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O Assunto (*Generated Transcript*), 11.05.2023 - Governo e mercado: estranhamento e aproximação

11.05.2023 - Governo e mercado: estranhamento e aproximação

Da redação do G1, eu sou Natuzaneri e o assunto hoje é o governo e o mercado financeiro.

Do estranhamento às tentativas de aproximação.

Este episódio traz uma análise da mais recente pesquisa Genial Quest feita com agentes do

mercado financeiro.

Para isso, eu converso com o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quest, e falo em

seguida com o economista Gabriel Galípolo, atualmente na Secretaria Executiva do Ministério

da Fazenda, mas que foi indicado por Haddad para assumir a diretoria de política monetária

do Banco Central.

Quinta-feira, 11 de maio.

Felipe, a pesquisa Quest divulgada na quarta-feira mostrou que o mercado financeiro segue mal

humorado com o Lula, embora a gente tenha visto uma pequena variação.

A avaliação negativa de Lula variou de 90% para 86% dos entrevistados, mas por outro

lado a avaliação positiva sobre o Fernando Haddad subiu.

Então, eu queria te perguntar, o que explica esses dois lados, levando em conta que eles

fazem parte de um mesmo governo?

No caso de Haddad, há um reflexo da regra fiscal, é isso que está movimentando esse

mercado?

E o que mais está por trás dessa mudança de opinião?

Porque se a gente for pesquisar numa memória não tão longínqua assim, Haddad não era

uma pessoa banquista no mercado financeiro.

É, isso mesmo, Natuza.

O Haddad acabou se transformando no meu malvado favorito, que é aquele personagem que você

no começo não gosta muito, mas acaba sendo a melhor opção para aquele cenário.

O que a pesquisa está mostrando, Natuza, na minha avaliação, é que embora a forma

com que o governo está lidando com a questão econômica não agrade o mercado, o mercado

reconhece que as perspectivas mudaram.

O governo tem um arcabouço que deve ser aprovado, para 92% das pessoas entrevistadas o arcabouço

será aprovado no Congresso.

Na Câmara dos Deputados, o projeto do novo arcabouço fiscal enviado pelo governo federal

começou a ser debatido.

A proposta traz novas regras para o controle dos gastos públicos, em substituição à

lei do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior.

Você tem, de fato, a compreensão, e aí é ampla no Congresso Nacional, a gente percebe

até movimento da própria oposição nesse sentido, de que é preciso equilibrar as contas.

Com esse consenso, se cria um espaço para uma votação muito rápida, ainda nesse primeiro

semestre.

O mercado reconhece a relevância e a importância da revisão de renúncias fiscais, que deve

arrecadar, na opinião das pessoas entrevistadas, entre 50 e 70 bilhões, e os juros devem começar

a cair no copom de agosto.

Isso tudo junto, claro, leva a uma ponderação de que Haddad, repito, não é o melhor nome,

não é visto como o queridinho da Faria Lima, mas está fazendo o seu trabalho ainda mais

em se considerar que, se Haddad não der certo, as opções, as alternativas poderiam ser muito

piores para o mercado.

Lula, em compensação, Natuza, vai numa direção diferente.

O Lula apostou até aqui em mais confronto, em mais discordância, em mais crítica.

Lula desdenhou das reações do mercado financeiro.

Mas se eu falar isso, vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar.

Tenha paciência, porque o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas férias,

mas é por conta dos especuladores que vivem especulando todo o tempo.

E esse tom crítico, esse ainda não comprou o mercado.

A pesquisa também mostrou que a maioria do mercado financeiro ainda avalia que a política

econômica está indo na direção errada, mesmo assim o índice melhorou um pouco.

E agora, há menos gente achando que a economia vai piorar ou que o país corre o risco de recessão.

O índice dos que acham que há uma perspectiva de melhora no futuro subiu de 6% para 13%.

Felipe, como é que você lê essa aparente contradição?

É uma contradição interessante, Natuza, porque ela mostra que o mercado tem dois lados.

Tem uma visão política sobre os fatos e uma visão técnica.

Quando eu estava te explicando como é que o mercado está reconhecendo as novas perspectivas,

esse novo momento por conta do arcabouço, por conta da possível queda dos juros,

por conta da revisão das renúncias fiscais, o que eu estava exatamente dizendo é que o mercado

olha para tudo isso e diz, opa, nesse cenário a possibilidade de uma recessão é bem menor.

Ou seja, o governo trabalhou para gerar isso.

Em compensação, o mercado também acha que essas medidas tendem a aumentar a inflação,

que é um outro indicador que a pesquisa aponta e que está nos dados trabalhados pela gente.

Ou seja, a política econômica do governo não é adequada àquilo que a Faria Lima gostaria,

mas reconhece-se que, tecnicamente, as medidas adotadas tendem a levar a um cenário econômico melhor.

E talvez isso é que importe.

Eu quero distinguir essa questão técnica para a questão econômica, porque, claro,

o mercado financeiro, Natuza, que é com quem a gente está falando aqui, não tem a verdade sobre tudo.

A pesquisa é um recorte de um grupo importante que pauta o debate,

que opera a partir das expectativas que o próprio governo estabelece,

mas eles não são unanimidade, não é porque eles acham isso ou aquilo que está certo ou que está errado.

O que é interessante é que, neste contexto, o Haddad está conseguindo estabelecer uma conexão positiva com esses atores

e isso está fazendo com que eles percebam, tecnicamente, a possibilidade de uma não-recessão,

mas ainda torcendo o nariz para a forma, para a maneira, para o jeito como essa política é tocada ali no governo.

À luz do que você consegue medir de humor do mercado,

em comparação com o que você também consegue medir de humor da população,

porque você também faz pesquisas mais amplas,

eu me lembro de uma delas em que os números da população mostravam que havia uma aprovação

dessa ofensiva do Lula em relação aos juros altos.

Como é que você coloca essas duas pesquisas sobre a mesa? Como é que você analisa as duas?

Natuzza, é muito interessante, porque geralmente os resultados, quando contrastados, são muito diferentes.

Esse exemplo que você acabou de dar é perfeito.

Na pesquisa que a gente fez no mês passado, a gente perguntou para as pessoas se achavam que

o presidente Lula estava certo em enfrentar os juros altos, em criticar os juros altos e confrontar o Banco Central.

E a população dava amplíssimo apoio ao presidente.

Quando a gente fez a mesma pergunta para o mercado financeiro, a resposta foi bem diferente, Natuzza.

A resposta foi que não, que o governo tinha que esperar, que não era o momento adequado.

Esse é um bom exemplo de como o mercado não necessariamente traduz os anseios,

desejos, vontades da população como um todo.

E o problema aí é que, embora sejam poucos, eles são importantes,

vocalizam suas preferências bem e, claro, têm poder econômico.

Isso importa num processo de disputa de narrativa democrática.

Eles formam preços também, né?

