A cidade perdida de Z
Um naufrágio acontece próximo à costa.
De todos os tripulantes somente um português chamado Diego Álvares sobrevive, sendo salvo por índios tupis.
Passados vários meses, o português já estava inserido na cultura dos nativos, vivendo com eles e falando seu idioma.
Diego se casa com uma jovem índia, chamada Paraguaçu, e com ela tem vários filhos. Um deles, se chamava Muribeca.
Já adulto, Muribeca , guiado por alguns nativos, encontra uma rica mina de prata e ouro. Sendo um dos poucos que sabia sua localização, fez riqueza e fama vendendo pepitas no porto da Bahia.
Muribeca teve um filho chamado, Robério Dias, que se tornara um homem ambicioso e amargurado por não ser considerado “branco” por ser parte índio. E por causa disso, quando em Portugal, fora indagado pelo rei sobre a localização das minas de seu pai, a qual ele aceitara revelar, desde recebesse o título de Marquês. O rei concordou.
Ao chegar na Bahia com os exploradores do rei, pediu para ver o documento de nomeação antes de começar a viagem. E ao ler, percebe que não é o título de marquês, e sim um título de pouca importância.
Robério então se recusa a revelar a localização das minas e é preso por muitos anos, até que morre, levando ao túmulo a localização das minas.
A história
Essa lenda corre nas terras Brasileiras desde séculos atrás. E muitos na época, afirmavam ser uma história real. Principalmente no que se trata das minas, o que levou muitos a procurá-las incansavelmente.
Lenda ou não, mais de 200 anos depois, em 1839, o Naturalista Manuel Ferreira Lagos, encontra em um canto da Livraria Pública da Corte um manuscrito datado de aproximadamente cem anos antes, que ficara conhecido como manuscrito 512, e que era uma carta de um bandeirante que estava há anos em busca das minas de Muribeca.
Manuscrito 512
Relação histórica de uma oculta e grande povoação antiquíssima e sem moradores que se descobriu no ano de 1753.
Havia dez anos que a comitiva viajava pelos sertões em busca das minas de prata de Muribeca.
Depois de uma longa peregrinação, incitados pela incansável cobiça por riqueza por todos esses anos, estávamos quase perdidos pelo vasto sertão baiano quando descobrimos uma cordilheira de montes muito elevados. Ela brilhava muito, principalmente quando o sol batia ali diretamente, parecendo ser composta de cristais e tudo aquilo era tão bonito e admirável que apreciamos aquela vista por um bom tempo.
Decidimos investigar aquela cordilheira e chegamos com facilidade até o pé dos montes, porém, mesmo circulando as montanhas, não conseguimos achar uma forma de subir aqueles Alpes e Pyreneos Brasílicos, fazendo com que todos se decepcionassem.
Montamos acampamento para descansar e bater em retirada no dia seguinte para seguirmos nossa viagem. No entanto, aconteceu de um negro da comitiva correr em disparada atrás de uma caça e, por um grande acaso, descobriu-se um caminho entre duas serras que pareciam cortadas artificialmente.
Seguimos por ali, e descobrimos uma antiga e deteriorada estrada de pedra.
Gastamos mais de três horas na subida até chegarmos a um campo, onde pouco mais de meia légua nos foi possível avistar o que parecia uma cidade.
Não nos aproximamos e esperamos dois dias na tentativa de fazer contato, porém, ficamos confusos quando percebemos que ali não havia habitantes.
Um índio de nossa comitiva resolveu se arriscar e foi até a cidade, voltando pouco depois afirmando não ter descoberto sequer rastros de habitantes.
Fomos todos, então, explorar a cidade, cuja entrada se dava por uma portal dividido em três arcos, sendo o do meio maior. E nele haviam inscrições que não conseguimos ler pois estava muito alto.
Logo após o arco, havia uma rua larga com muitas casas em ambos os lados.
Entramos em algumas dessas casas e não achamos móveis ou qualquer objeto que pudesse nos dar alguma informação sobre quem habitou aquela cidade.
