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O Assunto (*Generated Transcript*), 19.06.23-Everest - temporada mortal no topo do mundo

19.06.23-Everest - temporada mortal no topo do mundo

A gente espera que esse vento melhore e fique um pouquinho mais quente, porque a temperatura

está bem extrema.

Minha mão está congelando.

Quase 7 mil metros de altura e a gente está escalando.

Uma aventura que muitos tentaram, nem todos conseguiram.

Subir ao topo do mundo.

Essa montanha que eu escolhi escalar aqui, ela cobra um preço alto.

Um caminho impressionante, paredões de pedras e picos nevados que se estendem no horizonte,

fonte de águas cristalinas e com o som do vento.

Conforme a escalada avança, o ar vai ficando mais rarefeito e menos pássaros são vistos

cruzando as montanhas.

Ventos de mais de 100 km por hora e temperaturas de 50 graus negativos.

E é preciso subir fazendo pausas para que o corpo se acostume às condições extremas.

A pior sensação do mundo, puxando as abastas dos seus pés, você cair num buraco e a

michelagem do atravar foi o que me salvou.

São tantos desafios que quem consegue vencer os 8.849 metros não segura a emoção.

Eu não choro normalmente, né?

Mas chorei bastante.

A gente se prepara para fazer alguma coisa, então quando você consegue completar,

a satisfação é muito grande.

Uma jornada que pode custar a vida.

A escalada é perigosa.

Há registros de mais de 300 mortes nesse percurso.

Eu vi uns cinco ou seis corpos pelo caminho e não é fácil.

Perdemos dois membros, um indiano e um irlandês do nosso grupo.

Também participei do resgate do búlgaro Ivan Tomov e de uma russa.

Riscos potencializados por temperaturas cada vez mais extremas, resultado das mudanças climáticas.

Apesar disso tudo, a procura de montanhistas só aumenta.

Alpinistas descrevem uma experiência caótica.

A fila na montanha prolonga a permanência na chamada zona mortal,

a mais de 8 mil metros de altitude, onde o oxigênio é escasso.

Ali, o risco de edema pulmonar cresce a cada minuto, agravado pela exaustão.

Da redação do G1, eu sou Natuzaneri e o assunto hoje é Everest,

a temporada mortal no topo do mundo.

O que leva tanta gente a arriscar a vida na cordilheira do Himalaia

e quais desafios os alpinistas encontram na jornada?

Meu convidado neste episódio é Clayton Conservani, jornalista de esporte do Grupo Globo.

Segunda-feira, 19 de junho.

Clayton, para começar eu quero te perguntar o que leva uma pessoa a querer escalar o Everest?

O Everest é a montanha mais alta do planeta e ela atrai as pessoas,

acho que pelo desejo de conquista, pelo desejo de ir mais longe,

pelo sabor da vitória, de poder chegar ao topo do planeta.

Uma pessoa que chega ao topo do Everest, com certeza isso gera alguns benefícios,

ela começa a virar palestrante, ela atrai marcas, tem muitos fatores envolvidos numa escalada.

Agora, essa temporada desse ano, ela é uma temporada com um número muito alto de pedidos de licença.

Uma temporada, portanto, com o maior número de licenças emitidas pelo governo do Nepal.

Foram, nas nossas contas aqui, quase 480.

Ao mesmo tempo, Clayton, é uma temporada de escalada com o maior número de mortes confirmadas, 17 alpinistas mortos.

Então eu queria te perguntar o que explica esse momento?

De um lado, um alto volume de pedidos e de outro, um alto número de mortes nessa temporada.

Essa temporada foi uma temporada bem difícil.

O fator climático, eu acredito que tenha ajudado bastante também nesse número de mortes.

Por quê?

Porque quando você está lá acima dos 7 mil metros, acima dos 6 mil, as ventanias...

O principal problema de uma escalada no Monte Everest, quando a gente está se preparando para alcançar o topo,

a gente fica olhando a velocidade do vento, principalmente.

Você vê, a gente procura os dias com o vento mais fraco.

É o principal obstáculo, além da falta de oxigênio.

A Karina mostra o rosto queimado de frio.

Por causa do vento, ela espira.

Olha, isso dói.

Na subida para o Campo 2, que fica a 7 mil e 800 metros, a temperatura é de menos 50 graus.

O alpinista Waldemar Niklevics também já passou por tudo isso.

Ele foi o primeiro brasileiro a chegar ao cume do Everest em 1995, quando tinha 29 anos.

Ninguém escala o Everest também do dia para a noite.

Você tem que se tornar um alpinista, se transformar, criar força nas pernas, ter um bom sistema cardiovascular,

desenvolver essa resistência para você poder um dia enfrentar o ar raro e feito.

E aí vai. Então é um processo.

E você soma-se a temperaturas baixíssimas que nós tivemos nessa temporada e ventos muito fortes.

Então isso é uma combinação fatal, uma combinação perfeita para acidentes.

Fora isso, a quantidade de licenças que o governo nepalês tem emitido ano após ano, o número não para de aumentar,

porque o Nepal é um país que depende muito do turismo, ele é um país que depende principalmente do turismo para sobreviver.

É um país muito pequeno, um país muito pobre, exprimido entre a China e a Índia.

Então eles dependem bastante.

Então quanto mais licenças, quanto mais receita eles tiverem, é melhor.

Só o problema é que você dá licença para as pessoas que não tem muito preparo, que não se prepararam,

que não estão prontas para uma escalada dessa natureza, uma escalada tão exigente fisicamente, mentalmente.