Exato. Então, formar o preço nesse cenário, Natuzza, é o que acaba determinando, inclusive, outros elementos,

inclusive políticos.

Existe um belíssimo estudo de uma colega cientista política, Daniela Campelo,

mostrando como, por exemplo, os mercados emergentes tendem a especular mais do que o normal

quando presidentes de esquerda estão próximos de vencer a eleição.

Ela mostra que isso não é um fenômeno brasileiro, é um fenômeno mundial.

Ela começou estudando a América Latina, mas depois expandiu isso para outros cenários.

Ou seja, Natuzza, o mercado é importante, ele determina muitos dos rumos, inclusive da política,

mas não necessariamente é convergente em relação à opinião das pessoas.

E agora falando um pouco dessa mudança mais recente, que foi a indicação do Gabriel Galípolo,

que é o número 2 do Ministério da Fazenda, para o Banco Central.

Nome esse que ainda precisa passar pela aprovação do Congresso.

Na sua avaliação, como é que fica a relação com o Congresso e com o próprio mercado financeiro,

sem o Gabriel Galípolo, tendo em vista que ele tem uma boa relação com o Congresso, desenvolveu isso,

mas também uma boa relação com o mercado financeiro, uma vez que ele vem de lá.

Então, Natuzza, vamos esclarecer para quem está nos ouvindo o que está acontecendo,

qual é a função e qual é a posição que Galípolo está indicado para assumir.

A diretoria de política monetária tem como responsabilidade falar com o mercado, ouvir o mercado,

vender dólar, cuidar das reservas, está olhando para o câmbio o tempo inteiro.

É ali que está o termômetro da política monetária brasileira o tempo todo.

E é interessante, porque ao contrário do que ele vinha fazendo no Ministério,

essa posição é uma posição em que o esperado é que ele fale nada com o Congresso e muito com o mercado.

O Galípolo, se aprovado para a diretoria, vai ter que ampliar as suas conexões, o seu diálogo,

sua relação com o mercado financeiro, porque ele vai passar a operar agora numa outra dimensão.

O Galípolo, alguém que se aproximou do Partido dos Trabalhadores, principalmente nas eleições,

ele fez a interlocução do PT com o mercado financeiro, com a Faria Lima,

ele tem um diálogo bom com o mercado, uma área que o PT tem muitas dificuldades.

Inclusive, Natuzza, era esperado que alguém nesse lugar tivesse um pouco mais de experiência em trading,

mais até do que o Galípolo tem.

Embora ele tenha uma experiência no mercado financeiro, não é exatamente uma experiência de trading.

Então, o que eu acho que muda é que, é claro, embora o Galípolo continue tendo relações no Congresso,

continue tendo uma importância na compreensão da dinâmica política ali dentro,

ele vai ter que ocupar uma posição mais discreta.

É só a gente lembrar, quem fala no Banco Central é o presidente.

A gente nunca viu um diretor falando, aparecendo, estabelecendo relações.

É mais realmente uma questão para o presidente.

Então, eu acho que isso muda.

E com essa mudança, Natuzza, a gente também vai ver uma mudança em relação ao mercado.

Por quê?

Porque o Galípolo pode até dizer o contrário, mas para todo mundo em São Paulo, no Rio, em Brasília,

o Galípolo está fazendo um estágio de um ano e meio para virar presidente do Banco Central.

Ou seja, ele tem um ano e meio para ganhar o mercado,

para que a troca possível lá na frente, em relação a Campos Neto, seja a mais suave possível.

Além do presidente Roberto Campos Neto, são oito os diretores, eles têm um mandato,

e os mandatos não acabam todos ao mesmo tempo, eles vão se renovando.

Campos Neto, vamos lembrar, é o presidente e tem mandato até o fim de 2024.

Duas vagas da diretoria estão aptas para a troca desde o final de fevereiro.

São elas as indicações anunciadas hoje pelo governo.

Na diretoria de política monetária, vamos ver aqui, sai Bruno Serra e entra, então, o Gabriel Galípolo.

Na de fiscalização, sai Paulo Souza e entra Ailton Aquino.

No fim deste ano de 2023, acabam os mandatos de outros dois diretores.

E o governo vai poder fazer indicações para os lugares hoje ocupados por Fernanda Guardado e Maurício Moura.

Por causa disso, que eu acho que ele vai acabar sendo bem discreto na relação com o Congresso,

e vai estabelecer o máximo possível de uma relação positiva com o mercado financeiro.

Quando você fala lá na frente, é quando o mandato de Campos Neto termina, é isso?

Exatamente, nós vamos ter pela primeira vez uma transição de um Banco Central independente.

A gente nunca teve isso na história e sabe-se que Lula pretende fazer essa transição

na direção de ter um presidente do Banco Central, mas aliado à sua política econômica, à sua visão econômica.

Felipe, muito obrigada por voltar aqui ao assunto.

Estou convidado para voltar outras vezes, as portas estão abertas, foi muito bom ter você aqui.

Eu que agradeço, Natuza. Parabéns pelo excelente trabalho, estou sempre te escutando.

E obrigado pelo convite mais uma vez.

Espero um instante que eu já volto para falar com o Gabriel Galípolo.

Galípolo, a ministra Simone Tebet deu o tom da sua indicação.

Ela disse assim, abre aspas,

uma pessoa que será a voz do governo federal, a voz do Brasil dentro do Banco Central, fecha aspas.

E o ministro Fernando Haddad foi mais sutil, ele disse assim,

é preciso alinhar a política fiscal e a monetária.

Afinal, o que muda no Banco Central se a sua nomeação for confirmada no Senado?

Não, eu acho assim, a ministra Simone foi muito generosa comigo,

ela tem sido muito generosa comigo, uma grande parceira e uma referência mesmo,

uma pessoa que eu tenho aprendido muito e cada vez,

daquelas pessoas que quanto mais você conhece, mais você admira.

O ministro Fernando também, pouco antes, numa entrevista, acho que na CBN também,

ele também fez elogios muito acima dos que eu mereço ali.

Então, acho que não vejo nenhum tipo de contraposição entre a fala dos dois.

O que eu acho, assim, é que não é por acaso que acho que o governo escolheu a indicação

do presidente da República e o próprio ministro Fernando Haddad,

uma pessoa que talvez seja a pessoa que mais dialoga com o Roberto Campos do governo.

Então, assim, a gente sabe que a intenção que o Fernando vem falando desde o início

é como é que você harmoniza as duas políticas,

como é que você harmoniza a política fiscal e monetária.

Só por curiosidade, né, se isso...

A primeira vez que eu ouvi o nome do Galípolo para o Banco Central,

partiu do Roberto Campos Neto.

Eu estava no G20, na Índia, fomos almoçar juntos e foi a primeira pessoa

que mencionou a possibilidade do Galípolo ir para o Banco Central

no sentido de entrosar as equipes do Banco Central e da Fazenda.

