreviveram, os que não foram assassinados pela Marinha, foram defendidos por advogados que|sobrevivieron|los|que|no|fueron|asesinados|por la|Marina|fueron|defendidos|por|abogados que sobrevivieron, los que no fueron asesinados por la Marina, fueron defendidos por abogados

contratados pela Irmandade do Rio. contratados|por la|Hermandad|del|Río contratados por la Hermandad de Río.

Isso tudo foi já na República, porque depois da Abolição e da República, as Irmandades Eso|todo|fue|ya|en la|República|porque|después|de la|Abolición|y|de la|República|las|Hermandades Todo esto fue ya en la República, porque después de la Abolición y de la República, las Hermandades

continuaram a existir. continuaron|a|existir continuaron existiendo.

Assim como continuou a perseguição às religiões de matriz africana. así|como|continuó|la|persecución|a las|religiones|de|matriz|africana Así como continuó la persecución a las religiones de matriz africana.

Quando é proclamada a República, é interessante observar que a Abolição se dá em 88, a cuando|es|proclamada|la|República|es|interesante|observar|que|la|Abolición|se|da|en|la Cuando se proclama la República, es interesante observar que la Abolición se da en 88,

República vem em 89 e em 90 nasce primeiro o código criminal. |||||||el|| la República viene en 89 y en 90 nace primero el código penal.

Aqui de novo o Babalaô Ivanir dos Santos. Aquí de nuevo el Babalaô Ivanir dos Santos.

O que ele está contando é que em 1890, depois do golpe que derrubou o Império e instituiu lo|que|él|está|contando|es|que|en|después|del|golpe|que|derribó|el|Imperio|y|instituyó Lo que él está contando es que en 1890, después del golpe que derribó el Imperio e instituyó

a República, o governo provisório publicou um decreto que tornou o Brasil, pela primeira la|República|el|gobierno|provisional|publicó|un|decreto|que|convirtió|el|Brasil|por la|primera la República, el gobierno provisional publicó un decreto que convirtió a Brasil, por primera

vez, um Estado laico. vez|un|Estado|laico vez, en un Estado laico.

Ao menos na teoria. al|menos|en la|teoría Al menos en la teoría.

Mas ainda naquele ano, veio o que? pero|aún|en ese|año|vino|lo|que ¿Pero aún en ese año, qué vino?

ai_request(all=202 err=2.48%) translation(all=401 err=2.99%) cwt(all=4171 err=5.61%) es:B7ebVoGS openai.2025-02-07 PAR_TRANS:gpt-4o-mini=1797 PAR_CWT:B7ebVoGS=1797