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BBC News 2021 (Brasil), Os mistérios da vida, morte e aparência de Cleópatra

Os mistérios da vida, morte e aparência de Cleópatra

Cleópatra, sedutora e irresistível. Não a real, mas a do cinema.

A versão mais famosa versão tinha olhos azuis e era representada pela também mitológica

Elizabeth Taylor. A Rainha mais famosa do Egito ganhou diversas

representações no cinema e nas artes. A mais recente, da atriz israelense Gal Gadot,

conhecida pelo filme Mulher Maravilha. Com o novo lançamento, Hollywood reacende

as especulações sobre a aparência e, principalmente, a personalidade de Cleópatra.

Eu sou Malu Cursino, da BBC News Brasil, e hoje eu vou compartilhar com vocês o que

se sabe sobre essa mulher poderosa, descrita pelos biógrafos como inteligente e astuta.

Mas que, aos olhos dos inimigos e de alguns diretores de cinema, geralmente homens, foi

retratada como uma sedutora de beleza estonteante.

De fato, a vida de Cleópatra é digna de deixar a gente grudado na tela e na poltrona.

As alianças militares que ela costurou puseram o maior império do seu tempo, o Romano, a

seu lado. E permitiram a ela governar o Egito com estabilidade

por mais de duas décadas. Sem falar que a morte de Cleópatra é um

dos maiores enigmas da História, cuja solução pode estar no fundo do Mar Mediterrâneo,

nos resquícios submersos de Alexandria.

Mas vamos do começo. Para entender Cleópatra, é preciso observar

o Egito nos séculos anteriores ao nascimento de Cristo.

Um tempo de confrontos de proporções bíblicas, quando permanecer no trono poderia ser uma

questão de vida ou morte – mais precisamente, assassinato.

Em 332 antes de Cristo, Alexandre o Grande liderou tropas macedônias e gregas numa batalha

que libertou os egípcios do domínio dos persas e os colocou, claro, sobre o domínio

do conquistador. Alexandria passou a ser a capital do Egito.

Mas, com a morte de Alexandre cerca de 10 anos depois, seu reino foi dividido. A posição

de governante do Egito foi reivindicada por Ptolomeu 1º, filho de um nobre da Macedônia.

Assim começa a dinastia ptolomaica. A partir dali, durante três séculos, o país

seria governado pelos descendentes de Ptolomeu 1º.

Justamente o caso do pai de de Cleopatra, o faraó Ptolomeu 12, e, finalmente, da própria

rainha, a última da dinastia, mais de 300 anos depois da invasão de Alexandre o Grande.

Nestes três séculos, o Egito se tornaria um dos reinados mais poderosos do mundo.

E logo seria cobiçado por um novo e gigantesco poder: a República e, depois, o Império

Romano. E aí é que, segundo biógrafos, entra a

capacidade política de Cleópatra, algo que os filmes que a retrataram no passado sempre

deixaram em segundo plano. Quando o pai de Cleópatra, Ptolomeu 12, morreu,

as mulheres não podiam governar sem ter um homem ao lado.

A solução encontrada foi casar Cleópatra, que já era co-regente do pai, e tinha 18

anos. E ela se casou com o irmão, Ptolomeu 13, de dez anos. Mas o irmãozinho cresceu.

Ptolomeu 13 conspirou contra a irmã para tirá-la do poder.

Cleópatra foi obrigada a se exilar na Síria, então sob domínio Romano.

A rainha deposta juntou um exército de mercenários e declarou guerra ao irmão.

E curiosamente, Roma também vivia uma batalha interna por poder, entre Júlio César e Pompeu.

Praticamente derrotado, Pompeu foi ao Egito em busca do apoio de Ptolomeu 13, mas o irmão

de Cleópatra tinha sido aconselhado a matá-lo para agradar Júlio César.

A estratégia acabou tendo o efeito inverso. Júlio César ficou furioso ao saber do assassinato

do rival. Como consequência, o general romano foi para

o Egito e restabeleceu o poder de Cleópatra. Ptolomeu 13 também acabou morto.

Graças a sua aliança com Júlio César e Roma, a posição de Cleópatra no comando

do país estava mais sólida. Segundo alguns historiadores, a rainha consolidou

sua popularidade no Egito falando e se vestindo como uma egípcia enquanto cumpria suas obrigações

oficiais, mas voltava ao grego no ambiente privado.