Ele está indo para lá com a autonomia necessária para cumprir a lei.

A mesma lei que os outros sete membros do COPOM têm que respeitar.

E com o seguinte comando, é buscar harmonizar a política fiscal e a política monetária.

O que significa isso?

A gente, durante muito tempo no Brasil,

teve políticas monetárias e fiscais que iam em sentidos opostos.

Ou seja, muitas vezes você tentava compensar a política monetária

através de uma política fiscal que ia no caminho contrário.

Isso costuma dar um resultado muito pouco positivo.

Então a intenção que está sendo colocada é que com a minha ida para lá,

se por acaso meu nome for aprovado na CAI,

eu possa colaborar nesse diálogo e colaborar nessa interlocução

e harmonização entre as políticas.

Cai só para a gente localizar quem nos ouve,

Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Mas eu tenho uma dúvida.

Você de fato é?

Sou jornalista de política, cubro o governo, vejo isso nos bastidores.

Você é a pessoa que tem no governo Lula a maior interlocução com Roberto Campos Neto.

Por que você precisa ir para o Banco Central,

já que você já tem essa interlocução e ainda assim o juro está em R$13,75?

Não é uma interlocução que esteja pensando para alguma coisa de

como é que eu vou resolver neste mês, em dois meses, em três meses.

Eu acho que essa interlocução vem acontecendo tanto de diálogo quanto de medidas.

Você percebe nas próprias comunicações do Banco Central e nas atas,

como ele vem observando as medidas que a Fazenda vem tomando,

como a preocupação do ministro Fernando Haddad ao estruturar o arcabouço fiscal,

fazer as medidas de restabelecimento da base tributária do país,

ao permitir uma transparência maior.

Tudo isso se retroalimenta positivamente e complementa.

Na ata da reunião da semana passada, que manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano,

o Comitê de Política Monetária do Banco Central reafirmou que a proposta do governo

de uma nova regra de controle das contas reduziu a incerteza sobre cenários extremos

de crescimento da dívida pública, mas que não há relação mecânica

entre a política monetária e a aprovação do arcabouço.

O Copom ressaltou também que um arcabouço fiscal sólido e crível

pode ajudar a combater a inflação.

E aí, obviamente, eu estou aqui para colaborar na posição que o presidente Lula

e o ministro Fernando Haddad acharem que eu posso colaborar mais.

Como você sabe, a minha pretensão aqui não é uma pretensão pessoal,

de carreira pessoal ou alguma coisa nesse sentido.

A minha intenção é realmente poder, modestamente aqui, colaborar com um projeto de sociedade.

Isso me chamou bastante atenção.

Você vem do mercado financeiro e os egressos do mercado financeiro nem sempre são conhecidos

como ases da política, eles nem sempre transitam bem no mundo político.

Você adquiriu esse chip muito rapidamente e tem sido um braço importante para o ministro Fernando Haddad.

A sua saída do Ministério da Fazenda não deixa a cúpula da Fazenda capenga

no sentido da articulação política, da comunicação do Ministério da Fazenda,

da equipe econômica com o Congresso Nacional?

Eu acho que não.

O Dario que está vindo aqui é um cara que tem muita experiência nisso.

Eu tenho dito isso para muitos dos interlocutores.

A gente tem uma pessoa aqui que é o Laio, que é o chefe de gabinete,

que é um jovem brilhante, ele tem um talento incrível.

O próprio ministro Fernando Haddad, que é o político mais alto que late ali,

mais alto escalão.

Então acho que tem esse processo aqui com muita gente competente,

os secretários todos aqui que estão indo muito bem, um time muito entrosado na Fazenda.

Eu tenho certeza que o Dario vai ser um reforço muito importante aqui na Fazenda.

E o sucessor do Galípolo que foi escolhido, o Dario Durigam,

ele é um advogado, não tem formação econômica,

foi assessor especial do Haddad na prefeitura, quando Haddad foi prefeito de São Paulo,

e atualmente ele é diretor de políticas públicas da Meta,

que a empresa é dona do WhatsApp e do Facebook.

Agora eu quero entrar um pouco em juros.

Na retórica do governo, que demanda e briga e esbraveja às vezes,

por uma redução na taxa Selic,

é recorrente o argumento de que a inflação atual no Brasil não é uma inflação de demanda,

logo, se ela não é uma inflação de demanda, ela é uma inflação de oferta.

Portanto eu te pergunto, qual é o sentido de baixar os juros e incentivar o consumo

se o problema é de gargalos de oferta?

Essas discussões econômicas, que são bastante acaloradas sempre entre todos nós economistas,

vão sempre ser comuns,

mas o importante eu acho que sempre a gente conseguir

fazer isso da maneira mais democrática, transparente e republicana.

Neste caso específico, eu tenho na posição sempre de secretário executivo

tentado responder sempre naquela parte que cabe ao Ministério da Fazenda

ou que cabe à política que o Ministério da Fazenda vem fazendo,

me botando em prática,

que tem desdobramentos e tem reconhecimento pelo mercado financeiro

que também se conectam com a política monetária.

Eu acho que se já naquele momento eu tomava um cuidado para me restringir a fazer comentários nesse sentido,

agora com a indicação do presidente

e ainda tendo sujeito à aprovação no Senado,

eu tenho tentado aqui me disciplinar para não fazer qualquer tipo de comentário,

por todo o respeito que eu tenho e devo ter ao Senado,

para não parecer que eu estou querendo passar qualquer tipo de farol aqui.

Porque tudo que você disser a partir de agora sobre o que você pensa pode movimentar o mercado,

enfim, a gente sabe como é que funciona essa dinâmica,

mas eu acho que dá para a gente falar do pra trás mente,

como se dizia na política na época do falecido Eduardo Campos,

que é o seguinte,

assim que você foi anunciado como o nome do governo para a diretoria do Banco Central,

teve uma movimentação,

as taxas de juros de longo prazo,

ou seja, as de 5 a 10 anos,

elas tiveram um aumento.

Na terça-feira,

elas cresceram um pouquinho mais após a ata do COPOM,

a última ata do COPOM.

Então eu queria que você explicasse para quem nos ouve,

em português, claro, portanto fugindo do economês,

por que isso acontece?

O que significa na prática juros futuros maiores?

E por que o mercado age dessa maneira a partir desses sinais?

De novo, a sua indicação e a ata do COPOM.

Eu recebi, você pode pesquisar,

vão ter vários comunicados que circularam

com informações que registram de maneira diferente

como é que foi recebido ou como é que não foi recebido,

de acordo com o momento que você faz o recorte,

de acordo com a variável que você está pegando,

se é câmbio, se é juros, qual é o vértice.

Então tem uma série de dificuldades por trás disso.

A primeira delas é você poder fazer aquilo que os economistas gostam de dizer,

que é o chamado tudo mais constante.