Quando chegamos no fim da rua, nos deparamos com uma grande praça, onde, no centro, sobre uma alta coluna de pedra preta, havia a estátua de um homem que apontava o norte com seu braço.
No lado direito dessa praça há um enorme edifício, como se fosse a casa principal, onde encontramos, talhado em alto relevo a figura de um jovem com peito nu e uma coroa de louros sobre a cabeça.
Do outro lado há outra grande construção em ruínas que parece ter sido o templo que fora destruído, talvez, por um terremoto
Encontramos vários símbolos e escritas que não pudemos entender.
Na frente da dita praça corre um rio largo e bonito, com campos de flores à sua volta . Havia também lagoas cheias de arroz, que nos serviu bem.
Descemos o rio por três dias até que chegamos a um trecho onde o rio fica muito maior, cheio de penínsulas. Encontramos uma pedra misteriosa entalhada com símbolos parecidos com os do templo, e que não entendíamos nada.
Encontramos uma grande casa. Subimos por uma escada que nos levou a uma grande sala, onde vimos mais inscrições misteriosas.
Depois de explorar a casa, voltamos para as margens do rio onde encontramos ouro sem muito trabalho. Aquilo nos prometia muita riqueza.
Um de nossos companheiros, chamado João Antônio, encontrou uma moeda de ouro, onde havia a figura de um jovem de joelhos e do outro lado um arco, uma coroa e um flecha.
Estas notícias mando a vossa majestade, deste sertão da Bahia.
Coronel Fawcett
Ninguém nunca soube quem foi o autor do manuscrito e o que fora feito dele.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro publicou o manuscrito em sua revista e não demorou a começar a surgir caçadores de tesouros.
Um desses aventureiros era ninguém menos do que Percy Harrison Fawcett, o Indiana Jones da vida real. Isso porque foi justamente o Coronel Fawcett que serviu de inspiração para a criação do famoso personagem de cinema.
O britânico era um conhecido aventureiro que já havia feito várias incursões nas selvas Brasileiras. Uma dessas incursões lhe dera notoriedade e prestígio, quando foi o primeiro a fazer o mapeamento da fronteira entre Brasil e Bolívia em uma expedição de 18 meses pela inóspita selva tropical, mais conhecida entre os aventureiros por Inferno Verde.
Quando o manuscrito chegou até Fawcett, ele sabia que deveria ir atrás daquela cidade, a qual chegou até a imaginar se não seria Atlântida ou uma nova criação dos sobreviventes da mítica e avançada cidade.
Tudo isso foi visto com muito ceticismo pela Real Sociedade Geográfica britânica, o que dificultou muito para que o Coronel conseguisse um financiamento para a expedição.
Passaram-se anos até que Percy Fawcett conseguisse algum dinheiro para a empreitada.
Entre 1920 e 1925 ele fez duas curtas expedições em companhia de um norte americano na tentativa de encontrar a misteriosa cidade, porém ela não estava onde ele achou que estava e então percebeu que teria que investir mais tempo na tarefa.
Convidou Jack Fawcett, seu filho mais velho, e um amigo dele chamado Raleigh Rimmel, para participar da perigosa aventura. E como os recursos arrecadados eram poucos, aquele era o número máximo de integrantes que Fawcett poderia ter em sua equipe.
Tudo estava pronto para a busca por aquela que Fawcett chamou de A Cidade Perdida de Z.
Viagem sem volta
Nos primórdios de 1925, o trio seguiu até Cuiabá, e lá se juntaram aos guias contratados. Subiram o alto Xingú a cavalo até o Posto Bacairi, que era um posto avançado que Fawcett dizia ser “o último vestígio de civilização” que encontrariam antes de prosseguir.
Nas correspondências do Coronel, ele informava que tudo estava bem, com exceção do amigo de Jack que adoecera. Relatos de constantes ataques de animais selvagens e insetos indicavam que a expedição estava difícil.