Cleópatra e Júlio César se aproximaram amorosamente e passaram nove meses juntos

em Alexandria, época em que ela engravidou. Cesarião nasceria em 47 a.C, mas nunca foi

assumido publicamente por Julio Cesar. Pra vocês verem como histórias de pais não

assumirem filho vêm de longe. Cleópatra foi com Júlio César para Roma.Mas

quando ele foi assassinado por um grupo de senadores da República, em 44 antes de Cristo,

ela voltou para o Egito, onde matou o irmão mais novo, Ptolomeu 14, para governar o país

ao lado do filho, Cesarião. A morte de Júlio César desencadeou uma nova

disputa de bastidores pelo comando da República Romana que duraria anos. Em especial, entre

o general Marco Antônio e o filho adotado de Júlio César, Otaviano.

Três anos depois do assassinato de Julio Cesar, Cleópatra de Marco Antônio firmaram

uma aliança política e amorosa. Eles tiveram três filhos e viveram juntos no Egito por

dez anos. Foi quando Cleópatra cometeu o que seus biógrafos

enxergam como o grande erro estratégico de sua vida. Ela juntou as tropas egípcias ao

exército de Marco Antônio. Ajudou o amado em batalhas, como na ocupação da Armênia.

Juntos, elaboraram um testamento para que os filhos de Cleópatra herdassem porções

da República Romana. Mas o plano foi descoberto por Otaviano. Começou mais uma guerra civil,

chamada A Última Guerra da República Romana (Explosão)

Cleópatra e Marco Antônio foram derrotados na épica Batalha de Ácio, quando mais de

200 navios foram afundados e mais de cinco mil homens morreram.

Marco Antônio e Cleópatra voltaram para o Egito e, cerca de um ano depois, Otaviano

invadiria o país africano. É aí que surge um dos grandes enigmas em

torno da rainha egípcia. Sua morte. Enquanto Cleópatra se escondia em seu mausoléu,

Marco Antônio partiu para sua última batalha. Mas foi novamente derrotado por Otaviano.

Segundo Lloyd Llewellyn-Jones, professor de História Antiga na Universidade de Cardiff,

no País de Gales, o general romano, derrotado, se jogou sobre a própria espada ao receber

falsas notícias de que a rainha do Egito tinha morrido.

Mas Cleópatra estava viva, escondida. Quando viu o amante morto, a rainha soube que logo

estaria sob domínio romano. Cercada por suntuosas pérolas, ouro, prata e inúmeros tesouros,

também cometeu suicídio. Com a morte de Cleópatra, o Egito viraria domínio do Império

Romano, que se formava sob liderança de Otaviano e varria grandes porções de Europa, África

e Ásia. Para o Egito, era o fim da influência grega

iniciada por Alexandre O Grande. Mas a professora Joyce Tyldesley, professora

de egiptologia da Universidade de Manchester e autora de Cleópatra: A Última Rainha do

Egito, conta que “não existem evidências para dizer como Cleópatra morreu”.

“Um relato menciona uma cobra. Mas cobras estão ligadas à realeza egípcia, então

poderia ser simplesmente um caso de imprecisão"

E a exemplo das dezenas de representações da sua morte, o rosto da mais famosa rainha

do Egito sempre ficou na imaginação – algo que o cinema reforçou.

Essa representação incerta da Cleópatra também teve muito a ver com fato de ela ter

sido derrotada pelos romanos que, em seguida, contariam a história dela.

E, para além da aparência, sua personalidade foi objeto de, por que não dizer, especulação

e até mesmo ficção. Segundo egiptólogos, os escritores romanos

criaram um mito em torno de Cleópatra, às vezes associando uma mulher que se relacionou

com apenas dois homens à devassidão. Eles também apagaram algo importante da história

da rainha: a inteligência. Por outro lado, historiadores muçulmanos

construíram outra imagem de Cleópatra com bases em registros locais, acessados após

a conquista árabe do Egito por volta de 640 depois de Cristo.

Segundo esses estudiosos, a rainha egípcia era erudita, cientista, filósofa e uma política

astuta. Ao morrer, Cleópatra tinha 39 anos.

Foi mumificada e enterrada ao lado de Marco Antônio, com quem viveu por 11 anos.

Só que a localização do túmulo é outro enigma que até hoje não foi desvendado.