Então não está acontecendo alguma coisa isoladamente das demais

para a gente poder fazer uma análise específica

sobre qual é o impacto daquela coisa especificamente.

No caso da minha indicação,

ela foi feita, diria até corajosamente pelo ministro Fernandes,

com o mercado aberto no meio do dia

e a gente percebeu que realmente não fez preço.

Foi uma coisa que passou com grande tranquilidade nesses dias,

sem grande turbulência,

como disseram alguns jornalistas ali ao longo do processo.

Essa discussão sobre como se comporta a curva de juros longo,

ela costuma ser influenciada desde o cenário internacional,

desde uma previsão de que possa ter,

que o mercado está vendo que a autoridade monetária,

seja daqui ou seja de qualquer país,

vai permanecer com a taxa de juros mais longa durante mais tempo,

porque o que ela reflete é como o mercado acha

que as curvas de juros vão se comportar no futuro.

Como que as curvas de juros vão se comportar no futuro.

É isso que o mercado está apostando.

Se é um título que vence em 2030,

qual que vai ser a média da taxa de juros daqui a 2030?

Então se você acha que subiu,

você acha que vai ser superior a essa taxa.

O mercado está precificando que ao longo do segundo semestre

tenha algum tipo de redução nos juros.

Isso significa que se amanhã entrar um diretor,

pode-se reputar a ele essa redução dos juros?

Talvez não, talvez como eu disse,

já estava ali precificado na curva de que isso viria a acontecer.

Agora, a sua relação com o Roberto Campos Neto,

que tipo de relação?

Vocês se falam todos os dias,

quando as coisas esquentaram no governo,

vocês continuaram se falando.

Eu estou perguntando isso,

porque como eu não posso perguntar como vai ser a sua relação no Banco Central?

Porque você vai me responder que você não foi aprovado ainda.

Eu quero saber então, do presente para trás,

como é a sua relação com ele?

Vocês brigam, vocês arengam, vocês se dão bem?

Não, eu nunca tive nenhuma briga com o Roberto, não.

A gente conversa bastante,

não todos os dias, mas a gente conversa bastante sim.

Conversamos bastante sobre economia,

chegamos a às vezes trocar indicações de papers, de textos para ler.

O Roberto é sempre muito cordial,

muito adequado, muito elegante nas conversas,

ele sempre é muito aberto,

a gente consegue ter uma conversa do mais alto nível sempre.

E eu espero que, tendo meu nome aprovado ou não no Banco Central,

estando onde eu esteja,

a gente possa manter essa relação que já é uma relação boa de conversa entre a gente.

Para terminar, Galípolo,

você vem do mercado financeiro, como eu havia dito,

conhece as pessoas que são,

as que representam as vozes que falam em nome do mercado.

E uma pesquisa da Quest, divulgada na quarta-feira,

diz que 90% dessas pessoas,

dentro de uma amostra com gestores e analistas do mercado financeiro,

acham que a política econômica está indo para o lado errado.

O que acontece?

Pesquisas, sempre tem toda a discussão,

você conhece bem, você acompanha eleições,

sobre quais são as metodologias,

quais são as amostragens que são significativas e tudo mais.

E, especialmente, no caso,

quando você está fazendo uma pesquisa,

onde quem está respondendo

pode, eventualmente, de acordo com quem seja, ter uma intenção.

Ou seja, às vezes eu quero,

eu tenho uma preferência por algum tipo de visão,

e ao responder eu sei que aquele resultado da pesquisa pode

colaborar ou não para a intenção que eu tenho.

Portanto, eu, sempre quando estive no mercado financeiro,

eu gostava de analisar essas pesquisas,

mas consumia com muita parcimônia.

Porque o mercado te oferece uma outra ferramenta que é muito boa,

que são os preços dos ativos.

Lá não se trata de eu responder se eu gostei ou não gostei,

lá o sujeito colocou dinheiro ou não colocou dinheiro,

lá dá para ver.

E o que aconteceu é,

é verdade que, desde que o ministro Fernando Haddad assumiu,

várias das medidas que foram apresentadas,

quando foram apresentadas originalmente,

foram recebidas com algum grau de ceticismo.

E é legítimo que seja recebido com um grau de ceticismo.

Então vamos lá, quando eu acho que pelo dia 12 de janeiro

se anuncia que vai se fazer um programa de recomposição da base fiscal

para que o déficit fiscal não fosse mais de 2% do PIB,

muita gente falou que não vai conseguir.

Hoje, se você olhar, quase todas as projeções de mercado

já estão próximas do 1%,

que é o que estava sendo previsto pelo ministro Fernando Haddad

lá no início de janeiro.

A gente vê agentes financeiros do mercado

gostando do que estão vendo,

especialmente já da perspectiva de zerar a déficit fiscal

já no ano que vem.

E assim sucessivamente com a reuneração dos combustíveis,

com vitórias no judiciário,

com o arcabouço fiscal que foi bem recebido.

Então a gente tem consciência que o ceticismo só vai ser vencido

com ações, com vitórias efetivamente que foram sendo praticadas.

O que aconteceu na prática de lá para cá?

O real mudou de patamar,

teve uma apreciação do real perante o dólar,

inegável, está lá no preço.

Os juros futuros que você bem comentou,

que é o que se imagina que vai acontecer com os juros na média

até cada um dos períodos de vencimento dos títulos,

vem cedendo sistematicamente

e a projeção que existe de déficit primário,

de resultado primário, melhorou.

Quando você estava na presidência do Banco Fator,

você pensava muito diferente dos seus colegas?

Como é que era?

O seu coração era mais mole, o coração era mais peludo?

Como é que era o Gabriel Galípolo do outro lado do balcão?

Eu fiz muitos amigos no mercado financeiro,

eu ainda tenho muitos amigos no mercado financeiro,

mas eu realmente tenho uma trajetória um pouco eclética,

de ter passado por vários lugares,

de ter sido professor,

de ter passado pelo setor privado,

depois pelo mercado financeiro

e agora estando aqui no setor público

e gostando às vezes de algum tipo de leitura diferente

do que é a sua leitura padrão da economia.

Então, eu me divirto um pouquinho com esses passeios,

eu gosto deles.

Gabriel Galípolo, muito obrigada pela sua participação,

volte outras vezes,

será sempre bem-vindo aqui no assunto.

Eu que agradeço Natuza,

é sempre um prazer poder falar com você.

Este foi o Assunto,

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Comigo na equipe do Assunto estão Monica Mariotti,

Amanda Polato, Thiago Aguiar,

Luiz Felipe Silva, Thiago Kazurowski,

Gabriel de Campos, Nayara Fernandes e Guilherme Romero.

Eu sou Natuzaneri e fico por aqui.

Até o próximo Assunto.