O Nepal emitiu um recorde de 381 licenças para a escalada do Everest, cada uma custando 11 mil dólares.

Outros 130 montanhistas subiram o monte pelo lado tibetano.

O Nepal considera rever os critérios para emitir as permissões.

Agora poderá ser necessário comprovar experiência em montanhismo e apresentar um certificado de boa condição física.

Pessoas com muito pouca experiência pagam e vão para o Everest, porque não existem pré-requisitos nenhum.

E aí esse comércio desenfreado que é criticado.

E a gente vê que esse ano teve o primeiro acidente, foram quando eles estavam instalando as cordas fixas.

Todos os anos os Sherpas, que são os guias nepaleses que fazem, eles instalam uma corda nova

do início da escalada na cascata de gelo até o topo.

E você viu que a temporada estava difícil, porque essa corda fixa demorou muito para chegar, para ser instalada até o topo da montanha,

justamente por causa do fator climático, por causa dos ventos, por causa das temperaturas muito baixas que nós tivemos esse ano.

Estava difícil para eles, que são guias locais e que conhecem o território, imagina para quem é de fora, né?

Exatamente. E o primeiro acidente foi justamente ali na cascata de gelo do Khumbu.

Esses nepaleses que estavam fazendo, que estavam instalando as cordas fixas, teve um avalanche e alguns corpos nem foram encontrados.

A cascata de gelo, o nome já diz, ela está em constante movimento.

Você normalmente passa ali no momento mais frio do dia, geralmente a gente passa ali durante a madrugada,

quando tem menos avalanche e mesmo assim é muito perigoso.

Então é provavelmente o lugar mais perigoso de toda a escalada do Monte Everest, que é uma roleta russa.

Você nunca sabe quando um bloco gigantesco daqueles vai se mover e vai despencar em cima da sua cabeça.

O que uma pessoa precisa para conseguir escalar os quase 9 mil metros de altitude e chegar até o topo?

E mais uma pergunta, Clayton, em quanto tempo se chega até o topo?

Porque você fala da cascata de gelo e me veio essa dúvida de o quanto tempo precisa para subir.

Uma temporada, uma escalada do Monte Everest dura geralmente em torno de dois meses,

porque você não sobe o Everest uma vez só, você sobe o Everest várias vezes.

Você chega ao acampamento base no Nepal, no lado nepalês, você faz uma caminhada de aproximadamente 10 dias

para chegar aos 5.400 metros de altitude.

Então durante a caminhada você já vai se aclimatando, o seu corpo já vai se adaptando à falta de oxigênio, ao ar rarefeito.

O acampamento base fica a 5.200 metros de altitude.

Depois são três paradas, o campo 1 a 7 mil metros, o campo 2 a 7.800 metros e o campo 3 a 8.300 metros de altitude.

Do campo 3 é feito o ataque ao cume do Everest, o ponto mais acima do nível do mar em todo o mundo, 8.848 metros.

E quando você chega ao acampamento base, o primeiro trecho de escalada é justamente a cascata de gelo do Khumbu.

Então você passa a cascata de gelo, chega ao acampamento 1, passa uma noite, duas, volta para o acampamento base,

descansa um pouco, sobe novamente até um acampamento mais alto, volta para o acampamento base

até o seu corpo estar pronto, adaptado para enfrentar a zona da morte, que é quando você passa ali dos 7.500, chega aos 8.000 metros.

Bom, para quem não escala, você usou expressões bem assustadoras, né?

A roleta russa, o que já dá muito essa ideia do absoluto risco que é essa expedição.

Você também cita a área da morte. Que área é essa? Que zona da morte é essa?

A zona da morte, ela é chamada de zona da morte, é a região do Monte Everest acima dos 8.000 metros de altitude.

Não há ser humano que sobreviva muito tempo parado nessas condições extremas, que sobra de frio, falta em oxigênio.

Última etapa, o ataque ao cume do Everest. 548 metros enfrentados de madrugada, porque a escalada de dia é impossível nesse trecho.

Os ventos só se acalmam um pouco quando anoitece.

O corpo humano, o ser humano não foi feito para sobreviver a grandes altitudes.

Você tem uma ideia, a 5.400 metros, que é só o campo base do Everest, é como se você estivesse respirando com apenas um dos seus pulmões.

Acima dos 5.000 metros, aliás até um pouco menos, acima dos 4.000 metros, você vai morrendo lentamente.

Aí você imagina a zona da morte, os 8.000 metros, os seus batimentos cardíacos aceleram você em repouso,

o seu batimento cardíaco está a 140 batimentos por minuto, você não tem oxigênio.

Se você não estiver usando oxigênio é como se estivesse morrendo afogado ao ar livre, é mais ou menos essa a sensação.

Como o seu sangue fica mais grosso, o risco de congelamento nas extremidades é muito grande,

o risco de um edema nos pulmões é muito grande, o risco de um edema cerebral é muito grande.

Então você se sente cansado, você se sente enjoado, você se sente desnorteado,

a confusão mental é uma das coisas que acontecem na zona da morte.

Então é um lugar para você ficar o menos tempo possível.

No dia 18 de maio, inclusive, um desses guias locais da etnia Sherpa salvou um alpinista que estava preso a uma corda

e tremendo de frio nessa área, justamente na zona da morte.

E esse guia caminhou com o alpinista nas costas por impressionantes seis horas para descer cerca de 600 metros.