A suspeita é de que estejam enterrados em Alexandria.

O problema é que a região se tornou cada vez mais difícil de ser estudada, já que

a maior parte da cidade hoje está submersa. Sem os restos mortais, é difícil saber ao

certo como era a aparência da rainha. O curioso é que o Egito também era marcado

pela mistura de povos da região. O que abre uma guerra de versões sobre a origem de Cleópatra,

que, é bom que você saiba, muito provavelmente não tinha a ver com a imagem construída

na pintura e, depois, no cinema. Mas afinal, ela era egípcia, grega ou macedônia?

Após anos de escavações em Éfeso, na Turquia, pesquisadores acharam uma ossada de mulher

em uma tumba de mais de dois mil anos. Depois de analisar esses restos mortais, estudiosos

da Academia Austríaca de Ciências sugeriram que o esqueleto seria da princesa Arsinoe,

irmã de Cleópatra. Arsinoe tramou contra a rainha e acabou no

exílio, na Turquia. As evidências obtidas pelo estudo das dimensões

do crânio de Arsinoe indicam que ela tem características de brancos europeus, antigos

egípcios e africanos negros, indicando que Cleópatra provavelmente também era de origem

étnica mista. A mãe de Arsinoe seria de origem africana.

Em seguida, a pedido da BBC, a Universidade de Dundee, na Escócia, reconstituiu a face

de Arsinoe com base no esqueleto achado na Turquia.

E veja só como seria a irmã de Cleópatra. Ainda assim, há incertezas sobre a ancestralidade

de Cleópatra. E você deve se perguntar por que isso é

tão importante. Segundo Maria Wyke, professora de latim da

University College, de Londres, existe uma grande disputa para determinar Cleópatra

como egípcia. Maria Wyke diz que no século 19 havia um

debate sobre se ela tinha sangue egípcio, em parte porque há tão pouca informação,

se é que há alguma, sobre sua mãe ou sua avó.

Mas no final do século 20, a questão não era se Cleópatra era egípcia no sentido

genético, mas se ela era negra. Ou seja, será que além de apagarem a inteligência

da rainha, apagaram também sua negritude? Segundo a professora, "principalmente na década

de 1990, com o avanço do afrocentrismo tendo o Egito como ponto de partida, Cleópatra

se tornou a personificação de uma mulher poderosa na origem da história africana.

Portanto, reivindicar Cleópatra como negra tendo uma base histórica ou não é irrelevante.

Uma Cleópatra negra se torna um importante contra-ataque aos preconceitos de gênero

e raça e à apropriação de Cleópatra feita pelo homem branco do mundo ocidental ao longo

do tempo". Em 2009, a arqueóloga e egiptóloga britânica

Sally Ann Ashton utilizou imagens gravadas em artefatos antigos para compor o rosto da

rainha egípcia. O rosto recriado pela egiptóloga com base

em moedas e em um anel indica uma mulher de etnia mista, com traços egípcios e da sua

herança grega. A coisa fica ainda mais complexa se a gente

considerar que a própria Cleópatra, segundo estudiosos, fazia uso político de sua identidade,

de sua origem, de sua imagem. Segundo Joyce Tyldesley, autora de Cleópatra:

A Última Rainha do Egito, a rainha egípcia "manipulou a religião egípcia para que fosse

vista como uma encarnação viva da deusa Ísis, o que lhe permitiu consolidar completamente

sua posição de poder". A BBC perguntou à autora da biografia se

Cleópatra se considerava egípcia. Joyce Tyldesley foi enfática: "Ela era uma

rainha do Egito. O que mais ela teria se considerado? Seu pai era um rei do Egito, uma de suas irmãs

tinha sido rainha. Acho que ela teria se considerado uma egípcia, ainda que não fosse uma egípcia

nativa, mas uma egípcia grega." De acordo com a biógrafa, Cleópatra estava

começando a usar a cultura egípcia, especialmente em termos de religião, para se promover e

se popularizar. Ainda segundo a biógrafa, Cleópatra não

era essa mulher sedutora glamorosa encarnada no cinema por Claudette Colbert ou Elizabeth

Taylor em filmes dirigidos por homens. E não existem evidências de que ela tenha

tido mais do que dois parceiros sexuais: Júlio César, a quem foi fiel até ele morrer, e

Marco Antônio. Joyce Tyldesley lembra que, se considerarmos

as moedas com a efígie dela como mais realistas, Cleópatra não era particularmente bonita.