E aí


11.05.2023 - Governo e mercado: estranhamento e aproximação 11.05.2023 - Regierung und Markt: Entfremdung und Wiederannäherung 05.11.2023 - Government and Market: estrangement and rapprochement 11.05.2023 - Gobierno y mercado: distanciamiento y acercamiento 11.05.2023 - Gouvernement et marché : éloignement et rapprochement 11.05.2023 - 政府と市場:疎遠と和解

Da redação do G1, eu sou Natuzaneri e o assunto hoje é o governo e o mercado financeiro.

Do estranhamento às tentativas de aproximação.

Este episódio traz uma análise da mais recente pesquisa Genial Quest feita com agentes do

mercado financeiro.

Para isso, eu converso com o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quest, e falo em

seguida com o economista Gabriel Galípolo, atualmente na Secretaria Executiva do Ministério

da Fazenda, mas que foi indicado por Haddad para assumir a diretoria de política monetária

do Banco Central.

Quinta-feira, 11 de maio.

Felipe, a pesquisa Quest divulgada na quarta-feira mostrou que o mercado financeiro segue mal

humorado com o Lula, embora a gente tenha visto uma pequena variação.

A avaliação negativa de Lula variou de 90% para 86% dos entrevistados, mas por outro

lado a avaliação positiva sobre o Fernando Haddad subiu.

Então, eu queria te perguntar, o que explica esses dois lados, levando em conta que eles

fazem parte de um mesmo governo?

No caso de Haddad, há um reflexo da regra fiscal, é isso que está movimentando esse

mercado?

E o que mais está por trás dessa mudança de opinião?

Porque se a gente for pesquisar numa memória não tão longínqua assim, Haddad não era

uma pessoa banquista no mercado financeiro.

É, isso mesmo, Natuza.

O Haddad acabou se transformando no meu malvado favorito, que é aquele personagem que você

no começo não gosta muito, mas acaba sendo a melhor opção para aquele cenário.

O que a pesquisa está mostrando, Natuza, na minha avaliação, é que embora a forma

com que o governo está lidando com a questão econômica não agrade o mercado, o mercado

reconhece que as perspectivas mudaram.

O governo tem um arcabouço que deve ser aprovado, para 92% das pessoas entrevistadas o arcabouço

será aprovado no Congresso.

Na Câmara dos Deputados, o projeto do novo arcabouço fiscal enviado pelo governo federal

começou a ser debatido.

A proposta traz novas regras para o controle dos gastos públicos, em substituição à

lei do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior.

Você tem, de fato, a compreensão, e aí é ampla no Congresso Nacional, a gente percebe

até movimento da própria oposição nesse sentido, de que é preciso equilibrar as contas.

Com esse consenso, se cria um espaço para uma votação muito rápida, ainda nesse primeiro

semestre.

O mercado reconhece a relevância e a importância da revisão de renúncias fiscais, que deve

arrecadar, na opinião das pessoas entrevistadas, entre 50 e 70 bilhões, e os juros devem começar

a cair no copom de agosto.

Isso tudo junto, claro, leva a uma ponderação de que Haddad, repito, não é o melhor nome,

não é visto como o queridinho da Faria Lima, mas está fazendo o seu trabalho ainda mais

em se considerar que, se Haddad não der certo, as opções, as alternativas poderiam ser muito

piores para o mercado.

Lula, em compensação, Natuza, vai numa direção diferente.

O Lula apostou até aqui em mais confronto, em mais discordância, em mais crítica.

Lula desdenhou das reações do mercado financeiro.

Mas se eu falar isso, vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar.

Tenha paciência, porque o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas férias,

mas é por conta dos especuladores que vivem especulando todo o tempo.

E esse tom crítico, esse ainda não comprou o mercado.

A pesquisa também mostrou que a maioria do mercado financeiro ainda avalia que a política

econômica está indo na direção errada, mesmo assim o índice melhorou um pouco.

E agora, há menos gente achando que a economia vai piorar ou que o país corre o risco de recessão.

O índice dos que acham que há uma perspectiva de melhora no futuro subiu de 6% para 13%.

Felipe, como é que você lê essa aparente contradição?

É uma contradição interessante, Natuza, porque ela mostra que o mercado tem dois lados.

Tem uma visão política sobre os fatos e uma visão técnica.

Quando eu estava te explicando como é que o mercado está reconhecendo as novas perspectivas,

esse novo momento por conta do arcabouço, por conta da possível queda dos juros,

por conta da revisão das renúncias fiscais, o que eu estava exatamente dizendo é que o mercado

olha para tudo isso e diz, opa, nesse cenário a possibilidade de uma recessão é bem menor.

Ou seja, o governo trabalhou para gerar isso.

Em compensação, o mercado também acha que essas medidas tendem a aumentar a inflação,

que é um outro indicador que a pesquisa aponta e que está nos dados trabalhados pela gente.

Ou seja, a política econômica do governo não é adequada àquilo que a Faria Lima gostaria,

mas reconhece-se que, tecnicamente, as medidas adotadas tendem a levar a um cenário econômico melhor.

E talvez isso é que importe.

Eu quero distinguir essa questão técnica para a questão econômica, porque, claro,

o mercado financeiro, Natuza, que é com quem a gente está falando aqui, não tem a verdade sobre tudo.

A pesquisa é um recorte de um grupo importante que pauta o debate,

que opera a partir das expectativas que o próprio governo estabelece,

mas eles não são unanimidade, não é porque eles acham isso ou aquilo que está certo ou que está errado.

O que é interessante é que, neste contexto, o Haddad está conseguindo estabelecer uma conexão positiva com esses atores

e isso está fazendo com que eles percebam, tecnicamente, a possibilidade de uma não-recessão,

mas ainda torcendo o nariz para a forma, para a maneira, para o jeito como essa política é tocada ali no governo.

À luz do que você consegue medir de humor do mercado,

em comparação com o que você também consegue medir de humor da população,

porque você também faz pesquisas mais amplas,

eu me lembro de uma delas em que os números da população mostravam que havia uma aprovação

dessa ofensiva do Lula em relação aos juros altos.

Como é que você coloca essas duas pesquisas sobre a mesa? Como é que você analisa as duas?

Natuzza, é muito interessante, porque geralmente os resultados, quando contrastados, são muito diferentes.

Esse exemplo que você acabou de dar é perfeito.

Na pesquisa que a gente fez no mês passado, a gente perguntou para as pessoas se achavam que

o presidente Lula estava certo em enfrentar os juros altos, em criticar os juros altos e confrontar o Banco Central.

E a população dava amplíssimo apoio ao presidente.

Quando a gente fez a mesma pergunta para o mercado financeiro, a resposta foi bem diferente, Natuzza.

A resposta foi que não, que o governo tinha que esperar, que não era o momento adequado.

Esse é um bom exemplo de como o mercado não necessariamente traduz os anseios,

desejos, vontades da população como um todo.

E o problema aí é que, embora sejam poucos, eles são importantes,

vocalizam suas preferências bem e, claro, têm poder econômico.