Então eu queria que você falasse dessa história em particular, porque é muito impressionante que numa situação dessa,

de muito pouco oxigênio, de um lugar muito perigoso, que alguém tenha conseguido carregar outra pessoa.

Isso é comum?

Olha Natuza, não é nada comum isso acontecer, muito pelo contrário.

O que é muito comum em alta montanha, seja no Everest ou outras montanhas altas, é justamente o contrário.

As pessoas encontrarem pessoas desfalecidas e elas simplesmente ignorarem.

Porque você já está ali numa situação que você está tentando salvar a própria vida.

Você encontra uma pessoa desmaiada, morrendo, literalmente morrendo ali na zona da morte.

Você ter essa capacidade, essa força de fazer esse resgate e carregar uma pessoa nas costas na zona da morte,

isso é um ato de heroísmo, é impressionante o que esse Sherpa fez.

Essa etnia nepalesa, a etnia Sherpa, eles são muito fortes, eles levam tudo para os clientes.

Eles levam as barracas, eles montam as barracas, eles levam panelas, levam cilindros de oxigênio, eles levam tudo nas costas.

O cliente vai só com uma mochilinha leve, com água, com necessidades básicas, alguma coisa para ele comer ali.

Então, acho que somente um Sherpa seria capaz de fazer isso daí.

O Sherpa abandonou o cliente dele para salvar uma vida.

Então, isso realmente é muito difícil de acontecer na montanha, é um fato raríssimo.

E isso para eles é uma profissão, uma profissão que envolve risco.

Eu queria tentar dimensionar isso, porque eu imagino que escalar deva ser bastante caro.

Mas de tudo que se paga numa expedição como essa, o quanto fica para um profissional, para um guia local,

como o caso desse guia Sherpa que salvou a vida de um alpinista?

A fonte de renda dos Sherpas, basicamente, é o que eles ganham fazendo as escaladas.

Eles trabalham para grandes agências e eles têm uma fatia, de certa forma, pequena desse bolo.

Eu acredito que eles não ganhem mais do que 10, 15 mil dólares numa temporada.

É relativamente um salário pequeno em relação ao que as grandes agências cobram dos clientes.

As grandes agências chegam a cobrar mais de 100 mil dólares para uma escalada.

Uma escalada, quando você paga 100, 120 mil dólares, você tem um Sherpa que ele só falta te carregar nas costas.

É porque justamente esse cara talvez seja capaz de te carregar nas costas no caso de uma emergência.

Espera um pouquinho que eu já volto para continuar minha conversa com o Cleito.

A última vez que você foi ao Nepal foi, salvingando, em 2015.

E nesse ano, 18 pessoas morreram no Everest por causa de um terremoto devastador que matou 9 mil pessoas no país.

Você pode lembrar essa experiência para nós?

E como o turismo do Nepal, em especial o Everest, foi super prejudicado nessa ocasião?

Em 2015 eu estava gravando um episódio do Planeta Extremo.

Estava com toda a equipe do Planeta Extremo, eu, o Carol Barcelos e todos os nossos produtores, editores, enfim.

A gente foi mostrar os caçadores de mel do Himalaia e no caminho nosso micro-ônibus começou a tremer

e a gente demorou a entender o que estava acontecendo.

O Guia começou a gritar, oh my God, oh my God, earthquake, earthquake.

E a gente viu postos balançando e a gente estava no pior terremoto dos últimos 40,

o último terremoto dessa magnitude foi em 1934.

Nosso planejamento mudou totalmente.

Tivemos que voltar para Kathmandu e ficamos 10 dias praticamente sem dormir.

Cobrindo esse terremoto do Nepal que matou cerca de 10 mil pessoas.

E Kathmandu foi praticamente destruída e continua destruída na verdade.

Se você voltar hoje para Kathmandu e para vários lugares do Nepal,

o terremoto de 2015 continua até hoje.

Os estragos que o terremoto trouxe foram imensos, inclusive na montanha.

Muitas pessoas que estavam no acampamento base morreram durante avalanche, foram soterradas.

Agora você, Cleiton, esteve no Everest mais de uma vez.

Uma foi em 2005, quando você escalou pelo lado chinês da montanha

e chegou até uma altitude de 7.700 metros.

Depois em 2008 você caminhou até o acampamento pela face sul, justamente a do Nepal.

Qual foi a experiência nessas ocasiões que mais te impactou?

Em 2005, nós fomos pelo lado chinês, que é o lado mais barato, é o lado tibetano da montanha.

O que foi muito marcante nessa expedição foi entender a comercialização,

como o Everest virou um grande comércio.

A nossa expedição era uma expedição, na época, com poucos recursos,

então eu não tinha os melhores guias, meus guias não eram da etnia Sherpa,

eu tinha dois guias da etnia Tamang.

E o que eu vi no Everest em 2005 foi esse comércio, a tentativa de levar os clientes para o Kumbh,

a qualquer preço, a ponto das expedições que tinham mais recursos,

que tinham internet boa, eles conseguiam ver a previsão do vento,

a previsão do tempo com facilidade, e eles chegavam a blefar o dia que eles iam para o Kumbh,

eles divulgavam que eles iam para o Kumbh,

e aí todas as outras expedições iam atrás deles, só que na verdade eles estavam blefando.

Isso só aumenta.

Em 2005 eu não cheguei ao topo, eu cheguei a 7.700 metros,

condições climáticas estavam horríveis, muitas ventanias, muitas tempestades.