No entanto Fawcett era experiente. Possuía um vasto conhecimento em sobrevivência na selva e sobre as culturas indígenas, sabendo até mesmo como impressionar índios hostis com instrumentos musicais e ganhar, assim, sua simpatia.
Em maio chegam a um local que Fawcett chama de Acampamento do Cavalo Morto e lá ele demite os guias, pois ele pensava que, a partir dali, o caminho para a cidade perdida deveria se manter em segredo.
Junto com os guias, eles despacham mais correspondências. O Coronel enviou notícias para os jornais que o financiavam e também para sua esposa, dizendo:
“Vou me encontrar com índios selvagens em breve, mas você não deve temer nenhum tipo de fracasso”.
O trio, então, entrou na mata em direção às terras dos índios Kuikuros e Kalapalos e desapareceram.
O resgate
Apesar da falta de notícias sobre os três aventureiros, já que Fawcett havia informado que, depois que entrassem na mata selvagem, poderiam ficar meses incomunicáveis, somente no ano seguinte uma preocupação se formou entre os familiares que procuraram as autoridades.
Dois anos depois o trio é tido como oficialmente desaparecido, e um jornal inglês oferece dez mil libras para quem fornecesse provas do que havia acontecido ao explorador. Mas o fato é que ninguém sabia.
Uma das ordens do Coronel Fawcett era de que se ele não retornasse, não deviam fazer nenhuma tentativa de resgate pois, se ele, com toda a experiência e conhecimento que tinha da selva sul americana, fosse vencido pelo inferno verde, era pouco provável que outros sobrevivessem. E para piorar tudo, com medo de roubarem a descoberta dele, a rota que planejava seguir foi mantida no mais absoluto segredo, podendo ter seguido para qualquer lugar da gigantesca selva.
Mas, mesmo assim, várias expedições de resgate foram feitas para tentar encontrá-lo. Todas sem sucesso, e que resultavam em mais desaparecimentos. Estima-se que mais de 100 pessoas morreram ou desapareceram nessas tentativas.
Porém algo intrigante acontece em 1931. Um caçador suíço chamado Steffan Rattin chega à embaixada britânica em São Paulo dizendo tinha notícias sobre Percy Fawcett. Ele foi recebido, então, pelo cônsul-geral Arthur Abbott, que conhecera Fawcett.
O suíço contou que ele e mais dois amigos estava em uma expedição de caça e chegaram até uma aldeia indígena no noroeste do Mato Grosso, e lá foram recebidos pelos nativos que, em determinado momento, ficaram bêbados. Nesse momento um homem branco mais velho de cabelos amarelados longos, vestindo peles de animais se aproximou do suíço e disse que era um Coronel britânico e que era mantido prisioneiro ali, e que o Rattin deveria pedir socorro ao Major Paget na embaixada britânica.
Sir Ralph Paget era o antigo embaixador, e poucas pessoas sabiam da amizade de Fawcett com o mesmo. Isso ajudou a convencer o cônsul, mesmo diante da pergunta de como os índios deixaram o suíço sair dali enquanto mantinham outro homem branco aprisionado. Mas Abbot havia se convencido da sinceridade de Rattin e forneceu um incentivo para uma pequena expedição de resgate. Rattin partiu com mais dois homens e nunca mais foram vistos.
Em um relatório de 1942, um general brasileiro afirma que Fawcett e os dois companheiros foram mortos pelos índios Kalapalos. Alguns anos depois, dois nativos dessa tribo confessaram as mortes a Orlando Villas-Boas, e ainda mostraram onde estavam as ossadas.
Contudo, as arcadas dentárias e as estaturas dos esqueletos não batiam com as dos exploradores, e posteriormente, por algum motivo, os descendentes de Fawcett se recusaram a fazer o exame de DNA.
Villas-Boas insistiu até o fim de sua vida que aqueles ossos eram de Percy Fawcett.
Não demorou para que mais teorias malucas surgissem, inclusive a de que ele tinha encontrado a cidade perdida e por lá permanecera.
A esposa de Fawcett, morreu em 1954, dizendo que sempre esteve em contato via telepatia com seu marido e seu filho, que estavam vivos no Brasil.