Isso importa num processo de disputa de narrativa democrática.

Eles formam preços também, né?

Exato. Então, formar o preço nesse cenário, Natuzza, é o que acaba determinando, inclusive, outros elementos,

inclusive políticos.

Existe um belíssimo estudo de uma colega cientista política, Daniela Campelo,

mostrando como, por exemplo, os mercados emergentes tendem a especular mais do que o normal

quando presidentes de esquerda estão próximos de vencer a eleição.

Ela mostra que isso não é um fenômeno brasileiro, é um fenômeno mundial.

Ela começou estudando a América Latina, mas depois expandiu isso para outros cenários.

Ou seja, Natuzza, o mercado é importante, ele determina muitos dos rumos, inclusive da política,

mas não necessariamente é convergente em relação à opinião das pessoas.

E agora falando um pouco dessa mudança mais recente, que foi a indicação do Gabriel Galípolo,

que é o número 2 do Ministério da Fazenda, para o Banco Central.

Nome esse que ainda precisa passar pela aprovação do Congresso.

Na sua avaliação, como é que fica a relação com o Congresso e com o próprio mercado financeiro,

sem o Gabriel Galípolo, tendo em vista que ele tem uma boa relação com o Congresso, desenvolveu isso,

mas também uma boa relação com o mercado financeiro, uma vez que ele vem de lá.

Então, Natuzza, vamos esclarecer para quem está nos ouvindo o que está acontecendo,

qual é a função e qual é a posição que Galípolo está indicado para assumir.

A diretoria de política monetária tem como responsabilidade falar com o mercado, ouvir o mercado,

vender dólar, cuidar das reservas, está olhando para o câmbio o tempo inteiro.

É ali que está o termômetro da política monetária brasileira o tempo todo.

E é interessante, porque ao contrário do que ele vinha fazendo no Ministério,

essa posição é uma posição em que o esperado é que ele fale nada com o Congresso e muito com o mercado.

O Galípolo, se aprovado para a diretoria, vai ter que ampliar as suas conexões, o seu diálogo,

sua relação com o mercado financeiro, porque ele vai passar a operar agora numa outra dimensão.

O Galípolo, alguém que se aproximou do Partido dos Trabalhadores, principalmente nas eleições,

ele fez a interlocução do PT com o mercado financeiro, com a Faria Lima,

ele tem um diálogo bom com o mercado, uma área que o PT tem muitas dificuldades.

Inclusive, Natuzza, era esperado que alguém nesse lugar tivesse um pouco mais de experiência em trading,

mais até do que o Galípolo tem.

Embora ele tenha uma experiência no mercado financeiro, não é exatamente uma experiência de trading.

Então, o que eu acho que muda é que, é claro, embora o Galípolo continue tendo relações no Congresso,

continue tendo uma importância na compreensão da dinâmica política ali dentro,

ele vai ter que ocupar uma posição mais discreta.

É só a gente lembrar, quem fala no Banco Central é o presidente.

A gente nunca viu um diretor falando, aparecendo, estabelecendo relações.

É mais realmente uma questão para o presidente.

Então, eu acho que isso muda.

E com essa mudança, Natuzza, a gente também vai ver uma mudança em relação ao mercado.

Por quê?

Porque o Galípolo pode até dizer o contrário, mas para todo mundo em São Paulo, no Rio, em Brasília,

o Galípolo está fazendo um estágio de um ano e meio para virar presidente do Banco Central.

Ou seja, ele tem um ano e meio para ganhar o mercado,

para que a troca possível lá na frente, em relação a Campos Neto, seja a mais suave possível.

Além do presidente Roberto Campos Neto, são oito os diretores, eles têm um mandato,

e os mandatos não acabam todos ao mesmo tempo, eles vão se renovando.

Campos Neto, vamos lembrar, é o presidente e tem mandato até o fim de 2024.

Duas vagas da diretoria estão aptas para a troca desde o final de fevereiro.

São elas as indicações anunciadas hoje pelo governo.

Na diretoria de política monetária, vamos ver aqui, sai Bruno Serra e entra, então, o Gabriel Galípolo.

Na de fiscalização, sai Paulo Souza e entra Ailton Aquino.

No fim deste ano de 2023, acabam os mandatos de outros dois diretores.

E o governo vai poder fazer indicações para os lugares hoje ocupados por Fernanda Guardado e Maurício Moura.

Por causa disso, que eu acho que ele vai acabar sendo bem discreto na relação com o Congresso,

e vai estabelecer o máximo possível de uma relação positiva com o mercado financeiro.

Quando você fala lá na frente, é quando o mandato de Campos Neto termina, é isso?

Exatamente, nós vamos ter pela primeira vez uma transição de um Banco Central independente.

A gente nunca teve isso na história e sabe-se que Lula pretende fazer essa transição

na direção de ter um presidente do Banco Central, mas aliado à sua política econômica, à sua visão econômica.

Felipe, muito obrigada por voltar aqui ao assunto.

Estou convidado para voltar outras vezes, as portas estão abertas, foi muito bom ter você aqui.

Eu que agradeço, Natuza. Parabéns pelo excelente trabalho, estou sempre te escutando.

E obrigado pelo convite mais uma vez.

Espero um instante que eu já volto para falar com o Gabriel Galípolo.

Galípolo, a ministra Simone Tebet deu o tom da sua indicação.

Ela disse assim, abre aspas,

uma pessoa que será a voz do governo federal, a voz do Brasil dentro do Banco Central, fecha aspas.

E o ministro Fernando Haddad foi mais sutil, ele disse assim,

é preciso alinhar a política fiscal e a monetária.

Afinal, o que muda no Banco Central se a sua nomeação for confirmada no Senado?

Não, eu acho assim, a ministra Simone foi muito generosa comigo,

ela tem sido muito generosa comigo, uma grande parceira e uma referência mesmo,

uma pessoa que eu tenho aprendido muito e cada vez,

daquelas pessoas que quanto mais você conhece, mais você admira.

O ministro Fernando também, pouco antes, numa entrevista, acho que na CBN também,

ele também fez elogios muito acima dos que eu mereço ali.

Então, acho que não vejo nenhum tipo de contraposição entre a fala dos dois.

O que eu acho, assim, é que não é por acaso que acho que o governo escolheu a indicação

do presidente da República e o próprio ministro Fernando Haddad,

uma pessoa que talvez seja a pessoa que mais dialoga com o Roberto Campos do governo.

Então, assim, a gente sabe que a intenção que o Fernando vem falando desde o início

é como é que você harmoniza as duas políticas,

como é que você harmoniza a política fiscal e monetária.

Só por curiosidade, né, se isso...

A primeira vez que eu ouvi o nome do Galípolo para o Banco Central,

partiu do Roberto Campos Neto.