Mas um retrato de moeda é preciso? Depende da habilidade da pessoa que faz a moeda, que

pode não ter visto a rainha de verdade, e também do que ela queria retratar.

Cleópatra pode ter desejado não parecer delicada e bonita, e pode ter buscado mostrar

poder acima de tudo. Então, talvez, seja o caso de, mais do que

analisar a rainha por seus atributos físicos, observá-la por seus feitos políticos.

Ela governou por mais de 20 anos e conseguiu adiar o domínio romano sobre o Egito, uma

ameaça durante todo seu reinado. Além disso, assumiu um país que estava na

pobreza e o levou a se recuperar economicamente.

Ao anunciar sua participação no novo filme sobre Cleópatra, Gal Gadot fez um tuíte

celebrando a produção. A atriz afirma que pela primeira vez a história

de Cleópatra seria contada por mulheres, sob o comando da diretora Petty Jenkins, a

mesma de Mulher Maravilha.

“Esperamos que mulheres e meninas de todo o mundo que gostariam de contar histórias

jamais abram mão de seus sonhos e façam suas vozes serem ouvidas por outras mulheres”,

disse ela.

Mas os comentários abaixo mostraram que muitas destas mulheres a que se referiu a atriz israelense

esperavam ver uma pessoa negra no papel. “Amo seu trabalho como atriz, mas este papel

pertence a uma negra”, disse uma seguidora. Esta outra tuitou: “Pelos olhos de uma mulher

branca e da branca Hollywood, como sempre”. Mas uma coisa é indiscutível: mais de dois

mil anos depois de morrer, Cleópatra ainda desafia a Humanidade.

Seu legado político é bem mais complexo do que seus detratores registraram. E sua

aparência evoca questões de representatividade que ainda precisam ser respondidas pela mídia.

Se o cinema será espaço para essa reflexão, é difícil saber.

Mas o certo é que isso tudo se deve a história extraordinária da rainha, uma personalidade

tão marcante que ainda intriga, demanda investigações e alimenta nossa imaginação.

E você, gostou dessa história? Conta para a gente nos comentários. Eu fico por aqui!

Tchau

Os mistérios da vida, morte e aparência de Cleópatra Los misterios de la vida, la muerte y la apariencia de Cleopatra

Cleópatra, sedutora e irresistível. Não a real, mas a do cinema.

A versão mais famosa versão tinha olhos azuis e era representada pela também mitológica

Elizabeth Taylor. A Rainha mais famosa do Egito ganhou diversas

representações no cinema e nas artes. A mais recente, da atriz israelense Gal Gadot,

conhecida pelo filme Mulher Maravilha. Com o novo lançamento, Hollywood reacende

as especulações sobre a aparência e, principalmente, a personalidade de Cleópatra.

Eu sou Malu Cursino, da BBC News Brasil, e hoje eu vou compartilhar com vocês o que

se sabe sobre essa mulher poderosa, descrita pelos biógrafos como inteligente e astuta.

Mas que, aos olhos dos inimigos e de alguns diretores de cinema, geralmente homens, foi

retratada como uma sedutora de beleza estonteante.

De fato, a vida de Cleópatra é digna de deixar a gente grudado na tela e na poltrona.

As alianças militares que ela costurou puseram o maior império do seu tempo, o Romano, a

seu lado. E permitiram a ela governar o Egito com estabilidade

por mais de duas décadas. Sem falar que a morte de Cleópatra é um

dos maiores enigmas da História, cuja solução pode estar no fundo do Mar Mediterrâneo,

nos resquícios submersos de Alexandria.

Mas vamos do começo. Para entender Cleópatra, é preciso observar

o Egito nos séculos anteriores ao nascimento de Cristo.

Um tempo de confrontos de proporções bíblicas, quando permanecer no trono poderia ser uma

questão de vida ou morte – mais precisamente, assassinato.

Em 332 antes de Cristo, Alexandre o Grande liderou tropas macedônias e gregas numa batalha

que libertou os egípcios do domínio dos persas e os colocou, claro, sobre o domínio

do conquistador. Alexandria passou a ser a capital do Egito.

Mas, com a morte de Alexandre cerca de 10 anos depois, seu reino foi dividido. A posição

de governante do Egito foi reivindicada por Ptolomeu 1º, filho de um nobre da Macedônia.

