As Praças - Edição de 24 de dezembro 2012 - Praça do Toural, Guimarães - 02
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Jornalista:
Temos estado a conversar e a caminhar, afastando-nos deste rumor de água onde começámos a conversa, tem ideia de …em que lugar desta praça onde conversamos se pôs a fazer o primeiro esquisso, foi aqui junto à água, não, não foi, porque não havia, isto não estava aqui, isto foi trazido de volta para aqui.
Arquiteta:
Foi trazido para cá, de facto, esta fonte, o chafariz foi trazido para cá porque em determinado momento, ao pensar, talvez não possa falar propriamente de um sítio onde comecei a desenhar o Toural, foi mais um desenho interior, um desenho mental, se assim quisermos, havia duas coisas que me pareceram sempre fundamentais: uma seria reconquistar a linhagem do Toural, do terreiro à porta da cidade, que tinha uma forma muito mais extensa, muito mais longitudinal do que aquela que eu sempre lhe conheci, e que o último século conheceu com a plataforma central, e portanto com uma centralidade diversa do terreiro anterior e por outro lado, fazer a afirmação daquilo que era essencial, que é o tempo contemporâneo.
Jornalista:
E assim sendo, Maria Manuel Oliveira pensou em recuperar essa ideia de terreiro não já do paço, que o paço fica em Guimarães um pouco mais distante, embora perto, mas do povo.
Neste terreiro, nesta nova praça do Toural as encontrei, Maria Manuel e Isabel Machado, talvez acertando alguma iniciativa da escola de jazz, do convívio, cuja sede é ali tão perto, no Largo da Misericórdia. Há muitos outros pequenos largos neste burgo, são lugares de aconchego, de onde escorre a música da cidade para o Toural, do mesmo modo, tantos têm sido os chamamentos do Toural neste ano da capital europeia da cultura.
Arquiteta:
O Toural é o lugar por excelência da celebração e interessa-me a relação do Toural ou do espaço público, neste caso, o Toural com as pessoas, porque de facto as cidades são mais do que os seus conjuntos arquitetónicos, são os espaços praticados e a relação com as pessoas agregam significações relativamente aos espaços, e o Toural com esta requalificação, ganhou de facto uma dimensão que é o lugar do encontro, é o lugar da celebração por excelência da cidade.
Tenho essa certeza, é o lugar de encontro das pessoas de várias gerações, e é sobretudo um lugar que permite a heterogeneidade, de jovens, de pessoas idosas, de gente a fazer performances de música e isso, de facto, o espaço ganhou com esta requalificação, porque se abriu a um espaço aberto a diversas agregações e a diversas significações.