Um amigo nosso, o Vitor Negrete, chegou ao topo,

o plano deles era escalar sem oxigênio suplementar, sem o cilindro de oxigênio,

mas como o clima estava muito ruim, ele usou o cilindro de oxigênio.

Em 2006, esses meus amigos voltaram para o Everest, me convidaram para eu ir novamente,

mas eu recusei, falei, não quero voltar não,

porque essa nossa expedição demorou, eu demorei 70 dias para chegar lá,

voltei para o Brasil, com menos, perdi 15 quilos,

eu voltei literalmente um trapo humano,

quando eu voltei para o Brasil as pessoas achavam que eu estava doente,

que eu tinha pego alguma bactéria, que tinha alguma coisa pior acontecido comigo,

mas foi o preço que se paga, né, por uma escalada, por escalar o Everest.

Em 2006, eu fui para o Kumbh,

e eu estava no topo, eu estava no topo,

com uma escalada, por escalar o Everest.

Em 2006, os meus amigos voltaram,

e o meu amigo Vitor Negrete conseguiu chegar ao topo do Everest

sem oxigênio suplementar, mas ele morreu, ele morreu na descida.

Poxa, nossa, sinto muito, sinto muito, Cleito.

O corpo dele permanece lá na montanha, foi embrulhado na própria barraca,

o Everest, acima dos 8 mil metros, já é um cemitério a céu aberto.

Dois fenômenos muito graves, que é o edema pulmonar relacionado à altitude,

e o outro, mais grave ainda, que é o edema cerebral relacionado à altitude.

O aumento da dilatação dos vasos cerebrais faz com que a gente aumente a pressão intracraniana,

e você começa a ter confusão mental, e pode levar até o coma e a morte.

Em 2008, eu voltei pelo outro lado, pelo lado nepalês,

para acompanhar o Rodrigo Raineri e o Eduardo Kepic,

foi quando o Rodrigo Raineri chegou ao topo e fez uma homenagem ao Vitor Negrete.

Então foi, e em 2008 eu fiz também um Globo Repórter sobre a caminhada mais bonita do mundo,

que é essa caminhada até a base do Everest, pelo lado nepalês, ela é sensacional.

Eu recomendo para qualquer pessoa que gosta de fazer caminhadas, de esportes ao ar livre,

é uma caminhada belíssima, você passa por templos, pelos rios, pelas florestas, normalmente é na primavera.

Existem no Nepal 6.500 espécies de árvores e flores selvagens.

Entre os meses de abril e maio, os sododendros florescem na cordilheira do Himalaia,

anunciando a chegada da primavera.

Esse ano foi um ano bom para o Brasil, apesar de tantas mortes,

mas nós tivemos três brasileiros no ponto mais alto do planeta, o Roberto Terzini,

e além dele, o meu amigo Bernardo Fonseca e o Gabriel Tarso, que foi o câmera dele.

E o Bernardo e o Tarso passaram maus bocados na montanha esse ano,

tiveram muitos problemas de saúde, problemas com vento, com tempestade.

O Tarso, inclusive, na descida do Everest, ele só sobreviveu graças ao lixo deixado na montanha.

Eu queria entender isso que você diz, né, que ele sobreviveu graças ao lixo,

porque lá, acho que recolheram no ano passado 34 toneladas de lixo.

O que aconteceu com ele em particular e por que tanto lixo?

O Tarso estava voltando do cume num dia de muita tempestade, um dia muito frio.

Tanto ele quanto o Bernardo tiveram o princípio de congelamento em extremidades

e o Tarso ficou sem oxigênio a 8.700 metros de altitude.

E ele não tinha mais forças para descer e ele começou a descer muito lentamente.

A sorte que ele encontrou um cilindro de oxigênio, ele foi encontrando cilindros que são largados pela montanha

e ele encontrou um cilindro que tinha ainda um pouco de oxigênio.

Foi o que salvou a vida dele.

Escaladores do Nepal recuperaram quatro corpos e recolheram 11 toneladas de lixo no Monte Everest.

A expedição para limpar a montanha durou 45 dias.

Foram encontrados cilindros vazios de oxigênio.

Foram encontrados cilindros vazios de oxigênio, garrafas plásticas, latas e embalagens de alimento.

Foi um mutirão no ano passado que retirou 34 toneladas de rejeitos, né?

Exatamente. De vez em quando eles fazem esses mutirões para dar uma amenizada, né?

Porque senão os acampamentos estão cada vez mais lotados,

até pela falta de espaço de tanto lixo, de tanto resto de expedições antigas que ficam na montanha.

É um problema grave, além do problema do fator climático,

que as tempestades estão cada vez mais fortes, o frio está cada vez mais intenso,

a cascata de gelo está cada vez mais instável, né?

Gerando cada vez mais acidentes e o problema do lixo é gravíssimo.

Cleiton, muito obrigada pelo seu relato.

Eu estou impactada com muitos pontos do que você nos contou aqui no assunto.

Te agradeço muito por ter topado vir falar com a gente.

O prazer é todo meu, Natuza. Muito obrigado e conte comigo aí para as próximas.

Este episódio usou áudios do Canal Off.

Este foi o Assunto, podcast diário disponível no G1, no Globoplay

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Comigo na equipe do Assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato,

Tiago Aguiar, Luiz Felipe Silva, Tiago Kazurowski, Gabriel de Campos,

Nayara Fernandes e Guilherme Romero.

Eu sou Natuzaneri e fico por aqui. Até o próximo assunto.