Assim começa a dinastia ptolomaica. A partir dali, durante três séculos, o país

seria governado pelos descendentes de Ptolomeu 1º.

Justamente o caso do pai de de Cleopatra, o faraó Ptolomeu 12, e, finalmente, da própria

rainha, a última da dinastia, mais de 300 anos depois da invasão de Alexandre o Grande.

Nestes três séculos, o Egito se tornaria um dos reinados mais poderosos do mundo.

E logo seria cobiçado por um novo e gigantesco poder: a República e, depois, o Império

Romano. E aí é que, segundo biógrafos, entra a

capacidade política de Cleópatra, algo que os filmes que a retrataram no passado sempre

deixaram em segundo plano. Quando o pai de Cleópatra, Ptolomeu 12, morreu,

as mulheres não podiam governar sem ter um homem ao lado.

A solução encontrada foi casar Cleópatra, que já era co-regente do pai, e tinha 18

anos. E ela se casou com o irmão, Ptolomeu 13, de dez anos. Mas o irmãozinho cresceu.

Ptolomeu 13 conspirou contra a irmã para tirá-la do poder.

Cleópatra foi obrigada a se exilar na Síria, então sob domínio Romano.

A rainha deposta juntou um exército de mercenários e declarou guerra ao irmão.

E curiosamente, Roma também vivia uma batalha interna por poder, entre Júlio César e Pompeu.

Praticamente derrotado, Pompeu foi ao Egito em busca do apoio de Ptolomeu 13, mas o irmão

de Cleópatra tinha sido aconselhado a matá-lo para agradar Júlio César.

A estratégia acabou tendo o efeito inverso. Júlio César ficou furioso ao saber do assassinato

do rival. Como consequência, o general romano foi para

o Egito e restabeleceu o poder de Cleópatra. Ptolomeu 13 também acabou morto.

Graças a sua aliança com Júlio César e Roma, a posição de Cleópatra no comando

do país estava mais sólida. Segundo alguns historiadores, a rainha consolidou

sua popularidade no Egito falando e se vestindo como uma egípcia enquanto cumpria suas obrigações

oficiais, mas voltava ao grego no ambiente privado.

Cleópatra e Júlio César se aproximaram amorosamente e passaram nove meses juntos

em Alexandria, época em que ela engravidou. Cesarião nasceria em 47 a.C, mas nunca foi

assumido publicamente por Julio Cesar. Pra vocês verem como histórias de pais não

assumirem filho vêm de longe. Cleópatra foi com Júlio César para Roma.Mas

quando ele foi assassinado por um grupo de senadores da República, em 44 antes de Cristo,

ela voltou para o Egito, onde matou o irmão mais novo, Ptolomeu 14, para governar o país

ao lado do filho, Cesarião. A morte de Júlio César desencadeou uma nova

disputa de bastidores pelo comando da República Romana que duraria anos. Em especial, entre

o general Marco Antônio e o filho adotado de Júlio César, Otaviano.

Três anos depois do assassinato de Julio Cesar, Cleópatra de Marco Antônio firmaram

uma aliança política e amorosa. Eles tiveram três filhos e viveram juntos no Egito por

dez anos. Foi quando Cleópatra cometeu o que seus biógrafos

enxergam como o grande erro estratégico de sua vida. Ela juntou as tropas egípcias ao

exército de Marco Antônio. Ajudou o amado em batalhas, como na ocupação da Armênia.

Juntos, elaboraram um testamento para que os filhos de Cleópatra herdassem porções

da República Romana. Mas o plano foi descoberto por Otaviano. Começou mais uma guerra civil,

chamada A Última Guerra da República Romana (Explosão)

Cleópatra e Marco Antônio foram derrotados na épica Batalha de Ácio, quando mais de

200 navios foram afundados e mais de cinco mil homens morreram.

Marco Antônio e Cleópatra voltaram para o Egito e, cerca de um ano depois, Otaviano

invadiria o país africano. É aí que surge um dos grandes enigmas em

torno da rainha egípcia. Sua morte. Enquanto Cleópatra se escondia em seu mausoléu,

Marco Antônio partiu para sua última batalha. Mas foi novamente derrotado por Otaviano.

Segundo Lloyd Llewellyn-Jones, professor de História Antiga na Universidade de Cardiff,

no País de Gales, o general romano, derrotado, se jogou sobre a própria espada ao receber

falsas notícias de que a rainha do Egito tinha morrido.

