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Gloss Brazilian Portuguese Level 3, A Contação de Historias no Psiquismo Infantil

A Contação de Historias no Psiquismo Infantil

Ouvir história é recuperar a herança empírica do homem, seus medos, descobertas e desejos. As crianças sabem muito bem o que é essa herança empírica no turbilhão de sentimentos que vivenciam, é onde entra a figura do professor/contador de histórias como mediador deste processo de aprendizagem de lidar com as emoções.

Para a criança muitos de seus sentimentos são tão confusos, perturbadores e dolorosos que é difícil administrá-los, trazendo assim infelicidade. Essa energia emocional fica represada e acaba vazando na forma de sintomas físicos, neuróticos ou comportamentais, como crueldade, comportamento agressivo, dificuldade de aprendizado, enurese noturna, falta de concentração, hiperatividade, obsessões, ansiedades, etc.

Apesar das crianças precisarem de ajuda para lidar com seus sentimentos estas não conseguem falar com naturalidade e facilidade sobre seus problemas, isto porque não estão habituadas à linguagem cotidiana, para elas esta não é a linguagem do sentimento, elas se expressam melhor através da metáfora, da imagem como em histórias e sonhos.

A comunicação por meio da narração de histórias fala as crianças mais profundamente do que a linguagem literal, a linguagem do pensamento; dramatizar com bonecos ou fantoches, representando aquilo que se quer dizer através do desenho ou pintura é fazer uso da linguagem imaginativa, essa é naturalmente a linguagem infantil.

Nas histórias, o mal está tão presente quanto o bem, existem inúmeros obstáculos a serem vencidos, aparecendo escolhas de solução que permitem que a vitória aconteça. Todos esses aspectos fazem parte da vida psíquica da criança, formalizando o processo de identificação.

Aquele herói que luta e vence mostra a possibilidade de não desistir diante dos problemas da vida real e ter forças para superar todos os desafios. Os seres que figuram o mal significam o aspecto instintivo do homem e, ao serem subjugados, criam a possibilidade de equilíbrio entre a natureza animal/instintiva e a humana.

De acordo com Bettelheim (ibid. ), esses seres são criações do imaginário, fantasmas que a criança carrega dentro dela: medo do abandono dos pais, de ser devorada e da rivalidade com irmãos. As histórias contadas minimizam essas angústias e trazem paz as crianças porque essas energias maléficas são destruídas e “tudo acaba bem” no final do conto.

Ainda citando Bettelheim, a narração oral é um caminho para o desenvolvimento da maturidade e sedimentação da individualidade, da autovalorização e da projeção de um futuro esperançoso, gerando o abandono das dependências infantis e abrindo espaço para o convívio com a obrigação moral e a convivência social pautada na consideração ao outro.

É isto que a história faz, ela apresenta mecanismos para enfrentar os problemas de uma maneira saudável e criativa, levando a criança ao um mundo maravilhoso onde os processos vivenciados pelos personagens e suas aventuras são repletas de significados, a criança sente isso, ela entra no mundo da história, um mundo de esperança, opções e possibilidades: opções sobre o que fazer diante de um grande obstáculo, possibilidades e soluções criativas para a superação dos problemas e como lidar com as emoções.

Os contos de fadas são as únicas histórias que de maneira simples e simbólica falam das perdas, da fome, da morte, do medo, do abandono, da violência... Eles têm suas bases nas camadas do inconsciente coletivo, em sentimentos comuns a toda a humanidade, por isso encontramos histórias bastante parecidas em diversas culturas pelo globo e em épocas diversas. Os contos de fadas possuem um fundo arquetípico, sentimentos complexos organizados de um modo fácil de entender especialmente pelas crianças, mostram que é natural ter pensamentos destrutivos e maus, que não se é essencialmente construtivo e bom e que é preciso ordenar os sentimentos e as tendências contraditórias.


A Contação de Historias no Psiquismo Infantil Storytelling in the Child's Psyche

Ouvir história é recuperar a herança empírica do homem, seus medos, descobertas e desejos. As crianças sabem muito bem o que é essa herança empírica no turbilhão de sentimentos que vivenciam, é onde entra a figura do professor/contador de histórias como mediador deste processo de aprendizagem de lidar com as emoções.

Para a criança muitos de seus sentimentos são tão confusos, perturbadores e dolorosos que é difícil administrá-los, trazendo assim infelicidade. Essa energia emocional fica represada e acaba vazando na forma de sintomas físicos, neuróticos ou comportamentais, como crueldade, comportamento agressivo, dificuldade de aprendizado, enurese noturna, falta de concentração, hiperatividade, obsessões, ansiedades, etc.

Apesar das crianças precisarem de ajuda para lidar com seus sentimentos estas não conseguem falar com naturalidade e facilidade sobre seus problemas, isto porque não estão habituadas à linguagem cotidiana, para elas esta não é a linguagem do sentimento, elas se expressam melhor através da metáfora, da imagem como em histórias e sonhos.

A comunicação por meio da narração de histórias fala as crianças mais profundamente do que a linguagem literal, a linguagem do pensamento; dramatizar com bonecos ou fantoches, representando aquilo que se quer dizer através do desenho ou pintura é fazer uso da linguagem imaginativa, essa é naturalmente a linguagem infantil.

Nas histórias, o mal está tão presente quanto o bem, existem inúmeros obstáculos a serem vencidos, aparecendo escolhas de solução que permitem que a vitória aconteça. Todos esses aspectos fazem parte da vida psíquica da criança, formalizando o processo de identificação.

Aquele herói que luta e vence mostra a possibilidade de não desistir diante dos problemas da vida real e ter forças para superar todos os desafios. Os seres que figuram o mal significam o aspecto instintivo do homem e, ao serem subjugados, criam a possibilidade de equilíbrio entre a natureza animal/instintiva e a humana.

De acordo com Bettelheim (ibid. ), esses seres são criações do imaginário, fantasmas que a criança carrega dentro dela: medo do abandono dos pais, de ser devorada e da rivalidade com irmãos. As histórias contadas minimizam essas angústias e trazem paz as crianças porque essas energias maléficas são destruídas e “tudo acaba bem” no final do conto.

Ainda citando Bettelheim, a narração oral é um caminho para o desenvolvimento da maturidade e sedimentação da individualidade, da autovalorização e da projeção de um futuro esperançoso, gerando o abandono das dependências infantis e abrindo espaço para o convívio com a obrigação moral e a convivência social pautada na consideração ao outro.

É isto que a história faz, ela apresenta mecanismos para enfrentar os problemas de uma maneira saudável e criativa, levando a criança ao um mundo maravilhoso onde os processos vivenciados pelos personagens e suas aventuras são repletas de significados, a criança sente isso, ela entra no mundo da história, um mundo de esperança, opções e possibilidades: opções sobre o que fazer diante de um grande obstáculo, possibilidades e soluções criativas para a superação dos problemas e como lidar com as emoções.

Os contos de fadas são as únicas histórias que de maneira simples e simbólica falam das perdas, da fome, da morte, do medo, do abandono, da violência... Eles têm suas bases nas camadas do inconsciente coletivo, em sentimentos comuns a toda a humanidade, por isso encontramos histórias bastante parecidas em diversas culturas pelo globo e em épocas diversas. Os contos de fadas possuem um fundo arquetípico, sentimentos complexos organizados de um modo fácil de entender especialmente pelas crianças, mostram que é natural ter pensamentos destrutivos e maus, que não se é essencialmente construtivo e bom e que é preciso ordenar os sentimentos e as tendências contraditórias.