19.06.23-Everest - temporada mortal no topo do mundo 19.06.23-Everest - tödliche Saison auf dem Gipfel der Welt 06.19.23-Everest - deadly season on top of the world 19.06.23-Everest: una temporada mortal en la cima del mundo 19.06.23-Everest - la saison mortelle au sommet du monde

A gente espera que esse vento melhore e fique um pouquinho mais quente, porque a temperatura

está bem extrema.

Minha mão está congelando.

Quase 7 mil metros de altura e a gente está escalando.

Uma aventura que muitos tentaram, nem todos conseguiram.

Subir ao topo do mundo.

Essa montanha que eu escolhi escalar aqui, ela cobra um preço alto.

Um caminho impressionante, paredões de pedras e picos nevados que se estendem no horizonte,

fonte de águas cristalinas e com o som do vento.

Conforme a escalada avança, o ar vai ficando mais rarefeito e menos pássaros são vistos

cruzando as montanhas.

Ventos de mais de 100 km por hora e temperaturas de 50 graus negativos.

E é preciso subir fazendo pausas para que o corpo se acostume às condições extremas.

A pior sensação do mundo, puxando as abastas dos seus pés, você cair num buraco e a

michelagem do atravar foi o que me salvou.

São tantos desafios que quem consegue vencer os 8.849 metros não segura a emoção.

Eu não choro normalmente, né?

Mas chorei bastante.

A gente se prepara para fazer alguma coisa, então quando você consegue completar,

a satisfação é muito grande.

Uma jornada que pode custar a vida.

A escalada é perigosa.

Há registros de mais de 300 mortes nesse percurso.

Eu vi uns cinco ou seis corpos pelo caminho e não é fácil.

Perdemos dois membros, um indiano e um irlandês do nosso grupo.

Também participei do resgate do búlgaro Ivan Tomov e de uma russa.

Riscos potencializados por temperaturas cada vez mais extremas, resultado das mudanças climáticas.

Apesar disso tudo, a procura de montanhistas só aumenta.

Alpinistas descrevem uma experiência caótica.

A fila na montanha prolonga a permanência na chamada zona mortal,

a mais de 8 mil metros de altitude, onde o oxigênio é escasso.

Ali, o risco de edema pulmonar cresce a cada minuto, agravado pela exaustão.

Da redação do G1, eu sou Natuzaneri e o assunto hoje é Everest,

a temporada mortal no topo do mundo.

O que leva tanta gente a arriscar a vida na cordilheira do Himalaia

e quais desafios os alpinistas encontram na jornada?

Meu convidado neste episódio é Clayton Conservani, jornalista de esporte do Grupo Globo.

Segunda-feira, 19 de junho.

Clayton, para começar eu quero te perguntar o que leva uma pessoa a querer escalar o Everest?

O Everest é a montanha mais alta do planeta e ela atrai as pessoas,

acho que pelo desejo de conquista, pelo desejo de ir mais longe,

pelo sabor da vitória, de poder chegar ao topo do planeta.

Uma pessoa que chega ao topo do Everest, com certeza isso gera alguns benefícios,

ela começa a virar palestrante, ela atrai marcas, tem muitos fatores envolvidos numa escalada.

Agora, essa temporada desse ano, ela é uma temporada com um número muito alto de pedidos de licença.

Uma temporada, portanto, com o maior número de licenças emitidas pelo governo do Nepal.

Foram, nas nossas contas aqui, quase 480.

Ao mesmo tempo, Clayton, é uma temporada de escalada com o maior número de mortes confirmadas, 17 alpinistas mortos.

Então eu queria te perguntar o que explica esse momento?

De um lado, um alto volume de pedidos e de outro, um alto número de mortes nessa temporada.

Essa temporada foi uma temporada bem difícil.

O fator climático, eu acredito que tenha ajudado bastante também nesse número de mortes.

Por quê?

Porque quando você está lá acima dos 7 mil metros, acima dos 6 mil, as ventanias...

O principal problema de uma escalada no Monte Everest, quando a gente está se preparando para alcançar o topo,

a gente fica olhando a velocidade do vento, principalmente.

Você vê, a gente procura os dias com o vento mais fraco.

É o principal obstáculo, além da falta de oxigênio.

A Karina mostra o rosto queimado de frio.

Por causa do vento, ela espira.

Olha, isso dói.

Na subida para o Campo 2, que fica a 7 mil e 800 metros, a temperatura é de menos 50 graus.

O alpinista Waldemar Niklevics também já passou por tudo isso.

Ele foi o primeiro brasileiro a chegar ao cume do Everest em 1995, quando tinha 29 anos.

Ninguém escala o Everest também do dia para a noite.

Você tem que se tornar um alpinista, se transformar, criar força nas pernas, ter um bom sistema cardiovascular,

desenvolver essa resistência para você poder um dia enfrentar o ar raro e feito.

E aí vai. Então é um processo.

E você soma-se a temperaturas baixíssimas que nós tivemos nessa temporada e ventos muito fortes.

Então isso é uma combinação fatal, uma combinação perfeita para acidentes.

Fora isso, a quantidade de licenças que o governo nepalês tem emitido ano após ano, o número não para de aumentar,

porque o Nepal é um país que depende muito do turismo, ele é um país que depende principalmente do turismo para sobreviver.

É um país muito pequeno, um país muito pobre, exprimido entre a China e a Índia.

Então eles dependem bastante.

Então quanto mais licenças, quanto mais receita eles tiverem, é melhor.

