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Embrulha Pra Viagem, FILHO PRODÍGIO

FILHO PRODÍGIO

Amor, dessa vez você lembrou de colocar sal no arroz, né?

Claro que eu coloquei. Do meu jeito.

Nossa, então vai ficar sem sal, de novo.

Oi, meu amor.

A mamãe também te ama, viu?

A Peppa? Não, não tá comigo.

Não sei, filho. Deve estar lá no quarto.

Tá bom, deixa eu só terminar aqui que eu já procuro pra você.

-Você é engraçada, né? -Por quê?

Você conversa com o Bruninho

como se desse pra entender o que ele fala.

Como assim desse pra entender o que ele fala?

Amor, tá tudo bem. Ele tem um ano e meio, normal.

Sim.

E ele já tem uma capacidade cognitiva super avançada.

Que ele faz um barulhinhos engraçadinhos, tudo bem.

Agora, daí pra dizer que ele tá falando...

Oi, mãe. A gente tá morrendo de fome.

Oi, pituca. Tudo bom?

Não vi, não.

Mãe, o Bruninho tá desde ontem procurando a Peppa dele.

Eu sei, filha. Eu já procurei pela casa inteira e não acho.

Espera aí.

Filha, você entendeu o que ele disse?

-É óbvio, pai. -Você não ouviu?

Ouvi, nossa. Ele disse [barulhos de bebê]

E vocês fingindo que entenderam o que ele falou.

Como assim fingindo que entendeu, Thiago?

Seu filho já tem quase dois anos.

Pelo visto você mal conhece ele.

É, pai. Você tá trabalhando demais.

E perdendo os momentos mais preciosos, que não voltam mais.

Mãe, vem cá, vem cá.

Você acha que isso:

-é uma frase? -Ele tá com fome de novo!

Tá pedindo macarrão?

-Mamãe já fez seu papá! -A vovó vai buscar.

Ah, não.

Eu não posso jogar futebol com você amanhã a tarde.

Ah, filha. Só um pouquinho.

À tarde fica cheio de amigo dele no parquinho.

Eu sei, mãe. Mas você sabe. Eu tô cheia de lição pra fazer.

Só se for no fim da tarde, tá bom?

Ah, é verdade. Eu vi na TV.

-Viu o quê? -Que vai chover amanhã.

Aí, a gente pode fazer assim:

amanhã eu faço minha lição e depois de amanhã a gente joga bola.

Como assim, que horas?

Ai, filho, fica tranquilo que não vai bater com o horário

da sua consulta com o doutor Luiz,

porque ele ligou e remarcou pra semana que vem.

Eu esqueci de avisar.

Pode parar. Vocês tão achando que eu tenho cara de idiota?

-Eu não vou cair nessa. -Cair nessa o quê, pai?

Para! Quer dar uma de espertinha, Mirella?

Vamos almoçar que eu tenho que ir trabalhar.

Filha, abre a porta pra mim que deve ser o Souza da manutenção.

Oi, senhor Souza. Pode entrar.

-Com licença, tudo bem? -Souza!

O Cisco falou que vocês deram uma ligadinha lá embaixo na portaria.

Ah, rapaz. É o seu chuveiro?

Pode deixar que eu vou dar um jeito nessa resistência

não vai ficar mais congelando o meu amigão, não!

Seu Thiago, posso dar uma olhadinha no chuveiro?

Seu Thiago?

Repara não, Souza. É que o Thiago não anda muito ligado

no que tá se passando em casa ultimamente.

Eu mostro pra você.

Sei lá, papai tá cada dia mais estranho.

É mesmo. Que você acha?


FILHO PRODÍGIO

Amor, dessa vez você lembrou de colocar sal no arroz, né? Amor, diesmal hast du daran gedacht, Salz auf den Reis zu streuen, nicht wahr?

Claro que eu coloquei. Do meu jeito. Natürlich habe ich das. Auf meine Art.

Nossa, então vai ficar sem sal, de novo. Wow, es wird also wieder kein Salz mehr da sein.

Oi, meu amor. Hallo, mein Schatz.

A mamãe também te ama, viu? Mami hat dich auch lieb, siehst du?

A Peppa? Não, não tá comigo. Wo ist Peppa? Nein, sie ist nicht bei mir.

Não sei, filho. Deve estar lá no quarto.

Tá bom, deixa eu só terminar aqui que eu já procuro pra você.

-Você é engraçada, né? -Por quê?

Você conversa com o Bruninho

como se desse pra entender o que ele fala.

Como assim desse pra entender o que ele fala?

Amor, tá tudo bem. Ele tem um ano e meio, normal.

Sim.

E ele já tem uma capacidade cognitiva super avançada.

Que ele faz um barulhinhos engraçadinhos, tudo bem.

Agora, daí pra dizer que ele tá falando...

Oi, mãe. A gente tá morrendo de fome.

Oi, pituca. Tudo bom?

Não vi, não.

Mãe, o Bruninho tá desde ontem procurando a Peppa dele.

Eu sei, filha. Eu já procurei pela casa inteira e não acho.

Espera aí.

Filha, você entendeu o que ele disse?

-É óbvio, pai. -Você não ouviu?

Ouvi, nossa. Ele disse [barulhos de bebê]

E vocês fingindo que entenderam o que ele falou.

Como assim fingindo que entendeu, Thiago?

Seu filho já tem quase dois anos.

Pelo visto você mal conhece ele.

É, pai. Você tá trabalhando demais.

E perdendo os momentos mais preciosos, que não voltam mais.

Mãe, vem cá, vem cá.

Você acha que isso:

-é uma frase? -Ele tá com fome de novo!

Tá pedindo macarrão?

-Mamãe já fez seu papá! -A vovó vai buscar.

Ah, não.

Eu não posso jogar futebol com você amanhã a tarde.

Ah, filha. Só um pouquinho.

À tarde fica cheio de amigo dele no parquinho.

Eu sei, mãe. Mas você sabe. Eu tô cheia de lição pra fazer.

Só se for no fim da tarde, tá bom?

Ah, é verdade. Eu vi na TV.

-Viu o quê? -Que vai chover amanhã.

Aí, a gente pode fazer assim:

amanhã eu faço minha lição e depois de amanhã a gente joga bola.

Como assim, que horas?

Ai, filho, fica tranquilo que não vai bater com o horário

da sua consulta com o doutor Luiz,

porque ele ligou e remarcou pra semana que vem.

Eu esqueci de avisar.

Pode parar. Vocês tão achando que eu tenho cara de idiota?

-Eu não vou cair nessa. -Cair nessa o quê, pai?

Para! Quer dar uma de espertinha, Mirella?

Vamos almoçar que eu tenho que ir trabalhar.

Filha, abre a porta pra mim que deve ser o Souza da manutenção.

Oi, senhor Souza. Pode entrar.

-Com licença, tudo bem? -Souza!

O Cisco falou que vocês deram uma ligadinha lá embaixo na portaria.

Ah, rapaz. É o seu chuveiro?

Pode deixar que eu vou dar um jeito nessa resistência

não vai ficar mais congelando o meu amigão, não!

Seu Thiago, posso dar uma olhadinha no chuveiro?

Seu Thiago?

Repara não, Souza. É que o Thiago não anda muito ligado

no que tá se passando em casa ultimamente.

Eu mostro pra você.

Sei lá, papai tá cada dia mais estranho.

É mesmo. Que você acha?