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Parafernalha, DE VOLTA À FACULDADE | PARAFERNALHA

DE VOLTA À FACULDADE | PARAFERNALHA

Bom dia, professor.

Professor.

Ué...

Professor.

Professor!

Opa! É do sindicato?

Eu estava só dando uma pausinha aqui.

Já vou terminar um negocinho aqui...

Tá bom?

Eu sou o Murilo, aluno novo aqui da faculdade.

O senhor é o professor?

Não sou professor, não. Sou faxineiro aqui.

Hoje é o primeiro dia de aula, né?

É.

E cadê geral...

Já sei. Laboratório, né?

O senhor sabe me dizer como que chega no laboratório?

Não tem laboratório, não, pô.

O pessoal só fingiu no flyer que tem laboratório.

Ninguém veio mesmo, não.

Ninguém, ninguém?

Ninguém, ninguém.

Ninguém, ninguém, ninguém?

Ninguém, ninguém, ninguém, ninguém,

Ninguém, ninguém, ninguém, ninguém.

Mas será que mandaram alguma coisa no e-mail?

Porque eu, realmente, não vi.

Garoto, isso aqui é faculdade.

Você sabe, né?

Isso aqui não é ensino médio, supletivo,

ou creche lá do "tamborzinho da alegria", não.

-Eu sei, mas o que é que tem? -O que é que tem?

É que ninguém vem no primeiro dia de aula, não.

Isso desde quando?

Desde que o mundo se entende por mundo.

Desde que criou Adão e Eva, todo mundo sabe disso aí.

Eu não sabia.

Não sabia. Percebi que não sabia.

Atrapalhou meu primeiro dia de folga aqui,

no primeiro dia de aula.

Mas e os professores? Cadê os professores?

Sei lá onde está professor, rapaz.

Como eu vou saber onde está professor?

Na última vez que eu vi no Instagram lá,

um estava em Porto de Galinhas,

o outro tinha saído de Paraty, eu não sei pra onde foi,

e o outro estendeu as férias do Caribe até quarta-feira.

Mas isso é um absurdo. Como alguém deixa isso acontecer?

Ninguém deixa acontecer, não, garoto.

As coisas simplesmente acontecem porque têm que acontecer.

É assim, pô. É igual a lei da gravidade.

Você aceitou a lei da gravidade?

Foi democrático?

Quem aceita a lei da gravidade? Eu aceito.

Ninguém aceita. Você respeita.

Né? É assim que essas coisas são.

-Se eu pudesse, eu voava. -Então quer dizer que...

Nessa faculdade, não tem nem trote?

Trote.

Plena segunda-feira.

O aluno não tem ânimo nem pra vir aqui

dar bom dia pro faxineiro. Vai ter ânimo de pintar a cara,

ficar debaixo de um semáforo, em um calor escaldante,

pra pedir dinheiro na rua igual um mendigo?

-Claro que não. -Olha só.

Se todo mundo sabe que, no primeiro dia de aula,

ninguém vem, por que não começa a aula no dia seguinte?

Por que o dia seguinte vai ser o primeiro dia.

E aí vai ficar...

"Então começa no outro dia."

E o outro dia vai ser o primeiro dia, pô.

"Então começa no outro."

Aí é o primeiro dia. "Começa no outro."

Aí é o primeiro dia.

Isso é um absurdo, não é normal isso acontecer.

Não, não. Isso é um absurdo.

Você vai fazer o quê?

Você é o Che Guevara da lista de presença aqui?

Você vai fazer uma revolução? Você quer...?

Você chegou agora, sentando na janela.

Quer fazer revolução?

Faz uma guerra de sacolé em Santíssimo, rapaz.

Pega leve. Deixa eu descansar.

É porque isso não é justo, cara. Olha só.

Eu vim até aqui, eu comprei meu material,

comprei meu livro, fiz minha matrícula.

Eu só quero ter aula.

Primeiro que nem compra livro.

Isso aqui é faculdade, pede a xerox.

É tudo xerox.

Tudo funciona com xerox aqui.

E segundo: eu também vim de longe.

Eu peguei trem, eu peguei mototáxi, eu peguei uma charrete,

eu peguei o metrô, eu peguei outro ônibus,

peguei outro ônibus, outro ônibus

e agora estou aqui.

Então deixa eu voltar a trabalhar e dá licença.

Será que...

O senhor pode me ensinar alguma coisa pelo menos?

Eu não sou professor, já falei.

Mas é que...

Pô, cara, eu vim de lonjão.

Só pra eu não ter perdido a viagem, vai.

Me ensina aí, qualquer coisa.

Meu Deus do céu.

Qualquer coisa?

Está certo assim, professor?

Está bom. Está mandando bem, garoto.

Não é perigoso isso?

Você quer hora complementar ou não quer hora complementar?

Quero.

Então continua.