Só o problema é que você dá licença para as pessoas que não tem muito preparo, que não se prepararam,

que não estão prontas para uma escalada dessa natureza, uma escalada tão exigente fisicamente, mentalmente.

O Nepal emitiu um recorde de 381 licenças para a escalada do Everest, cada uma custando 11 mil dólares.

Outros 130 montanhistas subiram o monte pelo lado tibetano.

O Nepal considera rever os critérios para emitir as permissões.

Agora poderá ser necessário comprovar experiência em montanhismo e apresentar um certificado de boa condição física.

Pessoas com muito pouca experiência pagam e vão para o Everest, porque não existem pré-requisitos nenhum.

E aí esse comércio desenfreado que é criticado.

E a gente vê que esse ano teve o primeiro acidente, foram quando eles estavam instalando as cordas fixas.

Todos os anos os Sherpas, que são os guias nepaleses que fazem, eles instalam uma corda nova

do início da escalada na cascata de gelo até o topo.

E você viu que a temporada estava difícil, porque essa corda fixa demorou muito para chegar, para ser instalada até o topo da montanha,

justamente por causa do fator climático, por causa dos ventos, por causa das temperaturas muito baixas que nós tivemos esse ano.

Estava difícil para eles, que são guias locais e que conhecem o território, imagina para quem é de fora, né?

Exatamente. E o primeiro acidente foi justamente ali na cascata de gelo do Khumbu.

Esses nepaleses que estavam fazendo, que estavam instalando as cordas fixas, teve um avalanche e alguns corpos nem foram encontrados.

A cascata de gelo, o nome já diz, ela está em constante movimento.

Você normalmente passa ali no momento mais frio do dia, geralmente a gente passa ali durante a madrugada,

quando tem menos avalanche e mesmo assim é muito perigoso.

Então é provavelmente o lugar mais perigoso de toda a escalada do Monte Everest, que é uma roleta russa.

Você nunca sabe quando um bloco gigantesco daqueles vai se mover e vai despencar em cima da sua cabeça.

O que uma pessoa precisa para conseguir escalar os quase 9 mil metros de altitude e chegar até o topo?

E mais uma pergunta, Clayton, em quanto tempo se chega até o topo?

Porque você fala da cascata de gelo e me veio essa dúvida de o quanto tempo precisa para subir.

Uma temporada, uma escalada do Monte Everest dura geralmente em torno de dois meses,

porque você não sobe o Everest uma vez só, você sobe o Everest várias vezes.

Você chega ao acampamento base no Nepal, no lado nepalês, você faz uma caminhada de aproximadamente 10 dias

para chegar aos 5.400 metros de altitude.

Então durante a caminhada você já vai se aclimatando, o seu corpo já vai se adaptando à falta de oxigênio, ao ar rarefeito.

O acampamento base fica a 5.200 metros de altitude.

Depois são três paradas, o campo 1 a 7 mil metros, o campo 2 a 7.800 metros e o campo 3 a 8.300 metros de altitude.

Do campo 3 é feito o ataque ao cume do Everest, o ponto mais acima do nível do mar em todo o mundo, 8.848 metros.

E quando você chega ao acampamento base, o primeiro trecho de escalada é justamente a cascata de gelo do Khumbu.

Então você passa a cascata de gelo, chega ao acampamento 1, passa uma noite, duas, volta para o acampamento base,

descansa um pouco, sobe novamente até um acampamento mais alto, volta para o acampamento base

até o seu corpo estar pronto, adaptado para enfrentar a zona da morte, que é quando você passa ali dos 7.500, chega aos 8.000 metros.

Bom, para quem não escala, você usou expressões bem assustadoras, né?

A roleta russa, o que já dá muito essa ideia do absoluto risco que é essa expedição.

Você também cita a área da morte. Que área é essa? Que zona da morte é essa?

A zona da morte, ela é chamada de zona da morte, é a região do Monte Everest acima dos 8.000 metros de altitude.

Não há ser humano que sobreviva muito tempo parado nessas condições extremas, que sobra de frio, falta em oxigênio.

Última etapa, o ataque ao cume do Everest. 548 metros enfrentados de madrugada, porque a escalada de dia é impossível nesse trecho.

Os ventos só se acalmam um pouco quando anoitece.

O corpo humano, o ser humano não foi feito para sobreviver a grandes altitudes.

Você tem uma ideia, a 5.400 metros, que é só o campo base do Everest, é como se você estivesse respirando com apenas um dos seus pulmões.

Acima dos 5.000 metros, aliás até um pouco menos, acima dos 4.000 metros, você vai morrendo lentamente.

Aí você imagina a zona da morte, os 8.000 metros, os seus batimentos cardíacos aceleram você em repouso,

o seu batimento cardíaco está a 140 batimentos por minuto, você não tem oxigênio.

Se você não estiver usando oxigênio é como se estivesse morrendo afogado ao ar livre, é mais ou menos essa a sensação.

Como o seu sangue fica mais grosso, o risco de congelamento nas extremidades é muito grande,

o risco de um edema nos pulmões é muito grande, o risco de um edema cerebral é muito grande.

Então você se sente cansado, você se sente enjoado, você se sente desnorteado,

a confusão mental é uma das coisas que acontecem na zona da morte.

Então é um lugar para você ficar o menos tempo possível.

No dia 18 de maio, inclusive, um desses guias locais da etnia Sherpa salvou um alpinista que estava preso a uma corda

e tremendo de frio nessa área, justamente na zona da morte.