Eu estava no G20, na Índia, fomos almoçar juntos e foi a primeira pessoa

que mencionou a possibilidade do Galípolo ir para o Banco Central

no sentido de entrosar as equipes do Banco Central e da Fazenda.

Ele está indo para lá com a autonomia necessária para cumprir a lei.

A mesma lei que os outros sete membros do COPOM têm que respeitar.

E com o seguinte comando, é buscar harmonizar a política fiscal e a política monetária.

O que significa isso?

A gente, durante muito tempo no Brasil,

teve políticas monetárias e fiscais que iam em sentidos opostos.

Ou seja, muitas vezes você tentava compensar a política monetária

através de uma política fiscal que ia no caminho contrário.

Isso costuma dar um resultado muito pouco positivo.

Então a intenção que está sendo colocada é que com a minha ida para lá,

se por acaso meu nome for aprovado na CAI,

eu possa colaborar nesse diálogo e colaborar nessa interlocução

e harmonização entre as políticas.

Cai só para a gente localizar quem nos ouve,

Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Mas eu tenho uma dúvida.

Você de fato é?

Sou jornalista de política, cubro o governo, vejo isso nos bastidores.

Você é a pessoa que tem no governo Lula a maior interlocução com Roberto Campos Neto.

Por que você precisa ir para o Banco Central,

já que você já tem essa interlocução e ainda assim o juro está em R$13,75?

Não é uma interlocução que esteja pensando para alguma coisa de

como é que eu vou resolver neste mês, em dois meses, em três meses.

Eu acho que essa interlocução vem acontecendo tanto de diálogo quanto de medidas.

Você percebe nas próprias comunicações do Banco Central e nas atas,

como ele vem observando as medidas que a Fazenda vem tomando,

como a preocupação do ministro Fernando Haddad ao estruturar o arcabouço fiscal,

fazer as medidas de restabelecimento da base tributária do país,

ao permitir uma transparência maior.

Tudo isso se retroalimenta positivamente e complementa.

Na ata da reunião da semana passada, que manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano,

o Comitê de Política Monetária do Banco Central reafirmou que a proposta do governo

de uma nova regra de controle das contas reduziu a incerteza sobre cenários extremos

de crescimento da dívida pública, mas que não há relação mecânica

entre a política monetária e a aprovação do arcabouço.

O Copom ressaltou também que um arcabouço fiscal sólido e crível

pode ajudar a combater a inflação.

E aí, obviamente, eu estou aqui para colaborar na posição que o presidente Lula

e o ministro Fernando Haddad acharem que eu posso colaborar mais.

Como você sabe, a minha pretensão aqui não é uma pretensão pessoal,

de carreira pessoal ou alguma coisa nesse sentido.

A minha intenção é realmente poder, modestamente aqui, colaborar com um projeto de sociedade.

Isso me chamou bastante atenção.

Você vem do mercado financeiro e os egressos do mercado financeiro nem sempre são conhecidos

como ases da política, eles nem sempre transitam bem no mundo político.

Você adquiriu esse chip muito rapidamente e tem sido um braço importante para o ministro Fernando Haddad.

A sua saída do Ministério da Fazenda não deixa a cúpula da Fazenda capenga

no sentido da articulação política, da comunicação do Ministério da Fazenda,

da equipe econômica com o Congresso Nacional?

Eu acho que não.

O Dario que está vindo aqui é um cara que tem muita experiência nisso.

Eu tenho dito isso para muitos dos interlocutores.

A gente tem uma pessoa aqui que é o Laio, que é o chefe de gabinete,

que é um jovem brilhante, ele tem um talento incrível.

O próprio ministro Fernando Haddad, que é o político mais alto que late ali,

mais alto escalão.

Então acho que tem esse processo aqui com muita gente competente,

os secretários todos aqui que estão indo muito bem, um time muito entrosado na Fazenda.

Eu tenho certeza que o Dario vai ser um reforço muito importante aqui na Fazenda.

E o sucessor do Galípolo que foi escolhido, o Dario Durigam,

ele é um advogado, não tem formação econômica,

foi assessor especial do Haddad na prefeitura, quando Haddad foi prefeito de São Paulo,

e atualmente ele é diretor de políticas públicas da Meta,

que a empresa é dona do WhatsApp e do Facebook.

Agora eu quero entrar um pouco em juros.

Na retórica do governo, que demanda e briga e esbraveja às vezes,

por uma redução na taxa Selic,

é recorrente o argumento de que a inflação atual no Brasil não é uma inflação de demanda,

logo, se ela não é uma inflação de demanda, ela é uma inflação de oferta.

Portanto eu te pergunto, qual é o sentido de baixar os juros e incentivar o consumo

se o problema é de gargalos de oferta?

Essas discussões econômicas, que são bastante acaloradas sempre entre todos nós economistas,

vão sempre ser comuns,

mas o importante eu acho que sempre a gente conseguir

fazer isso da maneira mais democrática, transparente e republicana.

Neste caso específico, eu tenho na posição sempre de secretário executivo

tentado responder sempre naquela parte que cabe ao Ministério da Fazenda

ou que cabe à política que o Ministério da Fazenda vem fazendo,

me botando em prática,

que tem desdobramentos e tem reconhecimento pelo mercado financeiro

que também se conectam com a política monetária.

Eu acho que se já naquele momento eu tomava um cuidado para me restringir a fazer comentários nesse sentido,

agora com a indicação do presidente

e ainda tendo sujeito à aprovação no Senado,

eu tenho tentado aqui me disciplinar para não fazer qualquer tipo de comentário,

por todo o respeito que eu tenho e devo ter ao Senado,

para não parecer que eu estou querendo passar qualquer tipo de farol aqui.

Porque tudo que você disser a partir de agora sobre o que você pensa pode movimentar o mercado,

enfim, a gente sabe como é que funciona essa dinâmica,

mas eu acho que dá para a gente falar do pra trás mente,

como se dizia na política na época do falecido Eduardo Campos,

que é o seguinte,

assim que você foi anunciado como o nome do governo para a diretoria do Banco Central,

teve uma movimentação,

as taxas de juros de longo prazo,

ou seja, as de 5 a 10 anos,

elas tiveram um aumento.

Na terça-feira,

elas cresceram um pouquinho mais após a ata do COPOM,

a última ata do COPOM.

Então eu queria que você explicasse para quem nos ouve,

em português, claro, portanto fugindo do economês,

por que isso acontece?

O que significa na prática juros futuros maiores?

E por que o mercado age dessa maneira a partir desses sinais?

De novo, a sua indicação e a ata do COPOM.

Eu recebi, você pode pesquisar,

vão ter vários comunicados que circularam

com informações que registram de maneira diferente

como é que foi recebido ou como é que não foi recebido,

de acordo com o momento que você faz o recorte,

de acordo com a variável que você está pegando,

se é câmbio, se é juros, qual é o vértice.

Então tem uma série de dificuldades por trás disso.