Tira a mão do vidro, senão, mancha!


DE VOLTA À FACULDADE | PARAFERNALHA

Bom dia, professor.

Professor.

Ué...

Professor.

Professor!

Opa! É do sindicato?

Eu estava só dando uma pausinha aqui.

Já vou terminar um negocinho aqui...

Tá bom?

Eu sou o Murilo, aluno novo aqui da faculdade.

O senhor é o professor?

Não sou professor, não. Sou faxineiro aqui.

Hoje é o primeiro dia de aula, né?

É.

E cadê geral...

Já sei. Laboratório, né?

O senhor sabe me dizer como que chega no laboratório?

Não tem laboratório, não, pô.

O pessoal só fingiu no flyer que tem laboratório.

Ninguém veio mesmo, não.

Ninguém, ninguém?

Ninguém, ninguém.

Ninguém, ninguém, ninguém?

Ninguém, ninguém, ninguém, ninguém,

Ninguém, ninguém, ninguém, ninguém.

Mas será que mandaram alguma coisa no e-mail?

Porque eu, realmente, não vi.

Garoto, isso aqui é faculdade.

Você sabe, né?

Isso aqui não é ensino médio, supletivo,

ou creche lá do "tamborzinho da alegria", não.

-Eu sei, mas o que é que tem? -O que é que tem?

É que ninguém vem no primeiro dia de aula, não.

Isso desde quando?

Desde que o mundo se entende por mundo.

Desde que criou Adão e Eva, todo mundo sabe disso aí.

Eu não sabia.

Não sabia. Percebi que não sabia.

Atrapalhou meu primeiro dia de folga aqui,

no primeiro dia de aula.

Mas e os professores? Cadê os professores?

Sei lá onde está professor, rapaz.

Como eu vou saber onde está professor?

Na última vez que eu vi no Instagram lá,

um estava em Porto de Galinhas,

o outro tinha saído de Paraty, eu não sei pra onde foi,

e o outro estendeu as férias do Caribe até quarta-feira.

Mas isso é um absurdo. Como alguém deixa isso acontecer?

Ninguém deixa acontecer, não, garoto.

As coisas simplesmente acontecem porque têm que acontecer.

É assim, pô. É igual a lei da gravidade.

Você aceitou a lei da gravidade?

Foi democrático?

Quem aceita a lei da gravidade? Eu aceito.

Ninguém aceita. Você respeita.

Né? É assim que essas coisas são.

-Se eu pudesse, eu voava. -Então quer dizer que...

Nessa faculdade, não tem nem trote?

Trote.

Plena segunda-feira.

O aluno não tem ânimo nem pra vir aqui

dar bom dia pro faxineiro. Vai ter ânimo de pintar a cara,

ficar debaixo de um semáforo, em um calor escaldante,

pra pedir dinheiro na rua igual um mendigo?

-Claro que não. -Olha só.

Se todo mundo sabe que, no primeiro dia de aula,

ninguém vem, por que não começa a aula no dia seguinte?

Por que o dia seguinte vai ser o primeiro dia.

E aí vai ficar...

"Então começa no outro dia."

E o outro dia vai ser o primeiro dia, pô.

"Então começa no outro."

Aí é o primeiro dia. "Começa no outro."

Aí é o primeiro dia.

Isso é um absurdo, não é normal isso acontecer.

Não, não. Isso é um absurdo.

Você vai fazer o quê?

Você é o Che Guevara da lista de presença aqui?

Você vai fazer uma revolução? Você quer...?

Você chegou agora, sentando na janela.

Quer fazer revolução?

Faz uma guerra de sacolé em Santíssimo, rapaz.

Pega leve. Deixa eu descansar.

É porque isso não é justo, cara. Olha só.

Eu vim até aqui, eu comprei meu material,

comprei meu livro, fiz minha matrícula.

Eu só quero ter aula.

Primeiro que nem compra livro.

Isso aqui é faculdade, pede a xerox.

É tudo xerox.

Tudo funciona com xerox aqui.

E segundo: eu também vim de longe.

Eu peguei trem, eu peguei mototáxi, eu peguei uma charrete,

eu peguei o metrô, eu peguei outro ônibus,

peguei outro ônibus, outro ônibus

e agora estou aqui.

Então deixa eu voltar a trabalhar e dá licença.

Será que...

O senhor pode me ensinar alguma coisa pelo menos?

Eu não sou professor, já falei.

Mas é que...

Pô, cara, eu vim de lonjão.

Só pra eu não ter perdido a viagem, vai.

Me ensina aí, qualquer coisa.

Meu Deus do céu.

Qualquer coisa?

Está certo assim, professor?

Está bom. Está mandando bem, garoto.

Não é perigoso isso?

Você quer hora complementar ou não quer hora complementar?

Quero.

Então continua.

Tira a mão do vidro, senão, mancha!