Mas Cleópatra estava viva, escondida. Quando viu o amante morto, a rainha soube que logo

estaria sob domínio romano. Cercada por suntuosas pérolas, ouro, prata e inúmeros tesouros,

também cometeu suicídio. Com a morte de Cleópatra, o Egito viraria domínio do Império

Romano, que se formava sob liderança de Otaviano e varria grandes porções de Europa, África

e Ásia. Para o Egito, era o fim da influência grega

iniciada por Alexandre O Grande. Mas a professora Joyce Tyldesley, professora

de egiptologia da Universidade de Manchester e autora de Cleópatra: A Última Rainha do

Egito, conta que “não existem evidências para dizer como Cleópatra morreu”.

“Um relato menciona uma cobra. Mas cobras estão ligadas à realeza egípcia, então

poderia ser simplesmente um caso de imprecisão"

E a exemplo das dezenas de representações da sua morte, o rosto da mais famosa rainha

do Egito sempre ficou na imaginação – algo que o cinema reforçou.

Essa representação incerta da Cleópatra também teve muito a ver com fato de ela ter

sido derrotada pelos romanos que, em seguida, contariam a história dela.

E, para além da aparência, sua personalidade foi objeto de, por que não dizer, especulação

e até mesmo ficção. Segundo egiptólogos, os escritores romanos

criaram um mito em torno de Cleópatra, às vezes associando uma mulher que se relacionou

com apenas dois homens à devassidão. Eles também apagaram algo importante da história

da rainha: a inteligência. Por outro lado, historiadores muçulmanos

construíram outra imagem de Cleópatra com bases em registros locais, acessados após

a conquista árabe do Egito por volta de 640 depois de Cristo.

Segundo esses estudiosos, a rainha egípcia era erudita, cientista, filósofa e uma política

astuta. Ao morrer, Cleópatra tinha 39 anos.

Foi mumificada e enterrada ao lado de Marco Antônio, com quem viveu por 11 anos.

Só que a localização do túmulo é outro enigma que até hoje não foi desvendado.

A suspeita é de que estejam enterrados em Alexandria.

O problema é que a região se tornou cada vez mais difícil de ser estudada, já que

a maior parte da cidade hoje está submersa. Sem os restos mortais, é difícil saber ao

certo como era a aparência da rainha. O curioso é que o Egito também era marcado

pela mistura de povos da região. O que abre uma guerra de versões sobre a origem de Cleópatra,

que, é bom que você saiba, muito provavelmente não tinha a ver com a imagem construída

na pintura e, depois, no cinema. Mas afinal, ela era egípcia, grega ou macedônia?

Após anos de escavações em Éfeso, na Turquia, pesquisadores acharam uma ossada de mulher

em uma tumba de mais de dois mil anos. Depois de analisar esses restos mortais, estudiosos

da Academia Austríaca de Ciências sugeriram que o esqueleto seria da princesa Arsinoe,

irmã de Cleópatra. Arsinoe tramou contra a rainha e acabou no

exílio, na Turquia. As evidências obtidas pelo estudo das dimensões

do crânio de Arsinoe indicam que ela tem características de brancos europeus, antigos

egípcios e africanos negros, indicando que Cleópatra provavelmente também era de origem

étnica mista. A mãe de Arsinoe seria de origem africana.

Em seguida, a pedido da BBC, a Universidade de Dundee, na Escócia, reconstituiu a face

de Arsinoe com base no esqueleto achado na Turquia.

E veja só como seria a irmã de Cleópatra. Ainda assim, há incertezas sobre a ancestralidade

de Cleópatra. E você deve se perguntar por que isso é

tão importante. Segundo Maria Wyke, professora de latim da

University College, de Londres, existe uma grande disputa para determinar Cleópatra

como egípcia. Maria Wyke diz que no século 19 havia um

debate sobre se ela tinha sangue egípcio, em parte porque há tão pouca informação,

se é que há alguma, sobre sua mãe ou sua avó.

Mas no final do século 20, a questão não era se Cleópatra era egípcia no sentido

genético, mas se ela era negra. Ou seja, será que além de apagarem a inteligência

da rainha, apagaram também sua negritude? Segundo a professora, "principalmente na década

de 1990, com o avanço do afrocentrismo tendo o Egito como ponto de partida, Cleópatra

se tornou a personificação de uma mulher poderosa na origem da história africana.