Não só a esposa tinha seu lado místico. Percy também havia se aproximado do misticismo antes de desaparecer. E isso somado a todo o mistério do sumiço dos aventureiros, foi suficiente para atrair diversos esotéricos para região, que elaboravam diversas teorias de como o Coronel foi para outra dimensão após encontrar portais.
Explicações
Há poucos anos o jornalista americano David Grann percorreu algumas aldeias e conversou com vários Kalapalos. Eles negam veementemente que tenham matado os aventureiros. E contam a mesma história que é passada de geração em geração. A de que Fawcett passou pela aldeia e ficou ali por algum tempo até que continuou sua expedição em direção a área de tribos hostis, mesmo sob os avisos de perigo dos Kalapalos.
Puderam ver ao longe as fogueiras que Fawcett acendia quando acampava, até que um dia não viram mais sinal algum. E os exploradores sumiram para sempre.
A cidade perdida de Z
Teria Fawcett realmente encontrado a cidade? Ou teria morrido perseguindo algo que não existia?
Tudo o que tinha era o misterioso relato no manuscrito 512, que foi já estudado por historiadores e linguistas. Alguns acham que há pontos que indicam que o manuscrito é ficção e que a nítida semelhança com a arquitetura e arte romanas da antiguidade só comprovam que se trata de uma narrativa influenciada pelos então recentes descobrimentos arqueológicos europeus e lendas como o Eldorado.
Mas nada pode ser afirmado com certeza. São somente hipóteses e, se a Cidade Z realmente existe, ela ainda aguarda ser descoberta.
Uma última aventura
A cidade perdida de Z e o Coronel Percy Fawcett ainda tinham uma última grande aventura a oferecer. E quem foi fisgado foi o aventureiro James Lynch.
Nos anos 90 ele organizou uma grande última expedição para ir atrás de Percy Fawcett.
James tinha uma equipe de especialistas, jipes preparados para a selva, barcos, GPS, rádios, enfim, inúmeros equipamentos tecnológicos e máquinas que Fawcett sequer poderia imaginar em sua época. Mas mesmo assim ele sempre disse que uma equipe muito grande na selva sempre se daria mal.
James chegou até próximo do ponto onde Fawcett foi visto pela última vez. Porém, para prosseguir, ele precisou deixar grande parte do equipamento e parte da equipe para trás e seguir de barco o Rio Xingú, e, assim que achasse uma área propícia para pouso, enviaria as coordenadas por rádio para um avião levar o equipamento.
Quando o dia estava quase terminando, James e os demais avistaram cabanas. Eles haviam chegado a uma isolada tribo dos Kuikuros. O chefe da tribo permitiu que James acampasse nas proximidades da aldeia e também que usasse suas terras para pousar o avião com equipamentos.
No dia seguinte puderam ouvir o pequeno avião pousando próximo do acampamento. Pouco depois que iniciaram a caminhada para ir de encontro a aeronave, um dos índios Kuikuro veio correndo dizendo que havia problema.
Correram e viram que estavam sendo cercados por índios com arcos e antigos rifles. Ao que tudo indicava, outras tribos também puderam ouvir o avião pousando.
O cerco ficava cada vez mais fechado e cinco membros da expedição correram em desespero até a aeronave e pularam dentro gritando para que o piloto decolasse.
Vários índios tentaram segurar o avião pela asa, enquanto os tripulantes se livravam do peso e o piloto com muita dificuldade consegue decolar o pequeno avião com um índio ainda agarrado à asa que se solta ao ver que a aeronave estava decolando.
James Lynch assistia a tudo aquilo boquiaberto, e então fora informado pelos índios hostis que agora ele era prisioneiro deles. E provavelmente eles não ficariam impressionados com um instrumento musical.
Os aventureiros permaneceram presos por três dias sob ameaças. Um resgate foi pago aos índios, incluindo os dois barcos, e então os prisioneiros foram libertados.
E o paradeiro de Percy Fawcett continua um mistério.