E esse guia caminhou com o alpinista nas costas por impressionantes seis horas para descer cerca de 600 metros.

Então eu queria que você falasse dessa história em particular, porque é muito impressionante que numa situação dessa,

de muito pouco oxigênio, de um lugar muito perigoso, que alguém tenha conseguido carregar outra pessoa.

Isso é comum?

Olha Natuza, não é nada comum isso acontecer, muito pelo contrário.

O que é muito comum em alta montanha, seja no Everest ou outras montanhas altas, é justamente o contrário.

As pessoas encontrarem pessoas desfalecidas e elas simplesmente ignorarem.

Porque você já está ali numa situação que você está tentando salvar a própria vida.

Você encontra uma pessoa desmaiada, morrendo, literalmente morrendo ali na zona da morte.

Você ter essa capacidade, essa força de fazer esse resgate e carregar uma pessoa nas costas na zona da morte,

isso é um ato de heroísmo, é impressionante o que esse Sherpa fez.

Essa etnia nepalesa, a etnia Sherpa, eles são muito fortes, eles levam tudo para os clientes.

Eles levam as barracas, eles montam as barracas, eles levam panelas, levam cilindros de oxigênio, eles levam tudo nas costas.

O cliente vai só com uma mochilinha leve, com água, com necessidades básicas, alguma coisa para ele comer ali.

Então, acho que somente um Sherpa seria capaz de fazer isso daí.

O Sherpa abandonou o cliente dele para salvar uma vida.

Então, isso realmente é muito difícil de acontecer na montanha, é um fato raríssimo.

E isso para eles é uma profissão, uma profissão que envolve risco.

Eu queria tentar dimensionar isso, porque eu imagino que escalar deva ser bastante caro.

Mas de tudo que se paga numa expedição como essa, o quanto fica para um profissional, para um guia local,

como o caso desse guia Sherpa que salvou a vida de um alpinista?

A fonte de renda dos Sherpas, basicamente, é o que eles ganham fazendo as escaladas.

Eles trabalham para grandes agências e eles têm uma fatia, de certa forma, pequena desse bolo.

Eu acredito que eles não ganhem mais do que 10, 15 mil dólares numa temporada.

É relativamente um salário pequeno em relação ao que as grandes agências cobram dos clientes.

As grandes agências chegam a cobrar mais de 100 mil dólares para uma escalada.

Uma escalada, quando você paga 100, 120 mil dólares, você tem um Sherpa que ele só falta te carregar nas costas.

É porque justamente esse cara talvez seja capaz de te carregar nas costas no caso de uma emergência.

Espera um pouquinho que eu já volto para continuar minha conversa com o Cleito.

A última vez que você foi ao Nepal foi, salvingando, em 2015.

E nesse ano, 18 pessoas morreram no Everest por causa de um terremoto devastador que matou 9 mil pessoas no país.

Você pode lembrar essa experiência para nós?

E como o turismo do Nepal, em especial o Everest, foi super prejudicado nessa ocasião?

Em 2015 eu estava gravando um episódio do Planeta Extremo.

Estava com toda a equipe do Planeta Extremo, eu, o Carol Barcelos e todos os nossos produtores, editores, enfim.

A gente foi mostrar os caçadores de mel do Himalaia e no caminho nosso micro-ônibus começou a tremer

e a gente demorou a entender o que estava acontecendo.

O Guia começou a gritar, oh my God, oh my God, earthquake, earthquake.

E a gente viu postos balançando e a gente estava no pior terremoto dos últimos 40,

o último terremoto dessa magnitude foi em 1934.

Nosso planejamento mudou totalmente.

Tivemos que voltar para Kathmandu e ficamos 10 dias praticamente sem dormir.

Cobrindo esse terremoto do Nepal que matou cerca de 10 mil pessoas.

E Kathmandu foi praticamente destruída e continua destruída na verdade.

Se você voltar hoje para Kathmandu e para vários lugares do Nepal,

o terremoto de 2015 continua até hoje.

Os estragos que o terremoto trouxe foram imensos, inclusive na montanha.

Muitas pessoas que estavam no acampamento base morreram durante avalanche, foram soterradas.

Agora você, Cleiton, esteve no Everest mais de uma vez.

Uma foi em 2005, quando você escalou pelo lado chinês da montanha

e chegou até uma altitude de 7.700 metros.

Depois em 2008 você caminhou até o acampamento pela face sul, justamente a do Nepal.

Qual foi a experiência nessas ocasiões que mais te impactou?

Em 2005, nós fomos pelo lado chinês, que é o lado mais barato, é o lado tibetano da montanha.

O que foi muito marcante nessa expedição foi entender a comercialização,

como o Everest virou um grande comércio.

A nossa expedição era uma expedição, na época, com poucos recursos,

então eu não tinha os melhores guias, meus guias não eram da etnia Sherpa,

eu tinha dois guias da etnia Tamang.

E o que eu vi no Everest em 2005 foi esse comércio, a tentativa de levar os clientes para o Kumbh,

a qualquer preço, a ponto das expedições que tinham mais recursos,

que tinham internet boa, eles conseguiam ver a previsão do vento,

a previsão do tempo com facilidade, e eles chegavam a blefar o dia que eles iam para o Kumbh,

eles divulgavam que eles iam para o Kumbh,

e aí todas as outras expedições iam atrás deles, só que na verdade eles estavam blefando.

Isso só aumenta.