Portanto, reivindicar Cleópatra como negra tendo uma base histórica ou não é irrelevante.

Uma Cleópatra negra se torna um importante contra-ataque aos preconceitos de gênero

e raça e à apropriação de Cleópatra feita pelo homem branco do mundo ocidental ao longo

do tempo". Em 2009, a arqueóloga e egiptóloga britânica

Sally Ann Ashton utilizou imagens gravadas em artefatos antigos para compor o rosto da

rainha egípcia. O rosto recriado pela egiptóloga com base

em moedas e em um anel indica uma mulher de etnia mista, com traços egípcios e da sua

herança grega. A coisa fica ainda mais complexa se a gente

considerar que a própria Cleópatra, segundo estudiosos, fazia uso político de sua identidade,

de sua origem, de sua imagem. Segundo Joyce Tyldesley, autora de Cleópatra:

A Última Rainha do Egito, a rainha egípcia "manipulou a religião egípcia para que fosse

vista como uma encarnação viva da deusa Ísis, o que lhe permitiu consolidar completamente

sua posição de poder". A BBC perguntou à autora da biografia se

Cleópatra se considerava egípcia. Joyce Tyldesley foi enfática: "Ela era uma

rainha do Egito. O que mais ela teria se considerado? Seu pai era um rei do Egito, uma de suas irmãs

tinha sido rainha. Acho que ela teria se considerado uma egípcia, ainda que não fosse uma egípcia

nativa, mas uma egípcia grega." De acordo com a biógrafa, Cleópatra estava

começando a usar a cultura egípcia, especialmente em termos de religião, para se promover e

se popularizar. Ainda segundo a biógrafa, Cleópatra não

era essa mulher sedutora glamorosa encarnada no cinema por Claudette Colbert ou Elizabeth

Taylor em filmes dirigidos por homens. E não existem evidências de que ela tenha

tido mais do que dois parceiros sexuais: Júlio César, a quem foi fiel até ele morrer, e

Marco Antônio. Joyce Tyldesley lembra que, se considerarmos

as moedas com a efígie dela como mais realistas, Cleópatra não era particularmente bonita.

Mas um retrato de moeda é preciso? Depende da habilidade da pessoa que faz a moeda, que

pode não ter visto a rainha de verdade, e também do que ela queria retratar.

Cleópatra pode ter desejado não parecer delicada e bonita, e pode ter buscado mostrar

poder acima de tudo. Então, talvez, seja o caso de, mais do que

analisar a rainha por seus atributos físicos, observá-la por seus feitos políticos.

Ela governou por mais de 20 anos e conseguiu adiar o domínio romano sobre o Egito, uma

ameaça durante todo seu reinado. Além disso, assumiu um país que estava na

pobreza e o levou a se recuperar economicamente.

Ao anunciar sua participação no novo filme sobre Cleópatra, Gal Gadot fez um tuíte

celebrando a produção. A atriz afirma que pela primeira vez a história

de Cleópatra seria contada por mulheres, sob o comando da diretora Petty Jenkins, a

mesma de Mulher Maravilha.

“Esperamos que mulheres e meninas de todo o mundo que gostariam de contar histórias

jamais abram mão de seus sonhos e façam suas vozes serem ouvidas por outras mulheres”,

disse ela.

Mas os comentários abaixo mostraram que muitas destas mulheres a que se referiu a atriz israelense

esperavam ver uma pessoa negra no papel. “Amo seu trabalho como atriz, mas este papel

pertence a uma negra”, disse uma seguidora. Esta outra tuitou: “Pelos olhos de uma mulher

branca e da branca Hollywood, como sempre”. Mas uma coisa é indiscutível: mais de dois

mil anos depois de morrer, Cleópatra ainda desafia a Humanidade.

Seu legado político é bem mais complexo do que seus detratores registraram. E sua

aparência evoca questões de representatividade que ainda precisam ser respondidas pela mídia.

Se o cinema será espaço para essa reflexão, é difícil saber.

Mas o certo é que isso tudo se deve a história extraordinária da rainha, uma personalidade

tão marcante que ainda intriga, demanda investigações e alimenta nossa imaginação.

E você, gostou dessa história? Conta para a gente nos comentários. Eu fico por aqui!

Tchau