A primeira delas é você poder fazer aquilo que os economistas gostam de dizer,

que é o chamado tudo mais constante.

Então não está acontecendo alguma coisa isoladamente das demais

para a gente poder fazer uma análise específica

sobre qual é o impacto daquela coisa especificamente.

No caso da minha indicação,

ela foi feita, diria até corajosamente pelo ministro Fernandes,

com o mercado aberto no meio do dia

e a gente percebeu que realmente não fez preço.

Foi uma coisa que passou com grande tranquilidade nesses dias,

sem grande turbulência,

como disseram alguns jornalistas ali ao longo do processo.

Essa discussão sobre como se comporta a curva de juros longo,

ela costuma ser influenciada desde o cenário internacional,

desde uma previsão de que possa ter,

que o mercado está vendo que a autoridade monetária,

seja daqui ou seja de qualquer país,

vai permanecer com a taxa de juros mais longa durante mais tempo,

porque o que ela reflete é como o mercado acha

que as curvas de juros vão se comportar no futuro.

Como que as curvas de juros vão se comportar no futuro.

É isso que o mercado está apostando.

Se é um título que vence em 2030,

qual que vai ser a média da taxa de juros daqui a 2030?

Então se você acha que subiu,

você acha que vai ser superior a essa taxa.

O mercado está precificando que ao longo do segundo semestre

tenha algum tipo de redução nos juros.

Isso significa que se amanhã entrar um diretor,

pode-se reputar a ele essa redução dos juros?

Talvez não, talvez como eu disse,

já estava ali precificado na curva de que isso viria a acontecer.

Agora, a sua relação com o Roberto Campos Neto,

que tipo de relação?

Vocês se falam todos os dias,

quando as coisas esquentaram no governo,

vocês continuaram se falando.

Eu estou perguntando isso,

porque como eu não posso perguntar como vai ser a sua relação no Banco Central?

Porque você vai me responder que você não foi aprovado ainda.

Eu quero saber então, do presente para trás,

como é a sua relação com ele?

Vocês brigam, vocês arengam, vocês se dão bem?

Não, eu nunca tive nenhuma briga com o Roberto, não.

A gente conversa bastante,

não todos os dias, mas a gente conversa bastante sim.

Conversamos bastante sobre economia,

chegamos a às vezes trocar indicações de papers, de textos para ler.

O Roberto é sempre muito cordial,

muito adequado, muito elegante nas conversas,

ele sempre é muito aberto,

a gente consegue ter uma conversa do mais alto nível sempre.

E eu espero que, tendo meu nome aprovado ou não no Banco Central,

estando onde eu esteja,

a gente possa manter essa relação que já é uma relação boa de conversa entre a gente.

Para terminar, Galípolo,

você vem do mercado financeiro, como eu havia dito,

conhece as pessoas que são,

as que representam as vozes que falam em nome do mercado.

E uma pesquisa da Quest, divulgada na quarta-feira,

diz que 90% dessas pessoas,

dentro de uma amostra com gestores e analistas do mercado financeiro,

acham que a política econômica está indo para o lado errado.

O que acontece?

Pesquisas, sempre tem toda a discussão,

você conhece bem, você acompanha eleições,

sobre quais são as metodologias,

quais são as amostragens que são significativas e tudo mais.

E, especialmente, no caso,

quando você está fazendo uma pesquisa,

onde quem está respondendo

pode, eventualmente, de acordo com quem seja, ter uma intenção.

Ou seja, às vezes eu quero,

eu tenho uma preferência por algum tipo de visão,

e ao responder eu sei que aquele resultado da pesquisa pode

colaborar ou não para a intenção que eu tenho.

Portanto, eu, sempre quando estive no mercado financeiro,

eu gostava de analisar essas pesquisas,

mas consumia com muita parcimônia.

Porque o mercado te oferece uma outra ferramenta que é muito boa,

que são os preços dos ativos.

Lá não se trata de eu responder se eu gostei ou não gostei,

lá o sujeito colocou dinheiro ou não colocou dinheiro,

lá dá para ver.

E o que aconteceu é,

é verdade que, desde que o ministro Fernando Haddad assumiu,

várias das medidas que foram apresentadas,

quando foram apresentadas originalmente,

foram recebidas com algum grau de ceticismo.

E é legítimo que seja recebido com um grau de ceticismo.

Então vamos lá, quando eu acho que pelo dia 12 de janeiro

se anuncia que vai se fazer um programa de recomposição da base fiscal

para que o déficit fiscal não fosse mais de 2% do PIB,

muita gente falou que não vai conseguir.

Hoje, se você olhar, quase todas as projeções de mercado

já estão próximas do 1%,

que é o que estava sendo previsto pelo ministro Fernando Haddad

lá no início de janeiro.

A gente vê agentes financeiros do mercado

gostando do que estão vendo,

especialmente já da perspectiva de zerar a déficit fiscal

já no ano que vem.

E assim sucessivamente com a reuneração dos combustíveis,

com vitórias no judiciário,

com o arcabouço fiscal que foi bem recebido.

Então a gente tem consciência que o ceticismo só vai ser vencido

com ações, com vitórias efetivamente que foram sendo praticadas.

O que aconteceu na prática de lá para cá?

O real mudou de patamar,

teve uma apreciação do real perante o dólar,

inegável, está lá no preço.

Os juros futuros que você bem comentou,

que é o que se imagina que vai acontecer com os juros na média

até cada um dos períodos de vencimento dos títulos,

vem cedendo sistematicamente

e a projeção que existe de déficit primário,

de resultado primário, melhorou.

Quando você estava na presidência do Banco Fator,

você pensava muito diferente dos seus colegas?

Como é que era?

O seu coração era mais mole, o coração era mais peludo?

Como é que era o Gabriel Galípolo do outro lado do balcão?

Eu fiz muitos amigos no mercado financeiro,

eu ainda tenho muitos amigos no mercado financeiro,

mas eu realmente tenho uma trajetória um pouco eclética,

de ter passado por vários lugares,

de ter sido professor,

de ter passado pelo setor privado,

depois pelo mercado financeiro

e agora estando aqui no setor público

e gostando às vezes de algum tipo de leitura diferente

do que é a sua leitura padrão da economia.

Então, eu me divirto um pouquinho com esses passeios,

eu gosto deles.

Gabriel Galípolo, muito obrigada pela sua participação,

volte outras vezes,

será sempre bem-vindo aqui no assunto.

Eu que agradeço Natuza,

é sempre um prazer poder falar com você.

Este foi o Assunto,

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Comigo na equipe do Assunto estão Monica Mariotti,

Amanda Polato, Thiago Aguiar,

Luiz Felipe Silva, Thiago Kazurowski,

Gabriel de Campos, Nayara Fernandes e Guilherme Romero.

Eu sou Natuzaneri e fico por aqui.

Até o próximo Assunto.

E aí