Em 2005 eu não cheguei ao topo, eu cheguei a 7.700 metros,

condições climáticas estavam horríveis, muitas ventanias, muitas tempestades.

Um amigo nosso, o Vitor Negrete, chegou ao topo,

o plano deles era escalar sem oxigênio suplementar, sem o cilindro de oxigênio,

mas como o clima estava muito ruim, ele usou o cilindro de oxigênio.

Em 2006, esses meus amigos voltaram para o Everest, me convidaram para eu ir novamente,

mas eu recusei, falei, não quero voltar não,

porque essa nossa expedição demorou, eu demorei 70 dias para chegar lá,

voltei para o Brasil, com menos, perdi 15 quilos,

eu voltei literalmente um trapo humano,

quando eu voltei para o Brasil as pessoas achavam que eu estava doente,

que eu tinha pego alguma bactéria, que tinha alguma coisa pior acontecido comigo,

mas foi o preço que se paga, né, por uma escalada, por escalar o Everest.

Em 2006, eu fui para o Kumbh,

e eu estava no topo, eu estava no topo,

com uma escalada, por escalar o Everest.

Em 2006, os meus amigos voltaram,

e o meu amigo Vitor Negrete conseguiu chegar ao topo do Everest

sem oxigênio suplementar, mas ele morreu, ele morreu na descida.

Poxa, nossa, sinto muito, sinto muito, Cleito.

O corpo dele permanece lá na montanha, foi embrulhado na própria barraca,

o Everest, acima dos 8 mil metros, já é um cemitério a céu aberto.

Dois fenômenos muito graves, que é o edema pulmonar relacionado à altitude,

e o outro, mais grave ainda, que é o edema cerebral relacionado à altitude.

O aumento da dilatação dos vasos cerebrais faz com que a gente aumente a pressão intracraniana,

e você começa a ter confusão mental, e pode levar até o coma e a morte.

Em 2008, eu voltei pelo outro lado, pelo lado nepalês,

para acompanhar o Rodrigo Raineri e o Eduardo Kepic,

foi quando o Rodrigo Raineri chegou ao topo e fez uma homenagem ao Vitor Negrete.

Então foi, e em 2008 eu fiz também um Globo Repórter sobre a caminhada mais bonita do mundo,

que é essa caminhada até a base do Everest, pelo lado nepalês, ela é sensacional.

Eu recomendo para qualquer pessoa que gosta de fazer caminhadas, de esportes ao ar livre,

é uma caminhada belíssima, você passa por templos, pelos rios, pelas florestas, normalmente é na primavera.

Existem no Nepal 6.500 espécies de árvores e flores selvagens.

Entre os meses de abril e maio, os sododendros florescem na cordilheira do Himalaia,

anunciando a chegada da primavera.

Esse ano foi um ano bom para o Brasil, apesar de tantas mortes,

mas nós tivemos três brasileiros no ponto mais alto do planeta, o Roberto Terzini,

e além dele, o meu amigo Bernardo Fonseca e o Gabriel Tarso, que foi o câmera dele.

E o Bernardo e o Tarso passaram maus bocados na montanha esse ano,

tiveram muitos problemas de saúde, problemas com vento, com tempestade.

O Tarso, inclusive, na descida do Everest, ele só sobreviveu graças ao lixo deixado na montanha.

Eu queria entender isso que você diz, né, que ele sobreviveu graças ao lixo,

porque lá, acho que recolheram no ano passado 34 toneladas de lixo.

O que aconteceu com ele em particular e por que tanto lixo?

O Tarso estava voltando do cume num dia de muita tempestade, um dia muito frio.

Tanto ele quanto o Bernardo tiveram o princípio de congelamento em extremidades

e o Tarso ficou sem oxigênio a 8.700 metros de altitude.

E ele não tinha mais forças para descer e ele começou a descer muito lentamente.

A sorte que ele encontrou um cilindro de oxigênio, ele foi encontrando cilindros que são largados pela montanha

e ele encontrou um cilindro que tinha ainda um pouco de oxigênio.

Foi o que salvou a vida dele.

Escaladores do Nepal recuperaram quatro corpos e recolheram 11 toneladas de lixo no Monte Everest.

A expedição para limpar a montanha durou 45 dias.

Foram encontrados cilindros vazios de oxigênio.

Foram encontrados cilindros vazios de oxigênio, garrafas plásticas, latas e embalagens de alimento.

Foi um mutirão no ano passado que retirou 34 toneladas de rejeitos, né?

Exatamente. De vez em quando eles fazem esses mutirões para dar uma amenizada, né?

Porque senão os acampamentos estão cada vez mais lotados,

até pela falta de espaço de tanto lixo, de tanto resto de expedições antigas que ficam na montanha.

É um problema grave, além do problema do fator climático,

que as tempestades estão cada vez mais fortes, o frio está cada vez mais intenso,

a cascata de gelo está cada vez mais instável, né?

Gerando cada vez mais acidentes e o problema do lixo é gravíssimo.

Cleiton, muito obrigada pelo seu relato.

Eu estou impactada com muitos pontos do que você nos contou aqui no assunto.

Te agradeço muito por ter topado vir falar com a gente.

O prazer é todo meu, Natuza. Muito obrigado e conte comigo aí para as próximas.

Este episódio usou áudios do Canal Off.

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Comigo na equipe do Assunto estão Mônica Mariotti, Amanda Polato,

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Eu sou Natuzaneri e fico por aqui. Até o próximo assunto.